Ryota Brasileira

Autor(a): Jennifer Maurer


Volume 7 – Arco 3

Capítulo 69: Enfrentando as Ameaças

— Então, vocês sabiam.

Quando finalmente conseguiram levar as pessoas para um local seguro, a duquesa voltou seus olhos verdes para as pessoas que estavam ao seu redor. Dentre eles, a família Akai estava toda reunida. E foi nesse momento que as dúvidas dela imediatamente cessaram, dando lugar a um sentimento de certeza que a fez se aproximar a passos largos.

— Sim — respondeu Shin ao seu apontamento, olhando-a. Não havia inimizade ou frieza em seus olhos, apenas a seriedade esperada de um nobre como ele.

— Por isso chamou meus guardiões ontem, não é…? — refletiu Fuyuki, observando os gêmeos a cumprimentarem com a cabeça — Por que não disseram nada?

— Era apenas uma suposição, senhorita — observou Amane, em tom baixo — Não tínhamos certeza de que realmente haveria uma ameaça, porém, o senhor Shin nos requisitou a ficarmos a postos. 

— Entendo.

Ainda que fosse uma ação tomada entre um grupo seleto, foi uma preparação bastante inteligente. Na realidade, não era difícil de se imaginar que algo semelhante poderia acontecer. Afinal de contas, era a coroação do príncipe de Thaleia, um evento grandioso demais para ser ignorado. Ainda que praticamente todos ansiassem por este dia, sempre haveriam aqueles que seriam contra uma determinada decisão — fosse por ressentimento à família real, fosse porque preferiam Fanes, fosse por qualquer outra razão.

Dito isso, Fuyuki não poderia culpá-los pela atitude tomada. 

— E então? Sabem de onde se originou isso?

A duquesa apontou para a destruição ao seu redor. Naquele momento, logo após terem salvado as pessoas e evacuado o centro da cidade, ainda não haviam começado as explosões. 

— Ainda não — respondeu Kanami.

— Patrulhamos os arredores durante a noite e a madrugada, mas não encontramos nada até alguns minutos antes do atentado — contribuiu Sora.

— Foi uma ação inteligente, senhor Shin — aproximou-se Juan, após afastar mais um grupo de pessoas que ainda estava por perto. Os dois homens trocaram cumprimentos com a cabeça — Por enquanto, conseguimos mandar as pessoas para um local seguro. É pressuposto que tentem invadir o palácio ou causar alguma comoção, então os guardiões devem ficar atentos. Nós precisamos manter a segurança da cidade e das pessoas até encontrarmos o responsável pelo o que está acontecendo.

— Concordo! — exclamou Al-Hadid, batendo nas costas de Juan, fazendo-o mostrar uma careta de desgosto — Hm! Parece que a cidade tem bunkers preparados para proteger as pessoas, então não deveríamos nos preocupar tanto!

— Ah, isso ajudaria bastante — suspirou Juan, olhando para Fuyuki — Acha que eles conseguirão chegar até eles sem problemas?

A duquesa assentiu.

— Estou certa de que os bunkers são grandes o bastante para abrigarem todos, porém me preocupo um pouco com os viajantes. Espero que eles consigam seguir algum morador até eles… Por garantia, gostaria que averiguassem os arredores e os levassem até lá. 

— Vão — disse Shin ao receber os olhares de Sora, Kanami e Amane, esperando por sua aprovação.

— Sim!

À resposta instantânea dos três, o grupo sumiu como sombras. Eles saltaram pelas casas e atravessaram a cidade pelos telhados, desaparecendo de suas vistas em poucos segundos. Foi nesse instante em que a terra tremeu novamente, balançando seus equilíbrios em questão de instantes. Quando a explosão fez subir uma fumaça negra de um local por perto, não demorou muito para que o som de algo se quebrando chegasse aos seus ouvidos.

— O palácio!

Quando ouviram o grito de Fuyuki, todos olharam para as grandes e grossas linhas que começaram a se desenhar da base da construção, subindo cada vez mais. Não demorou muito para que pedaços da estrutura se desfizessem e caíssem em direção ao solo, provocando ainda mais pequenos balançarem de terra. 

Outras explosões começaram a surgir em vários cantos da cidade. Fumaças e brilhos podiam ser vistos ao longe, assim como o cheiro de sangue e poeira que os fazia precisar cobrir o rosto com os braços.

— Precisamos nos separar! — disse a duquesa — Não podemos permanecer parados aqui por mais tempo!

— Ah!

Uma exclamação de surpresa escapou dos lábios de Juan quando olhou para cima e reparou que o hotel ao lado despencava. Os telhados e pedaços começaram a escorregar e cair na direção deles, prestes a acertá-los. No mesmo segundo, a mão de Fuyuki deslizou pelo ar a tempo de criar um escudo de gelo, impedindo que fossem esmagados. E então, antes que praticamente um andar inteiro caísse, uma rajada de vento rapidamente desfez a trajetória dos materiais, que se espatifaram a uma distância segura do grupo. 

— Vocês estão bem?

— Sim. Obrigada, Zero.

O rapaz de cabelos violeta que se aproximou sorriu para o agradecimento da duquesa. Juan, porém, não pareceu realmente feliz com sua presença.

— Onde estava? — perguntou ele, afinando os olhos — Deveria estar conosco, protegendo as pessoas do atentado. Por que o atraso?

— Sinto muito, senhor Juan. Não sabia que me considerava um igual, então fico feliz com sua indagação — sorriu Zero para ele, destruindo completamente sua tentativa de provocá-lo — Ajudei na evacuação de algumas pessoas que estavam próximas ao palácio. Peço desculpas pela demora.

— Hmpf.

Juan riu desgostoso com o nariz, virando o rosto. Fuyuki deu uma piscadela para o rapaz, feliz por vê-lo com tamanha força em suas palavras. Seus olhos irradiavam orgulho pelo companheiro. 

— De toda forma, como eu estava dizendo — falou a duquesa, se virando para a corte — Precisamos nos dividir em grupos para rondar a cidade. Eu proporia que fôssemos em duplas, porém a senhorita Sofia não está entre nós.

— Ela não pode lutar, então era esperado que permanecesse no palácio — comentou Juan.

— Podemos nos virar — disse Zero — O que acha de nos separarmos em uma dupla e um trio? Não acho que deveríamos permanecer andando sozinhos pela cidade.

— Está nos subestimando, rapaz? — murmurou Shin, olhando-o de baixo a cima.

— Não, senhor. Estou apenas dizendo que, como desconhecemos a ameaça atual, é um risco assumirmos que podemos lidar sozinhos com ela. Caso sejam mais de um adversário, seria sensato estarmos em grupos para, por fim, nos separarmos e lidarmos com cada um de forma adequada.

— Eu concordo! — exclamou Al-Hadid.

— Estou de acordo, também — disse Fuyuki.

Ao ver que a maioria era a favor, Shin soltou um suspiro e descruzou os braços.

— Muito bem. 

Vê-lo não teimar perante as palavras de Zero era quase uma vitória, mas eles não tiveram tempo para pensar a respeito.

— Então, eu vou com o senhor Al-Hadid — disse a duquesa, piscando um olho para Omar, que a encarava com um ar de desentendido — Estou certa de que será interessante para o senhor Zero aprender um pouco mais com os senhores estando ao seu lado.

Era uma proposta nem um pouco tentadora para Shin e Juan, que demonstraram claro desgosto pelo rapaz. Entretanto, ver a duquesa reconhecer seus talentos em voz alta, enquanto silenciosamente demonstrava que mesmo Zero ainda era inexperiente, foi uma forma sagaz de provocar seus egos. Ela esperava que Omar compreendesse suas intenções de tentar aprofundar o relacionamento entre aqueles que não se davam bem, concordando com sua proposta.

— Eu agradeceria muito — disse Zero, sem pestanejar e dando uma piscada para Fuyuki com um ar sábio — E ficaria honrado em acompanhá-los. 

— Então, vamos! Não temos todo o tempo do mundo! As pessoas precisam de nós! Ahá! — Al-Hadid, talvez tendo entendido ou não o significado das ações dos dois, apenas se aproximou da duquesa e começou a marchar para um lado, esperando que a moça o seguisse.

Ao ver que, mais uma vez, a opinião da maioria venceria, Shin soltou um longo suspiro.

— Certo.

Juan apenas concordou em silêncio à proposta, fazendo Fuyuki sorrir de lado. 

E foi dessa forma que a dupla Fuyuki e Al-Hadid se afastou do trio composto por Zero, Shin e Juan, cada um deles andando para um lado diferente em busca de encontrarem aqueles que precisariam de seu auxílio.

***

— Não… Não, não…

— Edward, se recomponha! — Fanes acordou o filho para a realidade ao puxá-lo pelo ombro de forma que pudessem se encarar olho no olho — Ela vai ficar bem!

O monarca observou o príncipe se ajoelhar, murmurando palavras de culpa. Então, algo dentro dele o fez rapidamente desejar impedir que aquela visão continuasse. Segurou-o primeiro pelos ombros, então as mãos envolveram seu rosto, os dedões segurando suas bochechas vermelhas. Fanes não conseguiu deduzir exatamente qual era o sentimento que inundava seu coração, mas sabia que não deveria deixá-lo naquela situação por muito mais tempo.

— Confie na Ryota, está bem? Por enquanto, devemos garantir a nossa segurança e encontrá-la. 

— … Certo.

Edward soltou um suspiro ao ouvir o pai falar, ainda incapaz de conter a preocupação. Era fato que a queda era perigosa e ele não poderia se aproximar para ver qual teria sido o destino da garota que usou toda a sua força para salvá-lo, então tudo o que conseguiu fazer foi cair de joelhos. Seus olhos se encheram de lágrimas que não vieram a escorrer graças a presença de seu pai, e por um segundo o príncipe ficou feliz por tê-lo ao seu lado. Era a primeira vez que compartilhavam um momento difícil lado a lado, com ele o apoiando diretamente.

Inspirou fundo e assentiu para as palavras de Fanes. Então, se colocaram de pé, mas o rei não soltou o ombro de seu filho até que descessem as escadas e novamente entrassem no palácio a passos rápidos. Nesse processo, Edward levou sua mão ao lado esquerdo do pescoço, tocando a área que queimava loucamente. Ele lutou para esconder a careta de dor, mas sentiu que era uma sensação bastante conveniente.

Se ainda estou sentindo o poder do voto agindo, ela realmente não deve ter morrido. Não acho que um voto continuaria a funcionar com um dos lados perdendo a vida, e possivelmente eu acabaria sentindo isso, também… Afinal, é como se nossas almas tivessem se enlaçado. Espero que ela esteja bem…

Ele apertou as íris violetas, percebendo que o calor que tomava seu pescoço escalonava um pouco mais rapidamente do que no dia anterior. 

Esse calor que estamos sentindo não é só a marca dos nossos elementos relembrando de nossa promessa.

Afinal, quando haviam unido suas mãos e poderes, a marca surgiu enquanto sentiam uma queimação.  

Parece que essa queimação está se espalhando pelo meu corpo e sugando minhas energias… Será que a marca do voto está sugando nosso chi, também?

Era uma possibilidade bastante preocupante. Porém, antes que pudesse pensar um pouco mais a respeito das consequências disso, Fanes soltou o corpo de seu filho para que ele pudesse andar sozinho. A essa altura, estavam dentro do castelo completamente vazio. 

— Vamos deixar a cidade para a corte e a guarda — Fanes uniu as sobrancelhas e olhou para Miura — Garanta que o palácio esteja devidamente evacuado e que ninguém esteja tentando invadir.

— Sim, senhor.

— Vamos acompanhá-lo.

Ainda que tivesse deixado-o para andar com as próprias pernas, Fanes apoiou o filho colocando uma mão em suas costas, como que o incentivando a continuar. Seguiram pelos corredores vazios, as portas sendo abertas rapidamente pelo guardião que ia na frente, garantindo a segurança da dupla que prosseguia em direção à saída do castelo.

Mas não demorou muito para que o trio se encontrasse com alguns guardas uniformizados que seguiam a passos rápidos. Eles arregalaram os olhos e estagnaram no lugar fazendo um som alto com seus pés, interrompendo os passos. 

— Majestade!

— Alteza!

— Como está a situação? — exigiu saber Fanes, olhando-os com seriedade.

— É terrível! Terrível, terrível!

— Eles estão causando um grande caos na cidade!

— Acalmem-se, homens — Miura exigiu, erguendo a palma — O que está acontecendo?

Os dois inspiraram fundo, contendo a pilha de emoções, antes de falarem:

— Eles estão destruindo construções para fechar passagens e impedir que as pessoas cheguem aos bunkers. Os terremotos e fendas estão apenas aumentando! Ah!

Como que premeditado, o palácio balançou ao som de uma explosão ao longe.

— E não é tudo! — adiantou-se outro guarda, sacudindo as mãos no ar nervosamente — Eles estão libertando os prisioneiros!

— O quê?!

Miura e Fanes exclamaram em choque ao mesmo tempo.

— Por que fariam isso?

— Não sabemos, senhor — um dos homens baixou a cabeça, nervoso — Aparentemente, as explosões não estão sendo causadas por meios naturais. 

— Então não são explosivos? — refletiu Edward em voz alta, torcendo as sobrancelhas.

— E elas estão se espalhando pelo reino! Estão todos sem saber o que fazer!

— E ainda tem aquelas coisas horrendas andando por aí!

— Que coisas? — perguntou Miura, quase irritado por vê-los hesitar a cada fala.

— Criaturas! Tem criaturas vagando pela cidade e pelo palácio! E eles estão comendo qualquer um que não seja capaz de fugir! — o outro guarda bagunçou os cabelos de olhos arregalados — O que faremos?!

A reação daqueles homens era bastante plausível considerando suas experiências. Ainda que enfrentassem bandidos e assassinos perigosos, quando se encarava algo sobrenatural ou fora de sua corriqueira vida, era natural que o choque e medo tomassem conta. Por isso, nenhum deles poderiam culpá-los pela reação. Entretanto, o assassino que estava diante deles ficou irritado ao perceber que não pareciam dispostos a enfrentá-los.

— E o que estão esperando para contê-los?

— É o que estamos fazendo! Mas eles são muitos, e tem alguns que são grandes demais para nós lidarmos sozinhos! 

— Merda! — praguejou Miura, batendo o pé no chão antes de se virar para o rei — Majestade, esse não é apenas um atentado qualquer para impedir a coroação. Estão tentando humilhar este reino em um dia tão importante…!

O guardião fechou as mãos com raiva e assim falou. A frustração era clara em sua expressão. Os olhos vermelhos ganharam brilho e cintilaram com ira. 

— Se não lidarmos com a situação, eles podem conseguir entrar no castelo. E quanto a evacuação?

— Todos os empregados e convidados parecem ter conseguido fugir, senhor!

— Não quero que ache, quero certeza! Mandem que revistem a construção mais uma vez antes de evacuarem, também. Se não podem derrotá-los, os contenham a tempo dos guardiões chegarem!

— Sim, senhor!

Os dois guardas exclamaram fazendo continência, suando nos rostos e mãos de nervoso.

— Filho, prepare-se.

Fanes encarou Edward nos olhos.

— Nós vamos lutar.

— Certo!

O rei sorriu com orgulho ao ver o filho responder de imediato.

— Peguem suas armas e enfrentem as criaturas. Sigam as ordens de Miura e garantam a segurança dos inocentes. Descubram a razão de estarem liberando os prisioneiros e os contenham! Precisamos descobrir a origem dessa ameaça.

— Sim, Majestade!

— Miura, me acompanhe. Edward, prepare-se para o combate.

Enquanto os guardas corriam para seguir as ordens, Miura se virou para o monarca e Edward assentiu com determinação às ordens do pai. Então, disparou com as roupas bastante desconfortáveis na direção de seus aposentos, localizados no andar de cima.

Quando finalmente sua figura se afastou totalmente, Fanes lentamente abriu um sorriso.



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