Volume 7 – Arco 3
Capítulo 68: O Início do Caos
Quando o solo rasgou-se fazendo um som altíssimo, as pessoas ao redor gritaram em choque. Um caos generalizado se instalou na cidade. E foi tamanha surpresa que tantos eventos tenham ocorrido ao mesmo tempo que quando um grupo de seres humanos deslizou, sem equilíbrio, para este buraco que se abriu repentinamente, os demais que permaneceram em terra sequer tiveram tempo para entender o que estava acontecendo.
Porém, antes que pudessem estatelar-se contra o fundo, uma equipe composta por pessoas ágeis se prontificou, salvando-as. Os assassinos Akai lançaram-se contra a fenda, pegando quem estava em seu caminho com os braços antes de saltar pelas paredes até o topo novamente. Um escorregador de gelo foi criado e, antes que mais se ferissem, Fuyuki estava lá para impedir que continuassem a cair. Uma barreira ao redor do rasgo foi criada para que ninguém mais corresse tal risco. Os outros nobres também velozmente saltaram de suas cadeiras para ajudar as pessoas, assim como seus guardiões, que rapidamente surgiram de onde estavam.
— Afastem-se do centro! — exclamou Juan, abrindo um dos braços e apontando para as pessoas — Vão para as redondezas e protejam-se!
— Aqui, você está bem? — perguntou Al-Hadid, entregando uma criança de pouco mais de oito anos para perto de sua mãe. Ao verem que ambas apenas conseguiram sacudir a cabeça, em choque, ele exclamou — Certo, agora vão!
— Vão para longe dos subúrbios! Não é seguro, aqui! Corram! Vão, vão! — continuava a falar Juan, acostumado a lidar com situações de tensão. Ele dava ordens sérias e diretas, fazendo com que as pessoas que estavam em choque demais se colocassem em movimento, obedecendo-o.
Logo, não demorou para que a multidão tivesse se espalhado e desaparecido entre os becos e ruas, levando-os para os cantos de Hera. Porém, houveram ainda alguns feridos que não foram capazes de se locomover adequadamente. Portanto, antes mesmo de Fuyuki precisar chamá-la, Eliza já estava lá, correndo de um lado para outro, invocando selos acima dos feridos e trabalhando nos machucados de mais de duas dezenas de pessoas. Ela sequer parou para falar com a nobreza, e nem havia necessidade. Em uma situação como aquela, todos sabiam exatamente quais eram seus papéis, e não pararem para ficarem de conversa.
Principalmente quando a ameaça responsável pelo ocorrido ainda não havia sido detectada.
Enquanto o povo se espalhava e a corte real, ao lado da guarda, auxiliava a população, Miura e Ryota dispararam na direção de Fanes e Edward, que haviam quase caído no chão quando o terremoto balançou a cidade. Eles olhavam com choque para o ocorrido, o som dos gritos e desespero vindos das pessoas balançando suas mentes por um instante.
— O que está acontecendo? — perguntou o guardião de olhos vermelhos, se aproximando para colocar uma mão nas costas do rei, que piscou, pálido, para ele — Eu sabia que teríamos problemas.
— Como assim? — perguntou Ryota, deslizando os olhos para o assassino. Naquele instante, ao perceber que até mesmo Fanes e Miura estavam surpresos com a interrupção da coroação, sua mente focou-se inteiramente em encontrar uma solução para o problema, não importava o quanto detestasse ou suspeitasse deles.
— Então, eles realmente vieram… — murmurou Fanes, apertando os olhos de cores claras. Havia uma expressão de irritação em sua face, a primeira distorção que Ryota vira desde que conhecera o monarca.
— … O que está dizendo, pai? Quem veio?
Agora, eram o príncipe e sua guardiã quem olhavam para o rei e seu companheiro, que estavam realmente concentrados nos próprios pensamentos. Fumaça começou a subir de alguns lugares da cidade, assim como vozes altas. Pequenos terremotos ainda aconteciam aqui e ali, o chão se rasgando e alastrando o caos. A guarda real podia ser vista disparando para ajudar as pessoas e afastá-los do perigo. Os guardiões saltavam por cima das casas, procurando mais sinais de ameaça. A corte real lidava com as fendas e mantinha sua atenção aos arredores, prontos para o combate a qualquer instante.
Enquanto esses eventos temerosos se alastravam, os olhos dos dois jovens continuaram em Fanes e Miura, que se entreolharam por um instante, nervosos.
— A Ritus Valorem.
— … Quem? — a guardiã torceu as sobrancelhas ao ouvir aquelas palavras.
Ao fundo, uma explosão ocorreu, fazendo o chão tremer mais uma vez. Todos que estavam por perto perderam o equilíbrio, incluindo quem estava no palácio. Ao se segurarem uns nos outros para não escorregarem, Ryota ergueu os olhos para uma grossa fumaça negra que subia de algum lugar da cidade.
— Essa não!
— Me diga, pai! O que é a Ritus Valorem? — insistiu Edward, aproximando-se do pai para segurá-lo pelo braço.
— Não há tempo para explicações. Agora, devemos sair daqui imediatamente. Guardas! Evacuem o palácio e garantam a segurança de todos!
Fanes prontamente ergueu o tom de voz, desmanchando sua casual expressão gentil, moldando-a em uma de determinação. A força de seu olhar fez com que, assim como Juan, as pessoas ao redor imediatamente o obedecessem. Movimentaram as pernas moles de medo e ansiedade, então dispararam para as escadas e para dentro do castelo, correndo pelos degraus.
Conforme a instabilidade se instaurava, percebia-se que o medo e a tensão cresciam em decorrência da falta de preparo e nervosismo dos próprios membros da nobreza. A guarda real agia rapidamente, porém, diante de uma situação que claramente foi causada por pessoas com capacidades além das mãos humanas, dependiam unicamente da guia daqueles que eram mais experientes, poderosos e dignos de estarem na posição de líderes.
Entretanto, ao vê-los igualmente ansiosos sobre o que fazer, era o mesmo que espalhar ainda mais o sentimento de desesperança. Era por isso que, quando o rei e Juan ergueram suas vozes, não tremendo diante da ameaça, as pessoas imediatamente depositaram suas vidas naquelas mãos.
Outro tremor forte balançou o palácio. Dessa vez, ainda mais forte do que o anterior. Ocorreu exatamente um instante depois de Fanes dar um comando, abrindo o braço. Uma vez que a pose o fez se desequilibrar quase que imediatamente, Miura colocou-se diante dele para impedir sua queda.
Porém, Edward não teve a mesma sorte.
Afinal, o local onde estava imediatamente rachou e se desfez. Pedaços da construção escorregaram e caíram em direção ao solo. Um barulhão que ensurdecia os ouvidos fez o príncipe se descuidar, escorregando e perdendo o equilíbrio.
— Edward!
Ryota gritou antes de rapidamente segurá-lo por uma das mãos, prendendo-o à construção que ainda estava se despedaçando e caindo. A distância entre onde estavam e o solo era inimaginável. Uma queda daquelas era morte certa. Dito isso, a garota usou sua força para segurá-lo sem dificuldades, usando a outra mão para puxá-lo para cima pelo antebraço. Edward ousou usar sua própria mão para se apoiar, mas o ato apenas fez com que mais um pedaço do palácio se desfizesse, pedaços de concreto machucando sua pele ao caírem.
— E-Eu vou… Te tirar daí!
Inspirou fundo e começou a fazer força para cima. Ele não era pesado, mas havia um problema ainda maior do que esse. Uma vez que o peso fosse sobreposto ao que era possível lidar, o chão sob o qual pisava cederia. Nesse caso, ambos acabariam caindo. Era por isso que Ryota o puxava lentamente, tentando dar alguns passos para trás. Entretanto, cada movimento apenas fazia rachar ainda mais o piso sob seus pés, fazendo-os lentamente ceder.
Ryota ouviu outra explosão balançar tudo e, aproveitando-se dessa chance, fez ainda mais força para trazê-lo para cima. Edward foi capaz de apoiar seu joelho na beirada e segurar-se na garota que fazia uma expressão de esforço.
— Só mais um pouco…
Ainda que parecesse uma luta difícil de ser lidada apenas entre os dois, Fanes e Miura não poderiam ajudá-los. Aproximar-se era o mesmo que derrubá-los, colocando ainda mais peso.
Os olhos azuis da garota se arregalaram ao ver o chão ceder e rachar completamente. Ela perdeu o fôlego e sua mente ficou branca. Edward ainda estava na metade do caminho. Não podia salvá-lo naquele ritmo. E, então, ao olhar para trás e ver os dois homens os encarando com choque, sem saberem o que fazer para ajudá-los…
— SEGURA ELE, MIURA!
Ryota usou toda a sua força para erguer o príncipe, puxando-o tão forte pelo braço que poderia tê-lo quebrado. Usou esse poder nas pernas para lançá-lo longe, exatamente no local onde o guardião, ao ouvir a garota gritar seu nome, se posicionou para pegar o corpo do rapaz. Edward foi segurado por Miura bem a tempo do piso ceder completamente e Ryota despencar.
— NÃO!!!
Ainda que o berro de Edward chegasse aos ouvidos de todos, sua mão estendida não estava nem perto de poder segurar a garota que caiu do palácio para protegê-lo. Miura o segurou pelos antebraços e o puxou para perto do rei.
Ryota despencou e perdeu o chão. Seu corpo caia em uma velocidade violenta até mesmo para ela ser capaz de se concentrar. O vento frio e cortante marcava-lhe a pele. A sensação de cair era simplesmente aterrorizante quando se tinha em vista a morte. Seu cérebro havia congelado por um segundo, porém, no instante seguinte, um instinto de sobrevivência a atingiu como um relâmpago. Então, ela fez uma manobra no ar para se apoiar em um dos pedaços de concreto que despencaram ao seu lado, permitindo que pudesse apoiar os pés.
Seus olhos se apertaram na direção do castelo. As paredes passavam diante de seus olhos tão velozmente que quase foi incapaz de processar o que via. Porém, usando a única ideia que lhe veio à mente… Saltou, concentrando chi em seus pés. Dessa forma, houve força o bastante para que seu corpo estatelar-se contra a construção. Sentiu algumas pequenas pedrinhas caírem em sua cabeça, fazendo-a doer.
Ao colar seu rosto contra as pedras, fincou as unhas já curtas contra elas, lutando para se manter parada. Seus pés ainda estavam concentrados com poder o bastante para que pudesse saltar, mas não havia onde se prender para que isso fosse possível. Era uma parede completamente lisa, sem pilares ou janelas ao redor. Portanto, não foi uma surpresa quando suas mãos suadas começaram a lentamente ceder. Era difícil se manter parada, principalmente quando regularmente pedaços de concretos caiam, quase batendo em sua cabeça.
No fim das contas, havia uma única chance de tentar lidar com essa situação. Ryota olhou para seus pés com chi concentrados. E, com a vista apontada para baixo, percebeu que seria melhor descer a escalar. Dito isso, assim que o restante das pedras caíram… Ela começou lentamente a se soltar. Até que, finalmente, começou a quase escorregar pelas pedras. O corpo se virou e as pernas se ajoelharam, os pés com tanta pressão concentrados ao ponto de permitir que não despencasse de uma vez.
Dessa forma, a garota deslizou pelas paredes de pedra até que alcançasse uma altura decente o bastante para que pudesse saltar contra uma árvore. Assim que o fez, um impulso forte demais a fez desequilibrar e quase cair do galho onde se pendurou, portanto, precisou dar outro salto em direção ao chão, rolando pelo gramado antes de parar.
— Aaaaaah… — suspirou, sentindo o coração batendo em seus ouvidos — Ainda não consigo controlar a Aceleração direito igual a Kanami faz, mas… Bom, foi o bastante pra eu não morrer pelo menos.
A técnica ensinada pela guardiã logo antes de ir até a capital veio a calhar naquela situação de vida ou morte. Ryota havia usado ela durante a batalha contra os invasores na Cerimônia de Benesse, mas foi uma experiência completamente diferente. De toda forma, havia conseguido. Por isso, inspirou profundamente antes de se colocar de pé com um pulo.
Ryota observou que o caos na cidade havia diminuído. Ao menos, não era mais possível ouvir tantos gritos de desespero quanto antes, mas as rachaduras e movimentações ao redor da cidade ainda se mantinham. Explosões ocorriam aqui e ali, balançando o solo. Mantendo-se equilibrada, fez uma careta.
— Eu preciso voltar para o palácio, e rápido. Mas… Com essa porcaria de roupa, sem chances! Aaaai, ela até rasgou! Tenho certeza que nem com todo o salário que guardei ao longo de dez anos poderia pagar por isso!
A garota se torceu ao ver o estrago feito nas vestes. Então, apertou os olhos antes de começar a andar rapidamente pelas ruas. Era difícil correr com aquele tecido, por isso deu seu melhor para apressar o passo. Atravessou ruas e becos antes de chegar na frente de onde ocorrera a destruição. Não havia mais multidão, mas alguns membros da corte ainda estavam reunidos, conversando.
Ryota atravessou direto, percebendo que não era seu trabalho se envolver com eles, agora. Uma queimadura lancinante imediatamente queimou em seu pescoço, ao ponto de quase fazê-la ceder as pernas. Ao se conter e levar a mão ao local que doía, murmurou:
— Não pode ser… Já começou a incomodar desse jeito? Droga, se estou sentindo essa intensidade toda, então o Edward…
Ela ergueu os olhos para o castelo, mais determinada do que nunca para chegar até ele. Era um pouco difícil conter a sensação de estar sendo queimada constantemente, mas lutou contra isso enquanto continuava a andar.
— Hã?
Foi quando parou, no meio de uma bagunça de becos com passagens paralelas, e viu que uma casa havia desmoronado. Porém, o que lhe chamou a atenção foi a criança que estava debaixo de todos os tijolos e pedaços de concreto. Havia sangue escorrendo de sua cabeça.
Imediatamente, um aperto doeu no peito da garota. Foi um desespero tão grande que Ryota achou que fosse ter um ataque cardíaco. Era um sentimento indescritivelmente terrível, e ela percebeu que não era porque conhecia a criança no chão ou porque se sentiu mal por ela. Ao disparar em sua direção, ignorando a própria dor completamente, entendeu que a descarga elétrica que atravessou seu corpo foi uma energia quase nostálgica. Porém, não de um jeito bom.
Ela não sabia explicar, mas ao vê-lo naquele estado lastimável uma memória a atravessou. Lembrou-se das chamas e dos gritos de dor de jovens, adultos e crianças. Lembrou-se das crianças que não foi capaz de salvar e que morreram sem saberem de nada ou possuírem qualquer culpa. Aquele sentimento angustiante e que a fazia perder o controle foi o que a fez se mover.
O garotinho desacordado não reagiu quando o balançou. Ela arregalou os olhos, nervosa. Sua respiração se descontrolou e Ryota se viu retirando os pedaços pesados de cima do corpo do menino. Por sorte, ele não havia sido soterrado por completo, então apenas sua perna acabou sofrendo os maiores ferimentos. Mas apesar disso tudo, ele sangrava por todos os cantos.
— Ele tá vivo… Ah, que bom — suspirou aliviada ao tocá-lo no pescoço para sentir o pulsar de seu coração — Preciso levar ele pra Liz…!
Ryota o segurou pelas costas, carregando-o de forma que não tocasse nas partes intrinsecamente machucadas.
— … Ah! Você acordou!
— Au!
Assim que falou, a garota escutou um latido agudo vindo de seus pés. Notou então um filhote de cachorro que abanava o rabo com velocidade. Foi nesse instante que arregalou os olhos ao perceber que conhecia aqueles dois.
— Vocês são… Daquele dia, no beco…
Imediatamente, sua memória vagou para o primeiro dia em que chegou à capital real. Enquanto corria atrás de Marie, que havia saqueado uma maçã, deu de cara com um grupo de adolescentes maltrapilhos. E, entre eles, estava aquele garoto desacordado. O filhote que latia descontroladamente ao seu lado, preocupado com seu dono, não lhe era estranho.
— Ugh…
— Não se mexa muito ou a dor de cabeça vai piorar.
— Au! Au, au! Au! — De repente, o filhote acelerou seus latidos, dando pulinhos de lá para cá. E, então, ao chamar a atenção da garota, disparou para o monte de concreto e tijolos ao lado, cavando nele — Au!
— … Não vai me dizer que…
— … Will…
A voz rouca do garoto chamou o nome do amigo que também fora soterrado. Porém, era possível vê-lo apenas porque seu braço despontava de dentro do amontoado do que antes fora a casa. Ryota percebeu que o garoto em seus braços tentava alcançá-lo com a mão, o cachorro latindo de um lado para o outro.
— … Me desculpa — murmurou ela, contendo a voz esganiçada de alguém que poderia estar prestes a chorar. E ela realmente teria feito isso se os latidos do filhote ao lado não se transformassem em choramingos altos — O que foi?
Foi nesse instante que percebeu algo. Ouviu o som de passos… Mas era estranho que eles eram dados não por tão firmemente por humanos. Na verdade, eram mais leves, mas a presença daquilo que se aproximava era impossível de ser ignorada. Fungando para conter os sentimentos, Ryota virou-se para trás. Ao seu lado, o filhote se encolhera para perto de seu corpo.
Primeiro, o que apareceram foram patas. Mas não eram patas comuns de cachorros ou gatos, com pelagens. Eram como se fossem feitas de uma carne viva vermelha, tão bruscamente horrendas que pareciam até mesmo sangrar. A criatura — não, as criaturas — que se aproximaram, rosnando, não eram animais. Sequer poderiam ser categorizados dessa forma. Afinal, ainda que tivessem patas, o corpo que as compunha, também feito de carne, estava desfigurado. Observando de perto, até poderia dizer que um dia foram criaturas reconhecíveis, mas ao ver a forma que suas figuras desleixadas, os dentes afiados atravessavam as mandíbulas e buracos no lugar de seus olhos chamavam a atenção, Ryota conteve um grito.
E não eram poucos. Podia-se dizer que era quase uma manada. Haviam criaturas grandes da altura de um cachorro e pequenas como ratos. Porém, os números apenas tendiam a crescer conforme o tempo passava. Todos rosnavam e babavam, olhando para o trio que se encolhia.
— Que droga… — murmurou ela — Tenho que dar um jeito de fugir daqui.
Ryota sequer considerou parar para pensar no que estava presenciando. Antes mesmo do cérebro entender isso, o instinto de sobrevivência falava mais alto. Ela, então, com a mão livre, pegou o filhote que tremia ao seu lado e colocou-o no colo do garoto que novamente desacordou. E, então, pôs-se de pé. As criaturas continuaram a rosnar para ela, que lentamente dava passos para trás.
Enquanto se afastava, seus olhos deslizaram para o braço estendido do concreto. E entendeu que as bestas estavam sendo atraídas pelo cheiro do sangue e da morte. Provavelmente, optariam por pegar aquilo que já havia sido abatido como uma presa do que começarem uma nova caça. Torcendo para que sua intuição estivesse correta, com lágrimas de frustração nos olhos, Ryota deu as costas e começou a correr para longe.
Quando seus passos começaram, ouviu algo se rasgar e quebrar. Triturações e barulhos de algo retirando os concretos e tijolos do caminho. Mas, ao mesmo tempo, percebeu que estava sendo perseguida. Ouvia as patas fazendo barulho conforme disparava pelos becos na maior velocidade que conseguia atingir.
— Aaaaaaah, porcaria de roupaaaaaa!
Ryota amaldiçoou sua situação e continuou a fugir. Porém, precisou parar quando uma nova manada surgiu à sua frente, impedindo sua passagem. Foi nesse instante que percebeu estar verdadeiramente encurralada.