Ryota Brasileira

Autor(a): Jennifer Maurer


Volume 6 – Arco 3

Capítulo 51: Plano de Escape

Sentindo um arrepio subindo-lhe pela espinha e travando o corpo, Ryota parou completamente. Esse ato chamou a atenção de Luccas, que ainda estava com o braço enlaçado ao dela.

— O que foi?

Era natural fazer uma pergunta daquelas, mas a garota não foi capaz de respondê-lo. Ao invés disso, tomou coragem para engolir seco e lentamente virar a cabeça para trás mais uma vez. Para a sensação que a havia feito parar. Ao invés de uma mão que incapacitou seu cérebro de processar qualquer informação ou mandar ordens para o corpo, a verdadeira origem da sua paralisia era apenas o olhar do assassino. As duas íris vermelhas como sangue fresco a fitavam do outro lado do salão, atravessando-a de uma forma que poderia senti-lo a uma distância daquelas. Até mesmo de costas ou sem prestar atenção. Era esse o poder da concentração de um Akai, no fim das contas.

Talvez ela devesse estar acostumada. Afinal, passou mais de um mês convivendo com dois Akais, e mais de uma semana sendo alvejada mortalmente pelos gêmeos e pelo guardião do rei. Entretanto, ainda parecia impossível lidar com o medo que a impedia de fazer qualquer movimento adequado. De sequer raciocinar completamente sem temer ter seus pensamentos lidos à distância por aqueles olhos. Era como ser observada de forma impura e direta, julgando-a por cada pensamento, cada movimento e possibilidade. Como se sentir seu suor frio escorrendo o tremor de seu corpo fosse justamente a razão pelo qual ele continuaria a observá-la, ciente de que ficaria ansiosa e temerosa o bastante para que não pudesse fazer nada. 

Miura sabia que Ryota tinha pavor dele, então não hesitava em usar aquilo ao seu favor o tempo inteiro.

Ela estava na palma de sua mão como nunca. Desde que se conheceram, e até agora… Apenas um simples olhar fazia aquilo com ela. Quando se aproximava ou falava com ela, um terror ainda maior invadia seu corpo, que se contorcia de agonia. Queria fugir, queria ir para o mais longe possível. E possivelmente essa aura desesperada exalava de todo o seu corpo, mesmo quando uma máscara da mais perfeita tranquilidade estava em sua face. Era por isso que ele continuava a manter seus olhos nela. Ryota ainda era suspeita o bastante tendo todos aqueles sentimentos remexendo seu estômago e bagunçando sua mente.

— Ei, você está bem? Ficou pálida… Ah, cuidado com as pernas.

Ela cambaleou no lugar e quase cedeu à pressão, mas a voz de Luccas a chamou de volta para a realidade. Ryota piscou, horrorizada, e lutou para controlar a respiração. O braço firme do homem a segurou de forma que pudesse se recuperar o bastante para firmar os pés no chão sozinha.

— Sim… Desculpe. Eu estou… Bem — um sorriso surgiu em seu rosto, mas ela não sabia dizer se estava convincente o bastante — Precisamos distrair Miura agora mesmo. Ele está de olho em nós. Você não vai conseguir escapar enquanto isso estiver acontecendo…

Luccas provavelmente teria tentado retrucar, mas percebendo o tremor na voz dela, como se tivesse a mais certeza absoluta do que dizia, ele apenas engoliu as palavras.

— Então, o que faremos?

Quando Luccas assim perguntou, Ryota virou seus olhos para a multidão ao seu redor. As pessoas ainda continuavam dançando em pares, mas em um ritmo muito mais acalorado e veloz do que antes. Ao invés da música lenta e romântica, um soar que fazia você querer bater os pés ao ritmo era tocado. Podia-se ouvir os saltos batendo contra o solo, assim como risadas altas que vinham do centro do salão. As luzes se expandiram e deram espaço para que o ambiente se tornasse mais aberto, permitindo que todos pudessem dançar em grupos separados e de formas diferentes.

Sendo chamada por essa atmosfera agradável e divertida, Ryota teve uma ideia.

Ela apertou seu braço contra Luccas e deu um sorriso, desfazendo em partes o temor que estava sentindo.

— Me segue.

Sem poder resistir, o rapaz foi arrastado para longe. Ainda podia sentir o olhar frio em suas costas, mas Ryota lutou para ignorá-lo enquanto se dirigia até uma mesa repleta de taças e aperitivos. Conforme andavam, era perceptível que Miura se aproximava a passos curtos e certeiros.

— O que vai fa-

Luccas tentou perguntar à garota qual era seu plano, as palavras novamente lhe escaparam pelos lábios. Dessa vez, não desistindo de falar porque percebeu algo, mas porque ficou surpreso demais para continuar falando. Afinal, a garota havia pegado duas taças e as bebido em um único gole. Um pouco do álcool escorreu por seu queixo e pingou, mas Ryota engoliu até a última gota antes de colocar as taças de volta no lugar.

E arrotou. Foi uma cena nada delicada ou feminina de se ver. Imediatamente, um rubor grotesco espalhou-se pelas bochechas, orelhas e pescoço da garota. O calor começava a irradiar de seu âmago, subindo do seu mais puro tremor até o ápice. E, então, Ryota deu uma gargalhada gostosa. Uma risada que poderia ter sido confundida facilmente com a de uma criança. 

De repente, todos os seus pensamentos se esvaíram, assim como os medos e qualquer tipo de sensação desagradável. Ela sentia como se pudesse simplesmente sair flutuando pelo salão ao som da melodia.

— Aiiii, Luccaaaas. Eu tive uma ideia genial! — a garota se apoiou nele de novo, a voz completamente bagunçada enquanto ainda ria de si mesma — É o seguinte… Apenas segue a vibe. Sacou? Tu me segue, bem no clima, e eu vou te tirar daqui rapidinho! Vem cá!

— Hã? O quê? Hã?!

Claramente sem entender nada, mas incapaz de simplesmente deixá-la de lado, Luccas foi puxado com uma força absurda na direção do centro do salão. Ele quase caiu, mas Ryota o segurou rapidamente. E, dessa forma, os dois se misturaram imediatamente ao grupo imenso de pessoas que dançavam em círculos, com cores e vozes se sobrepondo. Era uma dança bagunçada ao som dos saltos batendo contra o chão, risadas altas e palmas soando. 

Ryota claramente não sabia o que estava fazendo, porém, ela dançava e envolvia Luccas também, que tentava se localizar no meio da multidão. Sem soltar o pulso que havia segurado com uma força anormal — mas que a garota também sequer percebeu —, ela o levou para cada vez mais profundamente baile adentro.

— O que… O que pensa que está fazendo? — apesar de sua visível confusão e um pouco de irritação pela falta de explicações, Luccas ainda se mantinha bastante respeitoso com ela.

— Ô! É o seguiiiiinte! A gente vai dançá, vai sair rodopiando e vai parar lá do outro lado, saco? Vai ser um belo dum girão! — Ryota riu de si mesma de novo, apontando para onde o círculo de pessoas iam, dançando enquanto andavam — Dai! Ó, saca só! O Miura não vai ter coragem de se meter nessa bagunça, não! Vamo ter tempo pra fingir se divertir, ih! E… E também se esconder por um tempinho! Quando a gente chegá láááá do outro lado, tu dá no pé, falou? 

Depois de falar, falar e falar, Luccas finalmente entendeu qual era a ideia dela. Usar do baile como pretexto para se envolver não era má ideia. Afinal, ninguém poderia dizer que eles estavam fazendo algo errado — ora, estavam todos dançando. E, era verdade quanto aos apontamentos sobre Miura. O guardião não ousou se aproximar do grupo de pessoas que pareciam uma maré de peixes coloridos se movimentando, pulando e gritando ao som da música. Não apenas porque poderia se perder, mas também porque era a cara dele detestar coisas assim.

A multidão que dançava fazia um círculo completo, às vezes tornando a rota um número 8 ou se estendendo para uma bagunça ainda maior. Porém, ainda que fosse o tipo de dança livre em que muitos se uniam para se divertirem, não havia como interromper quando o clímax do baile havia finalmente dado início. Dito isto, nem Fanes nem Miura teriam uma boa razão para parar a música. Eles não poderiam apenas tirar a diversão da corte e da nobreza que já estava desde a Cerimônia de Benesse preocupada com o que aconteceria ao palácio. 

Dito isto, eles apenas poderiam observar de longe e aguardar até que Ryota e Luccas saíssem dali. Mas esse era o plano: Eles não sairiam. Apenas usariam o métodos de ir para cada vez mais para dentro da dança ao ponto de simplesmente sairem diretamente na frente de uma das portas. E seria por ela que Luccas correria. 

Piscando para a garota que dava risadas e curtia a dança, Luccas relaxou os ombros. Ou melhor, ele ainda estava bastante tenso por ter sido arrastado para ela de repente, mas se sentiu menos preocupado ao entender qual era o plano de escape.

— Mas precisava mesmo ter bebido tanto de uma vez? — perguntou ele, fazendo uma careta.

— An? Não te ouviiii…?

Em algum momento, os cabelos de Ryota se soltaram completamente, se bagunçando e grudando em seu rosto.

— Por que você precisou beber para entrar na dança, afinal?

— Uééé? De que outro jeito eu poderia fazer isso? Eu não poderia dançar estando tão nervoooosa! Vai, Luccas! Dá um giro! Issooo!

Enquanto fazia o tenso Luccas dançar ao som da música, a mente de Ryota ainda trabalhava. Ela poderia ter perdido as preocupações e o tremor de medo, mas ainda estava ciente de sua situação. Manter as aparências enquanto o seu plano estava em ação era o mais importante. 

Mas, agora, havia outra coisa que precisava fazer.

Seus olhos, enquanto dançava, vagavam pelas pessoas. Naqueles que dançavam, naqueles que assistiam e naqueles que descasavam. E foi assim que encontrou um par de íris violetas com aro dourado a encarando.

Imediatamente que Edward a reconheceu, fez menção de ir até ela, porém foi imediatamente barrado pelos convidados. A dança e a música não paravam. Porém, neste pequeno instante em que se olharam e souberam a localização um do outro, eles tentaram conversar com as expressões.

Ryota fez uma careta de desespero e apontou com o queixo para frente, na direção de onde Miura estava. Ela arregalou os olhos, como que implorando para ele fazer algo a respeito. O príncipe soltou um suspiro e assentiu para ela, saindo de seu campo de visão enquanto andava na direção do guardião de seu pai.

— Eu preciso muito agradecer esse cara! — Ryota riu sozinha, quase choramingando, ao perceber que sua mensagem foi passada corretamente e um pedaço de seus problemas se foi por alguns minutos — Estamos chegando! Chegando, chegando! Dança comigo, Luccas! Vem! Gira pra cá, ó, ó, ó!

Embora ela falasse em um tom alto como se realmente o incentivasse a dançar, Ryota imediatamente encaminhou ele para uma direção diferente dos outros. Enquanto os pares que giravam começaram a fazer a volta, os dois se desencaminharam e giraram para o outro lado, como se fossem apenas parar para descansar um instante. As luzes saíram de cima deles, sendo recepcionados momentaneamente pelas sombras. Estavam em uma das portas que ficavam próximas às janelas. 

Os nobres que estavam por perto acenaram para eles, parecendo tão extasiados com o ambiente quanto Ryota, que ignoraram completamente o rapaz que não estava mascarado. Dito isso, quando ela rapidamente abriu a porta e passou Luccas por ela, fazendo um sinalzinho com a mão para ele ir, ela abriu apenas uma pequena fresta da porta.

— Agora tu vai atrás da Marie, entendeu? Não dá pra saber o que pode ter encontrado ela, e você conhece esse lugar melhor do que eu, certo? — Ryota perguntou com uma expressão séria, mas ainda com o rubor tomando conta de seu rosto.

— Sim, deixa comigo. E obrigado.

Finalmente, Luccas disparou pelo corredor vazio e desapareceu na esquina. Ryota soltou um suspiro e fechou a porta discretamente. Quando seu corpo processou que o problema principal foi resolvido, quase desabou ali mesmo. Na realidade, Ryota cambaleou com as pernas doloridas de nervosismo, ainda entorpecida pelo álcool, até uma das poltronas disponíveis. 

Afundou-se profundamente nela e soltou um suspiro, esticando as pernas sem pensar duas vezes.

— Mas que falta de educação sentar-se no lugar de outra pessoa. Não deveria ter esperado muito da guardiã de Sua Alteza.

— An? Tem um monte de poltronas livres, sabia? Que tal mexer essas pernas e apenas sentar nessa daqui do lado?

Ryota não pensou duas vezes antes de responder com uma carranca. Porém, ela não esperava que a pessoa que falou com ela, ao erguer os olhos, fosse Juan Over. O membro da corte, que parecia ter saído apenas para pegar uma taça de vinho, a olhava com claro desprezo. Possivelmente ela deveria ter ficado envergonhada pelo próprio comportamento e forma de falar, mas tudo o que lhe vinha à mente era a mais pura necessidade de descansar. E, mais do que isso, a impaciência de fazer isso o mais rapidamente possível.

— Eu gostaria de não ter que lidar com essa situação de forma inconveniente. 

A forma que Juan se direcionou à ela foi claramente ameaçadora, mas a garota sequer sentiu um arrepio em sua pele. Na verdade, ver a expressão de agora não apenas desprezo, mas de um olhar afiado pronto para expulsá-la, a fez se colocar de pé com um salto e se aproximar do nobre de forma grosseira.

Ryota não era uma pessoa que costumava brigar, e, mais do que isso, o ambiente em que estavam não era nada favorável a isso. Ser testada por pessoas que desejavam seu pior era algo esperado da nobreza, que sempre pisaria naqueles que recentemente entraram neste mundo ou subiram de forma rápida demais, sem qualquer experiência. Provavelmente Juan esperava que ela apenas saísse dali e se desculpasse, um comportamento apenas natural a se fazer.

Ele poderia tê-la perdoado pelos atos de antes, mas a forma com que ela se aproximou, pronta para refutá-lo, o fez fechar ainda mais os olhos. 

— Ai, cara. Tá com dificuldade pra andar? Quer que eu te dê uma mãozinha?

— Não deveria falar dessa forma comigo, sua insolente.

— Insolente é você, filhinho de papai.

Ambos estavam bêbados, isso era certo. Havia rubor em seus rostos e a denúncia do cheiro de álcool estavam em suas bocas. Porém, a forma com que interagiam era completamente diferente. Assim como Fuyuki, Juan possivelmente era forte para a bebida. Ou, pelo menos, sabia se controlar o bastante para não se tornar um Al-Hadid que chamava a atenção ou uma Ryota que ficava com os nervos à flor da pele. 

Quando Ryota o ameaçou, dando cutucadas com o dedo indicador no peito de Juan, o nobre se enfureceu. Afinal, foi forte o bastante para balançar a taça, permitindo que gotas de vinho caíssem em sua mão. Por isso, quando Juan voltou-se para Ryota, pronto para retrucá-la de alguma forma… 

— Um brinde à essa maravilhosa festa.

Uma terceira voz se intrometeu, batendo uma taça de vinho com outra, impedindo que mais da bebida pudesse se espalhar. Com essa intromissão, o clima que começava a esquentar repentinamente se desfez, e tanto Juan quanto Ryota ficaram surpresos. Afinal, havia um rapaz que passava o braço ao redor da garota, puxando-o para si como se fosse levá-la embora com ele a qualquer instante.

— Veja só se não é o autointitulado lorde Furoto.

— É um prazer revê-lo nesta noite, senhor Over.

Zero abriu um sorriso amigável e respondeu ao comentário amargo sem qualquer malícia. Havia nele uma serenidade tão densa que até mesmo Juan pareceu perder a vontade de provocá-los, dando um brusco suspiro antes de se sentar na poltrona que antes Ryota havia reivindicado. 

— Agora, se me der licença.

Embora Zero tenha se despedido de forma educada, Juan apenas acenou para que se fossem de uma vez. Então, a dupla assim o fez.

— Agora eu sei porque esse imbecil tá sempre sozinho — Ryota riu alto — Fica expulsando os outros de poltronas aleatórias! Até parece que era dele, pra começo de conversa. Não vi o nome dele escrito, você viu?

O jeito com que ela falava, ainda bastante enrolada, porém, rápido o bastante para quase comer letras, era engraçado. As analogias feitas também não deixavam de ser estranhamente específicas, como se ela estivesse brigando com outro aluno por uma carteira roubada. Era o tipo de discussão idiota que apenas duas pessoas com orgulho forte fariam — ou duas pessoas sem qualquer paciência. 

— Você está bem? Espera… Você bebeu?

— Só percebeu agora?

— Ugh… Sim.

Por estar acostumado com as brincadeiras da garota, não percebeu de primeira que ela havia ficado alterada. Porém, assim que Ryota aproximou um pouco mais seu rosto do dele, Zero imediatamente sentiu o cheiro do álcool. Ele se desestabilizou ainda mais ao perceber que a garota parecia estranhamente próxima dele, como se tentasse chamar sua atenção com os olhos brilhantes e sorriso tentador. O braço que a envolvia rapidamente amoleceu e pretendia se soltar, mas Ryota foi mais rápida em mantê-lo ali, ao redor de seu ombro.

A garota encostou sua cabeça contra o peito dele enquanto andavam.

— O que foooi?

— … Nada.

— Não me diga… Que eu tô fedendo? — Ryota ficou assustada com essa possibilidade e rapidamente se cheirou, fez bafo contra a mão e sentiu o hálito — É isso, não é? Eu tô te incomodando?

— Então é assim como você fica quando bebe com a Fuyuki?

Zero pensou em voz alta e Ryota riu sozinha do apontamento, percebendo que possivelmente estava apenas sendo paranóica. O rapaz sorriu ao vê-la assim, estranhamente leve e com as maçãs do rosto coradas.

— É que aconteceram uma coisinhas, sabe? E eu… E eu… Aaaah! O que aconteceu com o Ed?!

— “Ed”?

De repente, se lembrando que pediu ao príncipe para cuidar de Miura por um instante, a garota rapidamente se virou para trás e passou seus olhos de forma desesperada pela multidão de pessoas. Em contrapartida a isso, sequer percebeu que deu um apelido estranhamente íntimo a Edward, deixando Zero completamente petrificado de choque.

— Aaaah! Merda, merda, merda. E agora? E agora, e agora?! — Ryota bateu-se no lugar, sem conseguir se concentrar.

— O que foi?

— É que, é que, é que…! Hmmm! Eu pedi pro Ed cuidar do Miura porque o Luccas apareceu aqui no castelo do nada com a Marie e eu não sabia o que fazer porque o Miura e o Fanes do nada tentaram ir atrás da gente mas eles não poderiam nos pegar então eu bebi duas taças de uma vez e fiquei doida e dancei com o Luccas daí ele saiu correndo e eu encontrei o Juan e então você e agora… E agora, e agora, e agora?!

— … Não entendi direito, mas você precisa de ajuda, certo?

Tendo falado tudo de uma vez sem pausar, Ryota apenas jogou todas as informações na cara de Zero, que piscou para processar o que ouviu. Então, se aproximou de forma séria e decidiu que a auxiliaria. Ela parecia estar com os sentimentos à flor da pele demais para se concentrar em manter a máscara agora. Então, para acalmá-la, o rapaz fez um cafuné em seus cabelos bagunçados.

— Pronto, pronto… Fica tranquila que nós vamos encontrar o Ed-... Sua Alteza — ele endureceu rapidamente as palavras no final. 

— Parece que chegamos no momento certo.

— Ora, boa noite senhor Furoto.

As duas pessoas que prontamente — e coincidentemente — se aproximaram eram Edward e Miura. Ambos pareciam estar conversando, mas não de uma forma alegre. Era mais como um diálogo lento e frio, típico de pessoas que não eram próximas. Porém, assim que o príncipe falou primeiro, Miura fez uma reverência para Zero, reconhecendo-o como alguém da nobreza. Isso surpreendeu Ryota e Edward por um segundo, mas eles nada disseram.

— É um prazer revê-lo, Miura — Zero respondeu ao cumprimento com um sorriso doce, também se virando para o príncipe e se curvando — Alteza.

— Parece que estava tendo uma conversa agradável com minha guardiã.

— Sim, estávamos.

Ryota piscou quando os dois trocaram palavras um pouco rudes, sem entender direito. Sua atenção se fixou no Akai, que parecia prestes a lançar uma bomba em sua direção.

— O que aconteceu com seu acompanhante? Achei que estavam juntos.

— Ele precisou sair para tomar um ar, de novo. Pelo jeito, o Luccas não gosta de lugares cheios.

Respondeu sem problemas as perguntas feitas, sem qualquer sinal de nervosismo ou tremores. Essa serenidade e clara verdade em suas palavras pareceu deixar Miura insatisfeito.

— É uma pena. Sua Majestade ficará terrivelmente magoado por ter rejeitado seu convite.

Embora as palavras tenham sido ditas com um “quê” de que a culpa era dela, Ryota apenas continuou sorrindo de forma natural. Ela quase riu em voz alta da situação, mas sentiu que seria desrespeitoso. Apesar do álcool estar influenciando sua forma de falar, ainda havia nela juízo o bastante para se manter focada no que era importante — e manter a discrição e a segurança de Luccas e Marie era sua prioridade.

— Por falar nisso, guardiões deveriam acompanhar seus mestres, não é mesmo? Acredito que Sua Majestade ficaria bastante infeliz sozinho desse jeito. Me pergunto com quem ele deve estar conversando neste momento… Será que pretende brindar com a corte?

Quando Ryota mencionou Fanes, propositalmente citando seus afazeres e atos, Miura se enrijeceu. Era engraçado ver como o cenário mudou completamente em segundos. A garota apenas falou aquilo que era verdade, e todos notaram que o foco da conversa não era exatamente o rei, mas o que ele estaria fazendo sozinho. Afinal, Fanes sempre era bastante distraído e cabeça-oca, podendo ser um pouco informal demais às vezes.

Ao perceber isso, o assassino notou que o trio o olhava como se desejassem que ele fosse embora — embora nenhum deles o encarasse com qualquer sentimento ruim, apenas um sorriso mascarado de educação. Ao engolir um suspiro de sentir a derrota amarga, Miura arrumou a postura e concordou com a cabeça.

— Se me dão licença.

Ao fazer uma reverência a Zero e Edward, o guardião se afastou rapidamente. 

Segundos de silêncio se seguiram antes que Ryota explodisse em gargalhadas altas e contagiantes. Ainda apoiada em Zero, ela enxugou as lágrimas que lhe escorreram e até chegou a tossir de tanto que riu. Seu estômago começou a doer ao ponto de precisar se curvar, mas era impossível não reagir daquela forma. Uma parte dela se aliviou quando o problema pareceu ser resolvido, e outra se sentiu completamente vitoriosa por ter sido capaz de encarar Miura sem temer de forma alguma.

— … Me d-desculpem…! Há, há… Ai, nossa… Minha barriga…! Ai, tá doendo…!

— Você está bem?

— Sim, ela está perfeitamente bem. Não se preocupe… Ed.

— … Certo. Espera, do que me chamou?

— Pffff! Há, há, há, há, há!

Com a interação dos dois rapazes, Zero colocando-se na frente da garota e Edward ficando sem entender a razão de tal comportamento, fazendo uma expressão surpresa ao ouvir o apelido que foi criado há poucos instantes, Ryota começou a gargalhar em voz alta de novo ao ponto de suas pernas cederem e Zero precisar segurá-la pelos antebraços.

Edward e Zero se olharam e balançaram os ombros, sem entender nada, mas sorrindo também.



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