Ryota Brasileira

Autor(a): Jennifer Maurer


Volume 6 – Arco 3

Capítulo 50: Recuperação

Quando a cena tensa se desenrolou, Marie notou tardiamente o que estava acontecendo. Estava ouvindo Ryota e Luccas conversando durante algum tempo, concentrada em sentir o calor das mãos unidas e do botão que carregava junto ao peito quando as vozes se interromperam. A audição que lentamente se tornava mais afiada detectou o som de alguém prendendo a respiração, então seu braço foi repentinamente puxado para trás. Embora tenha sido feito às pressas, não houve brutalidade no ato. Marie reconheceu que foi colocada logo atrás de Luccas e se prendeu a ele.

Foi então que conseguiu ouvir o som de passos à distância. Como o corredor estava vazio e era longo o bastante para que o eco se tornasse perceptível, a garota logo entendeu o que havia ocorrido. Alguém — ou melhor, parecia ser mais de uma pessoa — se aproximava. Imediatamente, Marie deduziu algumas coisas. A primeira é que, pela tensão gerada no ar e a forma com que ela foi brutalmente colocada atrás de Luccas a fez pensar que era alguém bastante problemático de se lidar. Então, ao perceber que sua presença seria apenas um incômodo, decidiu rapidamente que deveria dar espaço para Ryota e Luccas lidarem com quem fosse que estivesse se aproximando a passos velozes.

Em um instante, o mundo colapsou e dançou. A sensação de perder o equilíbrio e recuperá-lo um instante depois mexeu com sua mente e bagunçou seu estômago, mas ela já estava acostumada com essa sensação. Dito isso, quando Marie se teleportou para outro lugar em um piscar de olhos, ela logo se apoiou contra uma parede gelada, se agachou e escutou. Seus ouvidos eram cruciais agora que estava completamente dependente deles para conseguir andar sozinha.

 Ao se movimentar dessa forma, usando toda sua experiência de vida em se manter oculta e andar silenciosamente por lugares para roubar alimentos ou enfrentar outras crianças em brigas de rua, Marie escondeu sua presença. Porém, naquele outro corredor ao qual havia se teleportado, não havia ninguém por perto. A julgar pelo clima e pelo som abafado da música, poderia dizer que estava bastante distante do salão de festas, porém, ainda era um lugar com as janelas abertas em que o vento frio de inverno entrava.

Ao notar que estava sozinha e segura, a garota relaxou o corpo. Seus ombros baixaram e suor escorreu pela testa. Apesar de ter se recuperado um pouco da fraqueza de quando esteve nas celas, ainda era difícil usar suas habilidades com frequência. Antigamente, ela poderia ter se teleportado várias vezes seguidas sem se preocupar tanto, porém, a distâncias maiores e ainda por cima sem poder ver… Era um completo tiro no escuro. Se não se concentrasse o bastante, poderia ter se mandado sozinha para uma escadaria e caído dela, ou até para dentro de um cômodo com pessoas.

Incapaz de utilizar sua técnica de forma correta — tanto pela cegueira e pela falta de chi —, Marie manteve-se naquela posição encolhida por alguns instantes. Sua mente vagou para longe, pensativa. Para quando havia reencontrado Luccas, quando ouviu a voz baixa e desconhecida de uma moça que a tirou das celas, salvando-a daquele lugar frio e solitário.

As memórias vagaram para ainda mais distante, logo após terem passado pelas passagens secretas e despistado por algumas horas o homem que possivelmente os caçava até agora. A preocupação em como lidariam com aquela situação se dissipou logo quando a exaustão a levou para o mundo dos sonhos, desmaiando nos braços de Luccas enquanto ainda era carregada.

Marie se lembrava de muito pouco do que aconteceu enquanto andavam naquelas passagens. Apenas a sensação leve de ser levada por lugares frios e estreitos, o som de passos secos e vozes sussurrando vibraram em sua mente durante o sono.

Quando finalmente despertou, não sabia quanto tempo havia passado. Porém, seu corpo não estava mais sendo carregado ou parecia estar em movimento. Marie sentiu que havia deitado sobre uma leva de tecidos e sua cabeça recostada contra algo macio. Ainda demorava um instante para se acostumar com a ideia de que abrir os olhos não era mais possível, portanto, ficou alguns segundos completamente imóvel naquela posição.

— Luccas…?

A garota murmurou o nome daquele que esperava estar ao seu lado.

— Sim, Marie?

E recebeu uma resposta imediata, serena. Reconheceu que a voz vinha de logo acima de onde sua cabeça estava, percebendo então que deveria estar deitada no colo do rapaz. Imediatamente, uma sensação de alívio invadiu seu corpo, aliviando os ombros pesados. Ainda se sentia bastante cansada, porém, ter conseguido dormir por pequeno período foi bom o bastante para que tivesse recuperado melhor a consciência de onde estava e o que estava acontecendo.

— Sente dor?

— Um pouco.

A voz havia voltado a funcionar, embora ainda soasse aos murmúrios e rouca. Em consequência disso, Luccas retirou a tampa de uma garrafa de água em temperatura ambiente e ofereceu a ela:

— Beba um pouco mais de água. Precisa se hidratar direitinho, ok?

— Uhum.

Recebendo apoio para se sentar, Marie se inclinou contra o peito de Luccas e aguardou o toque da boca da garrafa em seus lábios. Quando isso aconteceu, bebeu a goles lentos e dolorosos. Sua garganta não estava apenas seca, mas também quase que completamente dolorida pelos gritos que havia dado quando foi torturada.

— Isso, muito bem. 

Quando tampou novamente a garrafa e a colocou no chão, a garota permaneceu naquela posição, as costas encostadas contra o peito de Luccas. Ela podia ouvir as batidas de seu coração e o calor de seu abraço. Era certamente muito mais agradável do que nas celas, quando tudo o que podia sentir era frio e dor. Quando só se ouviam lamentos de tristeza que marcariam para sempre sua mente. 

— Está com fome, não está?

— Um pouco.

— Apenas um pouco?

— Uhum.

Marie não queria discutir a respeito, mas possivelmente sua fome alcançou um estágio tão grandioso que sequer tinha vontade em consumir qualquer coisa. Mesmo a água, quando descia por sua garganta, parecia ser rejeitada pelo estômago. Ele borbulhava e fazia sons desagradáveis, como que saboreando o gosto pela primeira vez. Consequentemente, ela tinha dúvidas de que conseguiria comer alguma coisa sem vomitar.

— Aqui. O príncipe nos trouxe algumas frutas e um pouco de sopa.

— Sopa real? — Marie conseguiu rir, sentindo os lábios rachados doerem — Que chique… Cof, cof-

Ao falar um pouco a mais do que aguentava, sua garganta doeu e uma série de tosses se iniciou. Marie precisou de alguns minutos até poder acalmá-la, sentindo uma dor horrenda subindo por toda a sua cabeça. Pontadas frias soavam pelas suas têmporas, impedindo que pudesse relaxar de forma adequada.

— Cortei um quadradinho de maçã para você. É uma fruta bem doce e macia. Acha que consegue mastigar?

Marie tinha suas dúvidas quanto a isso, mas não ousou reclamar e correr o risco de tossir novamente.

Então, apenas abriu um pouco os lábios para receber o pedaço de fruta menor que uma unha na boca. A mastigação foi lenta e dolorosa. O suco da maçã adocicou seu interior e a fez sorrir um pouco. Entretanto, ainda era difícil voltar a comer normalmente. Então, após alguns segundos, finalmente conseguiu moer o alimento e engoli-lo apropriadamente. Mais algum tempo se passou, com a garota contendo-se para ver como o estômago reagiria à fruta. 

Parecia que experimentar comer novamente fez com que sua fome se atiçasse imediatamente. Embora a maçã não tivesse um cheiro especial, a saliva começou a se agrupar em sua boca quando o vapor da sopa sendo liberada no ar a atingiu. O olfato detectou imediatamente as batatas, cenouras e um tempero especialmente cheiroso que ela desconhecia qual era. Porém, sua barriga fez um som altíssimo em resposta.

— Muito bem. Vou resfriá-la para você — Luccas falou antes de começar a assoprar a colher de sopa em suas mãos, pacientemente a levando até os lábios da menina — Beba devagar. Amassei a batata para você mastigar.

As palavras de incentivo de Luccas eram dóceis e gentis. Ele falava bem baixinho ao seu ouvido, como um sussurro do vento. Os únicos sons que Marie escutava eram de Luccas batendo a colher contra o prato, da faca descascando e picotando as frutas, e de sua respiração. Apesar da situação nada favorável, a menina se sentiu quase nostálgica. Como nas vezes em que adoecia, ficando de cama, e o rapaz sempre fazia a mesma coisa por ela, preparando remédios e alimentos nutricionais, permanecendo ao seu lado até adormecer enquanto conversavam.

As colheradas e pedacinhos de fruta eram levadas de tempos em tempos até sua boca, em um intervalo um pouco maior do que o normal para que alguém conseguisse mastigar e engolir. Porém, era algo necessário a se fazer considerando o medo do corpo de Marie rejeitar a alimentação. Eventualmente, quando apenas um pouco da sopa e nem metade de uma maçã haviam sido ingeridas, ela ergueu a mão em um sinal de que era o bastante.

— Certo, vamos indo devagar, então.

Luccas concordou imediatamente com ela e guardou tudo o que havia usado. O som de sacolas e talheres sendo embrulhados chegou aos seus ouvidos. Marie escutou também quando o próprio rapaz começou a comer alguma coisa macia que foi descascada à mão. Era provavelmente uma banana.

Embora o estômago não tenha sido preenchido, apenas ter sido capaz de colocar um pouco de comida para dentro deixava a garota mais tranquila. Ela teria fechado os olhos se possível, descansando em silêncio, se fosse possível. Quando alguns minutos se passaram e Luccas terminou de comer, ele finalmente voltou a falar:

— Está acordada?

— Uhum.

— Como se sente?

— Melhor… Mas cansada.

— Entendo.

Marie não poderia mais ver o rosto dele, mas conseguia praticamente sentir suas ações. Ela podia imaginá-lo semicerrando os próprios olhos, pensativo sobre o que deveria fazer a seguir. Ele era exatamente esse tipo de pessoa, que sempre pensaria no melhor a ser feito. Em raras ocasiões Luccas era capaz de brigar com ela, sendo essas situações marcadas por cenas de brincadeiras e não um puxão de orelha de verdade. Marie esperava receber um sermão depois de tudo, por ter tentado invadir o castelo sozinha, porém nada veio. Isso a deixou um pouco temerosa sobre o que ele realmente pensava a respeito disso, mas a garota se manteve em silêncio.

— Não está se sentindo mal com essas roupas?

— … Um pouco.

— Eu tenho água limpa. Quer que eu te ajude?

A pergunta era bastante atraente. Embora não pudesse tomar um banho adequado, apenas tirar de sua pele toda a poeira e sujeira já ajudaria a desfazer a sensação incômoda que a impedia, em partes, de dormir adequadamente. Marie assentiu com a cabeça, em silêncio.

Então, Luccas se afastou para começar a preparar o banho. Marie escutou quando ele preencheu um balde com líquido e o trouxe para perto, mergulhando alguma coisa dentro dele. Em seguida, delicadamente, começou a despi-la. No passado, Marie teria ficado com vergonha por mostrar seu corpo nu à ele, mas agora não havia qualquer constrangimento naquele ato. Eram homem e mulher, mas, mais do que isso, eles eram como irmãos. Portanto, não havia qualquer ato ou pensamentos incorretos vindos das duas partes. Acima de qualquer coisa, Marie confiava em Luccas o bastante para que ele pudesse cuidar dela.

Mas parte dela se sentia mal por fazê-lo passar por aquilo. Em silêncio, ela se arrepiou quando o pano molhado com água fria tocou sua pele, mas permitiu que seus membros fossem limpos. Um cheiro agradável de flores alcançou seu nariz. Luccas fez aquilo em silêncio, concentrado na própria tarefa. A garota se perguntou o que ele deveria pensar a respeito dos ferimentos que manchavam seus braços e pernas. Dos cortes e ferimentos em seu corpo, originados durante a tortura e pelo tempo na cela. Ela suspeitava que estava magra demais, talvez ao ponto de ver os ossos. Parecia exagero considerando que foram apenas alguns dias, mas ela nunca foi do tipo que engordava, então conseguia facilmente imaginar a péssima situação em que estava.

A delicadeza no trabalho fez o coração de Marie se apertar de forma que poderia tê-la feito chorar. 

— Posso?

Marie assentiu quando Luccas começou a desfazer a faixa que lhe cobria os olhos. Lentamente, a escuridão se tornou menos nítida, mas ainda era mantida. A garota escutou-o resfolegar, em choque. 

— Luccas… 

— Me desculpa, Marie. Eu… Eu deveria ter feito diferente. Eu não devia ter te trazido até esse lugar, de novo. A culpa é toda minha.

A garota se calou ao ouvir as palavras embargadas, lágrimas escorrendo e sons de fungadas soando. Normalmente, Marie teria se irritado ao ouvi-lo pedir desculpas de novo. Porém, ao invés de raiva, o que sentiu foi algo diferente.

— Não… A culpa é minha. Você só fez o que achou ser certo — Marie tateou no escuro até encontrar o rosto molhado de Luccas, limpando as lágrimas — Isso não é sua culpa. Nunca foi sua culpa.

— Mas… Se eu tivesse feito mais, se eu tivesse pensado melhor na sua segurança… Eu não deveria ter me empolgado com a ideia de te trazer pra Hera pra comemorar. Me desculpa. 

— Não se desculpe, Luccas — ao invés do tom de irritação, havia uma serenidade quase que assustadora em sua voz — Quem devia se desculpar sou eu. Me desculpa por ter te desobedecido de novo. E obrigada por cuidar de mim. Agora e sempre.

Marie não era boa com palavras, mas tentou ao máximo transmitir seus sentimentos através delas. Ficou em silêncio enquanto ouvia o choro de Luccas, que não cessou, mas se intensificou. Ele continuou a chorar enquanto limpava delicadamente seu rosto, passando um pano úmido cheiroso por ele. Ainda doía, mas a menina não reclamou. Posteriormente a isso, o rapaz terminou o serviço a enxugando com uma toalha limpa, ainda fungando, e a vestiu com uma roupa nova. Em seguida, ela se deitou novamente em seu colo, quentinha, sendo coberta com algo peludo que ela deduziu ser alguma jaqueta ou algo do tipo. Ao se aconchegar, um suspiro escapou de seus lábios.

— Obrigada, Luccas.

Ele não respondeu seu agradecimento.

— Faz um favor pra mim?

— O que você precisar.

A voz dele ainda estava embargada.

— Pode… Fazer um colar com isso?

O que Marie revelou em sua mão, não tendo-o tirado uma única vez, era um botão dourado. Luccas piscou, surpreso, para o item estranho que segurava.

— O que é isso? Ah… Está quente.

— A Ryota me deu. Pra que eu não me sentisse sozinha.

Foi aquele pequeno e singelo ato, aquele pequeno e simples botão, que a manteve sã até aquele momento. Mesmo depois de ter sido resgatada, ele ainda possuia calor vinda do poder da garota de cabelos negros, que jurou resgatá-la e estar ao seu lado. 

— Entendo — Luccas respondeu baixinho — Mas… Por que um colar?

— Quero poder segurar ele. Sempre que me sentir insegura. Ou sozinha. Me deixa tranquila.

Marie falava pausadamente e baixo, tendo dificuldades para formar frases completas. Porém, o sentido daquela ação foi compreendida e o rapaz imediatamente começou a trabalhar. Luccas sacou um elástico e o amarrou, prendendo o botão nele de forma que pudesse ser usado como um colar.

— Aqui.

Marie se inclinou um pouco e sentiu os dedos frios de Luccas passarem o elástico ao redor de seu pescoço. Quando a garota segurou o botão com uma das mãos, abriu um sorriso largo e satisfeito.

— Obrigada.

— Marie, eu preciso que me diga… Me diga a razão de ter tentado entrar no palácio sozinha.

Um silêncio frio se seguiu. Ela sabia que aquele assunto chegaria cedo ou tarde, mas ainda havia medo de contar a verdade. E constrangimento em afirmar seu próprio orgulho frágil. Porém, ele merecia saber a verdade. Não apenas porque havia o desobedecido, mas porque ela sabia que ele ficaria sem dormir de preocupação se se recusasse a contar.

— … Eu queria encontrar alguém.

— … Encontrar alguém?

— Uhum.

Embora tenha sido uma explicação feita por cima, Luccas a aceitou. Embora a garota fosse desobediente, ele sabia que ela não mentiria àquela altura do campeonato, também não se sentindo confortável em forçá-la a falar tanto agora. Mas Marie não havia terminado.

— Também achei que poderia… Roubar alguma coisa valiosa. Pra vender. Mas acabei vendo uma coisa. Eu ouvi que o quarto… O quarto do príncipe estava perto. Então… Eu tentei entrar. 

— Pensou em roubar algo do quarto do príncipe.

Marie ficou vermelha de constrangimento.

— … Sim.

Era bastante absurdo, mas bem a cara de seus atos ousados.

— Eu… Também te ouvi. Quando falou com um dos guardas. Que queria resolver alguma coisa no palácio. 

Luccas estremeceu ao ser acusado daquela forma. Ele piscou, baixando o queixo. 

— Está certa. Eu pretendia voltar pra cá para resolver algumas coisas pessoais, também.

— … Quando estava perto do quarto — Marie continou, baixinho — Eu… Perdi a consciência. Me lembro de ter visto alguns guardas. E… Alguém com cabelos claros. Eu acho. Não sei direito. Minha cabeça dói muito.

— Certo, não precisa se esforçar. Descanse, Marie. Durma um pouco. Vai se sentir melhor depois.

— Uhum.

Pouco tempo mais tarde, Marie novamente perderia a consciência para as sombras e o cansaço. Porém, acordaria um pouco melhor e, a cada dia, conseguiria se recuperar um pouco mais. 

Mas não o bastante para voltar à ativa como antes.

Era difícil se teleportar sem ver o local para onde iria. Na verdade, quase impossível. O máximo que poderia fazer era imaginar para onde iria, mas demandava muito esforço de sua parte. Agora, tendo feito apenas dois teleportes, já se sentia muito cansada. Tanto que começou a suar e tremer. Porém, não poderia permanecer parada ali. Precisava se movimentar e encontrar Luccas de novo.

Precisava se esconder. Talvez entrar em uma passagem secreta de novo. Com isso em mente, e notando que estava sozinha, voltou a andar. Passo a passo, Marie se arrastou e tateou pelas paredes. Os ouvidos atentos ao som longe do salão, mas também à possível aparição de alguém.

Foi pensando nisso que virou uma esquina e bateu contra alguma coisa macia. No mesmo instante, caiu para trás e percebeu que era uma pessoa. Se assustou de imediato. Afinal, era alguém que não fazia barulho algum enquanto andava ou respirava. Sequer parecia estar presente ali desde o começo. Marie não ouviu o som de portas nem nada do tipo. 

Estava pronta para se erguer, para ativar novamente seu teleporte e fugir, quando ouviu uma voz que não lhe era estranha.

— Ah! Uma garotinha!

— … É você.

A primeira voz era aguda e doce, porém desconhecida. Ela se exaltou logo quando Marie caiu. A segunda era familiar, com um tom duro, porém feminino. Por conta disso, a menina, que tinha caído, voltou sua atenção para aquelas duas garotas.

Eliza olhou com surpresa para Kanami.

— Você a conhece? Oh, pelos Deuses. O que aconteceu com seus olhos?

— … Sim. É a menina que resgatamos alguns dias atrás.

Então, a curandeira e a assassina se entreolharam, pensativas sobre o que deveriam fazer.



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