Ryota Brasileira

Autor(a): Jennifer Maurer


Volume 4 – Arco 3

Capítulo 30: O Juramento e a Punição

A primeira coisa que Ryota sentiu ao acordar foi um gosto amargo na boca. Era semelhante ao que provavelmente seria o sabor de ferro — ou de sangue.

A falta de sentidos e direção a fazia ser incapaz de determinar onde estava ou o que estava fazendo. Uma dor quente latejava na parte de baixo de seu rosto, próximo ao queixo. Era uma queimação que a fazia ver estrelas e seu corpo amortecer.

Um zumbido estalava em seus ouvidos. Por conta disso, sua audição era afetada de forma que não conseguia distinguir as coisas que ouvia ou os vultos que estavam diante dela. A visão estava embaçada, mas o ambiente escuro demais não colaborava também. Ryota sabia que estava em um ambiente frio e silencioso, um local que passos não podiam ecoar nem serem ouvidos. Então, por mais que sua audição se tornasse decente em algum momento, ela provavelmente não conseguiria dizer com certeza quantos estavam ao seu redor. 

A garota piscou, desnorteada, quando alguém diante dela disse algo. Ela apenas voltou seu olhar sem sanidade para a pessoa, lutando para entender o que significavam aqueles grunhidos, aquelas movimentações e vozes. Haviam poucas iluminações no ambiente, e uma delas estava literalmente atrás de suas costas, numa provável parede. Ela podia assim dizer porque, adiante, haviam duas luzes semelhantes nas extremidades da sala, mas eram como chamas pequenas que apenas deixavam o lugar razoavelmente visível.

Sua cabeça, percebeu ela, estava inclinada para baixo. Os olhos lutavam para se erguer, fazendo um esforço inimaginável. Era uma sensação semelhante ao de lutar contra o sono, contra a própria natureza. Ao mesmo tempo, era estranho a ponto de parecer que não tinha controle algum sobre o próprio corpo. Ryota viu que sua visão lentamente mudou, sendo erguida na direção de uma silhueta sombria. Ela percebeu que estavam falando com ela, tentando chamar sua atenção, mas os ouvidos nada captavam além de movimentações irreconhecíveis ao cérebro.

Suas pálpebras se fechavam. Isso era um problema. Ela precisava dizer algo a eles. Tentar se comunicar. Então abriu a boca o máximo que pôde e falou, mas nada além de resmungos sem sentido saiu. Ryota não sentia, mas sua saliva escorria sem parar até o queixo. A pessoa diante dela, vendo isso, soltou-a e pareceu limpar a mão nas roupas.

Ryota percebeu que, apesar de não conseguir ouvi-los ou vê-los, aparentemente também não podia se comunicar. Ainda que os sentidos falhassem, isso conseguia compreender. Pensou talvez que, caso movimentasse o corpo em gestos, poderia mudar isso. Então tentou levar os braços adiante, mas percebeu que não conseguia. Isso porque não apenas o seu tato também estava afetado a ponto de amortecer os membros, mas também porque estava amarrada a uma cadeira.

Era uma cadeira simples de madeira, sem qualquer adorno ou enfeite decorativo. Se mantinha de pé de alguma forma, embora fosse do tipo que parecesse ter sido usada há anos a fio. Nela, estavam presos com cordas os braços e pulsos da garota na parte de trás; e os pés e pernas logo abaixo. Eram cordas finas, mas que davam nós tão profundos que marcavam a pele com um vermelhidão de dor.

Por isso, não importava o quanto tentasse se mover, nada acontecia. Mas para Ryota, que ainda não havia compreendido a própria situação, isso era só um pequeno problema. Ela ainda tentava se mover. Forçou os braços, os ombros, as pernas enrijecidas, os pés que formigavam, a mandíbula enrijecida, tudo o que estivesse à sua disposição para tentar se comunicar ou sair dali. Mas de nada adiantou.

Aquilo se estendeu por segundos, minutos, horas. Ela se movimentou, forçou o corpo, lutou, grunhiu, rugiu e saltou. Forçou-se ao ponto de fazer a pele rasgar e manchar-se de sangue, mas de nada adiantou. Lutou, lutou e lutou. A boca abria e fechava, querendo dizer algo, mas nada saía. O desespero de querer ser compreendida e compreender se transformou em raiva, então os atos se tornaram brutos. Dentes rasgaram e picotaram a língua, e sangue escorreu junto de saliva. Pele rasgou e manchou. Pernas moveram-se, mas para nenhum lado foram.

Havia dor. Havia desespero. Havia tristeza. Havia raiva. Mas não haviam pensamentos ou recordações para serem retomados. Ryota não tinha nada além de seus sentimentos, e foi com eles que lutou, apesar de, quanto mais se movia, mais se feria, e não percebia que a causa disso era ela mesma.

O que parecia ter durado uma eternidade finalmente foi interrompido com um único e exclusivo som. Mas ela demorou a entender que ele, semelhante a uma palma batendo na outra, nada mais era que um tapa que fora desferido em sua face. Houve queimação, mas não a compreensão da razão disso. 

— … ada?

Ah. Eu escutei alguma coisa.

Som finalmente se fez, e então ela compreendeu vagamente algumas letras, mas foi somente o final da frase. Ryota não entendia a razão de tudo estar acontecendo tão lentamente, como se o tempo tivesse simplesmente deixado de fazer algum sentido. Por qual razão era tão difícil falar e entender? Diante dela, Ryota sentiu que aquela pessoa de antes ainda estava parada, lá, esperando sua reação. Porém, desta vez, sua paciência rapidamente se esgotou, e então um murro foi desferido do outro lado de seu rosto. 

Tossiu e cuspiu saliva e sangue misturados. A língua que fazia jorrar o líquido lentamente quase a fez engasgar, mas conseguiu lutar contra isso. Por sorte, nenhum dente se quebrou. Foi só então que entendeu a razão de ter despertado sob uma forte queimação no queixo. Esse foi o segundo soco desferido naquela região. 

Ela riu ao perceber que, agora, os dois lados do rosto estavam com um peso esquisito. A boca estava escancarada num sorriso torto e horrendo, manchada de vermelho. Os olhos semiabertos, perdidos em algum lugar, vagueavam para os lados com serenidade, incapaz de ver ou entender seus arredores.

— Tsc. Que ridículo.

Porém, vozes foram escutadas. Mas a compreensão delas, não. Eram apenas sons sem sentido, mas que não lhe eram estranhos.

Os olhos azuis, que rodopiavam sem razão, foram levados a olhar para outra pessoa. Ryota entendeu então que haviam pelo menos dois junto dela, mas não podia enxergar nada além de suas silhuetas na escuridão. Não haviam cores. As vozes, por mais reconhecíveis que fossem, não eram entendidas e correlacionadas pelo cérebro a pessoas específicas.

O pescoço, que antes tinha se inclinado, foi repentinamente virado em um ângulo de noventa graus para que fosse analisado pela segunda pessoa presente. Esta pessoa estava usando luvas em suas mãos, provavelmente para que evitasse entrar em contato com os fluídos que saiam de sua boca.

— Ela está desperta, porém incapaz de discernir a realidade. Seus olhos estão se inclinando demais para trás. Vai perder a consciência novamente.

O rosto foi tomado por outra mão bruscamente. A silhueta se afastou quando a primeira tomou a dianteira da situação.

— Parece que precisarei mudar meus métodos.

Ryota sentiu a visão inclinar para o chão novamente e a pessoa dar a volta por ela. Então, desamarrou seus braços e mãos, levando-os para os braços da própria cadeira. Houve um pequeno instante de alívio, mas ele logo se dissipou. Sua visão embaçada mostrou a ela que a pele estava nua à luz, não estava vestindo sua jaqueta. Suas palmas foram amarradas para cima, prendendo fortemente nos pulsos para que não soltasse.

A garota sem qualquer noção de espaço ou tempo abriu a boca novamente para falar, mas ao invés de grunhidos ou palavras, um urro animalesco saiu.

— AAAaaaaaaAAAAAhhhHHHH… !!! Aaargh… Aah… !

A visão, antes embaçada, avermelhou por completo devido a dor. O corpo reagiu e se movimentou bruscamente a ponto de quase derrubar a cadeira. O rosto de Ryota se ergueu instintivamente, as pernas tentando se colocar de pé. Os olhos azuis se arregalaram e os dentes bateram uns contra os outros, rangendo. Após o grito que pareceu levar embora um pedaço de sua alma, ainda saíram tosses e grunhidos altos de agonia. 

Na palma da mão direita, havia um corte feito desde o pulso até um dos dedos. Sangue grosso escorria por eles e pingava no chão.

— … Seus métodos são realmente horríveis.

— Mas funcionam, ao contrário dos seus. Retorne antes que nos descubram, eu cuidarei disso sozinho.

Ryota não ouviu a conversa e nem a entendeu. Estava concentrada demais em conter a própria dor e respirar o ar sufocante daquele cômodo fechado e empoeirado. Portanto, não viu quando uma das silhuetas foi embora, a deixando sozinha com aquela que havia lhe ferido.

— … Finalmente poderemos conversar seriamente. Preciso descontar um pouco da raiva que estou sentindo.

Falando isso, o homem nas sombras estalou o chicote que segurava com as duas mãos. 

— Ah, agora acho que finalmente conseguiu recuperar a consciência. Não permitirei que durma novamente. Está me ouvindo bem, Ryota?!

— AaahhHH!!

Quando ela não respondeu, outro chicote estalou sobre sua mão. Dessa vez, naquela que ainda estava intacta.

— E então?

— … S-Sim… 

— Ótimo. Então, vamos progredir.

Na realidade, Ryota só conseguia escutar parcialmente. Ainda não havia compreendido completamente a situação, porém, percebeu que precisaria responder as perguntas para que as dores cessassem. Então, por mais difícil que fosse se concentrar, ela se esforçaria para isso.

As lágrimas nos olhos tornavam difícil olhar para a silhueta sombria, mas aparentemente a visão não era o ponto principal naquele momento. O lugar era propositalmente escuro e difícil de discernir.

— Você sabe onde está?

Ryota lentamente balançou a cabeça para os lados.

— Você sabe a razão de estar aqui?

Ela repetiu o movimento.

— Muito bem. Parece que você não sabe de nada, não é? Então me permita lhe contar.

Não podia ver, mas sentia que a silhueta estava dando voltas ao seu redor. A audição, ainda bagunçada, também reconhecia esse ato.

— Durante a madrugada, alguns ratos invadiram as celas e resgataram uma prisioneira. Eles desapareceram logo depois, sem deixar qualquer evidência. Bastante estranho, não acha?

Ryota ficou em silêncio.

— E sabe a parte mais interessante? Aparentemente, todos eles possuíam alibis. Todos os suspeitos de estarem envolvidos possuíam justificativas de onde estavam durante este horário, então a investigação acabou se desfazendo. Porém, Sua Majestade ficou bastante preocupado, sabe? Descobrir que cometeram um ato de traição como esse, e ainda por cima debaixo de nossos narizes… Sabe o que vai acontecer se essas pessoas sairem impunes, certo?

Houve mais silêncio. Quando o chicote estalou bem de leve ao lado de seu ouvido, Ryota grunhiu em concordância.

— Pense bem. O que será que a guarda real diria caso essa informação se espalhasse? Que eles não foram capazes de manter presa uma única garotinha? Que sequer foram capazes de conter um único envolvido? Sequer um suspeito? O que será que aconteceria se ninguém fosse punido? Seria um problema, certo? As pessoas ficariam infelizes e suspeitariam, certo? Seria um problema causar intriga entre a nobreza e as classes baixas, certo? É dever dos nobres demonstrar força, lealdade e responsabilidade, certo? Alguém precisa ser punido pelo ocorrido, certo? Então, o que acha dessa situação? Pouco tempo mais tarde, um outro ratinho se infiltrou nos aposentos do rei, e adivinha só? Conversou com ele sobre esta mesma prisioneira. Curioso, não é? Por que será que isso aconteceu? Me diga, Ryota. Me conte a razão. Vamos, fale alguma coisa. Responda!!

— Uuuurghh!

Uma chicotada voou em seu rosto. As palavras que saíam do homem nas sombras, que antes eram lentas e tranquilas, foram acelerando cada vez mais, o tom se erguendo até que explodisse num grito de frustração e revolta. Era assustador. Era desesperador. Ela não queria olhar. Ela não queria ouvir.

— Por que visitou os aposentos de Sua Majestade?

Por que… Eu…? Ah, é verdade. 

De alguma forma, os golpes realmente a faziam voltar à consciência. A dor impedia que o corpo neutralizasse os movimentos por completo e negligenciassem os pensamentos. Graças à última chicotada, Ryota se recordou do que estava fazendo.

— … Eu… Fui pedir a bênção de Sua Majestade… Para que pudesse me aceitar como guardiã.

— Prossiga.

A silhueta pediu rispidamente. Aparentemente, estava ciente de que não mentia. Ryota ergueu os olhos e viu um par de olhos vermelhos nas sombras.

— … E então… Nós conversamos… Sobre o príncipe… Sobre Sua Alteza.

— Prossiga.

— E… Então…

O que aconteceu depois?

— O que houve? Prossiga. Não me diga que se esqueceu.

— Eu… Estava com muito sono… Não sei… 

— Eu disse para prosseguir! Não para dar desculpas!

Dois tapas, dados dos dois lados do rosto, seguiram em seu rosto já sujo. Marcas vermelhas mancharam suas bochechas. Mas Ryota nada falou. 

— Então não se lembra. 

A silhueta assim compreendeu sozinha a razão de seu silêncio. E voltou a andar.

— Mas eu sei. Eu escutei tudo. Escutei quando falou sobre a prisioneira que foi resgatada. Então me diga, por qual razão estava interessada nela?

Silêncio.

— Responda!

Uma chicotada voou em seu rosto, fazendo um corte. Mas a garota não reagiu à dor.

— … Então, optará pelo silêncio? Está bem. Passaremos então para outras perguntas. Me conte a razão de ter se aproximado do príncipe. Por acaso está tentando seduzi-lo? Está tentando manipulá-lo? Faz parte ou está conectada com as pessoas que invadiram durante a noite de ontem? Hã? Me responda — A silhueta do homem se aproximou bruscamente pelo seu lado e agarrou seus cabelos, puxando-os para trás para que pudesse olhá-la nos olhos. Duas íris vermelhas brilhantes a encararam de volta. Ela podia ver seu próprio reflexo neles — Diga-me que Fuyuki Minami é uma traidora do reino de Thaleia e você sairá impune. Apenas diga com todas as palavras que sairá imediatamente deste lugar e não tocaremos mais neste assunto.

— … Ah.

E então ela entendeu. Ryota se lembrou de tudo.

Olhando para aquele par de olhos sanguinários, que buscavam loucamente alguém para culpar, entendeu perfeitamente a situação. Se lembrou de quem era, para onde ia e o que tinha prometido fazer. Ryota se lembrou das palavras que trocou com sua melhor amiga. Se lembrou da decisão que tinha tomado. E, neste momento, diante daquele ser que não poderia ser chamado de ser humano, percebeu que era sua oportunidade. Seu momento tinha chegado.

Ryota finalmente poderia cumprir com a sua palavra.

— Conte-me a respeito de Fuyuki Minami. Diga que foi ela a responsável por tudo isso e estará acabado. Você não quer sua liberdade, Ryota? 

— Não.

Essa foi a primeira palavra dita com precisão. Mas ela sequer pôde permanecer no ar por tempo o bastante antes que um muro atravessasse o rosto da garota. Ryota tossiu sangue e cuspiu. Já não conseguia respirar direito. Era sangue demais, sangue demais.

— Esta é sua última chance, Ryota. Aponte o dedo para a duquesa e encerramos por aqui. 

A silhueta se afastou e permitiu que ela se recuperasse.

— … Por quê? — Ryota perguntou após cuspir diante de si — Por que… Querem tanto isso? 

— Alguém precisa ser punido pelo ocorrido de ontem, e Fuyuki Minami está sob alvo de suspeita. Essa escória de mulher, achando que pode se colocar acima dos outros dessa forma, desonrando sua família e história… Será apenas um último chute para levá-la ao seu fim. É o destino dela ser uma vergonha desde que nasceu, então não importa o quanto tente, nada mudará isso. Digamos que esta situação será apenas conveniente para unir o útil ao agradável. E tudo o que precisa fazer para limpar sua própria pele de qualquer acusação ou problema é apontar seu dedo, Ryota. Simples e fácil assim. Ninguém saberá de nada, ela nunca descobrirá a origem deste testemunho. Têm minha palavra.

A silhueta, que Ryota agora já reconhecia como Miura Akai, estendeu uma das mãos na direção de seu rosto.

— Diga que Fuyuki Minami traiu o reino de Thaleia e encerramos aqui.

Ryota desceu os olhos do par de íris vermelhas nas sombras para a mão branca e lisa estendida. Mesmo usando o chicote, nenhuma marca permanecera sobre ela. Percebeu então que ele havia retirado as luvas que usava para se proteger da sujeira apenas para este momento. Foi um ato de respeito às palavras que diria, de que aceitaria o que quer que saísse de sua boca.

Naquele instante, Ryota percebeu que havia aí a chande de uma mudança de vida. Miura esperava que ela aceitasse a proposta, culpasse Fuyuki pelo ocorrido e ela provavelmente estaria completamente acabada. Sua família seria desfeita e crimes punidos. Haveria uma testemunha e as palavras de Miura contra ela, talvez ainda outros apontamentos, e então a comprovação de tudo. Eles precisavam de alguém para pagar por seus crimes. Mas, principalmente, para ocultar o possível escândalo que ocorreria no palácio se descobrissem a respeito de Marie.

De fato, seria unir o útil ao agradável, não é?

Foi pensando nisso que Ryota sorriu e disse:

— Vai pro inferno — e cuspiu na mão limpa do assassino.

Os olhos vermelhos se estreitaram como os de um demônio.

— … Está bem. Então o peso da traição precisará ser passado para os seus ombros.

Quando assim escutou, Ryota respirou fundo e aguardou pelo pior. O que veio a seguir ela realmente não se lembrava direito. Houveram flashes de luzes. Ela viu sangue escorrer de suas mãos e braços, com cortes infinitos que se sobrepunham uns sobre os outros. Seus gritos ecoaram por longos minutos, longas horas, até que a voz finalmente se desfizesse e sumisse por completo. Quando era levada ao inconsciente e despertava horas mais tarde, a sessão seguia. Algumas vezes, lembrava-se da luz desaparecer e as dores continuarem. O saco de veludo escuro lhe prendia o ar e impedia de gritar quando suas unhas foram cortadas e arrancadas. Havia calor. Muito, muito calor.

Não sabia quanto tempo havia passado. Podiam ser minutos. Podiam ser horas. Dias. Semanas. Injetaram coisas nela. Em suas veias, em sua língua. Ela não sabia dizer o que era, pois sua vista e audição, sempre que acordava de novo, estavam desorientadas, mas despertavam eventualmente com as dores.

E assim Ryota passou um bom tempo naquele cômodo escondido. Um lugar ocultado dos olhos e dos ouvidos de todos. Um lugar escuro e solitário, que era frio, porém seu corpo mantinha-se constantemente quente. Não havia fome, pois a dor a impedia de sentir tal coisa. Não havia sono, embora a exaustão mental quase a tivesse levado diversas vezes. Não haviam mais lamentos, perdões ou pedidos de socorro. Ela não se permitiu dizer nenhuma dessas coisas até o fim.



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