Ryota Brasileira

Autor(a): Jennifer Maurer


Volume 4 – Arco 3

Capítulo 20: O Autodeclarado Lorde

Uma mancha negra cobria uma das paredes do salão. Uma grotesca mancha da queimadura, causada pela explosão. Do corpo do homem, ao qual havia sido retirado a máscara, não sobrou nada. Sequer um fio ou uma gota de sangue. Tudo se transformou em pó, e Ryota quase foi junto, caso não tivesse desviado a tempo. 

Ela deveria agradecer à Sora por perceber aquilo antes e puxá-la pela gola, lançando-a para trás antes que tudo acontecesse, ou teria se queimado bem mais. Ainda assim, doía. E como doía.

Era difícil erguer os braços, embora a queimadura não tivesse sido tão grave. Podia ter se desfeito, ao invés disso, ficou marcada nos braços com manchas que ardiam como o inferno. A pele derretida era terrível de olhar. Ryota não conseguiu conter um gemido de dor quando, devagar, após todos se afastarem a tempo — menos ela —, virou o rosto na direção do lugar onde anteriormente havia ocorrido a explosão.

— Outro gatilho — Fuyuki estalou a língua, embora dor preenchesse sua expressão. Ela franziu a testa. — Então a máscara também... 

— Para evitarem lerem suas expressões faciais, suponho. Me pergunto se algo semelhante ocorreria caso um leitor de mentes tentasse retirar informações deles. Embora fosse perigoso até para alguém com tal capacidade...

Ryota apertou os lábios para a conversa entre a duquesa e Jamal, que se aproximara de braços cruzados, logo balançando a cabeça para a conclusão a que chegara.

— Suponho que nada ocorrerá desde que os mantenhamos assim.

Os olhos dos dois se passaram para os demais invasores, presos com cordas, mas ainda vivos. Não pareceram reagir ou se importar com a explosão.

— É perigoso demais. Não podemos arriscar.

— São fontes de informações valiosas, senhorita — argumentou Jamal, ainda tentando cogitar uma possibilidade, e gesticulou com uma das mãos — Se pudéssemos tentar estudá-los-

— E correr o risco de perder mais vidas no processo?

Fuyuki semicerrou tanto os olhos que pareciam fendas, olhando com seriedade para o guardião de postura ereta.

— Não sei que tipo de pessoa seu mestre é. Se acha que vale a pena sacrificar alguns de seus homens apenas para ter informações, faça, mas não me envolva nisso — Ela cruzou os braços, erguendo o queixo — Estou de acordo com Miura. Façam isso logo, ou usem-os como desejarem. Não tem relação comigo, de toda forma.

Virando o rosto e encerrando a conversa antes mesmo de Jamal poder respondê-la, Fuyuki saiu andando na direção dos tronos, Sora em seu encalço, fazendo uma reverência com a cabeça para o outro guardião antes de segui-la. 

Fazer uma acusação direta ao mestre de seu guardião era uma forma antiga de descreditá-lo. Como se ele não fosse digno de ser ouvido. Ou, pior: Seria repreendido pelo próprio senhor a pedido de outro. Não era uma punição muito agradável, na maioria das vezes.  

No caminho, ela parou ao lado de Ryota, que tinha se afastado para tentar lidar sozinha com a própria dor. Os dedos se abriam e fechavam devagar, quase travados. Talvez ela estivesse tentando cerrar os punhos, mas não conseguisse. Concentrar-se na própria respiração parecia uma boa forma de distração. Uma sombra percorreu as íris azuis dela quando se ergueram para a duquesa.

— Você está bem?

— ... Já estive melhor.

Uma risada forçada não diminuiria a dor, mas forçaria sua mente a acreditar que sim.  Embora Ryota não acreditasse que sensações como essa fossem apenas psicológicas.

— Precisa buscar um curandeiro imediatamente.

— Tá. Ok.

Seus olhos deslizaram para os do assassino, e Ryota esperava muito alguma provocação em relação à sua falta de cuidado, ou uma repreensão dura pela ação sem pensar, mas recebeu apenas silêncio.

E isso foi ainda pior.

— Obrigada. Por me ajudar.

Foi tudo o que conseguiu grunhir para ele. Sora analisou o ferimento, mas não fez qualquer careta para a aparência nada bonita. Ao invés disso, ergueu seus olhos de novo e assentiu, como se correspondesse ao agradecimento em silêncio.

Com todo o esforço que conseguiu juntar, a garota se desencostou da parede. Amaria ter um pouco de água e faixas agora. Analisando os arredores, e conscientemente evitando os homens mascarados, que embora estivessem “indefesos” no chão, ainda eram um tanto ameaçadores considerando o que recém acabara de acontecer, a garota colocou toda a força que tinha em seu andar na direção do príncipe. Os braços, escondidos atrás das costas, pareceram suficientemente suportáveis naquela posição, embora sua vontade fosse gritar. De dor e de raiva. De si mesma. E do olhar nada calorante que vinha de Miura quando ela parou contra a parede.

Sofia estava sorrindo para ela, mas Ryota não a olhou.

Ao invés disso, se concentrou nos sons dos passos que vinham em sua direção, o retumbar pelo salão parecia distante.

— Me siga.

Ela sabia que Miura não queria desculpas ou perguntas quando falou, então Ryota apenas o obedeceu.

Chegaram, novamente, perto da mulher mascarada que fora derrotada. Agora, estava presa, com o rosto baixo. Mas ela se moveu um pouco, ansiosa, quando a espada tilintou ao ser passada para a mão da garota. 

— Faça.

Ele queria que a matasse.

Viu aquilo através de suas íris sem qualquer luz ou vida.

Quando Ryota não se moveu, Miura forçou a bainha da espada ainda mais contra seu corpo, a forçando a pegá-la. A dor alucinante de seu braço a fez ver estrelas.

— Faça — repetiu ele, então deu um passo para trás, ignorante aos ferimentos da queimadura.

Seus olhos trêmulos desceram para a mulher sentada diante de si. Quieta. Ciente de sua morte vindo. Mas totalmente despreocupada com isso.

Seria um ato de misericórdia? Matá-la antes que se matasse? Isso se fosse um ato voluntário. Queimar até a morte ou ter o coração esmagado devagar não pareciam formas muito agradáveis de morrer.

Então... Ela teria que...

Devagar, Ryota desceu a lâmina para baixo, ainda distante da mulher.

Ele quer... 

Os olhos dela encontraram os de Miura. E a ordem silenciosa quase foi cravada em seu peito.

... Que eu a decapite.

O fôlego dela ficou bagunçado. O ritmo da respiração, irregular. 

Seria fácil. Sim. Ela só precisava virar seu corpo e passar a lâmina pelo pescoço dela. Seria indolor. E rápido. 

Seus dedos começaram a tremer. Assim como seus lábios.

Mas ela conseguiria? Não estava exatamente em condições para matar alguém. Nem fisicamente, ou mentalmente. Principalmente depois de testemunhar dois suicídios. Só segurar o cabo da espada já era difícil. Ela estava pesada... Bem pesada. 

Não conseguiria mantê-la reta o suficiente.

— ... Aqui.

Bile quase escapou de sua garganta quando, com os dedos “gentis” mais ameaçadores, Miura ajudou-a a segurar a espada. Ryota gemeu de dor entredentes, quase salivando.

— Nunca matou ninguém antes?

Sua visão estava ficando embaçada. Escura.

— ... Entendo. A primeira vez é difícil para todos. Não precisa se preocupar.

As palavras que saiam de seus lábios pareciam cravar na mente dela. A respiração dele estava tão perto que podia sentir em sua orelha. Ele tinha apoiado o queixo em seu ombro direito, a mão esquerda segurando o outro ombro, como que a impedindo de fugir. Ou de reagir. 

— Devagar.

Ryota sabia que deviam estar olhando. Fuyuki. Sora. Edward. Fanes. Sofia. Todos eles. Para a guardiã medrosa, aquela que ficava atrás do príncipe. Que não fez nada além de ficar parada...

Grunhiu de dor quando seu braço foi lentamente erguido para cima. Sua respiração desacelerou por completo. Estava respirando pela boca. 

Entredentes, agora. Soluçando.

Então quase desmaiou quando a mulher olhou para ela. Como se visse seu medo, sua dor, sua raiva, sua agonia, seu nojo. E só aceitasse tudo aquilo.

Atrás da máscara, uma lágrima quente escorreu. Então outra. E Ryota percebeu que estava chorando também. 

— Faça.

Foi um rosnado. Não uma ordem.

Ryota inspirou fundo, quase rasgando a garganta, perdendo o fôlego. Achou que tinha gritado. E talvez realmente tivesse quando a mão de Miura a soltou.

E seu braço desceu.

A cabeça da mulher quicou pelo chão com um barulho horrível. Sangue se esparramou, e o corpo se inclinou para o lado.

Estavam todos olhando para ela agora.

E não podia se mover.

Nem. Um. Centímetro.

Perfeito.

O calor grotesco do assassino se afastou, e ela quase sentiu falta dele quando um ar frio a tocou. Assim como a noção de que a tinha matado. E os olhos de julgamento sobre seu olhar de desespero, sobre a lâmina manchada em sangue... E sobre a cabeça, a qual a máscara caía para o lado, revelando o rosto de uma mulher jovem chorando e sorrindo.

O mundo escureceu e torceu. Seus joelhos fraquejaram. E Ryota vomitou no canto quando as portas do salão se abriram com tudo.

***

Os passos da pessoa que entrou para o salão do trono eram impacientes. 

Mas não foi sua chegada nada esperada, ou a forma com que seus olhos prateados passaram para os arredores, nem o jeito com que analisou rapidamente a situação percebendo que ninguém importante havia sido morto que surpreendeu e agitou a corte.

Foi o rosto dele.

Um rosto que já haviam visto antes, mas agora, com as novas vestimentas e porte, parecia totalmente diferente.

Parecendo notar quem realmente era o jovem que entrou ali, Fuyuki manteve-se onde estava e sorriu para o colega que entrou flanqueado por vários guardas. 

— Está um pouco atrasado, não acha?

A duquesa se surpreendeu com sua própria voz se dirigindo para ele, então abriu ainda mais o sorriso quando Zero olhou-a, arqueando uma das sobrancelhas.

— O suficiente, suponho. De toda forma, não parece que precisariam de mim aqui — Seus olhos prateados passaram por todo o salão, analisando a situação, então cravaram-se na parede manchada de preto logo ao lado.

Os guardas que o acompanhavam já tinham se dispersado por toda a sala, e, quase ao mesmo tempo, a passos pesados, alguém vinha se aproximando. Zero se virou a tempo de desviar da mão que iria pousar em seu ombro, e, com certeza, sacudí-lo.

— O que pensa que está fazendo aqui? — perguntou baixinho Juan, as feições sérias quase deixando transparecer sua raiva ao ver o rapaz.

Zero endireitou as costas, completamente tranquilo.

— Atualmente, faço parte da elite da duquesa Minami. Neste momento, entretanto, venho até aqui como um igual.

— Um... — Ouviu-se uma risada saída do fundo da garganta. Quase como se forçasse um catarro a sair. — Você? Um igual?

— Exato, senhor Juan Over. 

— Até onde estou ciente, garoto, não está incluso nesta corte. Sequer na nobreza. Não pode adentrar um cômodo real sem a permissão de sua mestre, ou de Sua Majestade.

A risada que Zero soltou pelo nariz claramente o estressou ainda mais.

— Então é melhor que fique ciente agora, senhor Juan, que não está perante o guardião da duquesa Minami. Não mais.

O rapaz inclinou a cabeça, os cabelos violetas deslizando por seu rosto.

Então ergueu o dedo indicador, apontando para o homem. 

E se aproximou para tocá-lo. Apenas para ele dar um passo para trás, evitando-o.

—  Abaixe o tom de voz quando se dirigir a um lorde de Thaleia.

Silêncio completo preencheu o salão quando Zero alargou o sorriso. Um sorriso malicioso, porém respeitoso o bastante para não demonstrar qualquer ameaça. Talvez por isso que seu guardião sequer se deu ao trabalho de acompanhar o mestre. E Juan apenas cerrou os punhos quando o jovem passou ao seu lado, caminhando lentamente na direção dos tronos.

Seus passos ecoavam pelo salão, ignorantes quanto ao sangue e corpos ao redor. Mas não à garota encolhida num dos cantos, aos quais ele visualizou de esguelha, entretanto, não se aproximou. 

Uma reverência longa foi oferecida ao monarca e seu filho.

Agora, de perto, Fuyuki podia analisar a nova presença. E as novas vestes de Zero Furoto, o legítimo herdeiro dos Furoto. 

Fazia muito tempo que a duquesa não via pessoalmente um membro daquela família tão renomada. Nem presenciava alguém usar roupas tão elegantes e sofisticadas, que davam um ar completamente diferente ao rapaz. Embora seu gosto particular por peças leves pareça ter se mantido.

O antigo colete foi substituído por outro de mesma cor, com botões dourados e barras da mesma cor que alcançavam seus joelhos. Por baixo, uma túnica de mangas compridas de bege com ombreiras e outros detalhes marrons se sobrepunha sobre uma calça preta. Calçava um par de botas simples marrons lustradas, os saltos ecoavam como se fossem sinos chamando por atenção. 

Não se podia dizer que era uma pessoa diferente, apesar de sua atitude e aparência terem tido uma esplendorosa mudança. Fuyuki, internamente, estava impressionada. Sora, no entanto, não demonstrava qualquer sinal de que fosse reagir a isso, embora ele fosse um dos responsáveis por fazer Zero Furoto firmar sua decisão.

Aparentemente, a repentina mudança no jovem também surpreendeu os dois membros da realeza, que arqueavam as sobrancelhas durante sua reverência, analisando seu porte, fala e visual.

Os olhos esmeralda de Fuyuki se desviaram para Ryota, que ainda estava recostada contra uma parede, uma das mãos segurando o tecido onde estava o coração, a outra na boca. Ela não parecia nada bem. 

Com toda a discrição possível, e trocando olhares com Sora que diziam tudo, Fuyuki se afastou a passos silenciosos de todos e se dirigiu até o outro lado do salão, esperando não ser alva de palavras ou olhares.

— Uma entrada chamativa... Zero Furoto.

Zero não pareceu incomodado que Fanes não tivesse usado seu título.

Na realidade, não parecia sequer envergonhado ou preocupado com sua situação nada favorável. Claramente, maior do que o desprezo por Fuyuki, uma mulher que herdou os Minami com um legado sangrento e trabalhando por objetivos egoístas, era a repugnação de todos por um herdeiro que abandonou tudo e todos ao longo de dez anos. Então, autoproclamar-se lorde, quando sequer o havia formalmente reivindicado, tendo sequer apoio de metade da corte, era no mínimo ousado. 

Era perigoso, e uma afronta direta aos opositores. Àqueles que seguiam preservando a honra dos antigos Furoto, da família que se desfizera e sumira do mapa, e não abaixariam a cabeça para o garoto que, do dia para a noite, resolvera tomar o cargo como seu. 

O sangue, por mais valioso que fosse, não era tão honrado quanto um nobre coração.

— Sinto muitíssimo por ter atrasado minha chegada. Houveram alguns conflitos em todo o palácio que requisitaram a minha presença. Então imaginei que, por este salão estar repleto de pessoas tão capacitadas, não precisaria me preocupar com o estado de Vossa Majestade ou de Vossa Alteza.

Edward não pareceu discordar do apontamento, embora o rei, ao seu lado, parecesse um pouco surpreso com o pensamento.

— Quais alas foram invadidas?

— Especialmente o coração do palácio, Majestade. Pareciam querer interceptar qualquer entrada ou saída deste lugar, então infiltraram-se para distrair os guardas e lhes prender aqui. Está tudo resolvido, agora.

— Quantas baixas?

O semblante de Zero escureceu.

Fuyuki se ajoelhou ao lado de Ryota, fazendo uma carícia em suas costas de forma circular. 

— Um relatório chegará em breve nas mãos do senhor Miura — Olhando-o, Zero e o guardião trocaram acenos de cabeça, então o rapaz olhou para a corte — Uma limpa já está sendo feita. Pediram para que eu vos avisasse para seguirem para seus respectivos cômodos seguindo pelo oeste, pois a ala leste foi interceptada esta noite. Acreditam que durante a manhã tudo estará de volta ao normal.

Fanes assentiu, mas os outros nobres não o imitaram. Sofia riu com o nariz, mas não de um jeito sarcástico, ou repreensivo. Apenas divertido.

— Isso significa que estão todos mortos?

— Correto, Alteza.

Pela primeira vez, as íris prateadas encontraram as rosadas.

Estavam se referindo aos invasores, é claro. Foram todos devidamente aniquilados, como Fuyuki e Miura supuseram ser o correto. Uma careta torceu o rosto de Jamal.

— Permitiriam-me perguntar o que pretendem fazer com os remanescentes?

Silêncio.

Um silêncio movido apenas pelas respirações pesadas da corte, que aguardavam a resposta do monarca. Nem mesmo Edward Fiore se colocou à disposição para respondê-lo.

Os olhos azuis estreitos, sem luz, quase sem foco, também se voltaram para a presença no centro do salão.

E ela quase teve certeza de que o rapaz, seja lá quem fosse, também a olhou de lado.

— O que deve ser feito.

Não era preciso ser mais específico.

— Me concederia a honra de cumprir esta tarefa?

Zero baixou o rosto, até que um grunhido de afirmação chegou aos seus ouvidos. 

— ... Como desejar.

O sussurro do autoproclamado lorde Zero soou tão baixo que poucos escutaram, pois sua voz sumiu ao vento que invadiu a sala, tão controlado e moldável quanto a água.

Então cabeças rolaram.

Rolaram por poças de sangue, mas os corpos permaneceram recostados contra as paredes. Foi tão rápido e silencioso que alguns demoraram para entender o que tinha ocorrido. Zero Furoto tinha matado os invasores restantes sem erguer a cabeça ou mover o corpo. Sem sequer olhá-los. 

Só tinham percebido o que ocorrera quando o barulho oco encontrando o solo ecoou pelo salão.

Endireitando a postura diante dos olhos de surpresa e algumas bocas silenciosamente escancaradas, Zero fez outra reverência com a cabeça.

Graça e penhor ao Pequeno Sol. 

Hosana — ecoaram o monarca e seu filho em resposta, então o rapaz se levantou.

O que aconteceu a seguir foi rápido e automático. Os guardas começaram a limpeza no salão, guiando seus senhores para os respectivos quartos, flanqueados por pelo menos cinco homens, além de seus guardiões, “apenas para garantir”. Não que houvesse qualquer chance de serem atacados novamente, pois já vigiavam os arredores, as entradas e saídas, as passagens supostamente secretas e todos os possíveis locais para esconderijos. A ameaça se fora junto da vida daqueles invasores.

Os líderes das elites foram guiados aos seus quartos logo depois de Fanes e Edward, embora este último tenha ido sozinho, ao lado do pai. Um sorriso em seu rosto indicava sua tranquilidade, embora o pai tivesse enrijecido os músculos da face. Como foram guiados um a um, Fuyuki não se incomodou em pedir para ser levada imediatamente, e sequer estava cansada o suficiente para se deitar. Suspeitava que não conseguiria pregar os olhos naquela noite, se não fizesse algo antes.

— A senhorita está bem?

— Sim — Ela voltou os olhos para Sora, semicerrando-os — E você?

Ele arqueou um pouco as sobrancelhas, surpreso com a pergunta não natural. Mas respondeu:

— Nada grave. 

— Certo.

— Está procurando por ela?

A duquesa fez uma careta de que foi pega no pulo.

— Pareço tão óbvia assim?

— Peço que perdoe minha insolência, entretanto, a senhorita não está nada discreta olhando desta forma para os arredores. 

— ... Ah. É? Sei. Estou parecendo uma mãezona, não é? Era o que ela sempre me falava.

Fuyuki esfregou os braços, um sorriso fraco no rosto, então passou os olhos pelo salão, esperando ver algum fio de cabelo de Ryota.

— Não se preocupe. Se não está aqui, deve ter sido encaminhada para um curandeiro. Seus ferimentos estavam piores do que aparentavam. E seu estado mental...

A duquesa torceu a boca.

— ... Ela ficava repetindo que “ia ficar tudo bem”, mas não acho que... Ah. Esqueça. Estou me preocupando demais, não é? Sinto muito.

Sora pensou em dizer que não tinha dito nada demais àquela altura, e que pelo jeito frenético com que a garota vinha repetindo aquilo, parecia mais uma oração própria que qualquer outra coisa.

Pensou também em dizer à mestre que o rapaz de cabelos violeta também tinha sumido, mas as palavras entalaram na garganta quando um grupo de guardas se aproximou para guiá-los aos seus aposentos. Então o assassino apenas olhou para trás, além das cortinas pesadas ao lado dos tronos, e franziu a testa.



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