Volume 4 – Arco 3
Capítulo 18: Um Contra Todos, Todos Contra Um
Com a noite caindo e a movimentação concentrada no primeiro andar do castelo, Zero não hesitou em sair do quarto de sua mestre e se dirigir até o final do corredor, indo na direção contrária do salão de jantar. Sem se preocupar se fosse seguido — o que duvidava muito que fosse acontecer, uma vez que não havia razão para nenhum dos outros guardiões ter tanto interesse em qualquer coisa que fosse fazer —, um pouco de ansiedade gelada passava por suas veias.
Porém, enquanto andava a passos lentos e silenciosos pelo corredor vazio, iluminado pelas lamparinas nas paredes, uma figura escondida logo chamou sua atenção. Era um homem de estatura mediana, passando um pouco da altura de Zero, que estava de braços cruzados o esperando. Logo que percebeu sua presença, ele apenas se desencostou da parede e parou no meio do caminho, aguardando alguma palavra ou reação do rapaz.
Mas foi a própria figura quem quebrou o silêncio ao erguer a palma pra cima.
— E não é que você veio mesmo?
— Nunca disse que não viria.
Uma risada escapou da garganta de Sasaki. Falavam em um tom um pouco mais baixo que o normal, esperando não chamarem atenção, mas não era um encontro noturno especialmente secreto.
— Sempre com uma resposta na ponta da língua, hein? Passar um tempo com os Akai realmente faz uma diferença danada. De toda forma — Virando-se, o homem pôs-se a andar pelo seguimento do corredor, e Zero foi logo atrás — Estive realmente me perguntando se acabaria desistindo dessa ideia.
— E por que desistiria? Fui eu quem a sugeriu, em primeiro lugar.
— Mas quem ficou responsável por marcar esse encontro foi o cara aqui, ó — apontando para si mesmo, Sasaki arqueou uma das sobrancelhas quando olhou por cima do ombro — Na verdade, eu falei sobre isso meio que no calor do momento, então vou me sentir meio culpado caso as coisas não ocorram como esperado.
Zero franziu a testa para os ombros curvados dele, a lateral de seus corpos iluminados, parte pelas luzes amareladas das lamparinas, parte pela luz azulada da lua cheia no céu, do outro lado, através das janelas.
— Fiquei surpreso quando me pediu ajuda...
— Uma sugestão.
— ... Certo, quando pediu uma sugestão de como poderia reivindicar seu lugar como herdeiro dos Furoto. Foi bem de repente, e jamais pensei que falaria algo assim justamente pra mim.
Sasaki pareceu rir sem qualquer ironia na voz.
— Apenas achei... Que seria a pessoa ideal.
— Por que não falar com a princesinha? Ela está bem mais acostumada com a nobreza, principalmente com a corte, do que eu. E, apesar de estar somente dois anos no poder, é uma matriarca que fez história. Imagino que ela poderia ter dado algumas dicas, ou pelo menos dito algo melhor.
Pensando por esse lado, Sasaki tinha razão. Fuyuki Minami estava diretamente ligada a tudo o que Zero, em teoria, poderia precisar saber, ou caso precisasse de apoio para retornar ao seu lugar como herdeiro... Ao seu lugar como patriarca da família Furoto, a duquesa seria a pessoa ideal para pedir ajuda.
E foi o que Zero tinha pensado, e até chegou a comentar com ela a respeito. Foi uma conversa um pouco estranha, na época. Não fazia nem duas semanas, mas ele também evitou se aprofundar muito no motivo de ter, repentinamente, a vontade de tomar o que era seu por direito. Então, quando perguntou a respeito...
Ainda se lembrava do jeito sério com o qual Fuyuki o olhou, como se não fosse algo exatamente simples de se fazer, e acabou dizendo coisas que ele já esperava ter de lidar ao longo do tempo para ser reconhecido e para poder reivindicar a liderança da família.
— Ela me disse... Que preciso conseguir apoio da corte e demonstrar estar pronto para liderar. Embora os Furoto tenham praticamente desaparecido, não tendo deixado nada para seu herdeiro por direito poder usar, como dinheiro ou status, ainda assim vou precisar dar um jeito de provar minha palavra e intenções. E também preciso criar uma base para isso, antes de tudo, já que...
— Vai ser quase como fazer tudo do zero, não é?
Sasaki inclinou a cabeça para a conclusão final. Por mais que o sangue de uma família nobre desaparecida corresse em suas veias, de nada adiantava se ele não possuía dotes, terras, apoio dos demais nobres e aprovação da realeza. Fora todos os outros mil e um problemas que deveria lidar, minuciosos demais para ele pensar, e que seria incapaz de solucionar sozinho, por mais que pensasse e conseguisse encontrar alguns caminhos possíveis para isso — todos não acabando tão bem quanto se esperaria.
— Não quero depender da Fuyuki. Se for para refazer tudo, reconstruir do zero tudo o que estive desviando o olhar e abandonei ao longo de todos esses anos... Ótimo — O curandeiro piscou algumas vezes para a conclusão. — Afinal, depois de fugir disso durante tanto tempo, depois de ter tentado me livrar de mim mesmo tantas vezes... O que preciso lidar agora apenas faz parte das consequências de minhas ações. E é minha obrigação, como herdeiro legítimo, lidar com elas.
A interrupção dos passos de forma repentina quase fez Zero bater contra as costas do curandeiro, que se virou para ele com um sorriso de lado.
— Falou bonito, garoto. Se é assim que se sente, não tenho objeções quanto a te ajudar.
— Fácil, assim? — O jovem inclinou a cabeça, certo de que tinha deixado claro sua falta de crença na afirmação do outro, mas Sasaki permaneceu estável.
Como se realmente falasse sério, o que o fez piscar.
— Olha só, Zero — Sasaki, após um instante de silêncio, percebendo que ele não tinha acreditado nele, apertou o ombro do rapaz com uma das mãos — Eu não sou um cara muito competente, nem exatamente o mais influente, por mais que tenha a dádiva e a grande sorte de trabalhar ao lado da mulher mais inteligente e linda do mundo — Zero arqueou uma das sobrancelhas — E também não consigo mais me dar ao trabalho de sonhar alto. Não mais. Então, faço meu melhor para apoiar aqueles que ainda tem tempo para fazê-lo, e torço de todo o coração que alcancem isso, para que não tenham qualquer arrependimento em relação a isso no futuro. Se for para falhar, que seja com estilo e tendo ciência de que se esforçou para alcançar seu objetivo. E, acima de tudo, tenha orgulho disso.
A mão apertou um pouco mais em seu ombro antes de se soltar e segurar na maçaneta da porta à qual haviam parado em frente, a luz azulada da lua os iluminando por trás quando a abriram.
Zero ainda estava meio contemplativo, pensando seriamente no que tinha ouvido de Sasaki, quando as portas se abriram e o curandeiro entrou sem esperá-lo. O cômodo que tinham entrado era claramente um simples salão de chá, com sofás e poltronas viradas uma de frente para a outra, uma janela do outro lado e prateleiras nas paredes com xícaras, pires e talheres.
Quando Sasaki fechou a porta atrás do rapaz, ele reparou que havia mais alguém com eles. Era uma figura esguia e magra que estava parada diante da larga janela, de braços cruzados, olhando para as estrelas. Parecia completamente inerte à chegada deles ali, embora o curandeiro, após passar por Zero, não parecer se preocupar em manter a discrição ou qualquer tipo de respeito, pois apenas foi até seu lado e deu três tapas — fortes, pelo jeito — nas costas do homem, que mal se moveu.
— Eeeeaiii, cara! Quanto tempo! Sua cara de múmia não mudou nada desde a última vez que nos vimos... Faz quanto tempo mesmo?
O homem com voz rouca virou levemente o rosto para ele.
— ... Seis meses.
— Seeeeeis meses?! Nossa, tanto assim? Caramba. Senti muito a sua falta, precisamos marcar pra tomar uma gelada uma hora dessas, viu?
— Você-
Sasaki interrompeu o protesto dele com mais tapas nas costas, enquanto ria.
— Ora, ora, não se faça de tímido, porque vou te arrastar até lá nem que seja à força! Vou te teleportar pra lá tão rápido que nem vai perceber!
Um riso pareceu escapar dos lábios dele, que, até então, estavam sérios.
— Vai precisar me derrotar antes.
— Iiiih, continua seco como sempre. Ah... — Após um suspiro tão dramático que poderia ter sido falso, Sasaki segurou o braço do homem e o virou de frente para Zero, que estava em silêncio, parado no meio da sala, a uma distância considerável deles. — Esse é o garoto. O herdeiro dos Furoto, o último remanescente.
Os olhos dourados como ouro se estreitaram na direção do rapaz, avaliando-o. Cabelos prateados claros, quase brancos, despontavam de sua cabeça, com várias mechas claras. Uma delas, claramente maior que as outras, moveu-se ao lado esquerdo da cabeça quando se virou em sua direção. Uma faixa branca cobria seu olho esquerdo, passando por trás de sua orelha, então descendo e se enrolando por todo o seu pescoço e braços.
As longas mangas de sua roupa roxa cobriam seus braços enfaixados, e pareciam ficar assim durante boa parte do tempo. A postura era a de alguém acostumado a lidar com dificuldades, um guerreiro de natureza, e, ao ver a bainha prateada na cintura, oculta pela roupa, percebeu que era também um espadachim.
Com o maior sorriso do mundo, Sasaki abriu os braços na direção do homem.
— Zero, conheça Diz, meu amigão do coração! — Então passou um dos braços pelo ombro do espadachim, que mantinha uma expressão neutra, antes de arquear a sobrancelha para o curandeiro.
Zero engoliu em seco quando foi alvo daquelas íris douradas de novo, e estremeceu com as palavras que vieram a seguir.
***
A fina linha de silêncio se partiu no momento em que um grito agudo irrompeu dos corredores. Provavelmente, de alguma criada.
A reação de todos os presentes no salão do trono foi voltar o rosto naquela direção, porém, a porta, por alguma razão, estava fechada. Ryota quase deixou o pacote que carregava em mãos cair quando uma brusca ventania a atingiu, mas não afetou nem ao príncipe ou ao monarca, que permaneceram impassíveis em expressão quando alguém saltou em uma velocidade absurda.
Al-Hadid, num piscar de olhos, estava de pé diante da porta fechada, segurando as maçanetas. Ele tentou virá-las, sacudí-las. Nada. Estava completamente dura. O lorde desistiu após alguns segundos de tentativa, e, sem precisar se virar para dizer o que havia acontecido, deu alguns passos para trás, como se planejasse investir contra a porta trancada. Lá fora, vozes se erguiam, assim como sons de coisas sendo derrubadas e muitos passos de pessoas correndo pra lá e pra cá.
O lorde não estava sorrindo no momento em que flexionou os joelhos, criando uma pressão absurda, como se estivesse prestes a chutar o obstáculo à frente. E também mal teve tempo para reagir quando os vidros do salão se racharam e quebraram, pedaços voando por todos os lados graças a uma outra investida de vento vindo do lado externo, o que poderia ter causado cortes feios, caso os nobres — ou melhor, seus guardiões — não tivessem agido imediatamente.
Pequenos estalos foram ouvidos quando um brilho artificial e suave cobriu uma área segura, então, as pequenas estrelinhas, que na verdade eram a própria materialização de poder e a impetuosa queda de temperatura — que gerou uma névoa rasa dentro do salão —, fez nascer uma barreira de gelo transparente e fina que protegeu a todos dos cacos de vidros. Ou de boa parte deles, que quicavam pelo material antes de se espatifar no chão. Fuyuki sequer se moveu para fazer aquilo. Ao seu lado, Sora já havia sacado suas adagas e partido para o ataque, avançando pelas sombras e cortando a garganta de um dos invasores sem nem pedir permissão. Sangue vermelho e quente manchou suas mãos e chão, mas o assassino já tinha saltado para outro adversário.
Eram muitos deles. Homens e mulheres, todos vestidos do que parecia um macacão preto, os tornando quase impossíveis de identificar, saltaram pelas janelas, agora completamente abertas, e caíram de pé no chão. Um capuz preto ocultava boa parte das suas vestimentas, e máscaras em preto e branco cobriam seus rostos. Máscaras... Que tanto Ryota quanto Fuyuki reconheceram a semelhança, mas ignoraram aquilo e se focaram na situação em que estavam.
Sincronizando os ataques, e desviando das facas de lâminas longas, os Akai davam um show, praticamente enfrentando os invasores sozinhos. Ryota já conhecia muito bem as capacidades de Sora, mas vê-lo daquele jeito, completamente impassível, os movimentos fluídos e tão rápido que seus olhos eram incapazes de entender o que tinha acontecido até que suas adagas se fincassem nas gargantas ou nas barrigas dos inimigos era assustador. Em algum momento, Miura havia se juntado à ele, sacando o que parecia, à distância, duas facas de lâminas extensas. Só quando o homem girou no ar, dando um salto mortal, cortando quase ao meio três homens ao mesmo tempo, que foi possível perceber as quatro — quatro — lâminas.
Miura Akai portava duas adagas de dois gumes, duas haladies com lâminas de brilho violeta, que brutalmente violentavam os atacantes, os fazendo gritar de dor antes de serem finalizados, com algum corte na garganta — os deixando morrer de hemorragia — ou na barriga, para que morressem lentamente. O total contrário do jovem Sora, que lhes dava uma finalização rápida e repentina, incapazes até mesmo de perceberem quando tinham sido acertados.
As costas deles tinham se encontrado por meio segundo antes do assassino mais jovem dar distância novamente, os olhos vermelhos sangue se encontrando, e ele franzindo a testa para Miura — este que apenas emitiu uma risada com o nariz, mas não de um jeito feliz ou orgulhoso. Cercados, mas sem sequer trocarem uma só palavra, a dupla destroçou todos os adversários rapidamente, em movimentos tão semelhantes e sincronizados que pareciam ter combinado tudo anteriormente. Na verdade, era perceptível que tiveram o mesmo tipo de treinamento, embora preferissem formas diferentes de matar.
Foi durante uma estripação e um corte na garganta que tanto Sora quanto Miura se viram distraídos, mas cientes, dos dois homens atirando-se na direção deles, por trás. Porém, não reagiram a tempo das lâminas se aproximarem, apenas para serem ricocheteadas para longe, as mãos dominantes perfuradas por kunais que atravessavam por completo suas palmas, os fazendo gritar em dor.
A guardiã de Sofia, não olhando para os dois Akai, ignorou-os quando sacou mais quatro coisas de sua pochete oculta pelo vestido, preenchendo os dedos das duas mãos com quatro shurikens coloridas em cada, as lançando na direção dos mesmos homens feridos pelas suas kunais. A princípio, eles conseguiram desviar de algumas, recebendo apenas alguns cortes superficiais em comparação ao grosseiro ferimento em suas mãos. Tão concentrados em desviar, acabaram não percebendo a falta de espaço para fazê-lo, o que os fez tropeçar no ar antes de quase irem ao chão, segurados apenas por algo... Pelos fios invisíveis, ou quase, à luz, que se enrolavam de novo e de novo em seus corpos, as shurikens nas pontas de cada linha numa rotação tão veloz que se assemelhava a uma estrela cadente.
Completamente incapazes de se mover, os dois homens foram rasgados por todos os lados pelos fios e shurikens, o sangue se esparramando para os lados, espirrando nos rostos de Sora e Miura, quando pele e carne foram cortados, sobrando somente um pedaço solto, quase caindo, embora seus corpos mortos e dilacerados já estivessem no chão.
Sora, após um instante de surpresa por ter recebido a ajuda da mulher Akai, trocou olhares com ela. Com seu único olho à vista, acenaram com a cabeça um para o outro. Ao menos podiam ser respeitosos em batalha, como assassinos profissionais. O mesmo não ocorreu com Miura, no entanto, pois nenhum dos dois quisera se voltar para ele antes de se concentrarem no combate de novo.
— Não vai lutar?
Ryota estava tão em choque com tudo o que estava presenciando que mal conseguiu entender a pergunta feita, quanto mais a pessoa que havia feito. Parada ao lado de Edward e de Fanes, que estavam com expressões de seriedade, mas nada alarmados pela situação em questão, a garota voltou o rosto lentamente para a moça sentada nas escadas, de pernas cruzadas, passando o dedo por um livro. Aquele livro, que Ryota havia derrubado sem querer na capital uma vez, e que, de alguma forma, embora ela não o estivesse carregando antes, ali estava ele, em seu colo.
— ... Hã?
— Ora, estava tão assustada assim? Estou surpresa que a guardiã do futuro rei seja tão mentalmente instável. É mesmo uma pena.
Sofia, com seu sorriso enigmático, balançou a cabeça e comentou aquilo, tirando os olhos do combate, que assistia como se estivesse vendo televisão e não um genocídio em massa.
— Não. Não, não é isso.
— Então? O que está fazendo parada aí?
Ryota hesitou. Por um momento, queria retrucar com qualquer desculpa que viesse à mente, mas então reparou que todos os guardiões estavam em combate, menos ela. Com exceções, como Fuyuki e Al-Hadid, que faziam certo esforço para lutar, os demais membros da corte estavam todos perto do trono, assistindo de braços cruzados o combate.
Os olhos dela subiram para o príncipe e o monarca, mas Edward não devolveu o olhar. Estava assistindo a luta, atentamente. Impassível. Sem reagir a nada.
Ela esperava pelo menos um olhar que dissesse algo em silêncio, que lhe dissesse “sim, isso mesmo, lute”, ou “não, fique aí mesmo”...
Era difícil ter que decidir algo por conta própria agora, quando, por mais que quisesse fazer o que Sofia havia dito, era a única capaz de dar suporte ao rei e ao príncipe caso alguém viesse atacá-los. Não que eles fossem incapazes de se proteger, mas...
Um suspiro de Sofia chamou sua atenção.
— Vocês... Não vão lutar?
O olhar que a moça lhe deu foi tão complacente que Ryota quase sentiu vergonha.
— Não precisamos.
— Por quê?
— Por que precisaríamos, se nossos guardiões estão aqui justamente para isso? Para que sujar nossas mãos? Seria apenas perda de tempo, e, em minha opinião, um grande desperdício de energia.
— Então...
Os olhos das duas se dirigiram para os dois únicos nobres em campo.
— Ah, sim. Aqueles dois estão bastante entretidos. Era esperado que lorde Al-Hadid fosse espirituoso e incapaz de se conter diante de um combate como esse. Seu espírito ruge diante de um desafio. Mas a senhorita Fuyuki... Pensando melhor, sua situação não é uma grande surpresa, também. Afinal — elas trocaram olhares — A Princesa do Gelo aprendeu a lidar com a morte desde cedo, não é? Então, agora, é apenas natural que ela não consiga conter o sangue de guerreira e assassina dentro dela. Por mais insensato que seja.
Sofia deu de ombros para o apontamento, mas Ryota, ainda sem entender direito o que aquilo significava, prendeu a respiração, se segurando para não puxar a manga do vestido da moça e rasgá-lo.
— Qual é a sua?! A Fuyuki tá dando o melhor dela pra lidar com esses... Sei lá quem eles são, e você fica aí sentada e limpando as unhas como se não fosse nada! Se vai ficar julgando ela, pelo menos... Pelo menos...
— Ora, por favor, poupe-me de seus palavreados. Se não consegue perceber nem mesmo a própria posição, como espera entender a dos outros?
— Falou a intelectual. Suas palavras bonitinhas não vão ajudar agora, valeu?
Ryota voltou seus olhos para a grande bagunça que era o salão, o combate que continuava a ocorrer. As mortes e vozes estatelando de lá pra cá fez a garota, frustrada consigo mesma, fechar os punhos, prestes a se lançar no meio daquilo.
— Mantenha a calma, jovem. Não é tão simples nem tão complicado quanto parece. Apenas mantenha seus olhos fixos no que está adiante, e não olhe para trás.
Torcendo as sobrancelhas, Ryota voltou os olhos para Sofia, que não retribuiu o olhar, apenas se manteve concentrada na visão à frente, ignorando quaisquer dúvidas que ela tivesse agora. Não que a garota quisesse que aquela mulher as respondesse, no entanto. Agora, olhar para sua beleza fazia seu estômago doer como se tivesse levado um soco.
Porém, por mais distraída que tivesse estado todo aquele tempo, seus instintos de combate não estavam totalmente desconexos do mundo, pelo visto. Pois assim que a espada desviou da mira inicial, graças à sua própria palma, a lâmina se partiu em duas a um mísero toque de seus dedos, e Ryota lançou para longe o pedaço de aço que quicou no chão fazendo barulho.
Seus dedos estalaram alto quando ela os apertou, então o mesmo som se repetiu quando torceu o pescoço para os lados, se aquecendo.
— Beleza... Talvez eu devesse me juntar à bagunça.
Um sorriso que fez a mulher à sua frente afastar-se com dois passos foi o suficiente para que um soco voasse em seu rosto, com certeza quebrando seu nariz e mais algumas coisas, antes de seu corpo voar no ar e afundar contra a parede do outro lado do salão.