Ryota Brasileira

Autor(a): Jennifer Maurer


Volume 12 – Arco 4

Capítulo 67: Formatura

Ao abrir os olhos, que novamente precisaram se fechar, pois a luz que mal atravessava as cortinas atingiu as retinas em cheio, Ryota resmungou cobrindo o rosto com as mãos.

Uma risada contida soou no pequeno escritório, e Sofia surgiu por trás dos vãos dos dedos que permitiram à ela espiar a expressão rabugenta.

— Isso doeu!

— Por favor, não seja dramática. Estava escuro demais para ver seu rosto.

Mostrando a ponta da língua em uma resposta infantil, Ryota suspirou e deitou os braços no colo, permitindo-se recuperar a consciência no mundo real. Assim como bem se recordava, estava na sala da reitora de Gnosis, onde supostamente havia sido convidada para uma conversa importante enquanto os testes finais dos demais estudantes ainda estavam em andamento.

Embora as circunstâncias fossem diferentes, Ryota foi, também, colocada à prova. De uma forma ou de outra, os resultados foram satisfatórios para ambas as partes.

Mas eu ganhei de brinde um voto que me impede de falar tudo o que descobri em Celestia… Que ótimo, Ryota. Parabéns!

Suspirando para o pensamento sarcástico, não se sentiu realmente culpada por isso. No fundo, estava contente o suficiente com as informações obtidas, mesmo que aquelas que eram importantes o suficiente para precisarem serem espalhadas para as pessoas que a buscavam nunca pudessem chegar aos seus ouvidos.

No Empíreo, um pouco antes de perder a consciência, Ryota e Sofia firmaram um voto de silêncio. Este, que foi procedente dos mesmos atos padrões para todos os outros: haviam jurado com a mão no coração, e aquele mesmo calor doloroso invadiu suas veias. Era a mesma sensação de desconforto de quando negociou com Edward Fiore, há tantos meses atrás. 

Ao menos, agora Ryota tinha consciência do quão ruins as consequências eram ao quebrar um voto. Antes, a dor era quase insuportável; agora, entretanto, estava com a vida na linha. Não que houvesse outra maneira de escapar das mãos da Sabedoria neste ponto.

É um saco, mas não acho que vá me causar grandes problemas.

No passado, provavelmente teria entrado em pânico e se debatido sozinha com o tipo de decisão a ser tomada. Haveria de se culpar e procurar maneiras de martirizar, quando nem sempre tudo era o que parecia.

Se havia algo que aprendera nos últimos tempos ao lado daquelas pessoas em Celestia, era que palavras tinham poder. Fossem elas ditas em voz alta ou não, sábio era aquele capaz de usufruir do conhecimento transbordante de cada pessoa.

Ryota não era uma perita na área da psicológica, mas seu tempo ao lado daquelas pessoas cujas habilidades sociais e manipulativas estavam acima das dela a fez aprender algumas pequenas coisas. Colocar em prática era um desafio, mas desvendá-las através do comportamento de outrem tornava-se cada vez menos complicado.

O sorriso de Sofia, sempre presunçoso, por outro lado, não parecia nada incomodado. Diante daquela sabedoria que jorrava como uma fonte infinita, Ryota às vezes se perguntava quais eram os pensamentos que se passavam dentro daquela mente. 

Haveria, dentro daquela beldade cuja presença podia ser tanto avassaladora quanto encantadora, algo ainda intrinsecamente humano? 

— Quer saber?

Não foi uma surpresa que a própria Sofia tivesse exposto sua questão em voz alta; Ryota não mudou sua expressão, ainda sentada no assento diante da mesa da reitora. A meia luz da tarde contornava seus fios esverdeados, em uma cascata brilhante de fios por suas costas. 

Em sua expressão, ainda aquele olhar vidrante e cheio de possibilidades. Um poço de contos, mentiras, verdades, desejos, sonhos, pesadelos, perdas. Era estranho que aquele mesmo buraco negro poderia tê-la sugado para os mais profundos mares do desconhecido. 

Havia quem dizia que a verdadeira força estava nos músculos, no visual que assustaria qualquer oponente. Ryota foi uma das que usufruiu do próprio corpo para se convencer de que poderia resistir a qualquer onda que a vida apresentasse diante de seu caminho. Entretanto, não foi o suficiente. Mente e físico precisam estar em equilíbrio, caso contrário, uma das partes irá ceder, tal qual uma balança.

Ryota não era excepcionalmente poderosa, diversas outras pessoas que conheceu ao longo da vida poderiam tê-la pisoteado em um piscar de olhos. Também estava longe de ser a mais inteligente, estrategistas excepcionais eram capazes de planejar e prever movimentos de seus oponentes cinco ou seis passos adiante.

Alguns treinavam para obter, outros nasciam com tais capacidades. Alguns sacrificavam tudo por estes benefícios e desejos, a custos altos demais para serem medidos. 

Para uma pessoa mediana, mas que lhe foi estendida a oportunidade de aceitar a última opção e negou, alguns podem julgar como uma tola decisão.

— … Não, tudo bem. 

Às vezes, saber tudo era perder tudo. Embora a ignorância fosse uma faca de dois-gumes, Ryota passou a acreditar que certos assuntos eram melhores quando intocados, especialmente a respeito dos segredos mais profundos de outra pessoa.

— Entre saber algo que não me diz respeito e ficar na ignorância, prefiro a segunda opção. Não é como se eu pudesse medir as decisões de outra pessoa com base na minha perspectiva.

Balançando os ombros, ela dispensou a oferta com um sorriso leve no rosto. O desinteresse de Ryota, que se levantou da cadeira com um movimento fluído e se virou para a porta de saída, manteve Sofia com os olhos colados em suas costas, calada.

Até que um murmúrio silencioso cruzou o cômodo, bem a tempo de sua mão tocar a maçaneta.

— Eu não sou sua inimiga, Ryota.

Hesitando, ela apenas encostou os dedos, mas não abriu a porta. Aguardou pelas palavras que viriam a seguir, escutando o roçar do tecido quando Sofia saiu de trás da mesa para caminhar atrás dela.

— Nossos caminhos irão se cruzar novamente, este é um destino inevitável. Entretanto, não significa que estamos em polos opostos, muito pelo contrário.

Ryota sabia que, quando Sofia mencionava seu nome e sua voz suavizava desta maneira, significava algo. Era diferente da Entidade ao qual fizera o voto ou daquela quem riu de sua agonia nas provações. Esta era a mulher por trás daquela que era conhecida como a reitora Gnosis, a representante de Urânia e a descendente direta de Albert Megalos.

— Estou em uma posição limitada. Foi uma escolha que custou minha liberdade de julgamento e individualidade.

Quando algo como melancolia cruzou a voz de Sofia, Ryota espiou por cima do ombro, mas a beldade havia se virado de costas, ocultando as feições delicadas. Seus dedos deslizaram por cima do grande livro com um símbolo misterioso, o mesmo que levara Ryota para o mundo da última provação, para o futuro cuja possibilidade de escolha descartou. 

— E a favor de quê? 

Pela primeira vez desde que se conheceram, Ryota questionou de verdade.

Por que você decidiu se tornar uma Entidade, Sofia?

Ao longo de alguns segundos, nada além de silêncio remanesceu no escritório.

— Por que será? Não me recordo.

Foi uma resposta leve, quase descontraída. Mas Ryota podia sentir ainda aquela fagulha de vazio por trás das palavras.

Se não sabe, então por que parece que você está contendo a vontade de chorar?

De costas, não era possível ver sua expressão, mas ela pressupôs que nem mesmo Sofia se permitiria ser vista em tamanha fragilidade — se é que uma Entidade seria capaz de expressar tais emoções.

A própria Sofia, uma vez, havia lhe dito que elas tinham dificuldades para entender os sentimentos e decisões humanas. Ainda que se originem da mesma mortalidade, abandonaram-na em prol de algo que sequer se lembram do que era?

Conforme se retirava do escritório de Sofia Megalos em silêncio, porque a reitora não parecia ter nada a acrescentar na conversa, apenas uma coisa se passava na mente de Ryota.

… Se eu tivesse dito “sim”, será que teria me esquecido da minha origem também?

***

Os dias seguintes foram uma avalanche de acontecimentos.

Com o coração mais leve, Ryota recepcionou seus amigos com abraços calorosos quando, reunidos, foram conferir as notas do fim do semestre. E, para a alegria do quarteto, as notas positivas tornaram possíveis a formatura de todos os estudantes do Instituto Gnosis. Ao lado de um filhote Lion, que foi carregado nos braços de Ryota recebendo carícias debaixo das orelhas, durante o passeio no campus.

Ao fim do ano letivo, os estudantes recebiam alguns dias de folga para descansar e se preparar para a formatura. Bellatrix, cujos pais exigentes ficaram orgulhosos das notas, livraram-na das tarefas de casa para passar o tempo com seus amigos — depois de alguma insistência por parte de Ryota e Alex na porta de sua casa. O prodígio não precisava se preocupar em dever aos progenitores, então era aquele que sempre estava na porta das amigas na primeira oportunidade.

Dio e Lion, por outro lado, permaneceram grudados com Ryota no hotel. O tempo livre deu aos dois a chance de passar longas horas conversando e se distraindo, descansando mente e corpo das tensões recentes.

A grande diferença era que o garoto de cabelos dourados tinha ciência das dificuldades extras que sua colega de quarto passou. Portanto, quando Ryota sentou para explicar a respeito dos acontecimentos recentes, a situação ficou clara para Dio de imediato.

— Foi mal, não tô podendo falar de nada disso. Melhor deixar de lado.

Embora Ryota dispensasse os assuntos a respeito de Sofia e derivados com um tom casual, para Dio, cuja mente esperta trabalhou rapidamente, ficou claro que havia algo de errado. 

— Tudo bem, moça.

— Mesmo? Não vai insistir pra saber? 

— Não. Eu confio em você incondicionalmente. Então sei que não está tentando esconder algo de mim com segundas intenções. E mesmo que estivesse planejando algo, não tenho motivos para descredibilizar nada do que me disser.

Ele apenas sorriu em resposta, compreensivo como sempre. Os olhos dela lacrimejaram, e Ryota abraçou o menino, afagando os pelos do filhote de cachorro que pulou no colo de ambos, energético. 

— Obrigada… Muito obrigada.

Nestes momentos, sentia-se mais grata do que nunca. Olhar para o Dio e Lion juntos fazia crescer no peito de Ryota um sentimento firme como rocha, quase protetor. Ela sabia que, de alguma maneira, aqueles dois guardavam tantos segredos quanto poder dentro de si mesmos aos quais não podiam explicar.

Se Dio confiaria nela, faria o mesmo. Portanto, Ryota nunca mais o questionou. 

— Mas você podia parar de me chamar de “moça”.

— Hã? Por quê? Isso te ofende?

— Não, é que… 

Era difícil colocar em palavras, mas Ryota sentia que a relação que tinham não era mais de conhecidos, e mencionar como apenas uma amizade seria um pouco simplório. Bellatrix e Alexandre eram pessoas preciosas, claro, mas Dio era diferente.

Não como Zero, cujos sentimentos eram uma mescla de parceria, amizade e romance; ou como Jaisen ou Albert, que eram as figuras paternas que nunca teve. 

— Por falar nisso, por que você nunca me chamou pelo nome?

Ryota cruzou os braços e questionou, inclinando a cabeça em curiosidade.

Arregalando um pouco os olhos, ele virou o rosto e corou um pouco, hesitando como se temesse sua reação, então murmurou tão baixo que mal pôde ouvir.

— … Fiquei com medo que me rejeitasse, então queria ser educado.

Droga, ele é fofinho demais. Quero mordê-lo.

A resposta tirou um pequeno riso caloroso de Ryota, apertando uma das bochechas ainda vermelhas como morangos de Dio.

— Claro, tudo bem. Eu era uma idiota antes, pode falar a verdade.

— N-Não é verdade… Quero dizer… Talvez fosse um pouco impaciente, mas…

— É sério, não precisa passar pano pra mim, sei muito bem como te tratei mal antes. 

Dessa vez, foi Dio quem precisou confortá-la, repetindo que estava tudo bem e a perdoava. Ele era um garoto doce demais para este mundo, nem podia acreditar que teve a audácia de abandonar alguém assim à própria sorte mais de uma vez.

— Se estiver tudo bem, eu quero continuar chamando de “moça”. Posso?

Os olhos grandes e brilhantes eram como dois pequenos sóis que cegaram Ryota. Ela não teve coração para negar. Na verdade, desde que haviam se reconciliado, a dupla permaneceu mais próxima do que nunca. Para compensar o tempo em que o afastou e tratou de maneira medíocre — para dizer o mínimo —, Ryota levou o garoto e seu fiel escudeiro para passeios na cidade.

Não mediu esforços para acompanhá-lo nas atrações, visitaram as lojas, comprou presentes como roupas novas para o menino e brinquedos para o filhote, além dos doces e petiscos que os dois tanto gostavam. Seu coração se sentia confortado vendo o contentamento de ambos, mesmo sabendo por experiência própria que nada material poderia substituir a dor que causou aos dois.

Era por isso que queria se esforçar para compensá-los ao que fosse seu alcance. Permitiu-se sentar e compartilhar das próprias histórias, gradualmente falando mais sobre si mesma conforme se sentia confortável. Nas noites em que ficavam acordados até mais tarde, ela cochichava sobre seus dias em Aurora, sobre as trapalhadas com seu melhor amigo de infância, ou o quanto sentia falta das pessoas daquele vilarejo.

Às vezes, também contava as mesmas histórias para Alex e Bellatrix, que ouviram em silêncio. Em geral, falar com Dio antes destes dois a ajudava a se manter calma, embora às vezes a emoção transbordasse, e algumas lágrimas escaparem de seu controle. Nenhum deles riu ou sentiu pena dela, muito pelo contrário: Compartilhavam, da mesma maneira, acontecimentos próprios de suas vidas, para complementar aos que ouviam.

Talvez fosse cruel de se dizer, mas Ryota nunca se sentiu tão acolhida antes. Não que Zero ou Jaisen não fossem bons ouvintes, mas era diferente agora que sentia-se menos pressionada e temerosa. As mãos que seguravam as suas quando sentia que iria chorar mantinham seu coração estável. As reclamações de Bellatrix e as piadas bobas de Alex tiravam risos dela, a fazendo perceber que suas preocupações nem eram assim tão assustadoras quanto pareciam.

Acima de tudo, Ryota percebeu que amava aquelas pessoas — eram seus amigos, seus companheiros, sua família, seu lar.

***

O grande evento de graduação procedeu-se apenas algum tempo mais tarde. Quando todos os estudantes foram reunidos no Anfiteatro Diadema, em colaboração com patrocinadores, o Instituto Gnosis recebeu todos os formandos daquele ano com uma salva de palmas a cada nome que era chamado.

Todas as turmas eram chamadas para o palco, e um por vez, se aproximaram para receber seus certificados. Era uma condecoração meramente visual, mas de grande importância para aqueles que desejavam prosseguir com suas carreiras no futuro, marcando este momento em suas memórias e nas fotos e vídeos que eram gravados.

Aos que nunca tiveram antes a oportunidade, choravam e se emocionavam ao receber o memorando diretamente de Sofia Megalos, que permanecia parabenizando baixinho cada um dos jovens promissores. Ryota tinha de admitir que, assistindo daquela distância, ela parecia mesmo uma mulher digna de seu cargo. Quase sentia-se mal por ela, quase, mas nem tanto assim.

Quando seu próprio nome foi chamado, Ryota foi recebida com uma saraivada de palmas e flashes por todos os lados. Estava escuro demais para enxergar as pessoas sentadas na plateia, mas sabia que vários conhecidos deveriam vê-la — seja pessoalmente ou através das câmeras que recordavam de tudo ao vivo.

Ela pegou o certificado e trocou olhares com Sofia. Não houve nem uma mudança específica na feição das duas mulheres, portanto os espectadores não notariam a diferença.

— Meus parabéns.

Foram os mesmos cumprimentos dados a qualquer outro estudante, embora pudesse ver, no fundo daquelas íris azuladas, uma emoção indescritível que Ryota nunca soube decifrar o que era.

Talvez fosse melhor assim — aquela distância era necessária. Nem próximas ou longe demais, apenas o suficiente para que estivessem cientes uma da outra.

Bem no fundo, Ryota respeitava Sofia. Quando colocava de lado as adversidades, as palavras e ações cruéis que magoaram, podia reconhecer que, em partes, foram para seu bem. Embora discordasse de alguns métodos, tinha de reconhecer que foi graças à ela que chegou até ali.

— Obrigada.

Após murmurar de volta, trocaram leves sorrisos, e Ryota se afastou para perto dos demais estudantes, em silêncio, mas sem desmanchar a face leve e cheia de um contentamento explícito.

***

Não quero estragá-lo, então vou guardar no quarto.

Foi o que pensou assim que todos foram liberados das parabenizações do evento de formatura. Alguns estudantes permaneceram dentro ou nas proximidades do Anfiteatro, tirando fotos com seus professores ou amigos. Podia avistar Sofia, às vezes Sasaki ou Scarlet nas proximidades, bem vestidos. Os alunos, por outro alunos, forma todos trajados em sua beca de formatura, cujos detalhes apenas mudaram nas cores de acordo com seus respectivos cursos.

Embora fosse uma pessoa sociável, Ryota não viu motivos para permanecer mais tempo ali, então se retirou rapidamente. Suspirou de alívio ao ver-se livre da comoção de pessoas, apressando-se para o hotel onde estava hospedada. Infelizmente, não cruzou com nenhum de seus amigos, muito menos os viu quando a celebração se encerrou.

Supôs que deveriam estar todos ocupados. Dio e Lion à parte, mas Alex e Bellatrix tinham outras pessoas para passar seu tempo além dela. Ryota não era uma pessoa possessiva a este ponto; sentia-se orgulhosa e desejava que pudessem passar tanto tempo quanto possível ao lado das pessoas que amavam. Se queriam comemorar uma conquista tão importante com amigos e família, que assim fosse.

Ela, por outro lado, estava pronta para arrancar a beca de seu corpo e tomar um glorioso banho quente. Entretanto…

— Ah?!

Um grito escapou de sua garganta, agudo pela surpresa, congelada no lugar pelo choque, quando abriu a porta de seu quarto e sons altos preencheram seus ouvidos. Por um momento, esperou pela dor, mas o que caiu em sua cabeça não foram balas, mas confetes estourados.

Abrindo os olhos, Ryota se deparou com uma cena inacreditável.

— Três, dois, um… 

Todos os três — Alex, Bellatrix e Dio — respiraram fundo e então exclamaram bem alto:

— Feliz aniversário, Ryota!!!

… Ah.

— Venha, venha, venha! Vem comer-... Digo, soprar as velas do seu bolo! Tô com fome!

— Minha nossa, como sempre tu é gulosa que só, hein? Que tal dar um abraço beeem apertado na nossa aniversariante querida? Beijinho, beijinho!

— Moça, aqui, um chapéu pra você!

Ryota foi inundada com palavras vindas de todos os lados. Bellatrix a puxou pelo pulso, Alex correu para abraçá-la e Dio se esticou na ponta dos pés para oferecer um pequeno chapéu de aniversário colorido — ao qual, diga-se de passagem, todos estavam usando.

Diante daquela chuva de sorrisos, risadas e comentários brincalhões; do bolo caseiro com as velas de dezenove anos acesas acima de seu nome; dos balões coloridos pendurados nas paredes; dos confetes espalhados depois de serem estourados na sua chegada pela porta; houve apenas uma reação.

Uma gargalhada alta, calorosa e quase chorosa.

— Muito obrigada, pessoal!

Abaixando-se para deixar Dio colocar o chapéu em sua cabeça, se deixando ser arrastada por um Alex ansioso e cortando o bolo em iguais três pedaços para oferecer aos amigos, Ryota nem percebeu que estava chorando até a visão nublar e oferecerem lenços sob o pretexto de ser uma chorona.

Mas tudo bem.

Assoprou as velas, bateu palmas e distribuiu os doces. Aceitou os presentes caóticos e riu das discussões acaloradas.

Está mesmo tudo bem agora.

Erguendo os olhos para os céus que começavam a escurecer, para a primeira estrela que aparecia nos céus, Ryota pensava no sorriso da falecida mãe — o mesmo que mostrava enquanto cantavam parabéns, enquanto sujavam os rostos de chantilly e estouravam os balões pela casa.

Com a ausência do usual peso no peito, Ryota ficou de costas para a janela, para a estrela que brilhava sobre suas cabeças, e abriu um largo sorriso.



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