Ryota Brasileira

Autor(a): Jennifer Maurer


Volume 3 – Arco 3

Capítulo 5: O Grande Dia

Fechou o zíper da mochila, sacudindo-a nos ombros mais uma vez e repassando mentalmente todas as coisas que deveria pegar. Não precisava levar muita coisa, apenas roupas para passar o dia e alguns itens particularmente importantes. Foi por pensar nisso que rapidamente checou a carteira no primeiro bolso, encontrando a foto. Sorriu para ela, colocando-a de volta no lugar, garantindo sua segurança.

Ryota inspirou fundo uma vez antes de disparar pelo corredor, quase esbarrando em dois criados. Ela riu consigo mesma, se desculpando com um aceno, e se dirigiu até a entrada da extensa casa. Tinha feito questão de dormir direito naquela noite, contando bem certinho as oito horas de sono que normalmente não cumpria. Ultimamente, por conta de seus treinamentos, mas também pela ansiedade com a chegada do grande evento.

Por fim, após a conversa na noite anterior com Fuyuki, Ryota mal teve tempo para pensar direito sobre tudo antes de capotar na cama, exausta. Talvez o álcool tenha lhe deixado daquele jeito. E, só talvez, justificasse a pequena azia que dançava por sua garganta naquele momento.

Quase caiu das escadas de tanta pressa, apurando os passos até a larga porta de entrada. Assim que virou a esquina, chamando atenção com o barulho de seus sapatos chiando no chão, duas figuras se viraram para ela.

Uma delas abriu um sorriso largo, colocando as mãos na cintura.

— Até que enfim! Você demorou, hein?

— Aaaah, foi mal! — desculpou-se quase que instantaneamente com Sasaki, que gesticulou com as mãos logo em seguida — E… Ué, não sabia que iria conosco, Liz.

A menina, que até então estava um pouco distraída, deu um sorriso pequeno e forçado.

— A mestre achou que seria uma boa oportunidade para resolver algumas questões pessoais ao acompanhá-los — respondeu ela com dureza na voz, claramente não direcionada à Ryota, embora aquele olhar dela a incomodasse bastante.

É claro, mesmo que quisesse muito saber o motivo de seu humor, não fez tal pergunta, acreditando que seria bastante indelicado.

— E então? Se despediu direitinho de todo mundo?

— Pela forma que correu no corredor, acho que não. — Uma terceira voz se juntou à eles. Fuyuki surgiu caminhando tranquilamente pelo corredor, cruzando os braços sobre o roupão rosa decorado. Seu cabelo estava trançado de lado, indicando que tinha recém saído do banho.

Claramente pega no flagra, Ryota coçou a nuca, envergonhada, e foi alvo das risadas de Sasaki. 

— Vocês me esperam só um tiquinho? Prometo não demorar! — Ryota juntou as mãos, olhando para a dupla. O curandeiro apenas bufou, ao passo que Eliza assentiu, olhando com cautela para o acompanhante. — Obrigada! Já volto!

Seus passos em disparada eram ouvidos de longe, então não houve surpresa por parte de Sora, nem de Kanami, quando a garota abriu a porta num estrondo sem sequer pensar em bater.

— Eai! 

O cômodo em que estavam era uma pequena salinha com uma extensa janela em direção ao jardim. Os irmãos voltaram seus rostos para a intrusa, que acenava animadamente, tirando os olhos de suas armas. Tanto Kanami quanto Sora estavam com as lâminas no colo, lustrando e afiando-as. 

— Já está de partida, senhorita?

— Nunca mais irá voltar, graças aos céus, senhorita?

— Podem parar com isso de uma vez, por favor?! Mas, sim, estou indo. 

Ryota se aproximou com um sorriso nervoso no rosto. 

— Só queria me despedir de vocês antes, mesmo que a gente vá se ver daqui uns poucos dias, ainda assim.

— Na realidade, apenas se esqueceu de fazê-lo porque babou até tarde, se atrasou e quase escorregou no chão liso do corredor enquanto vinha até aqui, não é?

Sora desdenhou aquilo com tanta facilidade que Ryota fez uma careta.

— Metade é verdade, mas metade não. E eu não escorreguei, só estava dando uns passos mais largos que o normal. De qualquer forma — Ela estendeu a mão na direção do gêmeo, que estava mais perto — Vou indo na frente. Vejo vocês lá. 

— Só não vai se perder no caminho — zombou o irmão mais velho, batendo em sua palma ao invés de apertá-la. 

— Aproveite sua estadia. Espero que encontre o que procura — Kanami logo se aproximou também, as mãos educadamente atrás do corpo, e deu o seu casual pequeno sorriso.

— Valeu. 

Elas trocaram apertos de mãos — a princípio, antes da energética e apressada garota jogar-se na guardiã num abraço apertado — e Ryota acenou mais uma vez da porta antes de disparar de novo, deixando os irmãos sorrindo sozinhos para as próprias armas.

Como era cedo, Ryota acreditou que não demoraria muito para encontrar o rapaz de cabelos violeta caminhando por aí. E foi por estar certa que soltou um suspiro. Zero estava sentado na beirada de uma janela, no canto de um dos corredores, escrevendo algo atentamente no caderno apoiado em uma das pernas dobradas. A caneta escrevia com facilidade, a fonte um tanto delicada demais para o gosto dela. 

Seus dedos se moveram maliciosamente no ar antes de irem parar nos ombros dele, o assustando com sua chegada repentina. Zero fechou o caderno abruptamente ao vê-la, fazendo uma expressão de surpresa que se transformou na ranzinza de sempre.

— N-Não faça isso do nada! Quer me matar do coração, criatura?

Ela apenas riu, fingindo fazer uma massagem em seus ombros tensos.

— Desculpa, desculpa. Eu só não resisti — Ryota riu ainda mais quando as bochechas dele ficaram ainda mais vermelhas de frustração — Só queria te dar um tchau antes de ir.

A expressão de Zero se desmanchou quase que completamente ao ouvir aquelas palavras.

— Mas eu sei que vamos nos encontrar depois, lá na capital. E daí vou te arrastar até a biblioteca pra te apresentar todos os livros que sempre te falei, e também pra gente poder comer juntos o tal “crepe” que você tanto falou pra mim. Até lá, vou ter decorado o mapa da capital e podemos passar o festival juntos… Ah, isso é, quando você não estiver ocupado, e tal.

Ryota logo se lembrou que, muito provavelmente, Zero estaria tão comprometido durante a coroação quanto a duquesa, o que implicava a presença dele e dos outros guardiões particulares dela durante a estadia na capital. 

Zero, após um instante de silêncio, riu com nariz, se virando para a garota.

— Certo. Apenas tente não se meter em problemas o tempo todo.

— Eu nunca faria isso. Sou a pessoa mais cuidadosa do mundo.

— Mentirosa.

— Não tô mentindo.

— Tá sim. Suas ideias malucas ainda vão te comprometer, um dia. Mas eu sei que você vai se virar.

Uma risada seca saiu da garganta dele e Ryota apenas torceu o rosto numa careta. Por fim, inspirou fundo, arrumando a mochila nas costas e se afastando.

— Vou indo, então. Eles já estão me esperando lá.

Para sua surpresa, no entanto, Zero segurou sua mão direita apenas um segundo antes de voltar a correr.

— H-Hã? 

Ele a estava abraçando. Do nada.

— Uh, Zero? 

Os braços dele a envolveram pela cintura. Ryota demorou um pouco para o abraçar de volta. Podia sentir a respiração de Zero em seu pescoço quando ele deitou o queixo em seu ombro. 

Ela estava tão chocada com a aproximação repentina, tão atípica dele — ao menos, quando não estavam sozinhos —, que engasgou com as palavras.

— Da próxima vez… Da próxima vez que nos virmos de novo, tem uma coisa que preciso te contar.

Ryota prendeu a respiração, fingindo um sorriso.

— Desse jeito vou ficar ansiosa demais pra saber o que é, sabia? Não pode nem me dar uma dica?

Ela nunca pensou que sentiria falta do calor dele quando se afastaram, mas Zero repentinamente segurou suas mãos em frente ao corpo. Elas estavam quentes, mas provavelmente não tanto quanto seu rosto, que reluzia em vários tons de vermelho, principalmente nas maçãs do rosto e pontas das orelhas.

Havia uma energia estranha pairando entre eles, ou talvez passando através de suas mãos. Quando foi que haviam entrelaçado os dedos, mesmo? Ela nem tinha percebido. Estava tão pressionada com o clima que se instalou, com a dificuldade para respirar e olhá-lo nos olhos, com a preocupação de suas palmas estarem suadas pelo calor… 

Ryota inspirou fundo e prendeu o ar quando o garoto, com a maior delicadeza, tocou seus dedos com os lábios. 

— ... Por enquanto, acho que é o suficiente. — murmurou Zero em seguida, parecendo querer esconder o rosto corado, mas o brilho forte em seus olhos denunciava outra coisa. 

Quando ela se afastou, dando uma desculpa estúpida de que precisava se apressar, não conseguiu disfarçar a gagueira na voz, nem o quão envergonhada estava. Zero relembrou a expressão dela naquele momento e cobriu o rosto com o caderno fechado, querendo enfiar a cabeça na terra e sumir.

Mas, antes disso, queria cortar em pedaços a pessoa que surgiu do outro corredor com um sorriso zombeteiro.

— E não é que o cachorrinho teve coragem? — Sora comentou, se recostando contra a parede. 

— Cala a boca. 

— Esse tom não é nada ameaçador, sabia? Ainda mais quando esconde o rosto desse jeito. 

Sora fez menção de puxar o caderno, mas Zero rebateu o movimento com um chute, que também não o acertou.

— Veio pra encher o saco?

— O que acha?

— Idiotice a minha perguntar.

— Será um bom experimento para vocês.

Zero juntou as sobrancelhas para as palavras dele e o olhou por cima do caderno.

— O quê?

A voz de Sora se tornou mais grave, mais séria.

— Para descobrir o quanto a experiência os mudou, testá-los é a melhor opção. Neste caso, a separação entre os dois dependentes apenas os colocará à prova. 

O jovem de olhos prateados se virou para a janela.

— Não foi isso o que decidiu fazer?

— … Não é da sua conta.

—  Vai perceber, cedo ou tarde, que é apenas algo necessário. E, sim, é de nossa conta. Não estaria aqui se não comprometesse o meu futuro, também.

Zero entendia perfeitamente. Suas ações e decisões impactavam, de certa forma, todos os outros guardiões. Em especial, é claro, a sua mestre.

Mas, mais do tudo isso, havia também aquilo que Zero esteve tentando não pensar durante todo esse tempo, embora fosse algo que já tivesse decidido fazer. E ter Sora jogando isso em sua cara não ajudava nem um pouco.

Zero inspirou fundo, agora sozinho, e segurou o tecido da camiseta onde estava seu coração. Doía, e muito. Ele não queria, mas era necessário. Por ele, por ela, e por todos ali.

Ryota e Zero precisavam se separar.

***

— Tomem cuidado.

Fuyuki uniu as sobrancelhas e assim disse quando ela e Ryota trocaram apertos de mão na entrada da casa. Embora fosse algo que já tinham discutido na noite passada, a ênfase colocada nas palavras a pegou desprevenida por um momento. 

— Sim, teremos. 

— Não acredite em qualquer pessoa que fale com você. Evite passar muito tempo sozinha andando pelos becos, ou nas redondezas da capital. É perigoso. E sempre avise à Eliza, ou ao Sasaki, ou a qualquer um de nós quando estivermos lá, sobre o que fará quando estiver com um desconhecido.

— Calma aí, calma aí, virou minha mãe do nada? Quer que eu fique segurando na mão deles também pra não me perder?

Por o que pareceu um instante, a duquesa ficou em silêncio.

— Se possível, sim.

— Era uma piada, sabia?!

Fuyuki realmente tinha considerado aquela possibilidade, e esboçou um sorriso ao ver a outra erguer o tom de voz com incredulidade. 

— Nos vemos na coroação.

O trio assentiu e logo começaram a caminhar para fora da cidade. Seus passos eram ritmados e, vez ou outra, Ryota olhava por cima do ombro para a casa na qual passara um mês. Lá, mesmo ao longe, podia ver a figura esbelta da duquesa os assistindo partir, de braços cruzados, antes de dar meia volta e entrar. 

O grupo seguiu pela cidade em direção ao portal de Puccón: Um grande arco oval enfeitado que separava a cidade da estrada. O lugar era recheado de canteiros de flores bem cuidados, pequenos chafarizes, bancos de madeira e belas estátuas. Dali, era possível ver as pequenas, mas longas, casas. Ao horizonte, o rio corria pacificamente, iluminado pela luz fraca do sol. 

Ryota desviou sua atenção da bela cidade que ficava para trás para as duas pessoas que a acompanhavam num silêncio desconfortável. Eliza, à sua esquerda, apesar da postura ereta e manter certa seriedade no rosto, estava claramente incomodada. Do outro lado, Sasaki mantinha a postura de sempre, com as mãos no bolso da calça e um sorriso casual. Ele parecia muito interessado em puxar assunto, qualquer que fosse, mas o clima em volta deles não permitia isso. 

Inspirando fundo, mesmo em meio àquela pressão, a garota de cabelos escuros levou um tempo para dizer alguma coisa. Seus passos eram o único som que quebravam o silêncio.

— Então… Vamos pegar o trem até Hera?

Apesar da voz ter falhado no meio do caminho, Eliza fez questão de ignorar isso e respondê-la, olhando-a.

— Era meu plano, caso fôssemos sozinhas.

— Não poderíamos usar seu teleporte? Fazer o zium de novo, e todas aquelas paradinhas lá?

Eliza riu de Ryota, mas logo fechou a cara ao perceber a atenção de Sasaki sobre elas.

— Não posso teleportar para lugares onde nunca estive. Preciso estabelecer uma conexão entre o ponto de ida e o ponto de chegada.

— É por isso que iremos até onde cravei o meu selo. — Sasaki complementou a fala da menina, erguendo o dedo indicador. — Fica bem perto daqui.

— Seu selo… Espera, você também pode teleportar? É a primeira vez que ouço isso!

Antes mesmo que Sasaki pudesse se explicar, Ryota o interrompeu, gesticulando com as mãos:

— Se você pode teleportar, por que raios pegou um trem até Aurora e ainda ficou esperando lá?! Isso não faz sentido nenhum!

Completamente confusa e indignada com a nova informação, a garota olhou para o homem com uma careta de olhos arregalados e um sorriso nervoso.

Suspirando profundamente, Sasaki bateu palmas e respondeu com a maior calma do mundo:

— Certo, vamos por partes. Primeiro de tudo: Sim, eu posso teleportar. É apenas natural que tanto o mentor quanto sua discípula executem as mesmas coisas, não é? Ainda mais tendo o mesmo elemento.

Houve um instante de silêncio entre eles, e, como se um raio de interpretação atingisse a cabeça dela, Ryota deu um grito contido de surpresa. Como foi que não tinha percebido antes? 

Seus olhos se voltaram para Eliza, que mantinha o rosto virado e não parecia interessada na conversa. Entretanto, se eles eram tão próximos, por que pareciam tão distantes? Mais uma vez tentada a perguntar o que havia ocorrido, Ryota balançou a cabeça e tentou ignorar a questão, que atualmente não era importante, embora sua mente tenha sido levada a um certo momento no passado, quando elas tiveram uma conversa em sua antiga sala de tratamento.

Eliza tinha mencionado, certa vez, uma pessoa que admirava, ou algo do tipo. Estaria se referindo ao seu mentor? 

— De toda forma, é apenas algo que eu e ela podemos fazer atualmente, permitindo que os outros guardiões de nossas respectivas mestres desfrutem. 

— Começou a falar todo formal do nada? Eu, hein… Então, se é algo que só vocês dois podem fazer, significa que é algo bem raro.

Sasaki assentiu com ênfase, ignorando a primeira parte da frase.

— Apenas a Elite Galáxia e a Elite Gnosis possuem tais privilégios. É claro, as outras Elites também têm seus próprios atributos únicos, também.

Saquei. Se eles são realmente capazes de coisas absurdas como teleportar a si mesmos e outras pessoas, e até curar ferimentos tão profundos… Caramba, eu tô com duas pessoas importantíssimas aqui, hein?!

Ryota não sabia que curandeiros poderiam ser tão habilidosos. Mas, mais do que isso: Tanto Eliza quanto Sasaki eram basicamente tesouros para seus mestres, possuindo capacidades raríssimas. Teleportar aonde quiser; Curar e praticamente restaurar membros perdidos à vontade, talvez até mesmo com certo limite. Ryota se lembrava de Eliza ter tido o corpo destroçado ao meio certa vez, mas surgir inteira algum tempo depois. Era esse o nível daquelas pessoas.

Ela inspirou fundo, ignorando a pontada de inveja que sentiu, e sorriu.

— Quanto ao motivo de eu ter ido parar em Aurora, sem conseguir voltar, mesmo tendo teleporte… É que eu fui um imbecil, mesmo. Não iria adiantar nada eu cravar um selo lá e apenas voltar de onde vim, justamente quando estava praticamente do lado de onde queria ir. — Sasaki balançou os ombros. — Seria perda de tempo.

O trio já estava praticamente dentro da floresta àquela altura. A caminhada deles foi lentamente interrompida, com Sasaki gesticulando para que aguardassem um momento. Ele olhou para os lados, esperando algo. Ou melhor, tentando sentir algo. Só então que correu até uma árvore qualquer, tocando-a com a palma da mão.

Ela já tinha visto algo semelhante ocorrer, antes. Quando ela e Zero recém tinham saído da estação de trem, logo depois de se separarem de Sasaki em Aurora, ele fez os mesmos movimentos do curandeiro. A lembrança se misturou à realidade, e, ao invés do desenho azulado de um floco de neve, o traço de um círculo dourado com uma coruja sentada na linha floresceu na madeira.

Era o brasão do Instituto Gnosis, o mesmo da tatuagem no peito de Sasaki.

O brilho amarelado meio esverdeado pulsava fracamente, reagindo à ele.

— Você está bem?

Eliza foi pega de surpresa com a pergunta e descruzou os braços tensos, sibilando um sorriso.

— Sim. Perdão por te envolver nisso.

Ela não precisava perguntar para compreender que a curandeira se referia ao relacionamento difícil entre eles dois. Ryota fez um som de compreensão, sem saber ao certo como prosseguir o diálogo.

Entretanto, antes mesmo de poder dizer algo, Sasaki gesticulou para que se aproximassem, e assim o fizeram. Eliza manteve-se ao lado da garota, evitando ficar muito próxima do mentor. Ryota mal tinha parado ao lado da árvore quando a forte luz os envolveu.

***

Quando abriu os olhos, a sensação de tontura a atingiu por um instante. Ainda era meio esquisito viajar daquele jeito, como se apenas tivesse piscado os olhos e sua visão mudasse completamente. A paisagem, que antes era de uma floresta, agora mostrava-se um campo aberto convidativo. 

O grupo caminhou até a estrada de pedras cinzas, já gastas com o tempo, e seguiram pela ponte. De onde estavam, era meio difícil de enxergar os arredores, mas era possível ver que haviam pelo menos mais duas daquelas travessias dos dois lados da cidade. As pontes de pedra recebiam visitantes constantes, com carruagens e carros seguindo lentamente para dentro das muralhas.

A grande parede de pedras que circundava Hera era gigantesca e meio aterrorizadora. O sol desapareceu atrás dela, fazendo Ryota se arrepiar. Ela levou as mãos aos braços e os esfregou, esperando que isso amenizasse seu nervosismo. 

Seguindo pela via dos pedestres, eles se aproximaram do grande portão de aço, que parecia esconder algo atrás dele. Um portão inquebrável e impenetrável. Ela se perguntou o motivo de tê-lo, ao invés das de madeiras comuns, e detestou sentir que não queria saber a resposta.

Não houve uma troca de palavras entre os guardas uniformizados e o trio. Os dois homens bem vestidos os olharam de cima a baixo e rapidamente os reconheceram, abrindo passagem com uma reverência. Entretanto, mantiveram o olhar sob Ryota, que era uma qualquer perto dos outros dois. Para sua segurança, tanto Eliza quanto Sasaki a fizeram ir na frente, dando um toque suave em seu ombro ou costas de encorajamento.

A luz brilhante preencheu seu campo de visão, a deixando um pouco desnorteada. No entanto, quando seus olhos se acostumaram com ela, o queixo de Ryota caiu.

Haviam chegado em Hera, a capital das flores.



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