Ryota Brasileira

Autor(a): Jennifer Maurer


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 4: Encontro sob a Tempestade

Diante de todas as possibilidades que Ryota poderia ter previsto para aquele dia, ficar presa sob a chuva em uma estação de trem com um desconhecido estava longe de ser uma delas. A uma distância de quase cinco quilômetros de sua casa e de qualquer pessoa a quem pudesse recorrer, também considerando que qualquer som minimamente alto fosse ser abafado pelo som grosso da chuva caindo... Ela não sabia dizer se isso era algo bom ou ruim.

Parada na outra ponta da estação, o corpo meio encolhido, a garota se atreveu a olhar para o homem que cochilava tranquilamente no banco. Cabelos encaracolados e negros como piche caiam sobre o rosto de pele clara. Era uma pessoa claramente mais alta, porém que não demonstrava qualquer sinal de músculos através das roupas pretas sociais e elegantes. Podia-se dizer à primeira vista que não era alguém de Aurora. Possuía uma aparência bastante destoante dos demais. Talvez fosse um viajante que viera da cidade grande para o interior com qualquer que fosse o intuito.

Apenas considerar essa possibilidade fez Ryota ficar alerta. Na realidade, pouquíssimas pessoas se atreveriam a viajar para tão longe — para tão perto do Grande Oceano, e consequentemente, do Mar Sombrio — considerando os perigos que aguardavam. Não que houvessem criaturas perigosas ou que o povo fosse hostil com estrangeiros. Mas era de senso comum que lugares isolados, como vilarejos à beira mar, fossem... Bem, evitados de se visitar.

Zero era um caso bastante à parte, pois possuía um laço forte com Aurora desde sua infância. Fora ele, pouquíssimos desciam na estação de trem — e praticamente ninguém do vilarejo se atrevia a viajar para fora.

Portanto, diante desse pensamento, era natural que a garota ficasse atenta.

Mas o que deveria fazer?

Ela não poderia só ir embora debaixo daquela chuva terrível e deixar o desconhecido ali. Não tinha certeza do que poderia acontecer se o fizesse e acabasse se arrependendo depois. Mas acordá-lo também não parecia muito inteligente. Ela não era exatamente experiente em combate, mas tinha uma noção básica de defesa pessoal.

Em reflexo a esse pensamento, estalou os dedos. Havia um brilho de força em seu olhar. Se fosse necessário apelar para isso...

Um som ensurdecedor sobrepôs seus pensamentos, e um raio brilhante cortou o céu cinzento. Inspirando fundo, ela se virou mais uma vez para observar o homem no banco.

— Ué? Quando foi que começou a chover? Uaah...

E-Ele acordou!

Ryota travou completamente, os olhos em choque presos no desconhecido sentado no banco se espreguiçando com uma tranquilidade impressionante.

S-Será que foi por conta do barulho?! Isso é ruim... Eu deveria-

— Hm?

— Hm?!

— ... Oi.

— Oi?!

Finalmente reparando na garota logo ao lado, o homem grunhiu e acenou para ela em cumprimento, ao que Ryota respondeu imitando-o, sem querer. Diante desse estranho diálogo, ele riu preguiçosamente.

— Que tempo, não é?

— S-Sim...

Houve uma pequena pausa. O único som entre eles era o ressoar da chuva contra o solo.

— Ei.

— Hm?

— Quem é você mesmo?

Eu quem devia perguntar isso!!

Ignorando seu pensamento exaltado, Ryota olhou para a chuva caindo e respondeu calmamente:

— Pra dizer a verdade, eu estava de passagem quando começou a chover e corri pra me abrigar da chuva — ela riu, tocando a própria jaqueta úmida. Não era exatamente uma mentira, na realidade, era uma meia verdade bastante conveniente para aquela situação. Ryota só esperava que seu sorriso nervoso não a denunciasse — E você? Não parece ser daqui.

— Ah, é tão óbvio assim?

— Bem, não é como se pessoas do interior andassem pra lá e pra cá de terno. Mas, além disso, o pessoal daqui é bastante... Bem, bronzeado, por estar sempre trabalhando debaixo do sol.

E, em comparação, o homem era bastante pálido. O tipo de pessoa que provavelmente trabalhava, talvez, dentro de alguma instituição ou em um escritório. Pela falta de um corpo forte, do tipo com músculos, também não deveria estar envolvido com tarefas que exigiam força física bruta.

Percebendo que a jovem era bastante observadora, o desconhecido arqueou as sobrancelhas, sorrindo.

— Olha só, me pegou completamente. Sim, eu não sou daqui. Não é à toa que parei na estação para esperar pelo próximo trem, mas... Digamos que sou bastante azarado — riu ele, abanando uma das mãos no ar. Então, parecendo se lembrar de algo, estendeu a mesma palma pálida na direção dela — Desculpa, fui bastante mal educado. Me chamo Sasaki.

— Ryota. Só Ryota, mesmo.

Apertaram as mãos com suavidade. Havia aí um clima bastante instável, mas que Ryota sentiu que não conseguiria continuar a encarar o homem — Sasaki — de forma tão neutra quando ele se mostrava tão aberto a fazer amizade. Fazia parte de sua natureza ser legal com quem também o era com ela. Um aperto em seu peito doía só de pensar em tratá-lo mal ou rejeitar seus atos e palavras tranquilas.

— Você veio da capital?

— Sim — Após a pergunta, Sasaki deslizou para o lado e deu espaço para a garota se sentar — Eu estava de viagem para me encontrar com um colega do serviço quando... Acabei dormindo... E ninguém me acordou... Então o trem continuou seguindo e parou aqui... No desespero, acabei descendo rapidamente, porque o maquinista disse que não voltaria apenas para me levar. No fim, acabou que começou a chover e precisei ficar aqui.

— E você dormiu de novo?

Sasaki coçava as costas da cabeça com um sorriso suave porém culpado para a expressão de surpresa desgostosa de Ryota.

— Ah... — suspirou ele — Acho que vou precisar passar a noite por aqui.

— Não vai ser um problema se desencontrar com seu colega de trabalho?

— Hmm... Ele vai entender. Eu acho. Não é a primeira vez que algo assim acontece.

— Caramba, que vida complicada a sua.

— Viajar sozinho é meio assustador...

Ryota baixou os olhos para a chuva de novo.

— Deve ser, mesmo.

— Você nunca viajou sozinha antes?

Em reflexo a essa pergunta, ela apertou os lábios. Os olhos azuis nublaram enquanto se perdiam nas gotas de chuva que caiam, ensurdecendo seus ouvidos e isolando sua mente do mundo externo por um pequeno momento.

— ... Não. Eu passei minha vida inteira no vilarejo. Quero dizer — Ryota pigarreou, abrindo um sorriso, percebendo que estava entrando em um tópico que estava fora do alcance de intimidade de uma pessoa que conhecera há poucos minutos — Não é como se me fizesse falta, sabe? Eu tenho pessoas importantes aqui. Uma família que ama, e que eu amo. Meus dias são sempre cheios e as noites são longas. Nos divertimos muito juntos e aproveitamos a vida tranquila no campo... Eu acho.

Ryota lembrava com facilidade do sorriso das pessoas que tinha visto naquele dia. Das crianças com quem brincou durante a manhã, das mães e pais que a cumprimentaram e agradeceram por seu tempo. Dos adultos com quem cruzou e conversou, daqueles com quem já chegou a ajudar com tarefas ou serviços, dos clientes que atendeu no Tempo da Carne, de seu tio Jaisen, de seu melhor amigo Zero... Eram todas pessoas que carregava no coração com carinho. Eram seus pilares para se manter de pé nos momentos difíceis. Mesmo que ela jamais demonstrasse diante deles seu lado fraco, apenas estar ao lado de todos a fazia ter forças para se levantar todas as manhãs.

— Mas não é como se eu não quisesse conhecer o mundo lá fora — Ryota ergueu os olhos para a chuva que já começava a diminuir de intensidade — Todas as coisas que meu avô e minha mãe falavam. As histórias que meu amigo conta sobre suas... Bem, não posso dizer “aventuras”, porque fazia parte do trabalho dele, mas ainda assim... Pra mim, são aventuras que talvez eu nunca possa experimentar. Viajar pra cidades grandes, com tantas lojas e bibliotecas, com uma variedade enorme de pessoas e coisas de valor, com pratos e doces que só pude ouvir e imaginar como são... Coisas que eu realmente gostaria de poder conhecer pessoalmente.

Ao feixe de luz fraco do sol que lentamente se mostrava entre as nuvens cinzas, Ryota esticou uma das mãos em direção a ele e tapou os olhos.

— Eu realmente gostaria de ir pra fora de Aurora, mas... — ela deu um sorriso que mostrava os dentes, levemente forçado, para Sasaki — Acho que não vai acontecer tão cedo.

Ao silêncio que agora recaia entre eles, pois a chuva havia encerrado junto à sua reflexão, o sol da tarde dava as caras por um pequeno período de tempo antes de se pôr por completo. E, diante desse clima, Sasaki...

— Não deve ser fácil né... Uhum... Opa, quer um pedaço?

— Por que diabos você tá comendo o meu jantar?! Seu cabelo de alga imbecil!

— Nossa, que violência! Você tava tão fofinha falando sozinha que não quis te interromper...

— Dai você resolveu só roubar meu lanche?! Muito legal da sua parte!

Ryota partiu pra cima de Sasaki com sangue nos olhos para pegar de volta o restante de seu sanduíche já com menos da metade sobrando. Pedaços remanescentes de pão estavam grudados ao redor dos lábios dele, que lutava para ficar com o lanche roubado de uma garota completamente revoltada.

— E meu suco! Você... Bebeu ele... Todo...!

— Obrigado pelo lanche. Estava sem comer o dia todo e você me salvou — Sasaki ignorou as lágrimas de crocodilo de Ryota e uniu as mãos diante dela, como se orasse em agradecimento.

— Aaaaaaah!! Só... Esquece!!! Esquece tudo, entendeu? Tudo!

Ryota se colocou de pé com um salto e cruzou os braços diante do rosto num “X” exagerado que fez Sasaki rir enquanto guardava os potes e garrafa vazios de volta na mochilinha amarela surrada da garota.

— De qualquer forma, se pretende mesmo passar a noite aqui, não pode dormir na estação. Desse jeito vai destruir sua coluna. No mínimo — ela indicou com o dedão para trás de si, na direção de onde Aurora estava localizada — se passar no vilarejo, o povo pode te oferecer um quarto e café da manhã por um preço camarada.

—  Bem legal da sua parte dizer tudo isso pra alguém que acabou de devorar sua janta.

— Eu tava tentando ignorar isso! Agora fica quieto!

Rejeitando ao máximo o ocorrido de há pouco, a garota inspirou fundo para se acalmar.

— Certo. Então, obrigado. Posso te agradecer de alguma forma?

— Poderia devolvendo meu jantar, mas isso seria impossível.

— Quanto remorso, hein?

— A COMIDA ERA MINHA! Ai, esquece... — Ryota suspirou, batendo a mão na testa, então parou pra pensar por um instante, antes de estalar os dedos — Você disse que veio da capital, não é?

— Isso mesmo. Na realidade...

— Oi? O quê?! Ei, ei, ei, ei! Eu sei que tá calor e tudo, mas não precisa tirar sua camiseta assim...! Iih!

Apesar dos protestos acompanhados de um sacudir de braços desajeitados no ar, Ryota não conseguiu impedir com o rosto vermelho de Sasaki desabotoar a própria camisa social de manga comprida. A garota se afastou conforme falava e desviou o olhar ao dar um gritinho.

— Que drama. Eu só queria mostrar isso.

— ... O quê? Hm?

Olhando com um pouco de cautela entre os dedos, Ryota piscou duas vezes antes de seu cérebro processar a imagem que estava gravada no peito esquerdo de Sasaki. Era uma tatuagem localizada exatamente acima do coração do tamanho de um punho. Havia um círculo dourado perfeitamente desenhado com uma coruja sentada sobre a linha de forma impecável. O tom parecia brilhar sob a luz, reluzindo de forma quase sobrenatural e mágica. Por alguma razão, Ryota não conseguiu tirar os olhos do símbolo.

— Ficou fazendo um drama gigante pra depois colar os olhos em mim, né? — zombou ele, lendo os pensamentos da garota com um tom divertido e uma pose exibicionista.

— N-Não é isso! Cruz credo, sai pra lá!

— Não precisava disso tudo... — Sasaki suspirou melancolicamente à profunda rejeição e abotoou novamente a camisa — O que acabei de lhe mostrar é a prova de minha lealdade e posição dentro do Instituto Gnosis. Melhor dizendo, ao local onde trabalho.

— Instituto Gnosis? — Ryota torceu as sobrancelhas e cruzou os braços, sentindo que o nome lhe era familiar — Ah. Acho que já ouvi falar sobre ele antes. Se bem me lembro, era tipo uma academia super famosa, não é?

— Mais precisamente, uma verdadeira instituição com propósitos acadêmicos e de pesquisa com uma gigante quantidade de conhecimento armazenado. Você deve ter ouvido falar nele, de fato, como um colégio, pois muitos que vão para lá são justamente estudantes de alta patente que procuram uma especialização profunda em certos temas ou buscam conhecimentos há muito perdidos no tempo.

— Bem, Urânia era um país recheado de conhecimento no passado. Não é à toa que seu remanescente também seja assim.

O que Ryota refletia em voz alta com uma mão no queixo era sobre o país apelidado de “remanescente” do que um dia fora Urânia. De certa forma, era assim mesmo que era, uma vez que seu país de origem havia sido completamente destruído, assim como fora o caso de Polímia, e os dois precisaram compartilhar de um pouco das terras de Thaleia para sobreviverem. Como fora uma questão de vida ou morte, e não havia espaço para orgulhos ou guerras estúpidas, os líderes de seus respectivos países optaram por uma trégua sob qualquer circunstância afim de lidarem com o inimigo em comum da humanidade.

Mas, bem, essa era uma história antiga.

O fato era que Urânia sempre foi reconhecida por suas especiarias, sua cultura, sua grande devoção à arte e à imaginação... E, é claro, ao conhecimento. De certa forma, era um dos países, senão o país mais rico do mundo — não só financeiramente, mas também em mentes geniosas. Apenas a famosa “nata da nata” era digna de estudar naquele local tão privilegiado, quanto mais na maior instituição, conhecida mundialmente como Instituto Gnosis.

Como uma leitora assídua e uma boa ouvinte de histórias, Ryota ficara sabendo do instituto de alguma forma — ela não se lembrava de como, onde ou de quem, apenas que não lhe era um termo estranho. E ter Sasaki confirmando suas dúvidas foi um alívio ao peito, assim como despertou uma grande curiosidade em relação ao homem diante dela. Apenas pensar nas possibilidades a fez encarar Sasaki com mais seriedade do que antes — embora um pequeno pedaço dela ainda suspeitasse de seu lado bobão demais para alguém que supostamente seria chamado de intelectual.

— Você parece estar pensando em algo ofensivo.

— Hã? De onde veio essa ideia?

— Dessa sua cara torta aí — Sasaki apontou para uma Ryota que desviava o rosto para o lado com um sorriso nervoso.

— S-Sei de nada, não, viu? Mas deixando isso de lado — ela recuperou a postura e retomou o assunto — Por que me mostrar isso?

— Achei que poderia ser divertido ver sua reação — revelou Sasaki com um sorriso, antes de desfazer a expressão brincalhona — E também porque achei que isso a interessaria.

Havia aí um tom de voz que Ryota não soube interpretar. Embora ele ainda usasse um “quê” de brincadeira, Sasaki conseguia ser misterioso de um jeito estranho. Ao mesmo tempo em que não parecia planejar nada ruim, um pequeno lado dela parecia gritar “cuidado!” para os olhos negros profundos dele. Era quase como se ele conseguisse lê-la.

— Não sei porque acha isso.

Porém, à dedução dele, Ryota apenas respondeu com seriedade, sem saber aonde ele queria chegar.

— Não existe nada que queira saber?

Ryota ficou em silêncio. Sasaki fez aquela pergunta com um tom mais sombrio do que deveria soar.

— Não há nada que tenha interesse em descobrir?  Quero dizer, não que eu seja exatamente um livro de informações, mas talvez eu possa lhe ajudar em alguma coisa que tenha vontade de saber.

— ... O que te faz pensar que eu quero saber alguma coisa?

— Todos os seres humanos desejam conhecimento.

— Eu não-

— Até você, Ryota. Mesmo eu quero saber de muitas coisas, ainda. Coisas que, apesar de tudo, ainda não sou digno de saber — Sasaki deu um suspiro, gesticulando com os dedos no ar — Não importa qual seja o conteúdo, nós somos atraídos pelo conhecimento. Até mesmo você, que diz estar bem com a vida que têm, deve possuir interesse em perguntar algo a alguém que tudo pode saber.

— Mas você mesmo disse que não sabe tudo.

Sasaki abriu ainda mais o sorriso.

— Não agora. Mas a resposta para o que procura saber te encontrará muito em breve.

A garota juntou as sobrancelhas com aquela resposta estranha. Ela queria perguntar bem mais sobre o que aquilo significava, sobre como Sasaki tinha tanta certeza do que dizia, mas temia que pudesse jogar fora a oportunidade.

De certa forma, era algo grande, não era? Poder perguntar sobre qualquer coisa... Mesmo que fosse algo com a qual ele fosse incapaz de dizer naquele momento, ele não parecia do tipo que mentiria. Muito menos que a enganaria com a tal resposta que viria depois. Ainda que Ryota achasse tudo muito suspeito, aqueles sentimentos em relação ao homem diante de si não pareciam mentira. Era como um sexto sentido lhe falando aquilo. Embora ela não soubesse como ou porquê.

Apertou os olhos com força e pensou por um instante.

A pergunta veio rapidamente como uma luz, e Ryota se viu perguntando muito antes de considerar se era correto fazer um questionamento daqueles para um desconhecido.

— Escuta, Sasaki.

— Sim?

— ... Você já ouviu falar, ou conhece, alguém chamado Albert? Ele... É como um avô para mim. Não somos familiares de sangue, mas ele cuidou de mim durante algum tempo depois que minha mãe faleceu. Mas... Ele foi embora do vilarejo uns dias depois disso, e nunca mais voltou. Já faz mais de dez anos que não o vejo. Eu supus que talvez você pudesse saber algo a respeito dele...

— ... Albert, hein? — Após um instante, Sasaki abriu a palma da mão e acenou — Sinto muito, não consigo lembrar de alguém com esse nome.

— ... Certo. E talvez... Uma mulher chamada Stella?

Sasaki, mais uma vez, negou com a cabeça a pergunta feita por ela. Ryota tentou não demonstrar tanta decepção quanto sentia, então apenas manteve um sorriso meio triste no rosto.

— Ah. Há, há. Tudo bem, então. Sem problemas. Bom, não era nada demais, de qualquer forma...

— Mas minha mestre com certeza saberá algo sobre eles. A reitora de Gnosis, Sofia... E o amor da minha vida... — Sasaki apertou as mãos no colo e deu um sorriso apaixonado antes de voltar a uma expressão normal. Foi tão repentino que Ryota demorou um instante para entender o que tinha ouvido e visto — Ela é inteligente e possuí muitos contatos, então com certeza poderá te ajudar quando precisar. Em qualquer momento, a qualquer custo, ela está sempre disposta a te guiar pelo caminho da sabedoria. Apenas o esperado de uma mulher linda, prestativa e maravilhosa como ela!

— Hm... Então, essa Sofia... Quero dizer, a dona Sofia pode realmente me ajudar?

— Minha doce Sofia, se assim puder, certamente a ajudará. Se um dia for até Celestia, a capital de Urânia, procure-a em meu nome e garanto que seu desejo poderá ser concedido.

Era quase como se Sasaki falasse de uma deusa, e não de uma pessoa. Considerando a forma como ele a via e o jeito com que falava, com certeza devia considera-la uma. Ryota ficou surpresa que uma pessoa assim existisse — mas, ao mesmo tempo, não duvidava de que houvessem humanos realmente incríveis no mundo lá fora. Principalmente em um lugar como Urânia.

— Muito bem, então.

— Ótimo! — Sasaki bateu palmas, sorridente — Eu ficaria realmente magoado se não pudesse te retribuir pelo o que fez, querendo ou não, por mim, então espero vê-la em Celestia em um futuro próximo, okay?

— Eu queria só esquecer disso de uma vez... Aaah... De toda forma, parece que a chuva parou completamente agora.

O céu estava escurecido, mas sem o ranger no ar de trovoadas ou a sensação de calor, ficou claro que a chuva tinha parado de vez. Ryota, então, pegou sua bicicleta e a empurrou até a frente de Sasaki, que permaneceu sentado. Um vento frio a atingiu pelas costas, e a garota estremeceu.

— Vou indo, então. Não passe a noite neste lugar, vai ficar gripado. Seria uma vergonha ver um adulto adoecer só porque não se cuidou direito.

— Vou fingir que ouvi apenas palavras adoráveis de preocupação.

Ryota bufou, risonha.

— Mas vou ficar bem — continuou ele — Na verdade, gostaria de ficar sozinho um pouco mais de tempo, se possível. Em meia hora te alcanço, pode ser? Até lá, ficarei imensamente agradecido se puder me oferecer uma cama quentinha, uma boa janta antes de dormir e uma mulher bonita para me servir.

— E eu aqui mostrando preocupação, aaah... E não tem nenhuma mulher que faria isso por você lá não, sacou? Se quer uma, melhor ir pra um bordel em Polímia.

Ele riu às costas dela, que tinha começado a pedalar para longe e acenava.

— Não é meu tipo de lugar favorito, mas considerarei a proposta! — respondeu ele, exclamando.

Ryota apenas continuou acenando com a mão direita enquanto seguia pela estrada úmida e cheia de poças d’água. Foi adentrando mais e mais na floresta, acompanhada pelo par de olhos negros, antes de sumir nas sombras e árvores por completo.

 



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