Volume 2
Capítulo 22 (Prt. 2)
Asher ficou imóvel por um momento, o coração batendo com força no peito, não pelo medo, mas pela fúria silenciosa que fervilhava dentro de si. Ele se aproximou da jovem, estendendo a mão com cuidado. — Você está bem?
Ela levantou o rosto devagar, os olhos cheios de dor, mas também de um orgulho ferido. — O que você acha? — zombou, afastando o toque dele, enquanto levava a mão ao hematoma com um gesto delicado. — Ai…
Asher franzia a testa.
— Ele pode fazer isso, bater no produto? — Sua voz soou fria, distante, mas seus olhos não deixavam de observar a respiração trêmula.
Ela soltou uma risada desgostosa, rindo da própria desgraça. — E o que você entende disso? Você só é um garoto…
Mas ele não recuou. Indiferente ao comentário, ele encarou os olhos dela.
— E você também só é uma garota — disse suavemente, ajoelhando-se diante da jovem. — Seu nome é Kristy, não é?
Ela o estudou por um tempo, como se buscasse decifrar suas verdadeiras intenções. Depois, com um aceno conciso, ela confirmou. — Sim, meu nome é Kristy.
— Eu sou Asher. — Ele levantou e sentou-se ao lado dela na cama.
Ela sorriu, apesar da dor que marcava sua expressão. — Prazer em conhecê-lo, Asher. — Havia um tom de ironia. — Não é o melhor momento para apresentações, não acha?
— Não mesmo — ele concordou num sorriso gentil.
O sorriso de Asher parecia dissipar a dor que ela sentia, ainda que apenas por um breve instante. Seus olhos se arregalaram ligeiramente, e ela desviou o olhar, engolindo em seco. Ela não sabia como lidar com a gentileza dele. — Então, o que você vai fazer agora? — Ela entrelaçou os dedos nervosamente.
— Acredito que a pergunta certa é o que você vai fazer sobre isso? — Asher apontou o hematoma que coloria o rosto dela de vermelho.
Ela suspirou, dando de ombros. — Eu não me importo, não é a primeira vez. Ele realmente acredita que eu sirvo apenas a ele.
— E você serve? — Asher perguntou, mais interessado na resposta do que ele gostaria de admitir.
Kristy soltou uma risada breve. — Claro que não! Eu o odeio, aquele porco fedorento!
Asher ficou em silêncio por um instante, pensativo. Afinal, o que tornava alguém a propriedade de outra pessoa? Poder? Dinheiro? Medo? Então, ele, levado pela curiosidade, que surpreendeu até a si, falou: — Mostre a ele que você pertence a outra pessoa.
Ela arqueou uma sobrancelha, surpresa. — O quê? Está brincando? — Riu com desdém. — Vai me dizer que eu deveria fingir que sou sua, por exemplo?
— Se funcionar.
— Não seja bobo, garoto! — Kristy zombou, balançando a cabeça. — Você está aqui porque seu pai o mandou, não é? Já vi muitos garotos assim como você. — Sua voz soou pesada, como alguém que já havia vivido isso vezes demais. — Pais que acham que trazer os filhos aqui vai transformá-los em homens, quando, na verdade, só os ensina a abusar de mulheres como eu.
As palavras dela o atingiram como uma verdade incômoda. Embora ela estivesse certa sobre muitos aspectos, Asher não conseguia aceitar que isso se aplicasse a ele. Seus olhos a observavam, e seus pensamentos voltaram-se para uma garota, sua amiga. Ele queria protegê-la e ser mais do que apenas um garoto para ela.
— Eu gostava de uma pessoa — confessou sem perceber. — Ela está prometida a outro homem, mas se eu pudesse, faria qualquer coisa para mudar isso.
Kristy fitou o rosto dele, a expressão convencida, semelhante a um soldado que aceitava a derrota.
— Está pedindo conselhos a uma prostituta? — Balançou a cabeça, incrédula. — Escute, garoto, eu não sou sua mãe. Não faça perguntas estúpidas a pessoas que você não conhece.
Asher sorriu, cabisbaixo. — Me desculpe. Só estou… confuso. Queria poder esquecê-la, mas não consigo.
— Bem, então você deveria dormir comigo. — A voz dela era direta e sincera.
Ele a olhou, perplexo. — O quê? Eu não vim aqui para isso! — disse, desconcertado. — Não sou como esses homens!
— Estou dizendo que é isso o que eu quero.
Asher recuou, sua respiração irregular e o coração pulsando mais forte, vendo-a, sem hesitar, deslizar as mãos sobre cintura dele. — O que…?
Kristy, porém, estava alheia à dúvida que se formava nele, e seus dedos, sorrateiramente, começaram a desabotoar a calça dele.
!!!
Asher reagiu, tomando suas mãos com um toque firme. Ele estava ciente de sua própria vulnerabilidade, de como seu corpo reagia de maneiras que sua mente não aprovava.
— Espere… espere um segundo! Você… realmente quer dormir comigo? — A incredulidade em sua voz era evidente, enquanto o silêncio do quarto pouco iluminado parecia pressioná-lo.
— Ei, você está me ouvindo? — perguntou ele, ainda mais confuso com o silêncio dela. — Eu não quero dormir com você!
— Você está excitado. — A afirmação dela foi como um golpe, seu olhar fixo no volume e no desejo que ele não conseguia controlar. — Você pode dizer que não quer, mas seu corpo diz que sim. Isso o torna diferente deles?
Asher parou. Seu sangue ferveu em suas veias. As palavras o feriram, como as flechas que seu pai usava para torturar os animais, perfurando, naquele instante, o seu orgulho.
— Não me compare com eles — declarou, sua voz afiada.
Kristy, no entanto, continuava impassível. Ela se soltou de seu aperto e num único movimento, apoiou os braços nas coxas dele, os rostos agora perigosamente próximos.
— Então, mostre-me que você não é como eles.
Um sussurro. Ela se inclinava ainda mais, seus lábios quase tocando os dele. — Posso ajudá-lo a esquecer dela.
Esquecer? — O pensamento soou impossível em sua mente.
A imagem dela estava marcada em sua alma, como uma cicatriz imune ao desgaste do tempo.
— Ao menos, me deseje como você a deseja. — Ela se sentou no colo dele, envolvendo os braços ao redor do pescoço.
Asher sentiu o corpo dela tremendo, sua própria confusão refletida nos movimentos dela. Ele fechou os olhos por um momento, lutando contra o que sabia ser errado, contra a dor que via em seu rosto. No entanto, ela pressionou os quadris contra o dele, levada pelo desconforto, pela dor do machucado que ela desejava esquecer.
— Mostre-me como é ser amada — Apertou as mãos nos ombros dele. — Por favor — implorou.
Asher abriu os olhos, procurando o olhar dela. Não havia ódio, nem raiva em seu semblante.
Ele sabia, no mesmo instante, que não era isso que ela precisava; o que ele podia oferecer.
Contudo, ele se deixou levar pelo sentimento que ainda tentava entender.
Então, Asher deslizou suavemente a mão pela bochecha dela. Seus lábios, delicadamente, estavam tocando os dela.
— Nunca fiz isso antes — ele confessou, embora sua postura não denotasse inexperiência. Ele se manteve calmo, exibindo uma aparente segurança.
Mas isso não era um problema.
— Posso ensiná-lo, desde que você também me queira. — Sorriu. — Seja gentil, Asher. — Mordeu o lábio inferior dele.
“Asher.”
Era a voz da mulher que acariciava seus ouvidos, vagando em seus pensamentos enquanto ele, irreverente, deslizava as mãos pelo corpo de Kristy.
Seus dedos, marcados por calos e cicatrizes de inúmeras tentativas frustradas de caça, traçaram um caminho pelo quadril, deslizando suavemente pela cintura sob o tecido delicado.
Ele fechou os olhos.
Os cabelos castanhos divididos em duas tranças e os olhos dourados que ele, devido à sua imaginação pervertida, enxergava diante dele.
Hah… que se dane! — pensou, jogando-a ferozmente na cama.
Asher refletia sobre as duras lições de sua juventude, em que a dor física não se comparava à angústia de vê-la nos braços de outro homem.
Ele havia aprendido, desde cedo, a ocultar suas emoções. As memórias das sessões de caça vinham à tona, trazendo com elas a lembrança vívida dos castigos, dos chutes nas costelas, das surras incontáveis. Mas, nada disso se equiparava ao tormento que era perdê-la.
Conhecia bem a natureza dos lobos, aqueles animais que ele tanto estudara nas caçadas. A irmandade, a responsabilidade de jamais abandonar o mais fraco ou o mais velho, todas recaíam sobre o líder. Para comandar, era preciso enfrentar os mais fortes, subjugar para merecer o respeito da alcateia. E Asher compreendia essa dinâmica, aplicando-a inconscientemente à sua própria vida.
Agora, o calor se espalhava por seu corpo. Ele sentia a maneira como Kristy se movia em perfeita harmonia com ele, e, ainda que seu rosto permanecesse impassível, sua mente vagava. Recordava os momentos em que ela tentava escapar de seu aperto, o desespero silencioso dela.
Ele, por outro lado, persistia, acreditando, com uma ingenuidade quase cruel, que isso resolveria a dor de perdê-la.
Quanto mais seu coração acelerava, o suor escorria e o êxtase se aproximava, mais ela retornava à sua mente.
Então era isso. Essa é a sensação de ter controle sobre algo? Ter algo que parecia ser seu, mesmo que fosse uma ilusão? Era diferente de sentir o sangue quente escorrendo pela testa, de ver o reflexo dos próprios machucados após uma surra. Havia algo insidiosamente prazeroso naquela falsa sensação de posse, naquela mentira que ele contava a si mesmo.
E, no fundo, ele sabia que, por mais que tentasse enganar o próprio coração, a presença dela jamais se apagaria.
Acompanhe também…
Príncipe de Olpheia.
Nota: Boa noite! Desculpem a demora.
Depois que li o final do capítulo, pensei que precisava mostrar esse lado “selvagem” de Asher. Não tive tempo de elaborar um desenho como os demais, considerando que comecei este exatamente 20 h de hoje, haha! Mas precisava de uma ilustração!
Então, fiquem com o Asher criança! Obrigada pela atenção e boa leitura!