Ribeira dos Desejos Brasileira

Autor(a): Rhai C. Almeida


Volume 2

Capítulo 22 (Prt.1)

Nota: Boa noite, pessoal. Esta é a primeira parte do capítulo! Se possível, favoritem as obras da autora, pois isso ajuda alcançar mais leitores. Desde já, agradeço! Segunda teremos a parte dois! Boa noite, e bebam água!

Boa leitura!

Anos atrás…  

Em um mundo onde os filhos crescem sob o peso das expectativas, moldados pelas necessidades de quem os criou, nem sempre o destino se alinha com os sonhos de suas famílias. Asher, ainda jovem, assistia ao seu pai, o homem impiedoso com a arma em mãos, derrubando aves com tiros certeiros que as faziam cair como pedras. Quando não satisfeito com a rapidez da morte, ele escolhia torturar. Flechas eram disparadas em locais estratégicos, onde o sangue escoava lentamente, garantindo que a vítima fosse consumida pela dor até seu fim inevitável, como um espetáculo aos olhos do perverso predador.

— É assim que se caça, garoto — o pai proferiu com frieza, sem desviar o olhar da presa. — Nunca permita que fuja. — Seu rosto gélido se voltou para Asher, em desprezo. — Faça-as implorar pela morte. — E, num movimento suave, apertou o gatilho mais uma vez.

Bang!

Asher presenciou, desde muito jovem, o massacre de cervos, coelhos, lobos…, todos abatidos covardemente por aquele que deveria ser seu exemplo. Seu pai era um homem que não via graça em nada além da dominação. Ele arrastava o menino para lugares sombrios, onde os verdadeiros “homens” eram formados. Casas de aposta, bordéis e tabernas… lugares que transbordavam o pior da humanidade, locais onde o que importava era a força bruta e o poder sobre os outros.

E então havia mulheres. Seres cujos valores eram medidos pelo desejo. Seminuas, elas desfilavam seus corpos, não apenas em busca de moedas, mas de uma posição, de reconhecimento. Cada curva e movimento eram estudados para se tornarem uma mercadoria cobiçada, pois quanto mais desejadas, maior o preço. Elas sabiam dos segredos dos homens, compreendiam seus anseios mais vis. E os homens, por sua vez, se deliciavam em tomar aquilo que lhes parecia seu por direito — o domínio completo, o prazer na submissão delas.

Asher, via tudo isso com olhos indiferentes, enquanto seu pai, embriagado, vagava de um lugar para outro. O tempo passou, e com ele, o menino se transformou. Já não era mais a criança inocente que se escondia atrás da figura paterna. Agora, com dezessete anos, sentava-se ao balcão de um bordel, as memórias da infância ainda se movendo dentro dele.

Foi então que ele a viu. Cabelos castanhos, encaracolados como ondas do mar, olhos claros, predatórios, como mel à luz do sol. Ela se aproximou discretamente com um sorriso.

Por um segundo, viu nela uma menina, a qual ele, já conformado, tentava esquecer.

— Está perdido, rapaz? — perguntou, a voz suave.

— Não, estou com meu pai — Asher respondeu, seu olhar hesitante, evitando a vista dos seios mal cobertos pelo vestido da jovem.

— Você parece jovem para estar aqui — ela o avaliou com atenção. — Quantos anos tem?

— Dezessete — respondeu, desviando o olhar para longe, sentindo o olhar dela sobre ele. — E você?

— Não muito mais velha que você — disse ela com um sorriso leve. — Tenho dezenove!

Asher encarou-a por um momento. Ela também era jovem demais para estar ali, cercada por homens que poderiam ser seus pais, alguns até mais velhos. Mas ele, apesar de seus dezessete anos, já se destacava. Seu pomo de adão visível, os músculos firmes de seus braços, tudo nele sugeria que, por fora, era mais homem do que garoto.

— Você está aqui por seu pai, pela bebida, ou… para conhecer o que é ser um adulto?

Era uma pergunta sincera demais, imaginou Asher, erguendo os olhos para encarar a jovem que, sem qualquer pudor, se sentou no balcão diante dele.

— Há quanto tempo você trabalha aqui? — Asher perguntou, seus olhos fixos na mulher à sua frente, sem saber se queria ouvir a resposta.

Ela cruzou as pernas, como quem já não se importava com julgamentos. — Hm… — murmurou, um sorriso tênue no rosto. — Comecei quando tinha sua idade. — Sua voz soava distante, como se estivesse contando a história de outra pessoa. — Minha mãe me vendeu a um comprador de escravos quando meu pai tentou… abusar de mim. — Uma risada amarga escapou de seus lábios. — Ela achava que eu poderia roubá-lo dela. Acredita nisso?

Asher sentiu o peso das palavras, mas não soube o que dizer. Ele nunca ouviu nada assim antes. Ainda assim, ela continuou, o sorriso triste permanecendo no rosto. — Fui vendida para o dono deste bordel. Bem, podemos dizer que não sou tão cara assim por aqui.

— Sério? — A curiosidade escapou de Asher antes que pudesse contê-la.

Ela riu, inclinando-se ligeiramente, o olhar brincando sobre ele, como se estivesse se divertindo com sua inocência. — Porque só durmo com homens gentis. — O toque suave de seu dedo deslizou pela lateral do rosto dele, fazendo-o prender a respiração. — E homens bonitos.

— Pensei que mulheres como você não pudessem escolher com quem dormir.

— Não podemos… — A resposta veio instantaneamente, porém um tom suave em sua voz causou uma confusão, fazendo-o arquear uma sobrancelha.

— Então…?

Ela riu de novo, dessa vez mais abertamente. — Haha, estou brincando. Você deveria ter visto sua cara! — Num salto gracioso, desceu do balcão, afastando-se com passos leves em direção à escada que levava ao andar de cima. — Foi bom conversar com você, mas tenho que voltar. Não beba demais.

Asher a observou enquanto se afastava, seus olhos fixos nos cabelos sedosos que balançavam ao ritmo de seus passos, as roupas finas moldando o corpo pequeno. Havia algo nela que o incomodava, algo que não conseguia explicar, uma ousadia, talvez. Antes que ela pudesse subir o primeiro degrau, ele se viu chamando-a.

— Qual é o seu nome?

Ela parou, a mão repousando sobre o corrimão de madeira polida. Olhou por cima dos ombros, um brilho curioso nos olhos. — Tente adivinhar. — E, com um sorriso provocador, subiu lentamente os degraus, sumindo entre a multidão de corpos que se moviam pelo bordel, sombras em busca de prazer.

Asher permaneceu sentado, imóvel, enquanto o som ao redor se transformava em um murmúrio distante. Ele pensava nela, nas palavras ditas. Havia algo diferente… Era sua coragem? Ou talvez, algo mais profundo. A semelhança com alguém que ele conhecera?

Isso é loucura… — ele pensou, olhando de relance para seu pai, que ria e se deleitava com os toques vulgares das mulheres ao seu redor. O barulho de risadas e vozes abafadas enchia o ar, tão distante do que ele conhecia.

Era um contraste gritante com o som do vento entre as árvores, e com o farfalhar das folhas mortas sob seus pés nas trilhas da floresta. Como seria viver uma vida controlada por outros, ter o corpo à mercê de quem decidisse? Qual a necessidade para resistir a isso, mantendo-se intacto perante a humilhação e o desprezo?

Após alguns minutos de reflexão, Asher se levantou, o coração pesado com perguntas que ainda não tinham respostas. Ele subiu as escadas, ignorando as tentativas das outras mulheres de chamar a sua atenção. A sua mente estava focada em uma única pessoa. Assim, ao se aproximar de um grupo de garotas no corredor, ele perguntou.

— Para onde foi a mulher de cabelos castanhos, de vestido vermelho?

— Ah, você quer dizer a Kristy? — Uma das garotas riu suavemente. — Ela está… trabalhando agora.

Kristy — repetiu para si, curioso. Bem, ele sabia muito bem no que ela estava “trabalhando”.

— Onde posso encontrá-la?

— Primeiro quarto à direita, após virar no corredor.

— Obrigado. — Ele assentiu, seu olhar já direcionado ao local indicado.

Parado à porta, Asher esperou calmamente até o momento que poderia conversar com ela. Ele ouvia as conversas do corredor, as vozes animadas ao som dos instrumentos alegres no primeiro andar, todos se divertindo, enquanto ele, com metade do brilho das lamparinas a distância iluminava metade de seu corpo, ponderava:

O que levava uma pessoa a seguir esse trabalho, apenas por prazer?

Contudo, antes que pudesse pensar mais sobre isso, um grito feminino, vindo do quarto em questão, ecoou para além da porta. Era a voz dela, pedindo por ajuda.

— NÃO!

No instante seguinte, Asher, com um ímpeto incontrolável, arrombou a porta. Ele viu o homem, com as calças abaixadas, segurando a cabeça da jovem enquanto o ódio se estampava em seus olhos. O hematoma vermelho e inchado no rosto dela e os pulsos marcados por dedos que, silenciosamente, falava mais do que qualquer palavra.

— Você?! — ela falou, atônita, o olhar refletindo a confusão e o medo.

— Você o conhece?! — vociferou o homem, enroscando as mãos no cabelo dela. — Vadia! Quantas vezes eu disse que você me pertence? — Sua mão ergueu-se como um chicote, desferindo um tapa violento que a fez tombar no chão. — Hah… porra! — ele bufou, puxando suas calças desleixadamente, enquanto caminhava até Asher, os olhos faiscando com um ódio animalesco.

Num movimento rápido, o homem agarrou a gola da camisa de Asher e puxou-o para perto, o hálito sujo invadindo as narinas do jovem. — Escute aqui, pirralho. Ela é minha! — Seus dedos apertaram as bochechas de Asher com uma força bruta e possessiva. — Minha, entendeu?! — disse, dando dois tapas leves no rosto dele antes de sair do quarto, enquanto deixava um rastro de desprezo.


Acompanhe também…

Príncipe de Olpheia.

 



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