Volume 2
Capítulo 20
Dia 5 | Ano 1***
22:40 PM
As chamas crepitavam na lareira, a luz bruxuleante iluminando o pequeno espaço da humilde residência que, à primeira vista, poderia ser confundida com um luxuoso estábulo, onde nobres cavalos viveriam confortáveis, sem se preocupar. O caldeirão, agora vazio, ainda soltava um último fio de vapor que subia preguiçosamente em direção ao teto de tábuas.
Os pratos, sujos e espalhados pela mesa, eram o único vestígio do banquete simples, mas satisfatório, que os seis homens haviam partilhado após um dia exaustivo de caça. O cheiro de carne assada ainda pairava pelo local, misturado ao aroma da madeira queimada.
Toph, largado em um colchão no chão de madeira, soltou um arroto, rude e desinibido, antes de se esticar com um sorriso satisfeito. Seus dedos tatearam a barriga cheia enquanto, com um movimento desleixado, ele tirava as botas.
— Nossa, estava uma delícia — comentou, sua voz pesada de cansaço e prazer. — Não comia uma lebre tão boa quanto essa há muito tempo.
Ele jogou o olhar para Asher, que permanecia à mesa, as costas voltadas para os demais, ainda concentrado na tarefa de eviscerar a última lebre abatida. As lamparinas acima de suas cabeças tremeluziam a cada sopro do vento, que invadia a cabana pelas frestas das janelas.
— Você cozinha bem — disse Rony, sentado no colchão ao lado do irmão, erguendo os olhos de sua bolsa de moedas.
Asher acenou com a cabeça, um gesto que para seus conhecidos, dizia tudo.
Sentado perto da lareira, Anthony afiava a lâmina de sua faca em movimentos lentos e precisos, no suave raspar da pedra contra o aço. O som metálico da pedra tocando o fio cortante ecoava suavemente, acompanhando o estalar da lenha. Ele ouvia a conversa, mas não se envolveu, perdido em seus próprios pensamentos, enquanto o brilho do objeto refletia o fogo.
Do lado de fora, Deron era o único que permanecia empoleirado em um banquinho. Seus olhos examinavam a vasta extensão da floresta escura, e suas madeixas enrolavam-se no vento.
Lukas saiu de um quarto, esfregando uma toalha nos cabelos molhados. Ele olhou para Asher se aproximou da mesa, ainda secando os fios rebeldes.
— Por que não me esperou? — perguntou, com um leve tom de frustração na voz. — Eu vi você descendo pela estrada. Não me ouviu chamá-lo?
Asher não se virou, jogando as vísceras da lebre em um balde.
— Desculpe, eu não ouvi — disse Asher sem tirar os olhos da carne.
Lukas observou-o por alguns segundos, os movimentos hábeis com que Asher tratava a carne fresca. Ele era talentoso em qualquer coisa que envolvesse caçar, porque essa era a sua vida. Contudo, para outros aspectos, Asher o lembrava de uma criança. Ele apenas riu baixinho, recordando o passado.
— Ela é uma mulher estranha — disse, de repente.
Ao ouvir, o olhar de Anthony, até então absorto, deslizou rapidamente para Lukas, mantendo o movimento ritmado da pedra na lâmina.
— Anos atrás, nós não nos conhecíamos, mas ela falou comigo como se fôssemos velhos amigos. Se não fosse por você, talvez eu ainda tivesse uma visão errada dela.
— Por que você acha isso? — perguntou Anthony, sem tirar os olhos da faca.
Lukas ponderou por um momento. O que eu acho disso? Eu não sei. — Ele inspirou lentamente, suas mãos firmes sobre o balcão de madeira.
— Rose sempre foi conhecida como a filha de uma prostituta. Eu a conhecia apenas pelos rumores. A mulher que conquistou o coração do filho de um homem importante para vencer a guerra.
— E mulheres com essa origem não se casam — comentou Anthony, sua voz baixa e casual, como se estivesse falando de um fato inquestionável. Ele desviou os olhos do fogo, embora Asher, ao ouvir isso, tivesse hesitado, sua mão em repouso no ato de despelar a carne. — E seus filhos, muitas vezes, são os mais desprezados. Quem quer que tenha se casado com ela, deve ser um homem corajoso por renunciar à sua posição.
O silêncio foi rompido pelo riso amargo de Lukas, que sacudiu a cabeça, dizendo:
— Isso é bobagem — zombou, erguendo o queixo. — Toda mulher merece ser amada, não importa o seu passado. Rose é apenas uma mulher que quer viver pacificamente.
— Nem todas — interrompeu Rony. — Algumas não merecem nada além de desprezo, principalmente aquelas que atacam homens casados, procurando lucrar com sua luxúria. Para mim, é um mistério que uma mulher como a mãe dela tenha dado à luz. Geralmente, elas interrompem a gravidez, ou deixam de gerar crianças.
As palavras caíram como uma pedra na sala. Lukas, sem perceber, arqueou a testa, incrédulo no que acabara de ouvir.
— Há! — exclamou, ríspido. — Seria muito mais simples se esses homens não se esgueirassem em bordéis enquanto seus filhos dormem em camas confortáveis feitas por suas esposas. — Ele franziu o cenho. — Não sei que tipo de mulher você conheceu na vida, mas nem todas com um passado merecem tal desrespeito.
O ar na cabana parecia congelar enquanto Lukas, sem esperar por uma resposta, virou-se bruscamente. Seus passos ecoaram pesadamente pelo chão de madeira ao empurrar a porta com força para sair e se juntar a Deron.
Rony, confuso, olhou para os outros. — O que deu nele?
Asher, ainda parado com a faca na mão, a largou com um baque sobre a mesa de madeira. Ao virar-se, cravou o olhar impassível nele, falando:
— Você — iniciou com uma calma ameaçadora —, não seja idiota.
— Está brincando? O que eu fiz? — Rony se defendeu, levantando uma mão ao peito.
— Às vezes, manter a boca fechada é a melhor resposta. Você não conhece essas pessoas, e não importa de que buraco miserável você saiu. Não presuma que esta cidade seja um bordel ao ar livre. Muitas mulheres aqui são boas esposas e mães. Portanto, a menos que queira parecer um tolo, mantenha seus pensamentos em segredo.
Indiferente, Asher lançou um último olhar para Anthony, então, limpando as mãos sujas de sangue em um pano esfarrapado, deixou o espaço da mesa para desaparecer em um dos quartos, a porta rangendo ao se fechar atrás dele.
Anthony, ainda afiando a lâmina, soltou um riso contido.
— Você mereceu essa.
— Ah, muito obrigado! — resmungou Rony, cruzando os braços atrás da cabeça, jogando o corpo no acolchoado.
No quarto mal iluminado, as sombras dançavam na parede, durante o tempo que as chamas das velas oscilavam suavemente, lançando um brilho dourado sobre a figura de Timothy, que deslizava as mãos pelas costas de Rose. Seus dedos traçaram um caminho até a cintura, e seus lábios encontraram o pescoço, descendo até a clavícula e, mais abaixo, onde a camisola fina e translúcida deixava entrever os pequenos seios dela.
Sob a luz trêmula, a fina camada de tecido parecia quase etérea, moldando-se ao calor de seus corpos. Num movimento fluido, ele a conduziu para a cama, deitando-a e puxando as pernas dela para mais perto de si, posicionando-se sobre ela.
As bochechas de Rose, tingidas de vermelho, uniam-se ao calor febril que irradiava de dentro dela. Ela fitou os olhos verdes de Timothy, tão profundos e vívidos quanto a grama na primavera, entretanto, ele parecia indiferente ao peso do tecido envelhecido da camisa que repousava em suas costas.
Então, movida por um sentimento que ela mal compreendia, Rose sentou-se abruptamente, impedindo que ele avançasse mais.
— E-Espere… Eu… quero fazer diferente.
Timothy arqueou uma sobrancelha, cético, observando o rosto dela.
— Diferente? — Um sorriso brincou em seu rosto. — Você quer assumir o controle? — Ele riu, suave, o som vibrando no silêncio. — Haha, Rose, você não é assim. Deixe-me conduzir — disse ele, beijando a mão dela. — Sempre foi assim.
Mas um incômodo dentro dela não se acalmava. Assim, Rose ficou de joelhos sobre o colchão, inclinando-se para frente com suas mãos firmes nos ombros dele.
— Eu poderia te mostrar o que aprendi.
Timothy soltou uma risada leve, ainda incrédulo, como se a ideia fosse uma brincadeira.
— Não precisa me provar nada — respondeu ele, segurando os pulsos dela. — Eu a conheço muito bem. Sei do que mais gosta. Conheço seu corpo, os lugares que a fazem alcançar as nuvens… — brincou.
Por um instante, o olhar dela vacilou.
— Então, diga-me, do que eu mais gosto? — desafiou Rose, convidando-o para um jogo enquanto se posicionava sobre o quadril dele, sem intenção de ceder. — Diga cinco e eu deixarei que você faça o que quiser. Mas se não souber… deixe-me fazer o que quiser com você.
Embora surpreso com aquela atitude audaciosa, Timothy não recuou.
— Muito bem! Você gosta de flores… Ama a ribeira na floresta onde costuma ir. Seus vestidos são sempre azuis e roxos. Gosta de costurar… — Ele depositou um beijo entre os seios dela, sua respiração quente através do tecido fino. — E você ama cuidar de sua irmãzinha. Faria qualquer coisa para protegê-la, e viveria uma vida cheia de mentiras apenas para vê-la bem.
Rose assentiu, conformada. Tudo o que ele disse era verdade, mas algo estava faltando. Algo que ele não conseguia ver, que a fazia sentir invisível sob aquele olhar faminto, desejando-a como tantas vezes.
— E o que mais? — perguntou ela, esperando nos olhos dele uma resposta que dissipasse a sensação que a arrastava para mais dúvidas.
Timothy riu, o som de diversão flutuando pelo ar do quarto.
— Você realmente quer falar disso agora? — Seus olhos a percorreram, subindo e descendo. — Não acho que seja o melhor momento, considerando… as circunstâncias.
Ela permaneceu em silêncio; palavras vagas. Por debaixo de seu corpo, ele roçava nela. Timothy a conhecia, no entanto, será que ele conseguia identificar quais flores ela mais adorava? Ou o quanto ela ansiava montar cavalos desde a infância? Será que ele notava como suas tranças, algo que ela sempre amara, raramente adornavam seus cabelos ultimamente?
De qualquer maneira, ela aceitou-o.
Seu corpo, outra vez, cedeu à pressão suave dos lábios dele, à sua posse. Presa ao controle dele.
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Príncipe de Olpheia