Ribeira dos Desejos Brasileira

Autor(a): Rhai C. Almeida


Volume 2

Capítulo 17


A brisa, que trazia consigo um vento gentil, fazia os fios soltos da trança de Rose dançarem no ar. Ela observava os homens à sua frente. O olhar do estranho que a estudava demorou-se nos detalhes de sua aparência: as botas gastas e a simplicidade do traje, que contrastava com as peles finas que costumavam ser vendidas aos nobres da capital. Havia algo que a tornava singular, e era fácil imaginar que qualquer homem, em busca de uma esposa, a acharia desejável, principalmente pela sua notável beleza.

― Estava perguntando se ela está perdida ― explicou Rony, analisando-a num singelo interesse.

Rose, com o coração acelerado, tentou manter a compostura. ― Desculpe atrapalhá-los. Eu só estava procurando minha cesta.

― Esta cesta? ― indagou o homem com a cicatriz no rosto, segurando o objeto. Seu semblante severo não indicava nenhuma intenção de devolver assim tão prontamente.

― Sim, essa mesma ― respondeu Rose, com uma falsa expressão de alívio. ― Muito obrigada.

Ela deu um passo à frente, esperando que ele lhe entregasse o objeto, mas o olhar penetrante de Deron deixou claro que a despedida seria menos simples do que imaginava. Ele estreitou os olhos e perguntou:

― O que faz aqui sozinha?

― Eu moro perto daqui ― Ela não esperava um interrogatório repentino. ― Estava apenas colhendo amoras para o jantar.

― Jantar? ― O mais novo do grupo riu, um brilho de diversão em sua feição. ― Eu estou com fome.

Rony, tentando dissipar a tensão que percebera dos ombros dela, interveio com um sorriso: 

― Desculpe a grosseria dos meus amigos. Anthony é o ruivo. Ele parece um viking, não acha? ― Ele apontou com o queixo. ― Deron, como você já deve ter notado, não é muito amigável. ― Seu tom era de reprovação, porém, tudo que recebeu, foi um curto suspiro insatisfeito.

E ele continuou apresentando o último membro:

― E este garoto aí é o Toph, nossa coruja. Sempre vigilante quando precisamos descansar durante a noite.

― Tenho dezoito anos, caso esteja curiosa. ― Piscou para ela.

― E eu sou Rony ― terminou, amassando a mão no rosto do intrometido. ― De qualquer maneira, não queríamos assustá-la.

A apresentação improvisada fez Rose relaxar um pouco, mas ainda assim sua atenção percorria cada detalhe.

Anthony era o mais responsável, com os pelos acobreados cobrindo seus braços, olhos azuis e uma aparência forte.

Deron, o único de pele bronzeada, cabelos morenos; cílios longos que cobriam parcialmente o olhar castanho-claro, além de ser o maior entre eles, possuindo uma expressão séria que contrastava com o mais jovem.

Do outro modo, Toph, de olhos castanhos, era o menor de estatura do grupo, mas de personalidade alegre. E em relação ao Rony, ele parecia mais gentil do que todos os outros, com cabelos loiros, alguns fios mais escuros que do rapaz, mas olhos azuis que espelhavam a água reluzente da cachoeira.

― Tem mais um de nós por aqui ― comentou Deron, seu olhar percorrendo a floresta.

― Ah, é. ― Rony coçou a cabeça. ― Onde ele está?

― Se escondendo, como sempre ― Toph riu. ― Ele é o melhor caçador que temos.

As palavras trouxeram a incerteza à cabeça de Rose. Asher? Seria possível?

― Desculpe perguntar, mas como ele é? ― Ela manteve a voz o mais casual possível, enquanto o coração martelava no peito.

― Cabelos escuros, forte… já lutou na guerra ― respondeu Toph com entusiasmo. ― Um sobrevivente!

― E qual é o nome dele?

Antes que alguém pudesse responder, uma voz grave e familiar ressoou atrás dela.

― Rose?

Ela congelou. Não era a voz que esperava, mas lembrava-a de alguém do passado. E ao virar-se rapidamente, falou: ― Lukas?

O espanto transformou-se em alegria, e sem perceber, Rose correu em direção a ele. ― Meu Deus, é você!

Lukas sorriu, embora houvesse cansaço em seus olhos. ― Sim, sou eu! E você não mudou nada! Bom, um pouco ― gargalhou, alegre. ― Como você está? É muito bom rever um conhecido depois de tantos anos.

Ela hesitou por um momento, projetando um olhar rápido para o grupo. ― Estou bem. E você deixou a vida de fazendeiro para se tornar um caçador?

Lukas riu. ― Era isso ou me casar com uma nobre de outra cidade.

― E isso não seria bom para você?

Nah. A nobreza não é para mim. ― Ele encolheu os ombros. ― Prefiro o campo. Além disso, ainda ajudo Kristy quando posso.

O nome trouxe uma onda de memórias a Rose. Era difícil recordar a última vez que ouvira falar da mulher que seu… ex melhor amigo, cujos sentimentos não conseguiam discernir se era apenas admiração, ou… qualquer outra emoção que fugia de seu controle.

― Vocês ainda se falam? ― ela questionou.

― Não com tanta frequência. Ela trabalha em uma taverna agora, mas não atende mais os clientes…, você sabe.

― E Asher? ― indagou, a voz mais baixa. ― Ele foi convocado para a guerra, certo?

Lukas ergueu a camisa, revelando uma cicatriz que cortava sua pele. ― Ele não foi o único a ser chamado. Tomei um tiro, mas tive sorte. Não atingiu nada importante aqui dentro ― brincou. ― Asher me ajudou.

Rose observou a cicatriz com olhos arregalados. ― Posso tocar?

A pergunta pegou Lukas de surpresa, e o grupo de homens trocou olhares. Após uma breve pausa, ele consentiu.

― Ah… Claro. ― Ele ergueu uma sobrancelha, confuso. ― Você… nunca viu uma cicatriz antes?

― Já, mas não como essa. ― Seus dedos roçaram a pele marcada. ― Você é a prova viva de que é possível sobreviver a uma arma de fogo. ― Ergueu o olhar para ele. ― Nossos antepassados erguiam espadas, e agora, balas atravessam nossos inimigos. Isso… é incrível!

Os olhos dela cintilavam. Nenhum deles acreditava que armas e guerras poderiam ser do interesse de uma mulher.

Havia uma curiosidade fascinante nela, algo que não passava despercebido por Deron. Ele observava cada movimento de Rose, o modo como seus olhos brilhavam de interesse, sua postura simples, mas graciosa. Quando ela se virou para encará-los, seus olhos encontraram os de Deron, e por um momento, ele se perdeu no tom dourado que reluzia como mel sob a luz suave da floresta.

― Você é casada? ― Ele pronunciou sem pensar, surpreendendo os amigos.

― Deron! ― exclamou Toph, horrorizado. ― Seja educado! ― Franziu o cenho numa careta desacreditada.

Mas Rose apenas sorriu, sem perder o compasso.

― Sim, sou casada.

― Que pena. ― Um sorriso de canto se formou em seus lábios. ― Tenho muitas cicatrizes por todo o corpo, se quiser ver.

Rose riu, sacudindo a cabeça em negação. ― Desculpe-me por desapontá-lo.

O sorriso dela desarmou qualquer inquietação que ainda restava, e Deron, mais divertido do que antes, entregou-lhe a cesta.

― Gosto de caçar ― disse ele, mantendo o leve sorriso. ― Não sou um homem que gosta de colher frutinhas e preparar o jantar.

Rose pegou a cesta com delicadeza, o olhar fixo nos olhos dele. ― Bom, eu prefiro colher frutas do que matar animais inocentes.

Deron deixou escapar um riso, cada vez mais atraído por ela, por seu sorriso. 

― Seu marido é um homem de sorte ― disse, afastando-se para cuidar dos cavalos enquanto Anthony se aproximou, seu semblante mais sério a Lukas após a investida.

― Não me surpreende. ― Pousou o olhar nela. ― Você é uma mulher muito bonita, contudo, não vejo anel algum adornando seu anelar, senhorita. Você… é realmente esposa de alguém?

Lukas entendia aquela falsa acusação, a desconfiança em sua voz. Era comum homens mal-intencionados enviarem mulheres para distrair seus inimigos; uma tática antiga, mas que outrora funcionava.

― Conheço o marido dela ― respondeu Lukas, rispidamente, preferindo mudar de assunto. ― E sua filha, Rose? Como ela está?

Rony, ao ouvir tal pergunta, arregalou os olhos, cochichando para Anthony:

― Ela tem uma filha?!

― E você realmente acha que Deron se importaria com isso? ― murmurou o viking, com um sorriso despreocupado. ― Seria a oportunidade perfeita para fazer alguns irmãos para a criança.


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