Ribeira dos Desejos Brasileira

Autor(a): Rhai C. Almeida


Volume 1

Capítulo 9

Dia 21 | Ano 1***

00:00 AM

Rose estava inconformada. Sua expressão mudou para um semblante de desgosto; mal conseguia formular as palavras corretas. Entre repulsa e nojo, tudo o que ela conseguia pensar era no estado degradante dele.

— Está fora de si… — Ela recuou. — A bebida o enlouqueceu…

Ao sentir sua cabeça girar a cada passo que ela dava para longe, Asher confessou:

— Eu lhe daria um motivo muito maior para me odiar se soubesse tudo que já pensei.

— É uma brincadeira sem graça! Pare, por favor! — Ela agarrou a capa, incerta se o homem que a preocupava era de fato seu amigo.

— Pareço estar brincando? — Ele a encarou. — Dia após dia, eu nunca deixei de desejá-la. — Seu peito subia e descia, nervoso ao confessar. — Nunca fui dono do meu coração. Sempre foi você.

Para Rose, os olhos de Asher assumiram uma expressão egoísta que ela nunca havia notado antes.

A face gentil que ela costumava admirar, desapareceu.

— Não uma, ou duas… Mais de uma tentei deixar claro que desde o dia que te vi, meu coração foi seu. Meu corpo e alma… — Ele ofegou, frustrado pelas palavras que não saíam.—, não me recordo da última vez que considerei deixar de pensar em você.

Rose, em meio à orquestra natural que a envolvia — do uivar do vento ao do lobo predador — ela ouvia somente as batidas de seu coração acelerado. A dúvida tornando-a frágil em seus próprios pensamentos.

Inapta em como reagir, ela perguntou:

— Aquele garoto… — Ela apertou a capa. — Aquele menino que eu costumava brincar, nunca foi meu amigo? — Sua respiração oscilou, encarando-o, no fundo, daqueles os olhos azuis, temendo que todos os anos que passou ao lado dele fossem apenas uma ilusão.

Mas Asher, com seu rosto impassível, respondeu:

— Ainda sou seu amigo, não sou? — Ele encontrou o olhar dela, erguendo levemente o queixo. — Amantes também podem ser amigos, Rose. — Um sorriso brincou em seus lábios.

Todavia, Rose permaneceu em silêncio. Asher percebeu que, ao se aproximar, Rose se afastou ainda mais.

— Está com medo? — ele indagou, avançando.

— Não sente repulsa de si, por desejar uma mulher comprometida com tanta naturalidade? — disse ela, franzindo o nariz enquanto seus lábios se contorciam com repulsa.

— E você? Como se sente desejando apenas o prazer que seu marido pode lhe oferecer? — ele questionou, seu olhar desafiador encontrando o dela.

— Ele é meu esposo. Seria estranho se eu não sentisse — ela revidou, sua voz soando firme. — O que fez todos esses anos além de fantasiar como um cão no cio?

Porém, Asher rebateu:

— Estive ao seu lado enquanto sorria. Ofereci o ombro para que chorasse sem preocupar com as horas, porque eu estava lá por você. — Ele não hesitou. — E você? Continuará venerando alguém que foge da sua presença?

Uma pontada aguda atingiu o peito de Rose. Ela encarou a expressão dele. Estava sério, sua voz afrontando-a.

Rose cerrou os punhos. Mil respostas surgiram a mente, mas, de repente, uma voz ecoou ao longe:

— Rose! — Timothy chamou, imóvel na trilha.

Ao virar-se, Rose foi surpreendida por Asher, que segurou seu pulso antes de falar:

— Se ele não estivesse aqui, você ficaria comigo esta noite?

Rose, por sua vez, bateu as mãos no peito dele, empurrando-o.

— Não se aproxime!

Os olhos dele pareciam distantes, mas ainda assim, conseguiam assustá-la. Então ela fugiu, afastando-se dele o mais rápido que pôde.

E Asher, ao vê-la correr para os braços de seu marido, pôs a mão sob a franja; na testa que queimava como uma brasa.

— Ugh… — ele resmungou, caminhando para casa.

Quando subiu os primeiros degraus da cabana, ele levou a mão à barriga; o formigamento no estômago enquanto o calor subiu pela garganta.

Ele apoiou a mão na guarnição da porta, e o vômito tornou-se inevitável.

Pela trilha, Rose, com os braços dobrados na tentativa de proteger-se do frio, sentiu o seu coração apertado; um desconforto crescendo em seu peito até uma voz a trazê-la de volta à caminhada.

— Rose — Timothy segurou a mão dela. —, ele fez algo a você?

Rose, no entanto, manteve os olhos na terra lamacenta.

— Você estava certo… — Rose admitiu. Não com fato do Timothy tê-la alertado, mas ao reconhecer os sentimentos do velho amigo. — Você sempre soube? — ela questionou.

Timothy, com sua atenção voltada para a casa de Rose, comentou:

— Então, ele finalmente teve coragem de dizer. — Sorriu, soltando a pesada respiração pelo nariz.

— Eu sou tão idiota assim?

— Não posso julgá-la. — Ele entrelaçou os dedos nos deda. — Não me entenda mal, mas Vivian nunca fez questão de ensiná-la sobre a vida.

— E o que você sabe sobre a minha mãe? — ela resmungou, repelindo a mão dele.

Ele conferiu a face dela. Rose, até aquele momento, não compreendia o mundo ao seu redor, mas tinha muita confiança em sua mãe, algo que Timothy admirava, apesar de tudo.

— Quando sua mãe aceitou a proposta do meu pai, Asher havia insistido para ela recusar.

O som das folhas, batendo contra o vento, ecoaram pelo caminho. Enquanto Timothy subia, Rose permaneceu imóvel.

— Ele… fez o quê? — ela indagou.

— Eu pude ver sua expressão. — Ele se virou, estendendo a mão, ajudando-a a caminhar sobre a tábua. — Um moleque de dezessete anos estava com raiva de mim, porque eu impedi seu sonho de se casar com sua melhor amiga.

Rose arregalou os olhos, confusa com seus sentimentos. Ela pressionou as mãos e, parados à porta, Timothy continuou:

— Uma vez, você comentou sobre ele ter cancelado seu noivado. Contudo, você sabe quem era a menina que ele rejeitou?

Ela negou com a cabeça, e Timothy a encarou, dizendo:

— Ele dispensou a minha irmã, porque está apaixonado por você, Rose.

Rose ficou com a boca entre-aberta, como se uma forte agonia, talvez constrangimento ou aflição voltassem contra seu peito. Nada mais fazia sentido.

— Eu fui a razão… da sua irmã ter ficado naquele estado? — Suas mãos tremiam. — Eu nunca quis ser um problema para ninguém… Eu nunca quis…

O peito dela subia e descia. Instável. Sua face congelou enquanto a angústia se espalhava por todo seu corpo.

— Rose, acalme-se! Não se culpe por algo que você não fez. — Ele tocou no ombro dela. — Eu gostaria que você se distanciasse do Asher.

A face de Timothy ficou séria. Ainda que ele conhecesse Asher de vista, algo nele sempre o incomodou. Não era pela proximidade dele com sua esposa, a mulher com quem se casou por interesses mútuos.

Eu não gosto da maneira como ele olha para você. — Ele a fitou.

Timothy era um soldado bem treinado para enfrentar seus inimigos. Rapidamente, ele rememorou sua juventude, anos atrás, quando Asher, então mais jovem, o confrontou após descobrir sobre ele e Rose.

Por Timothy roubá-la dele.

Era como uma fera, irritada por tocarem no seu alimento.

— O que eu deveria fazer? — Ela encarou o chão, triste consigo mesma.

— Talvez devesse aceitar que ele nunca a viu como uma amiga. Você não precisa dele.

Ela pôs as mãos no rosto, abafando a sua voz. — Ele era como um irmão para mim…

Timothy percebeu na fala de sua esposa que, independente de tudo que lhe foi dito, sua mente estava presa em Asher.

— Ele não é — falou Timothy. — Você tem uma irmã, e ela precisa de você. — Ele estendeu a mão. — Vamos entrar.

Do lado de fora da casa, Asher esperava as chuva encher um balde, o qual despejou água pelo chão que ele mesmo sujou.

As grossas gotas da tempestade encharcaram suas roupas por completo.

Ao entrar em sua morada, ele fez uma respiração profunda, sentindo uma forte pontada de dor perturbar seu peito.

Em alguns segundos, Asher atiçou a lareira e parou diante das chamas, as quais lançavam um brilho sobre suas vestes molhadas. Sua mente foi levada a um pensamento distante — uma sensação de completo êxtase e de liberdade.


Capítulo novo toda sexta.

 

Acompanhe também…

Príncipe de Olpheia

 

Nota da autora:

Olá a todos! Como estão? Espero que estejam bem. Com este post, informo que em breve estarei de férias da universidade (MEU DEUS, ALELUIA!) Apesar do estresse com o meu projeto de TCC, pois estou no último ano, logo estarei livre para revisar minhas histórias, mesmo que brevemente.

Por favor, não pensem que esqueci de um príncipe em especial. No tempo meu curto tempo livre, reuni algumas referências e fiz alguns esboços para o “PdO”. Então, gostaria de saber se vocês gostariam de ver uma ilustração dos personagens principais da “Ribeira”, que está perto de terminar após alguns capítulos.

Só farei se vocês quiserem, porque esta autora e o tempo não estamos de BONS TERMOS.

No mais, sou grata a todos que ainda acompanham as obras. Obrigada, de verdade. Até logo e se cuidem!

 



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