Ribeira dos Desejos Brasileira

Autor(a): Rhai C. Almeida


Volume 1

Capítulo 8

Dia 20 | Ano 1***

23:30 PM

 

Ao avistá-lo subir o caminho sob o implacável temporal, Rose correu para o quarto. Ela revirou as roupas nas gavetas da estante, vestindo rapidamente a primeira camisa que encontrou e, em seguida, se sentou na cama e calçou as botas às pressas.

Ela voltou a dormir… — comentou Timothy ao ver Rose amarrar os cadarços das botas. — O que está fazendo?

— Não posso deixá-lo sozinho — respondeu ela, erigindo o corpo para pegar uma capa pendurada atrás da porta.

— Sim, você não pode, você deve! — retrucou Timothy — Ele não está em condições para você controlá-lo!

— Por favor, saia do caminho — ela pediu, determinada em sua decisão.

— Rose, me escute — começou Timothy. — Ele não é como você pensa. Você não viu como ele me destratou? Não ouviu quando ele a ofendeu?

— Você não sabe nada sobre ele! — Rose rebateu, dando um passo à frente.

— Sei mais do que imagina — afirmou Timothy, movendo o corpo até a porta e bloqueando sua passagem.

— Hah! — Rose suspirou, afundando os dedos nos cabelos emaranhados, que começavam a irritá-la.

O som das grossas gotas de chuva martelando contra as telhas ecoava pela casa, enquanto a chama da lamparina lançava as sombras dançantes sobre seus rostos.

— Eu vejo em seu olhar. Consigo saber exatamente no que ele está pensando — continuou Timothy, avançando na direção dela. — Você acredita que ele se importa com você? Nunca passou pela sua cabeça que ele sempre imaginou algo além da sua amizade?

Ao ouvir suas palavras, Rose arregalou os olhos.

— Saia do caminho, Timothy — ordenou, franzindo o cenho.

— Ele não é mais o garoto que você conheceu — Timothy tentou persuadi-la.

Ele estava determinado a mostrar a ela que o amigo que tanto estimava não era confiável.

— Saia! — ela bradou, batendo o pé no chão e cerrando os punhos.

E ao perceber que ela não cederia, Timothy ergueu a mão, cedendo o caminho à jovem obstinada.

Sem mais intromissões, Rose afundou suas botas na lama, as gotas intensas de chuva deslizando sobre sua capa vermelha enquanto seguia os passos do caçador experiente, ágil em seu caminho.

Na trilha, Rose apertava com força a gola da camisa, lutando contra o vento que ameaçava arrastá-la, sentindo a bainha da camisola se tornar cada vez mais pesada.

A trilha estava imersa na obscuridade e não havia nenhum vestígio de Asher.

Após mais alguns passos ao longo da margem da floresta envolta em trevas, Rose avistou finalmente a cabana de Asher. Um suspiro de alívio escapou de seus lábios, grata por não precisar mais percorrer aquela distância.

No entanto, sua alegria logo se transformou em apreensão ao perceber a ausência de luz na moradia. Ao franzir o cenho e se concentrar no que mal podia enxergar, ela vislumbrou uma sombra, uma silhueta estranha rondando a casa.

Com cautela, Rose avançou em passos leves para evitar qualquer ruído que pudesse denunciá-la, ao mesmo tempo que se esforçava para não escorregar na terra encharcada.

E ao olhar adiante, notou a presença de um grupo de quatro homens circulando ao redor da cabana.

Escondida atrás de uma árvore, Rose espiou os homens encapuzados, que não pareciam se importar com as capas molhadas, apesar de a chuva ter diminuído. Contudo, ela não reconhecia os rostos deles, o que apenas aumentava sua curiosidade.

Ao se deixar por esse ímpeto — a curiosidade estampada em seus olhos brilhantes como vaga-lumes — Rose deu um passo na direção deles. Mas antes que suas botas afundassem na lama, uma mão cobriu sua boca, puxando-a para dentro da floresta.

— MM! — ela grunhiu, cravando as unhas na mão que parecia cobrir metade de seu rosto.

Ao erguer os olhos, viu que era Asher, imobilizando-a. Ele levantou o indicador na direção dos lábios dela, impedindo-a de emitir qualquer som que denunciasse a presença deles.

Após alguns segundos, Asher observou os homens partirem em direção ao mercado, uma vez que perceberam que o alvo que buscavam não estava no local esperado.

— Quem são eles?—Rose sussurrou, suas mãos nos braços dele que repousavam sobre sua cintura.

— Eu não sei, mas acredito que meu pai está envolvido nisso — ele respondeu, franzindo o nariz — E o que você faz aqui?

— Fiquei preocupada. — Ela estendeu a mão em direção à testa dele.

Entretanto, antes que pudesse tocá-lo, Asher se afastou e subiu a colina, dizendo:

— Vá para casa. Já disse que estou bem. Não sou tão intolerante à bebida quanto você imagina.

Os pingos da chuva que escorriam das folhas caíam sobre os cílios de Rose.

Ela observava sua postura. Mesmo que a testa estivesse queimando, ele ainda parecia tão irresponsável quanto ela, ao encontrá-lo tão tarde. Consciente de sua posição como mulher naquela época, cujo valor, ensinado por Vivian, era relegado ao lar, Rose sentia a frustração aumentar em seu peito.

O frescor da vegetação após ser regada se intensificava, e a jovem ansiava em mostrar que as palavras de Timothy, plantadas em sua mente, estavam equivocadas.

— O que está acontecendo, Asher? Por que está agindo assim?—Ela o seguiu.

— Assim como? — Ele não se deu ao trabalho de olhá-la.

Não me faça de boba! — ela exclamou, correndo para agarrar a camisa molhada dele. — Diga de uma vez! — exigiu.

Asher soltou um suspiro enquanto sentia sua camisa ser puxada, seus ombros se erguendo enquanto coçava o pescoço. — Por que você é tão teimosa?

— Você é quem está agindo como um adolescente irritado! Eu me molhei na chuva por sua causa!

— Eu nunca pedi para você me seguir!

— Eu me importo com você! — Ela tentou segurar suas mãos, mas Asher as afastou mais uma vez.

— Por que você está me tratando assim? — ela perguntou, seu olhar triste fixo nele.

— Olhe para você! Está coberta de marcas! — ele criticou, examinando a fisionomia dela com desdém. — Como posso falar com você enquanto ele a usa como uma prostituta na cama?

— Como você se atreve a proferir palavras tão cruéis contra mim? — Ela segurou a capa contra o peito, elevando a voz. — Nunca julguei você por todos os momentos que esteve no bordel. Só Deus sabe o que você faz naquele lugar, com aquelas mulheres… O mesmo lugar onde minha mãe… — A expressão dela se contorceu de nojo.

— O que está insinuando? — ele questionou, seu rosto assumindo uma expressão sombria ao se aproximar dela.

— Diga você! — Ela manteve seus olhos, cheios de raiva, inertes perante ele. — O que quis dizer com 'puta de estimação'? Você assume que eu seja tão desprezível quanto ela?

Asher, embora sentisse sua cabeça ferver, controlou sua respiração.

— Não foi minha intenção ofendê-la.

— Responda! — ela bradou. — O que eu sou para você, uma prostituta?

Ele observou o rosto de Rose, atentamente. Apesar das palavras dela soarem sinceras, assim como seu rosto que expressava fastio, ele sentiu a raiva crescer em seu peito — julgado por um crime que nunca cometeu.

— Nem mesmo uma vadia pode ser comparada a você! — ele afirmou, deixando a raiva dominar seus sentimentos. — Você é como veneno que se espalha pelo corpo e mata qualquer um que ouse saboreá-lo. — Asher encarou os olhos arregalados de Rose.

O vento soprou, farfalhando as altas árvores enregeladas. As folhas, pesadas de chuva, despejavam gotas que escorriam pelos troncos firmes e inabaláveis. E confrontando sua incerteza, ele completou:

— Mas… eu não me importaria de morrer enquanto provasse cada parte do seu corpo.


Capítulo novo toda sexta.

 

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