Ribeira dos Desejos Brasileira

Autor(a): Rhai C. Almeida


Volume 1

Capítulo 6

Dia 20 | Ano 1***

21:30 PM

 

Assim que a mulher saiu, batendo os pés e bufando de raiva pela rejeição, Asher tomou mais um gole da bebida na caneca, e seu amigo, que o observava virar a cerveja, comentou:

— Já se passou uns meses desde a última vez que tivemos um encontro assim. — Ele virou a caneca em direção à boca, apreciando o sabor que há muito tempo estava esquecido. — Como tem passado?

— Estou bem. Continua trabalhando com seu pai na fazenda? — Asher desviou o olhar para a cerveja.

— Não mais. Uma vez ou outra faço uma visita. As coisas mudaram desde que o senhor Danner partiu. E falando nele, como está a filha dele? Ouvi dizer que ela se casou com aquele herdeiro pretensioso faz pouco mais de um ano, não é?

— Ex-soldado, não podemos esquecer isso.

— Tanto faz! — Revirou os olhos. — E então, você ainda mantém contato com ela?

— Sim, mas não com frequência. Quando ela casou, eu parti e só voltei quando soube que ela havia dado à luz. Ela está cuidando da filha e de sua mãe. — Asher encarou a cerveja com a expressão vazia, perdido em seus pensamentos.

— Ah, Vivian, não é? Ela é bem disputada. — O rapaz notou as risadas dos homens quando um deles, alegre por sua vitória, ganhou a pilha de moedas que estava entre as cartas de baralho espalhadas pela mesa.

— Lukas, o que você sabe sobre a Vivian?

— Ela é habilidosa no que faz; uma das mais caras. Dizem que ela traiu o senhor Danner.

Mais uma vez, os homens gargalharam, e Lukas prosseguiu:

— Ela é uma vadia de respeito. — Olhou para Asher. — Também ouço comentários sobre a sua amiga. Muitas mulheres da vila não acreditam que um soldado de guerra pediu a filha de uma puta em casamento. Ela é apenas uma distração para um homem que passou bastante tempo na guerra. É o que dizem.

Asher observou Lukas erguer a mão para pedir mais uma cerveja ao barista. O jovem, não muito mais velho do que ele, possuía cabelos castanhos e olhos comparáveis ao carvão; era seu amigo, a única pessoa em quem confiava.

— Você conhece a Kristy, não é? — questionou Asher. — Ela trabalha aqui.

— Sua parceira noturna? Sim, a conheço. Aliás, ela fala muito bem de você. — Um sorriso provocador surgiu em seus lábios. — Ela estava perto da entrada.

— É uma amiga. — Asher esvaziou a caneca, levantando do banco.

— Há! — Ele bufou, soltando uma risada. — Eu também gostaria de ter uma amiga que esquentasse a minha cama.

Asher, em vez de respondê-lo, apenas tocou no ombro de Lukas e se dirigiu à entrada do bar.

— Ei! E a conta? Filho da…

O som das vozes dos bêbados abafaram a voz de Lukas, e Asher, que estudava as pessoas ao redor, viu várias mulheres se aproximarem dele.

O corpo de Asher estava em forma devido à rotina. Seus braços eram robustos, e sua postura invejável para alguém tão jovem. Todavia, ele não se vangloriava de sua forma física, algo que as mulheres à sua volta pouco se importavam.

E, para sua surpresa, Vivian estava lá, apoiada em uma coluna e rodeada por homens de diferentes idades. Jovens, velhos e outros que não escondiam suas alianças.

Ela sabia que era desejada, porque esse era a seu trabalho.

— Entre as mais antigas, e ainda consegue atrair muitos olhares — disse Kristy.

Ela se aproximou de Asher, envolta em um tecido de seda delicado e de alta qualidade, e o envolveu em um abraço prolongado.

— Estará ocupada nesse final de semana? — ele perguntou, ambos caminhando para fora do bordel.

— Depende… Quer que eu esteja ocupada com você? — Ela deslizou a mão pelo abdômen dele, até que Asher interveio para evitar que ela continuasse além dos limites que ele permitia.

— Você poderia ficar na minha casa enquanto eu estiver fora? Vou sair para vender uma carne de cervo fora da cidade. Tudo bem para você?

— Claro. Por quanto tempo? — perguntou Kristy, antes que um homem embriagado a chamasse com um grito para cumprir seu trabalho.

— Dois dias. Deixarei a chave no mesmo lugar de sempre.

— Está bem. — Beijou o canto dos lábios dele.

— Agradeço. — Sorriu para ela.

— Vou cobrar por isso. — Ela piscou, enfim partindo para mais um serviço.

Indo embora, Asher andou pela estrada tranquila, onde as lamparinas dos grandes postes de adornos delicadamente esculpidos iluminavam as ruas de pedras.

Embora muitos se entregassem aos bares e bordéis da pequena cidade, nem todos sucumbiam a uma vida depravada. Uma parte da comunidade preferia passear perto da fonte incessante, depositando suas esperanças e crenças ao lançar moedas em seu fundo.

E Asher, enquanto observava um casal renovar seus votos próximo da fonte, sentiu uma leve gota de chuva tocar seu nariz.

O rosto dele estava quente.

— Ugh… — ele grunhiu, o álcool finalmente fazendo efeito.

De repente, uma voz o abordou, dizendo:

— Com licença. O senhor, por acaso, conhece alguém chamado Asher? — indagou uma moça ao lado de um homem.

— Ah… sou eu. Eu te conheço? Não precisa ser tão formal… — Ele pôs a mão na testa, movendo sua franja para cima.

— Sou amiga da Rose.

— Amiga da Rose… Desculpa, eu não me lembro de você. — Ele cerrou os olhos, os chuviscos aumentando pela paisagem tomada pelas nuvens escuras.

— Está tudo bem. Não fomos apresentados. Ela comentou comigo sobre a sua aparência. Se não for incômodo, poderia entregar isto para ela? — Exibiu uma carta decorada com algumas pétalas.

Ele verificou o papel, o cheiro das flores silvestres exalando perto dele. Contudo, seu interesse era outro.

— O que ela falou sobre mim? — perguntou, movido pela curiosidade — era um comentário bem peculiar vindo de um desconhecido.

— “Se você ver um homem alto, olhos azuis como o céu do verão e lindos cabelos como a escuridão da noite, é o Asher.” A descrição é convincente — ela completou junto de uma risadinha.

Ele coçou o pescoço, constrangido ao reparar no homem, com os braços dobrados no peito, o encarando.

— Ela fala bastante sobre você — comentou o homem.

— Somos bons amigos — falou Asher, sentindo seu olhar pesar enquanto guardava o escrito no bolso da calça. — Entregarei a carta pela manhã.

— Não, por favor! Eu e o meu esposo partiremos para fora do país amanhã, e não há previsão de volta. Por alguma razão, ela nunca me disse onde mora, mas me avisou que se eu precisasse encontrá-la, eu poderia falar com você.

Droga, Rose… — ele pensou, seu rosto fervendo.

— Se ela ler hoje, talvez tenha a chance de me ver amanhã, não é mesmo? — Os olhos dela imploravam.

— Você pode fazer isso por nós? — questionou o homem, sua mão envolta na cintura de sua esposa.

— Hah — ele arfou. — Tudo bem. Passarei na casa dela.

— Muito obrigada — expressou a jovem, com um sorriso gentil.


Capítulo novo toda sexta.

 

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