Ribeira dos Desejos Brasileira

Autor(a): Rhai C. Almeida


Volume 1

Capítulo 5

Dia 20 | Ano 1***

18:50 PM

 

Quando o sol se despedia entre as grandes colinas no horizonte, os pássaros se recolhiam em seus ninhos, e as raposas se reuniam com seus filhotes enquanto a neblina, intensa em sua chegada, cobria a floresta.

O céu anunciava a vinda da chuva e, em um breve instante, o frio envolveu os moradores da pacata vila. Lamparinas foram acesas, e as ruas antes movimentadas agora estavam desertas.

A noite já havia caído, e restava somente o silêncio da escuridão.

Guiada pela luz suave da lamparina sobre a mesa, Rose, empenhada em sua tarefa, costurava o buraco de uma vestimenta, ao lado da menininha que brincava com um urso de pelúcia no chão do quarto.

Enquanto isso, a mãe de Rose trajou uma capa, pronta para sair.

— Para onde a senhora pensa que está indo? — provocou a filha, suas mãos habilidosas se movendo na costura.

— O que você acha? — A mulher recolheu uma bolsa pequena da estante presa na parede. — Não me espere para o jantar.

Um leve traço de preocupação passou pelo seu rosto de Rose ao ver sua mãe se dirigir à porta.

— Não é necessário que a senhora faça esse tipo de trabalho, mãe. — Lançou um olhar triste na tentativa de fazê-la mudar de ideia. — Irei à cidade vender comida e…

— Cuide da sua vida. — Ela franziu a testa. — E não esqueça de colocá-la para dormir cedo. — Olhou para a criança.

O clima frio da noite pairou no ar, durante o tempo que a mulher se preparava para sair. Entretanto, antes que Rose pudesse formular uma resposta, Timothy surgiu à entrada, cumprimentando-as:

— Senhora Vivian. — Ele fitou sua esposa, acenando com a cabeça. — Rose. 

— Você já sabe o que fazer. — Vivian bateu a porta de madeira e os deixou sozinhos.

Timothy e Rose trocaram olhares, e um silêncio desconfortável vagou pelo ambiente.

Amantes próximos, mas distantes como um casal.

— Sua mãe sempre age assim? — perguntou ele, se aproximando da menina que rastejava pelo chão.

— Acredito que ela me culpa por acabar com sua juventude.

— Ela não é tão jovem.

— E ainda assim, eu arruinei a vida dela.

Timothy observou o semblante de Rose. Embora ela falasse mal de si mesma, sua feição indiferente revelava estar familiarizada com esse comportamento.

Mas ao analisá-la mover a agulha com maestria, questionou:

— O que está costurando?

— A camisa que o Asher me deu para consertar. — Ela examinou a peça. — Já faz um tempo desde que ele me pediu, mas acabei esquecendo. É provável que ele acredite que agora é minha. — Ela riu ao avaliar a vestimenta aos farrapos.

O jovem, de postura altiva aos seus vinte e seis anos e com seu queixo angulado, desviou seu olhar para o pescoço de Rose.

Sua expressão era pensativa — de todo o modo, analítico.

— O machucado no seu pescoço… — Ele deslizou o polegar pela área da antiga marca. —, alguém notou?

Rose permaneceu imóvel, e no hesitar de sua voz, respondeu:

— Não.

Timothy esboçou um sorriso e, com gentileza, pousou suas mãos nos ombros dela.

— Que bom.

Observando-o se dirigir ao armário, ajustando a intensidade da lamparina, Rose estudou seus ombros largos e seus dedos finos. Embora ele não usasse uma aliança, ela sentia satisfação em tê-lo ao seu lado, por ele ser somente dela.

— Você queria que os outros vissem? — ela indagou, seus olhos focados na agulha ágil no tecido.

— E mostrar aos outros o que fazemos como um casal? — Ele lançou o olhar para ela. — Não sinto orgulho disso. — Ele andou até ela. — No entanto, dessa forma, todos saberão que você é minha esposa.

— Então você se orgulha de me ter como a sua mulher? — Os olhos dela refletiam a chama dançante, tão intensos quanto a cor de âmbar lançada ao fogo.

— Sempre. — Ele sorriu, inclinando o rosto para um possível beijo.

O rosto de Rose congelou diante da ousadia dele. Sua repentina insinuação acelerou o coração dela.

Ela não estava nervosa, mas felicidade, porque ela podia se sentir amada de verdade.

E, sem demora, ela deixou os instrumentos de costura de lado e, sentada na cadeira, virou o pescoço para encontrá-lo.

O contato entre seus lábios foi suave, contudo, os segundos que compartilharam pareciam se esticar até a eternidade. E antes que Timothy pudesse intensificar suas intenções, o choro da criança irrompeu pelo local.

— Espere um pouco. — Ele se aproximou da menina solitária e a carregou consigo para o outro cômodo.

Rose massageou os lábios, contagiada pela sensação de provar ao seu coração acelerado que estava errada sobre ele. Que ela poderia seguir um caminho diferente de sua mãe, e que seu marido verdadeiramente a via como uma mulher digna de estar ao seu lado.

Em alguns passos, Timothy reapareceu à porta do quarto, e num gesto firme e rápido, ele envolveu a cintura de Rose, guiando-a até a cama.

Suas mãos se moviam com destreza, e cada peça do traje de Rose — exceto a fina camisola que ela usava — não foi obstáculo para impedir seus beijos fervorosos e ávidos.

O calor tomou conta do corpo de Rose, o qual não podia controlar a voz.

Ele deslizou seus dedos por debaixo da roupa dela, fazendo-a revelar o prazer que estava sentindo por sua doce voz contida.

— Timothy… — Suas pernas tremeram quando eles, enfim, se firmaram em um só.

Era uma sensação que ela conhecia; uma que já havia experimentado no passado. Contudo, Rose pensava no calor que fazia sua pele inflamar. Do seu corpo ansiar por ele como se sua existência dependesse disso.

Seus olhos encontraram os dele e, em um breve lampejo, ela vislumbrou a imagem de madeixas escuras espalhadas sobre seu rosto, acompanhada de um suspiro familiar, um som ao qual já estava acostumada.

Ela o desejava.

Num bordel, uma massa de homens se reunia, ansiosos por desfrutar da companhia das mulheres que ali se dedicavam aos seus serviços libidinosos. Próximo ao furdúncio, Asher descansou os braços sobre o balcão e, ao lado de um amigo, ergueu as canecas em um brinde.

Juntos, eles compartilharam um momento de descontração, suas mentes distantes das responsabilidades; de seus deveres para com suas famílias.

Asher gargalhava, sentindo o calor da cerveja esquentar suas bochechas, quando uma mulher, vendo-o se divertir, se aproximou. Ela tocou seus ombros e depois deslizou as mãos pelo pescoço dele, pronta para se sentar em seu colo. No entanto, com um sorriso no rosto, Asher respondeu educadamente:

— Não, obrigado. — Ele estendeu a mão, afastando-a com gentileza.

— Você tem uma voz tão linda. Adoraria ouvi-lá de novo — ela insistiu, deslizando a mão pelo peito dele.

— Você me ouviu — ele respondeu, apertando o pulso dela. — Vaza! — Seus olhos cerrados transmitiram um aviso claro de que ela não deveria tocá-lo novamente.


Capítulo novo toda sexta.

 

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