Ribeira dos Desejos Brasileira

Autor(a): Rhai C. Almeida


Volume 1

Capítulo 13

Dia 26 | Ano 1***

17:30 PM

 

A água salpicava pela cascata próxima, emitindo sua melodia ao bater contra as rochas. Uma ventania rondou pela floresta, balançando os galhos e folhas das grandes árvores que preenchiam o ambiente ao redor deles. Rose, com seus olhos dourados e brilhantes, cujas tranças dançavam no ar, encarou o rosto de Asher.

Ele não pretendia parar de olhá-la, e Rose não sabia como responder ou o que expressar. O rosto dele exigia uma resposta, mas, ao mesmo tempo, exibia uma expressão de tristeza e aflição.

— Eu… sinto muito. — Ela deu um passo para trás. — Não é que eu não confie em você, eu só estou confusa.

Asher franziu a testa, seus cabelos escuros se destacando à luz difusa entre as brechas das folhas no entardecer.

— Confusa sobre mim? — Ele respeitou a distância dela, dando um passo para trás.

— Sobre tudo. — Rose ergueu os olhos para ele. — Eu não posso corresponder aos seus sentimentos, Asher. Eu tenho um marido, tenho uma filha…

Uma mãe.

O corpo de Asher deu um sobressalto em silêncio. Cada palavra dela era como uma flecha atingindo seu coração, rasgando-o de dentro para fora. Diferente dos animais que caçava, agora ele estava mais indefeso do que jamais estivera.

— Entendo o que quer dizer. — Ele sorriu, mas um sorriso amargo, carregado de desgosto e tristeza. — Desculpe, de verdade. — Seu peito subia e descia, como se respirar tivesse se tornado uma tarefa difícil.

— Tudo bem. — Rose olhou para os ombros dele, tensos, talvez querendo fugir de sua presença. — Eu… não quero que as coisas fiquem estranhas entre nós. Ainda serei sua amiga, se você…

— Eu… tenho que voltar — disse ele, afastando-se dela, virando o rosto.

— Mas… — Ela o observou adentrar na água. — Mas…, você…, está tudo bem? — Um medo repentino alcançou seu coração. — Ainda seremos amigos, não é?

Rose o observou pegar a camisa. Mesmo molhada, ele a vestiu, colando-se à sua pele, em seus músculos.

— Sim… — Ele pegou o balde, afundando-o na água. — Desculpe, mas eu preciso ir. — Sorriu, um sorriso forçado e vazio.

— Eu vou com você.

— Por favor, eu quero ficar sozinho… Não me entenda mal.

— Não! Está tudo bem — disse Rose, forçando um pequeno sorriso incerto. — Se precisar de mim, você sabe onde me encontrar.

Asher assentiu lentamente antes de se afastar, suas pegadas se perdendo entre as sombras da floresta. A imagem dele desaparecendo na escuridão ficou gravada na mente de Rose, sentindo um grande peso atingir suas costas, o vento sussurrando ao seu redor, como se a própria floresta compartilhava de sua tristeza.

Enquanto isso, através do tronco caído coberto de musgo, Asher avançava com passos pesados e determinados que afundavam na folhagem seca acumulada sob seus pés nus. Mas, de súbito, ele apoiou a mão em um tronco, o ar lhe faltando quando as lágrimas, em seu corpo tensionado, caíram contra sua vontade.

Ele curvou os joelhos, o chão macio da floresta acolhendo seu peso. Lágrimas, pesadas e incontroláveis, corriam por suas bochechas. Ele colocou a mão sobre os olhos, incapaz de controlar o choro, sua voz falhando ao falar:

— Desculpa… — ele soluçou.

Por desejá-la.

— Desculpa… — repetiu, o fôlego faltando enquanto afundava as mãos na água do balde, lavando-as, mesmo que estivessem limpas.

Horas depois, na estrada de sua humilde casa, Rose estava sentada na pequena escada de madeira. As cores no céu do entardecer tingiam o horizonte com tons de laranja e rosa, anunciando a chegada da noite. Com uma agulha e linha firmes em suas mãos, ela costurava a camisa de um tecido simples mas durável, seus movimentos metódicos e cuidadosos, como se cada ponto fosse um ato de meditação.

O ranger das dobradiças da porta interrompeu o silêncio, e Vivian, saiu pela porta, com sua capa de lã dobrada sob um braço, um sinal de que seu trabalho noturno estava para começar.

— Ela está dormindo — disse Vivian, sua voz soando tranquila, enquanto seus olhos avaliavam a filha. — O leite está na chaleira.

E Rose, ainda com a agulha na mão, levantou os olhos para a mãe.

— Mãe, podemos conversar por alguns minutos? Prometo que serei breve.

O olhar de Vivian endureceu-se, inerte perante ela, questionando:

— Estou atrasada. O que é desta vez?

Rose respirou fundo, o ar frio da floresta entrando em seus pulmões.

— Não é sobre mim e Timothy… — Ela fixou o olhar em Vivian. — É sobre Asher.

Vivian levantou uma sobrancelha, bufando:

— Por favor! Você sabe que ele é apaixonado por você. Afaste-se dele de uma vez e evitará problemas.

A fala de Vivian era como uma pedra lançada em um lago tranquilo, a qual, este, pertencia ao coração de sua filha.

— Por que eu deveria afastá-lo, se é o meu marido quem faz isso? — respondeu Rose com um tom de indignação, uma faísca de raiva aquecendo suas palavras.

— Se você está tão certa sobre ele, por que está me questionando? Você teme os comentários alheios, caso abandone seu marido, assim como eu fiz com o honrável senhor Danner? — perguntou Vivian, cortante como uma lâmina.

Foram palavras afiadas, rasgando a ferida aberta no coração de Rose.

— Está enganada! — a jovem exclamou. — Eu nunca considerei desonrá-la! Nem mesmo Timothy! Eu só aceitei este casamento por sua causa, pela minha irmã!

Vivian, no entanto, observou a filha com um olhar frio.

— Por que não pergunta a si mesma? Se você não fosse casada, ainda teria dúvidas sobre quem seu coração deseja?

Rose ficou em silêncio, a dúvida pairando em sua mente, incapaz de formular uma resposta, até que o som de um cavalo relinchando cortou o ar, assim como a tensão do momento.

— Perdoem-me pela intromissão, senhoras… — disse ele, inclinando a cabeça em um gesto respeitoso. — Sou amigo de Asher, Lukas. Senhorita, podemos conversar? — Ele olhou diretamente para Rose, sua voz grave e gentil. — É sobre o Asher.

— Por favor — disse Vivian, ajustando a capa ao pegar a guia do cavalo, começando a sair para a estrada.

— Peço desculpas por chegar sem avisar — falou o visitante. — Mas a senhorita poderia me dizer se viu Asher mais cedo?

— Sim, o vi. Por quê?

— Bem, fui à casa dele. Combinamos uma caçada amanhã de manhã, mas quando bati na porta, estava aberta, então entrei e encontrei a casa vazia, apenas uma carta restava.

Rose, preocupada, perguntou:

— E o que dizia a carta?

Lukas a olhou por um momento, antes de responder:

— Ele foi embora, senhora.

Os olhos de Rose se arregalaram, a descrença estampada em seu rosto.

— P-Perdão?

A sensação de culpa perpassava seus pensamentos.

— Ele deixou a casa para mim, mas não posso aceitar. Dessa forma, pensei em pedir à senhorita cuidasse dela enquanto estou fora a negócios.

— Por que ele faria isso? Ele não disse nada? Nem para onde foi ou por quê? — A voz dela tremia, confusa sobre a última conversa com ele.

Ela lembrava da expressão dele, os olhos marejados de tristeza.

— Na carta, ele diz que precisava fazer essa viagem, senhora. Eu… não sei mais que isso.

— Por que eu? — Seus lábios se curvaram em tristeza.

— Porque a única pessoa que poderia cuidar da casa partiu com ele.

Mais alguém? — ela pensou, mas decidiu não perguntar, temendo que a curiosidade fosse uma arma perigosa.

Por coincidência, ao observar Timothy escalando a colina, retornando para casa, Rose analisou o cavalo de Lukas.

— Poderia me levar até a cabana?

Lukas assentiu, e juntos se dirigiram ao local. Rose caminhou devagar, sentindo o peso da chave em suas mãos enquanto encarava a porta de madeira desgastada, firme como a construção. Entrando na cabana, ela observou a simplicidade do lugar, as pequenas prateleiras vazias, sem os instrumentos de caça que ele costumava usar.

Tudo estava em ordem.

O aroma amadeirado no ar trazia uma sensação de nostalgia. Rose sorriu levemente, dirigindo-se ao quarto. A cama estava arrumada, exalando um cheiro familiar que trouxe uma onda de tristeza. Explorando o quarto, ela percebeu a porta entreaberta do armário. Dentro, encontrou pequenas flores azuis e amarelas, formando uma coroa delicada que ele guardara com carinho.

Ela permaneceu imóvel, dedilhando o objeto em passos lentos para perto da cama. Ao sentar-se, ela avaliou a coroa, as lágrimas constantes em sua queda. Ela soluçou, deixando o choro ecoar pelo quarto enquanto estava sozinha, em solidão.

Rose abraçou a coroa, lembrando-se da menina sorridente que um dia fora. Em suas memórias, ela via a si mesma estendendo o mindinho para seu melhor amigo em promessa. O garoto de olhar gentil que sempre tocava em sua pequena trança com ternura, havia partido. Ele fugiu para longe da presença dela, para sempre.


Fim do 1º Volume. 

Sem data de retorno.

Acompanhe também…

Príncipe de Olpheia



Comentários