Ribeira dos Desejos Brasileira

Autor(a): Rhai C. Almeida


Volume 1

Capítulo 11

Dia 21 | Ano 1***

09:45 AM

 

A floresta não era um lugar para amadores. Aqueles que optavam por morar longe da cidade o faziam por razões específicas. Podiam ser comerciantes ocupados demais para aproveitar o conforto de suas próprias camas, caçadores dependentes da floresta para seu sustento, ou pessoas com segredos a esconder.

E para a vida de Vivian, não era diferente.

— Apesar de Vivian ter persuadido você a recusar qualquer proposta que eu fizesse para oferecer uma vida condizente com o sangue que corre em suas veias, acredito que a melhor opção seja ignorar todas as escolhas erradas de sua mãe e perguntar: como você está? Soube que se casou com o filho de um capitão de guerra. — Ada observou Rose atentamente. — Pensei que seu coração já estivesse decidido.

Com um nó na garganta, Rose entrelaçou os dedos antes de responder.

— Casei pouco mais de um ano. Estou feliz ao lado do meu marido. Todos pensam que Edwynna é a minha filha. — Rose olhou para o lado, na direção do quarto com a porta entreaberta, vendo uma boneca de pano que ela mesma fizera nas mãos da pequena menina que brincava no chão. — Bom, agora eu sou mãe. — Um sorriso amargo apareceu no rosto de Rose, perceptível aos olhos de Ada.

— Uma ótima mãe, tenho certeza — afirmou Ada, colocando a xícara de volta à mesa. — Enviei cartas, mas não obtive resposta. Eu me pergunto se o seu esposo dedica parte de seu tempo para ensiná-la o básico dos estudos que você praticava. Da última vez que Vivian me permitiu educá-la, você já sabia escrever seu nome. O que mudou, Rose? — Ada examinou a face e os ombros caídos dela. — O que a incomoda, minha querida sobrinha?

Rose preferia o silêncio, mas a expressão insistente de Ada deixou claro que essa não era uma opção. Assim, respirando fundo, ela finalmente falou:

— Timothy é um bom marido. Ele me ajuda a cuidar de Edy. Ele se importa comigo e com minha família. Sem ele, acredito não teríamos um lugar para viver, nem você um lugar para se sentar. — Rose engoliu a seco. — Mas eu não sei se ele me enxerga como uma mulher.

As palavras pairaram no ar. Rose não tinha mais nada a dizer, mas Ada sabia que havia muito a ser dito.

— Você está se referindo ao seu papel como esposa ou… — Ada arqueou a sobrancelha. Ela estava curiosa, porém, principalmente determinada em fazê-la desabafar.

— Quero dizer, nós nunca conversamos como um casal — Rose bufou, a frustração evidente em cada sílaba. — Ele passa o dia fora e eu sinto que ele está distante. Homens, depois que casam, agem assim?

— Querida, a cama é o lugar que os homens mostram do que são feitos.

Homens precisam provar que são dominantes e conseguem o que querem, porque isso é o instinto deles. — disse Ada em pensamento.

Contudo, Rose rebateu, dizendo:

— É diferente! Ele… ele nunca termina o que começa… Eu não sei o que estou fazendo de errado. É embaraçoso vê-lo perder o interesse quando estou perto de sentir emoções que nunca pensei ser possível experimentar. — Ela cobriu o rosto com as mãos, envergonhada. — Minha mãe nunca me contou sobre essas etapas da vida de uma mulher casada.

Avaliando a reação dela, Ada franziu o cenho junto da mistura de indiferença e desprezo visível em seu rosto.

— Deve ser constrangedor para uma mãe que vive uma vida libertina ensinar sua própria filha a como se portar na cama. — Seu semblante ficou sério por um momento antes de suavizar novamente. — Diga-me, o que você sente pelo seu marido? Pode soar como uma pergunta parva, porém quem dirá isso é você. — Ela a encarou fundo em seus olhos.

A jovem hesitou, sentindo seu peito apertar. Contudo, ela permitiu que suas palavras saíssem, mesmo com dificuldade.

— Eu o amo. — A confissão parecia arrancada de seu íntimo. — Mas como posso saber se ele sente o mesmo por mim? Eu não quero ter dúvidas quanto aos sentimentos dele.

— Minha querida sobrinha — Ada chamou, sua voz firme e gentil. —, nossos sentimentos podem ser venenosos, mas você é a única que pode ser imune a eles. Não permita que sua indecisão machuque outras pessoas. Sua mãe deixou uma vida de caprichos para se aventurar em um mundo desconhecido com o homem que roubou sua inocência.

Rose permaneceu inerte, ouvindo-a atentamente enquanto Ada continuava.

— Você não merece esta vida, fruto da teimosia de Vivian. Mesmo que você me rejeite, estou disposta a assumir o papel de sua mãe e responder todas as suas perguntas, mesmo que eu não tenha todas as respostas. — Ada tomou o bule nas mãos e encheu a xícara mais uma vez. — Sendo assim, fale mais sobre seu casamento. — Ela sorriu, tentando aliviar a tensão. — Vocês se deleitam do prazer com frequência?

Diferente da reação que esperava, Ada viu o rosto de Rose paralisar.

— Que pergunta é essa!? — As bochechas de Rose ficaram instantaneamente vermelhas, um rubor que traía sua surpresa.

— Eu lhe disse que responderia suas perguntas. Não seja tímida, estou certa de que vocês conhecem muito do corpo um do outro. — Ada tomou mais um gole do chá, achando-o delicioso demais para saboreá-lo com parcimônia.

— Perdão? — Rose ergueu uma sobrancelha. — Bem, eu e ele nunca fizemos amor sem roupas.

Por um segundo, Ada sentiu o chá quente descer pelo caminho errado, tossindo levemente antes de continuar:

— Cof, cof, espere! Está me dizendo que… — Ela olhou para a feição confusa de sua sobrinha, espelhando sua própria surpresa. — Está me dizendo que nunca viu a forma de seu marido?

— Forma? — Rose fez uma careta. Era um termo muito vago para o entendimento dela, especialmente considerando sua evidente inexperiência.

— Hah… — Ada sentiu um grande peso cair sobre seus ombros. — Não me diga que ele não faz o mínimo de esforço para fazê-la alcançar as nuvens.

— Eu não entendo suas palavras! O que quer dizer com “alcançar as nuvens”? É constrangedor contar todos os detalhes!

— Diga de uma vez!

— Eu não vou fazer isso! — Rose bradou, seu rosto tomado pela vergonha.

— Rosellin!

— Ahhh, está bem! — ela grunhiu, o rosto fervendo enquanto pensava nos detalhes a compartilhar antes que seu coração saltasse para fora do peito.

— Ele beija meu rosto e meu pescoço, depois faz o que deve ser feito! Ele… ele coloca aquilo entre minhas pernas e você sabe!

— Se já o viu, você ao menos já tocou nele? — A voz de Ada estava carregada de frustração.

— O quê!? Por que eu faria isso? Eu não posso tocar naquilo! Ou… eu posso?  — Ela ergueu os olhos para ela. — Eu posso? — Ela a encarou, seus olhos contendo um pequeno brilho, um tanto interessada.

— Deus… — O semblante de Ada caiu em desgosto. — Sempre acreditei que aquele rapaz faria um ótimo trabalho.

— O quê? — Rose questionou, pensando se havia entendido bem a quem ela se referia.

E Ada continuou com ternura:

— Ele sempre teve um olhar para você que poderia inspirar um lindo romance.

Ao proferir tais palavras, Ada viu a expressão de Rose murchar em tristeza, uma reação incomum dada a longa amizade entre eles.

— Ele nunca foi meu amigo — Rose lamentou, a tristeza palpável em sua voz e em seu rosto.  — Para ele, eu era apenas um objeto para alimentar suas fantasias; para saciar seus desejos.

— Era apenas uma questão de tempo — ela refletiu num suspiro, um sorriso leve e acolhedor brincando em seus lábios. Você fez a sua escolha. Não pude salvar minha irmã, mas espero me redimir com você. E não importa o que esteja afligindo seu coração… — Ela tocou suavemente a mão de Rose. — … estarei ao seu lado, porque você também é a minha família.

A rosa delicada roubada de seu jardim.


Capítulo novo toda sexta.

 

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