Sessão 3
Capítulo 74 — Endo e Outra Amiga de Infância
— Perspectiva do Endo —
“Yumi… Como eu poderia esquecer? Faz tanto tempo.”
Ouvi a voz de uma amiga de infância com quem não falava havia anos. Seu tom era calmo, e percebi que seu cabelo castanho-avermelhado, que antes era comprido nos tempos do ensino fundamental, agora estava curto. A última vez que nos vimos foi no dia da formatura, depois que eu havia me isolado de todos.
Muitos amigos vieram me visitar depois que a traição de Eri me mergulhou em desespero e me fez parar de ir à escola. Mas eu não queria ver ninguém. Afastei todos, e, com o tempo, eles pararam de vir.
Entre eles, Yumi foi a única que continuou me visitando até o fim.
“Fico feliz em ouvir isso. Achei que você tivesse se esquecido de mim, já que nunca mais entrou em contato.”
Ela sorriu levemente, mas havia tristeza em seus olhos. Ver aquele sorriso fez meu peito doer.
“Eu não podia… Não tenho esse direito.”
No fim, eu tinha medo da bondade dela. Afinal, Eri, que também fora gentil comigo, de repente se tornara cruel.
“Direito? Que direito? Eu ainda sentia sua falta, mesmo sem você me procurar.”
Ela falou num tom manhoso, como costumava fazer.
“Eu te dei a pior rejeição, Yumi. Mesmo sendo tão gentil comigo, eu te afastei. Não posso te procurar. Não mereço isso.”
No fim, eu era apenas um covarde — com medo da bondade dela, com medo de encarar a mim mesmo.
Depois daquele incidente, perdi todos os amigos que havia feito até o ensino fundamental.
Foi um fim apropriado para alguém como eu.
“Você ainda é gentil, Kazuki.”
“Gentil? Eu?”
Suas palavras me pegaram de surpresa, e perguntei instintivamente.
“Sim, é. Honestamente, olhando para trás agora, percebo que eu fui insensível naquela época. Passei dos limites sem considerar seus sentimentos. Você devia estar com tanta dor, querendo apenas ficar sozinho. Me arrependi por muito tempo. Você é gentil, Kazuki, e é por isso que continua se culpando. Me desculpe.”
Naquele dia — o dia da formatura do ensino fundamental — eu havia faltado à escola. Yumi foi quem trouxe meu anuário e meu diploma. Ela era a única pessoa em quem eu ainda confiava, então meus pais a deixaram entrar no meu quarto.
****
“Ei, Kazuki. Só um pouquinho… Durante as férias de primavera, vamos sair pra algum lugar? Ficar trancado no quarto só vai piorar as coisas.”
Ela falou tão gentilmente, tentando cuidar de mim do jeito de sempre.
Mas naquela época, eu estava tomado pela tristeza e pela frustração. Não consegui fazer as provas de admissão para o ensino médio, nem comparecer à formatura. E acabei descontando nela.
“Cala a boca. Você não entende como eu me sinto. Você tem uma boa vida pela frente — uma experiência divertida no ensino médio te esperando, não é? Diferente de mim… Seja por pena ou por senso de justiça, isso é irritante. Só me deixa em paz!”
A lembrança dessas palavras cruéis me assombrava. Yumi trazia as tarefas e os formulários de inscrição todos os dias, na esperança de que eu pudesse acompanhar os estudos.
E mesmo assim, eu disse as piores coisas para ela.
As lágrimas dela caíram naquela hora, como se algo dentro dela tivesse se partido.
“Me desculpa… Eu não entendi seus sentimentos. Estava me impondo a você, não é? Me desculpa de verdade.”
As palavras dela me atravessaram, e uma onda de remorso intenso tomou conta de mim. Eu fui — e ainda sou — o pior tipo de pessoa.
Dominado pelo ódio de mim mesmo, não consegui dizer uma palavra.
Depois de um momento de silêncio, ela disse suavemente: “Desculpa, eu vou embora hoje.” E, pouco antes de virar para sair, acrescentou: “Tchau, Kazuki. Eu estava me segurando por causa da minha melhor amiga, a Eri, mas… acho que eu gostava de você.”
****
“Graças a você, Yumi… eu consegui chegar ao ensino médio.”
Pela primeira vez em anos, aquelas palavras vieram do fundo do meu coração.
“Entendo. Fico feliz por ter ajudado, mesmo que só um pouco.”
“Não foi só ‘um pouco’. E não foi intromissão, Yumi. Eu descontei minha raiva em você naquela época, e me arrependo desde então. Dizem que a gente só percebe o valor de algo depois que perde.”
Ela sorriu gentilmente, como sempre fazia.
“Ei, Kazuki. Eu ouvi a maior parte da história pelo Imai-kun. Ele é bem perspicaz, não é? Descobriu o que estava te incomodando e entrou em contato com vários amigos pelas redes sociais. Foi assim que acabou me encontrando.”
Eu sabia… Imai…
“Então deixa eu te dizer uma coisa — honestamente, do fundo do coração. Por favor, se perdoe. Não há motivo para o Kazuki não merecer ser feliz. Eu sei disso melhor que ninguém. E sabe de uma coisa? Nossos velhos amigos do fundamental ainda se preocupam com você. Mesmo ocupados com provas e procurando emprego, eles ouviram o Imai-kun e fizeram o que puderam. Ficaram felizes ao saber que você voltou à escola e fez novos amigos, como ele.”
As palavras dela despertaram lembranças antigas — de calor, de conforto — sentimentos que eu havia enterrado fundo para me tornar alguém consumido pela raiva.
“Mas… pra mim…”
Eu não conseguia parar de pensar na expressão fria de Eri ao me rejeitar.
“Seja feliz, Kazuki. Porque você é gentil.”
A mão dela, quente e suave, segurou a minha, fria. Lentamente, aquele calor começou a se espalhar, descongelando as partes congeladas do meu coração.
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