Sessão 2

Capítulo 28 — Uma Júnior Atenciosa e a Humilhação do Canalha

 

Enquanto saboreávamos as panquecas, começamos a nos abrir um com o outro. Naquele momento, parecia que já nos conhecíamos há muito mais tempo do que apenas um dia. No entanto, apesar da nossa proximidade, ainda havia muito a aprender sobre o outro, e nosso relacionamento permanecia em um estado de incerteza.

Eu sabia que Ichijou-san tinha alguns problemas familiares, então evitei tocar nesse assunto. Conforme a conversa fluía, fomos descobrindo mais sobre nossos interesses e experiências durante o ensino fundamental.

Descobri que Ichijou-san havia frequentado uma escola particular em Tóquio e tinha um motivo específico para não ter seguido para o colégio afiliado. No entanto, ela parecia relutante em se aprofundar no assunto, o que me fez suspeitar que o motivo estava relacionado à sua família.

Por isso, preferi não insistir. Mesmo assim, dado o desempenho exemplar de Ichijou-san, eu duvidava que tivesse sido por notas ruins ou má conduta.

“O motivo de eu não ter ido para o colégio afiliado foi por causa da minha família”, ela disse.

Fiquei em silêncio ao vê-la rir de forma um pouco nervosa.

Apesar disso, a conversa seguiu animada. Eu cresci na minha cidade natal e estudei numa escola local, então tinha várias histórias interessantes para contar.

Falei sobre a vez em que peguei um ladrão roubando dinheiro num santuário e o denunciei. Também contei como fiquei amigo de Satoshi, que me ajudou naquele dia. Mas, enquanto relembrava o passado, uma leve tristeza me atingiu — lembrando da ausência de Miyuki. Ela deveria estar ali, mas eu havia decidido apagá-la da minha mente para não precisar falar sobre ela.

“Senpai?”

Ichijou-san me olhou com um sorriso gentil, quase como o de uma santa, enquanto tomava um gole do seu chá de maçã quente.

“Hmm?”

“Está tudo bem. Se for difícil, é só admitir que está sendo difícil. Eu não sei exatamente o que está acontecendo, mas tenho uma ideia. Se fosse uma pessoa comum, não conseguiria se recuperar de algo tão pesado. Você é forte, Senpai. Mas se for forte demais, as pessoas acabam quebrando um dia. Então, por favor, fale comigo antes de chegar a esse ponto.”

Ela passou a mão nas minhas costas com um gesto suave e acolhedor.

“Por que você confia em mim, Ichijou-san?”

“Ontem, foi porque eu não acredito em boatos que não entendo. Mas hoje é diferente. Depois de passar apenas um dia com você, percebi que você não é o tipo de pessoa que agiria de acordo com rumores. Você se importa mais com os outros do que consigo mesmo e está disposto a se sacrificar por eles. Essa é uma qualidade maravilhosa, mas eu não posso permitir que você se machuque por causa da maldade dos outros. Se você sofrer, eu vou estar ao seu lado”, respondeu ela.

Decidi aceitar aquela gentileza e disse: “Obrigado, como sempre.”

Ela riu suavemente.

“‘Sempre’? Mas esse é só o nosso segundo dia juntos.”

Nós dois rimos disso. O tempo passou rápido.

“Senpai, me desculpe, mas eu comi muitos doces hoje. Acho que teremos que deixar as ostras fritas para outra vez. Eu vou avisar sua mãe.”

“Tudo bem, deixamos isso pra depois. Mas, peraí… quando foi que você trocou contato com a minha mãe? E… você está bem com isso?”

“Hehe, é um segredo. Sim, estou bem. Mas acho que já está na hora. Desculpe, Senpai, eu preciso ir pra casa.”

E assim, nosso primeiro ‘encontro’ chegou ao fim.

 

 Perspectiva da Ai 

Depois de me despedir dele, entrei no carro que havia sido enviado para me buscar e fiquei refletindo sobre o tempo feliz que passamos juntos.

Quando o encontrei no portão da escola, percebi a expressão determinada em seu rosto e entendi imediatamente que ele havia tomado coragem para conversar com os pais.

Eu invejava a confiança e o vínculo entre Senpai e sua família, que lhes permitiam tomar decisões difíceis com tanta firmeza. Diferente deles, eu não tinha a certeza de que minha família estaria sempre ao meu lado.

As palavras que eu disse mais cedo não foram apenas para ele — foram para mim também.

Percebi que, se Senpai não tivesse aparecido naquele dia no terraço, eu teria desmoronado completamente.

“Obrigada por tudo”, ele me disse. Mas, na verdade, era eu quem devia agradecê-lo.

Ele me encontrou quando eu estava à beira de ser destruída… e me salvou de um destino terrível.

 

 Perspectiva do Kondo 

Hmm, então é esse o nível dos universitários?

Pra deixar claro, eu estava treinando com o time reserva, mas, sinceramente, não havia ninguém à minha altura. Hoje, estou indo bem — mas está começando a ficar entediante. Meus passes são geniais, mas, infelizmente, os atacantes sem talento continuam desperdiçando as oportunidades.

“Ei, pessoal! Não deixem esse moleque de ensino médio acabar com vocês!”, gritou o técnico do time reserva.

O capitão do segundo time estava prestes a desabar de tanta frustração. Era satisfatório ver a falta de confiança de quem fica diante de um talento avassalador. Eu tinha certeza de que, assim que tivesse uma chance, entraria pro time principal.

“Droga, não posso deixar esse moleque se achar. Ei, Goda, vem aqui. Marca esse garoto do ensino médio”, disse o capitão do time principal, chamando um volante que era um pouco mais baixo do que eu.

Mas devia haver um adversário melhor do que esse, certo? Se eu conseguisse vencê-lo, me tornaria um dos melhores jogadores do futebol universitário. Isso seria incrível.

Logo, um passe veio na minha direção, e Goda começou a me marcar.

Achei que poderia passar por ele, mas, no instante em que tentei driblá-lo, meu corpo colidiu com algo sólido e fui lançado longe.

Guh!”

Soltei um som estranho e caí no chão, com a boca cheia de grama.

“Ei, você tá bem?” Era a voz de Goda. Por um momento, até senti medo. Meu corpo forte e resistente… e eu tinha sido derrubado com um simples esbarrão.

Foi só coincidência. Ele não pode ser tão bom assim. Eu nasci pra ser o rei do futebol desse país!

 

Uma hora depois…

Eu havia sido completamente dominado. Não conseguia acreditar na diferença de nível.

Mesmo quando tentava driblar, ele tomava a bola com facilidade. Quando eu tentava passar, ele lia meus movimentos e interceptava tudo.

Antes, eu me sentia um herói jogando contra adversários mais fracos. Agora, eu era apenas motivo de riso.

Pra esfriar a cabeça, fui até o banco e tomei um gole de Spodori.

Tá tudo bem. Só tô num dia ruim. Se eu jogar a sério contra ele, ele vai…

“Ei, técnico. Você tá mesmo pensando em recrutar esse garoto do colégio?” Ouvi Goda e o treinador conversando perto do banco.

“Sim, esse é o plano. Mas como foi?” perguntou o treinador.

“Nem perca tempo. Esse cara é só o rei do ensino médio. Não tem físico, não tem preparo, e desiste fácil quando perde a bola. É tipo um produto ultrapassado. Um falso ás — vai acabar sendo um reserva se achando rei dentro de casa. Não tem talento nenhum”, respondeu Goda.

Tudo o que consegui fazer foi olhar para a garrafa plástica que estava na minha mão.
Sem perceber, ela já tinha rolado para o chão.

 

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