Sessão 1

Capítulo 11 — As Lágrimas da Caloura e o Ator Maligno

 

Tivemos um ótimo almoço.

A sopa de missô com carne de porco estava deliciosa. É uma fusão de duas culturas — culinária ocidental e sopa de missô. As duas sopas mais populares do nosso restaurante são a sopa de cebola gratinada e a sopa de missô com carne de porco.

Meu pai a incluiu na lista de sopas do dia esperando que fosse um tipo de recompensa para um dia monótono, como a segunda-feira. É uma sopa suave, com muita carne, legumes e batatas.

“Eu gosto de omelete de arroz, hambúrguer e napolitana. Mas essa sopa de missô de porco em especial me faz sentir bem. É isso que chamam de ‘sabor de comida de mãe’?”

Fiquei feliz. Ichijou-san parecia satisfeita.

“Essa é a receita especial do meu falecido pai. Ele cozinhava bem os legumes e as cebolas, e preparava tudo em uma panela grande, com muitos ingredientes. Mesmo usando missô com pouco sal, o sabor suave ficava concentrado e delicioso. Não é boa?”

Falei com um certo orgulho.

Meu pai, ao contrário de mim, era querido por todos. Também era muito ativo em trabalhos voluntários — ajudava em cozinhas comunitárias para moradores de rua, idosos que viviam sozinhos e crianças sem condições de se alimentar. Ele participava de um grupo de voluntários da vizinhança e ainda ajudava em áreas afetadas por grandes terremotos e enchentes.

Os moradores o chamavam de “herói anônimo” e o amavam. (Nota: alguém que realiza grandes feitos ou atos de coragem e sacrifício, mas não recebe reconhecimento.)

Ele era realmente um pai de quem eu podia me orgulhar.

Meu pai morreu repentinamente de ataque cardíaco, aos quarenta e poucos anos, quando eu estava no oitavo ano. Ele desabou no meio do preparo da sopa de missô de porco para uma cozinha comunitária. Era bem o tipo de coisa que ele faria.

Muitas pessoas compareceram ao funeral dele — um vereador local que compartilhava sua filosofia, o prefeito da época, clientes habituais, pessoas dos grupos de voluntariado e até os que comiam a sopa nas ações solidárias. Muita gente veio. Foi triste, mas nossa família sentia certo orgulho. Sabíamos que nosso pai viveu de acordo com seus ideais e foi amado por todos. Até hoje, minha mãe e meu irmão, que assumiram o restaurante, continuam com o trabalho voluntário dele ao menos uma vez por mês. Eles também têm interesse em participar do “restaurante infantil” comunitário e estão pensando em se juntar.

“Entendo. Me desculpe… será que fui insensível?”

“Não, nada disso. Na verdade, fico feliz que você tenha elogiado meu pai.”

Ela ouviu minhas palavras e respondeu com um tom um pouco mais animado.

“Que bom. Ele devia ser um ótimo pai. Essa sopa de missô de porco deixa isso claro. Dá pra sentir o cuidado com que ele a preparou.”

Tenho certeza de que Ichijou-san é uma boa cozinheira — pensei intuitivamente. Se alguém não cozinha com frequência, dificilmente notaria o quão especial essa sopa é. Os ingredientes são simples, mas o cuidado no preparo realça o sabor.

“Fico feliz que tenha gostado.”

“Sim!! Fico muito feliz por ter provado uma sopa tão delicada. De verdade.”

Eu a via um pouco mais aliviada. Parecia que os pensamentos suicidas que ela carregava haviam se dissipado, junto com a receita do meu pai.

E, claro, eu também me sentia assim.

“Pode tomar quanta sopa quiser.”

Enquanto dizia isso, olhei em silêncio para minha kouhai, e algumas lágrimas escorreram pelo rosto dela.

Ela disse baixinho:

“Eu estou feliz por não ter morrido. Feliz por estar viva.”

 

 Ponto de vista de Kondo 

“Kondo-senpai, estamos com problemas! Nosso professor…”

O calouro que havia espalhado a foto dos hematomas da Miyuki veio até mim depois da aula, chorando desesperadamente.

“O que aconteceu?”

“Na verdade, a gente estava tentando dar uma lição no Aono, aquele que cometeu violência doméstica…”

Os dois calouros confessaram que haviam rabiscado ofensas na mesa de Aono. Também disseram que Takayanagi, o professor de História Mundial responsável pela turma 2-B, iniciaria uma investigação sobre o caso.

Ah, isso foi rápido. Aquele professor irritante. Pensei que fosse o tipo de professor que encobre as coisas.

Mas tudo bem. Se virar algo grande, meu pai resolverá. Só preciso dizer isso aos meus subordinados.

Vocês não passam de peões no tabuleiro.

“Entendo”, respondi friamente.

“Não seja tão frio! Fizemos isso pelo seu bem, Senpai… Se continuar assim, vamos ser suspensas ou expulsas por danificar o patrimônio da escola!”

As palavras de protesto voavam de um lado para o outro, mas respondi de forma ainda mais fria. Não tenho tempo pra me incomodar com peões como vocês.

“Bem, me digam: em que momento eu pedi pra vocês espalharem a história da violência doméstica do Aono ou destruírem patrimônio da escola?”

““Hã?!””

Esses garotos nem percebem que são apenas peças descartáveis no jogo. É natural que se sacrifiquem para proteger o rei. Que bando de idiotas.

“Eu só quis conversar sobre um problema meu. Tava tentando resolver a situação de uma amiga caloura. Vocês que resolveram espalhar tudo de um jeito estúpido e ainda danificaram a escola. Agora querem colocar a culpa em mim? Vocês enlouqueceram?”

Eles foram abandonados por mim — a pessoa em quem confiavam — e agora se agarravam como filhotes perdidos.

“Ah não! Nós…”

Continuei, interrompendo-as antes que terminassem.

“Então tratem de não serem pegos. Eles não têm provas. Se vacilarem, estão ferrados.”

Disse isso rindo por dentro. Desta vez, terei dois bons espetáculos para assistir.

 

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