Volume 2

Epílogo

— Intervalo para o almoço, Eiji —

Encontrei-me com Ichijou-san e fomos para o terraço. Como a tranca estava quebrada, foi fácil entrar. Só nós dois sabíamos disso — então o lugar era só nosso.

O prazo dado pelos professores já tinha passado. Fiquei me perguntando quantos alunos tinham se apresentado. Talvez nenhum. Se fosse esse o caso, os professores seriam forçados a agir, e todo esse sofrimento continuaria.

Mesmo querendo que tudo acabasse logo, eu também entendia que algumas cicatrizes permaneceriam. Não importa o quanto meus professores ou amigos tentassem explicar o que realmente aconteceu, sempre haveria pessoas que se recusariam a acreditar. Na mente delas, eu sempre seria o cara que bateu na namorada — um completo canalha.

Esse pensamento me deixou um tanto deprimido.

Ainda assim, de certo modo, acho que era um luxo ter esse tipo de preocupação. Porque, no meio de tudo isso, conheci pessoas que ficaram ao meu lado — pessoas em quem eu sabia que podia confiar pelo resto da vida. Foi a luz prateada no meio de tanto infortúnio.

E todos eles estenderam a mão sem medo de como isso poderia afetá-los. Eu queria ser igual — estender a mão quando essas pessoas precisassem. Talvez soe arrogante, mas mesmo assim, quero proteger aqueles que me ajudaram. Isso deveria ser óbvio.

E, honestamente, é melhor não continuar me relacionando com quem distorce as coisas só para machucar os outros. Afinal, tudo o que eles ofereciam era maldade.

Em vez de perder tempo com gente assim, prefiro gastá-lo com quem ficou ao meu lado quando as coisas ficaram difíceis. É com essas pessoas que meu tempo vale a pena.

Eu tinha acabado de chegar a essa conclusão quando a velha porta rangeu ao se abrir. Claro, era Ichijou-san. Diferente do dia em que nos conhecemos, hoje o céu estava perfeitamente limpo, sem uma única nuvem. Talvez porque finalmente tivéssemos um tempo a sós, nos cumprimentamos com um sorriso.

Ontem, ela me mandou uma mensagem agradecendo pelo ramen, e durante a conversa acabou se oferecendo para preparar meu almoço. Então hoje, para variar, não trouxe minha própria marmita.

Quando contei para minha mãe e meu irmão, eles entenderam na hora, sorrindo e dizendo coisas como: “Ahh, então é isso mesmo” ou “Então é isso que está acontecendo”.

“Isto é para você, se quiser. Espero que goste.”

Ela me entregou um bentô embrulhado num pano floral fofo. Se eu abrisse isso na sala de aula, com certeza as pessoas começariam a comentar.

“Obrigado. Como forma de agradecimento, que tal jantar lá em casa hoje? Minha mãe e meu irmão estão caprichando — hambúrguer ao molho demi-glace e croquetes de creme.”

“Tem certeza? Sempre sinto que estou abusando. E com seu paladar refinado, fico preocupada se a minha comida vai agradar.”

Ela corou enquanto dizia isso com modéstia, mas vinda de alguém como Ichijou-san — que consegue fazer praticamente qualquer coisa — as expectativas naturalmente eram altas. Dito isso, mesmo que ela não fosse boa na cozinha, isso só a tornaria ainda mais adorável. Ela é tão perfeita que ter um ponto fraco até me deixaria mais tranquilo. Só um pensamento bobo de um senpai meio patético.

Se eu não tomar cuidado, ela pode até acabar me dando aulas. Ouvi dos professores que ela já domina o nível de matemática e inglês do ensino médio.

Eu realmente preciso melhorar nos estudos. Mas ultimamente, com a ajuda de um professor particular, sinto que finalmente estou começando a entender a matéria.

Enquanto pensava nisso, abri a adorável marmita.

“Uau… isso parece incrível.”

As palavras escaparam sem querer. Era um menu clássico, caseiro.

Tamagoyaki perfeitamente enrolado. Salmão grelhado. Salsichinhas em forma de polvo. Abóbora cozida. Berinjela e quiabo refogados ao lado. E arroz com furikake por cima. Ela até usou uma caixa um pouco maior do que a dela, provavelmente pensando no meu apetite.

[Almeranto: Tô sem comer nada e a frase me vem com um prato descrito detalhadamente. Aí é maldade kkkkkk.]

“Você fez tudo isso?”

“Sim. Fiquei um pouco nervosa e acordei cedo, então talvez tenha exagerado um pouco. Normalmente, misturo alguns pratos que nossa ajudante prepara com antecedência, mas sempre tento fazer pelo menos dois itens eu mesma.”

Definitivamente parecia ter sido preparado por alguém acostumado a cozinhar.

“Você até fez peixe como prato principal.”

Como andei comendo basicamente as mesmas coisas ultimamente, ela provavelmente tentou preparar algo diferente — um menu mais tradicional japonês.

“Sim, imaginei que você estivesse comendo muita carne ultimamente. Eu acertei?”

Ela olhou para mim, preocupada, e eu rapidamente balancei a cabeça.

“Não, está ótimo. Eu adoro peixe.”

Na verdade, minha comida favorita é sushi. Sou um grande fã de frutos do mar e sempre conto os dias até o retorno anual da ostra frita sazonal do Kitchen Aono.

“Que bom.”

Ela me deu um sorriso de verdadeiro alívio. É estranho. Faz apenas uma semana desde que nos conhecemos... e, quando isso aconteceu, ambos estávamos afundando no desespero. Mas agora, aqui estamos nós — sorrindo genuinamente um para o outro.

Aquele dia... agora percebo, foi o momento em que minha vida virou completamente.

Fui apoiado pela Ichijou-san o tempo todo. Por isso, às vezes fico ansioso — quanto apoio eu realmente consegui dar a ela em troca? Não sei por que ela estava prestes a pular naquele dia. Mas a determinação dela era real. Quando lutamos, fiquei chocado com a força que ela tinha naqueles braços delicados — ela lutou desesperadamente.

Era assim que ela queria morrer. Não sei o quanto de dor ela carregava. Mas posso entender que deve ter sido algo esmagador.

Mesmo que lentamente, quero continuar caminhando ao lado dela daqui para frente.

“Não vai comer?”

Bem quando eu firmava essa resolução, ela me lançou um olhar preocupado.

“Ah, desculpa. Parece tudo tão bom que eu não consegui decidir por onde começar.”

“Você é bom demais em bajular.”

“Tem alguma recomendação?”

“Vamos ver... esse refogado de berinjela e quiabo é uma das minhas especialidades. Uma das ajudantes da casa fez uma vez e ficou tão bom que pedi a receita. Agora já dominei.”

Ela deu um pequeno sorriso orgulhoso — uma expressão tão apropriada para sua idade que me deixou à vontade. Até esse lado dela é adorável.

“Então, hora de provar. Oh, está temperado com missô? É doce e salgado — perfeito com arroz.”

O refogado também tinha óleo de gergelim, o que dava um aroma maravilhoso. O tempero era suave, usando missô, saquê e dashi. É o tipo de sabor que eu realmente adoro. Minha mãe e os outros provavelmente diriam que combina bem com bebidas também.

“Hehe, acertou! Imaginei que você devesse comer muita comida ocidental na loja, então optei por um tema japonês desta vez.”

Ela é mesmo atenciosa. Mesmo com toda a atenção que recebe, nunca perde o foco de si mesma. Essa força e gentileza fazem parte do seu charme.

“É, isso me deixa muito feliz. Às vezes a gente realmente sente vontade de uma refeição japonesa caprichada. A abóbora também está doce e macia. A ajudante te ensinou essa também?”

“Essa é da minha falecida mãe. Fico feliz que tenha gostado.”

“Entendi. Então é como nossas ostras fritas. Essa receita é do meu pai. Na verdade, aqui vai um segredinho — se você misturar um pouquinho de queijo parmesão na massa, dá mais profundidade ao sabor.”

“Sério?! Eu não sabia disso!”

“Nosso segredo de família. Considere um agradecimento pelo prato de abóbora.”

Ergui o dedo aos lábios num gesto de “não conta para ninguém”.

“Então aqui vai o meu. O segredo desse prato cozido? Tem um pouquinho de manteiga nele.”

“Ohh, então é por isso que o sabor é tão rico.”

Parecia que havíamos trocado pequenos segredos — e ficado ainda mais próximos.

Aquele delicioso bentô desapareceu num instante.

“Você acha que alguém se entregou?”

Parece que Ichijou-san estava se perguntando o mesmo.

“Quem sabe? Talvez ninguém tenha feito isso.”

“Isso é bem possível. Os seres humanos são fracos, afinal. É fácil fugir.”

“Sim, exatamente.”

Nós dois soltamos um suspiro e logo mudamos de assunto antes que o clima ficasse pesado demais.

“Ainda não acredito que fui elogiado pelo corpo de bombeiros.”

Eu só tinha dito meu nome para a enfermeira. Nem contei para a polícia. Não queria que isso virasse algo grande.

“Deus está vendo, sabe. Você sempre dá o seu melhor, Senpai. A forma como você agiu tão rápido numa emergência — foi incrível. Eu fiquei chocada...”

Ela parou de falar, as bochechas corando. Mexeu no cabelo e desviou o olhar, sua voz baixando para um sussurro.

“...Você foi muito, muito legal.”

O constrangimento dela era contagiante.

“O-obrigado.”

Eu também não conseguia me forçar a olhar diretamente para ela.

“Começa agora.”

Aquele momento meio estranho, mas doce — dessa vez, foi ela quem quebrou o silêncio.

“Hm?”

“Começa agora. Sua redenção, Senpai. Desde a premiação mais cedo, acho que as coisas começaram a mudar. As pessoas finalmente estão começando a notar as partes estranhas daquele primeiro incidente.”

Entendo… a Ichijou-san realmente tem um bom senso para o clima na escola.

“Mas ainda estou com medo. Não acho que esse inferno vai desaparecer tão facilmente, e não consigo parar de pensar nos piores cenários.”

“Senpai...”

“Mas mesmo assim... se eu estiver com você, Ichijou-san, sinto que talvez tudo fique bem. Obrigado, como sempre.”

Quando disse isso, ela me lançou um olhar melancólico e apoiou a cabeça suavemente no meu ombro.

“Deveria ser eu a te agradecer. Ficaria muito feliz se você nunca soltasse minha mão.”

Como antes, nossas mãos estavam unidas. Apertei os dedos lentamente, surpreso mais uma vez pela maciez da mão dela. Na cerimônia de premiação, peguei a mão dela sem pensar porque estava nervoso. Por isso só percebi agora.

“Minha mão... está fria?”

“Ah, está fresca e é agradável.”

“Nossa... Mas sua mão, Senpai, é bem grande e quente.”

Ainda estávamos apenas segurando as mãos delicadamente, mas parecia algo sagrado.

“Aliás, Senpai, como está a repercussão daquela história que você postou ontem?”

“Ah, é. Eu cheguei a conferir ontem à noite — umas dez pessoas tinham lido, o que me deixou aliviado. Desde então não olhei mais.”

“Então olha agora!!”

“Certo, já que você falou, fiquei curioso também.”

Como minha mão dominante estava segurando a dela, eu manuseava o celular desajeitadamente com a mão esquerda e abri o site de publicação. Ainda estava me acostumando com a interface, mas consegui abrir meu espaço de trabalho e conferir as estatísticas de leitores.

“O quê!?”

Quando vi o número na tela, instinctivamente apertei a mão dela.

“O que foi?”

A voz dela me trouxe um pouco de consciência, e eu compartilhei o que estava vendo.

“As visualizações estão em cem mil, e os pontos e marcadores estão indo à loucura... até os comentários já passam de cem...”

Minha voz tremia.

Ainda não sabíamos muito sobre web novels, mas mesmo assim podíamos perceber que essa era uma reação enorme.

“Senpai, esses sites não têm ranking também? Você checou isso?”

Ela parecia feliz, mas também um pouco aflita.

“Ainda não.”

“Corre pra ver!!”

Ela estava certa. Toquei nos rankings diários.

Nem precisei procurar — estava bem ali.

Encontrar meu nome de autor tão facilmente, no ranking de um dos maiores sites do ramo... era outra coisa.

“Estou em primeiro lugar no geral diário.”

Com voz atordoada, contei o fato para Ichijou-san, e—

“Incrível!!”

Com essas palavras, a pele macia e o cheiro doce dela me envolveram. O abraço dela acalmou instantaneamente meu coração acelerado, e me peguei retribuindo o abraço.

“Obrigado.”

Foi tudo que consegui dizer. Nenhuma coisa inteligente veio à mente.

“Você realmente é incrível. Quero dizer, é sua primeira postagem, e já explodiu em apenas um dia. Eu sinceramente quero ir contar para aqueles membros do clube de literatura que jogaram seu manuscrito fora. Tipo, ‘Vocês tentaram destruir alguém com tanto talento assim... Vocês realmente não tinham olho para isso.’”

Sobrecarregado pela felicidade dela, eu a abracei mais forte.

“Obrigado, Ichijou-san. Porque você salvou aquele manuscrito — porque você me apoiou — ele chegou a tantas pessoas. Eu estava em desespero, fui arrastado para baixo por tantas pessoas... e ainda assim agora, ainda mais pessoas me reconheceram.”

Disse isso a ela do fundo do meu coração.

Ela tremia levemente, com lágrimas se formando nos olhos, e sussurrou: “Estou tão feliz... de verdade.”

“Tudo isso é graças a você, Ichijou-san.”

Eu não parava de agradecê-la. Dei um sorriso meio tímido.

“Obrigada. Mas... não foi por minha causa. Foi porque sua história era realmente boa. Eu fiquei tão frustrada que ela não tivesse recebido o reconhecimento que merecia. Isso... isso me deixa muito feliz.”

Ao contrário daquele dia, o céu acima estava perfeitamente limpo — nenhuma nuvem à vista. Parecia que ele estava nos abraçando.

E pouco a pouco, nossas vidas estavam começando a mudar.

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