Volume 2
Capítulo 5: Ai vs. Miyuki
— Perspectiva da Ichijou Ai —
[Almeranto: Já tô vendo que esse capítulo vai ser pedrada.]
“Ojou-sama, aqui está o relatório que você pediu.”
Na sala de estar, recebi um conjunto de documentos das mãos do Kuroi.
Parece que o relatório que encomendamos da agência de detetives finalmente estava completo.
Li algumas páginas e imediatamente senti náuseas com o quão repugnante era o conteúdo.
Deliberadamente, eu havia evitado perguntar ao Senpai o que tinha acontecido. Imaginei que devia ser algo difícil de se falar, e ele não parecia querer compartilhar nem mesmo com a própria mãe.
Se eu o forçasse a falar, poderia apenas aprofundar as feridas em seu coração. Eu já tinha uma ideia do que havia ocorrido, mas ler o relatório real tornou aquilo insuportável — toda aquela malícia dirigida a ele trouxe de volta meus próprios traumas.
Como alguém tão gentil podia ser alvo de uma crueldade dessas? Por que Deus é tão injusto?
Fiquei feliz por ter pedido a Kuroi que investigasse. Agora que sabíamos quem era o inimigo, eu também podia agir.
A princípio, pensei que fosse apenas um drama romântico típico. Mas a verdade era bem pior — cheia de maldade.
※
[Relatório]
Parece que Aono Eiji estava sendo traído por sua namorada, Amada Miyuki. Ela vinha se encontrando em segredo com Kondo, um veterano do clube de futebol da mesma escola (※ o pai dele é um membro do conselho da cidade e, de fato, gerente de uma construtora regional), e até os vizinhos notaram e comentaram sobre isso.
Os detalhes do que ocorreu nesse triângulo amoroso permanecem incertos. No entanto, considerando que os boatos sobre Aono Eiji abusar da namorada começaram a se espalhar nas redes sociais logo após o aniversário dele, é altamente provável que algo tenha acontecido naquele dia. Afinal, não havia postagens difamando-o antes disso.
A maioria das contas que espalharam os rumores eram descartáveis, mas algumas eram contas usadas regularmente e, com base em outras fotos postadas, é provável que pertenciam a membros do clube de futebol.
Além disso, as reações dos outros estudantes só começaram dois dias após o aniversário, indicando que um grupo seleto conspirou deliberadamente para espalhar falsos boatos sobre Aono Eiji. Esses dados foram preservados e poderiam ser usados como prova em um processo judicial.
※
O relatório apenas listava os fatos, mas havia uma conclusão evidente.
Considerando o que eu sei sobre a personalidade do Senpai, é quase impossível que ele realmente tenha machucado a Amada-san. E essa atividade estranha vinda do clube de futebol...
O provável mentor por trás desse esquema é Kondo, do clube de futebol. O mesmo veterano asqueroso que uma vez tentou dar em cima de mim no primeiro semestre.
Kondo e Amada estavam tendo um caso, e o Senpai descobriu isso no dia do próprio aniversário.
Para se protegerem, os dois espalharam o boato de que o Senpai tinha sido violento, isolando-o no processo.
Se essa teoria estiver correta, então suas ações são absolutamente desprezíveis.
Acho que disseram que começaram a namorar no inverno passado. Então, no primeiro aniversário juntos como casal, ele não apenas foi atingido por uma verdade devastadora, como também foi falsamente acusado e quase apagado da sociedade.
Isso é cruel demais.
É por isso que, no dia em que nos conhecemos, ele acabou naquele telhado. Só de pensar que alguém tão gentil foi levado a esse ponto, enche meu coração de uma fúria silenciosa.
Ninguém tem o direito de pisar nos sentimentos puros de outra pessoa desse jeito.
Claro, se não fossem casados, talvez não fosse uma traição no sentido estrito. Poderia até se argumentar que tudo não passou de uma questão de amor livre.
Mas não há como alguém tão bondoso quanto ele merecer algo tão horrível.
Imperdoável.
E fazer tudo isso só para se proteger... incriminar alguém tão gravemente a ponto de ele considerar o suicídio...
O relatório era tão revoltante que eu sentia o estômago revirar a cada página.
E ainda assim — mesmo naquele inferno — ele foi quem me salvou. Não pude evitar me apaixonar ainda mais por ele.
“Você é mesmo uma pessoa tão gentil, Aono Eiji...”
Depois do que aconteceu comigo, depois de toda a maldade que suportei após o acidente, eu sei o quão milagrosa foi aquela gentileza que ele me mostrou no telhado. Dói o quanto eu entendo isso. Como você pôde ser tão gentil com alguém como eu naquele momento?
Eu queria tomar um pouco de ar fresco.
Parei Kuroi, que parecia preocupado, e disse que iria sozinha a um parque próximo. Ele recusou, mas alguém certamente me seguiria à distância como segurança.
Só uma curta caminhada no meio do verde para clarear a mente.
“O Senpai perdeu tanto... mas se eu puder compensar ao menos um pouco disso, já ficarei feliz.”
Se eu pudesse, gostaria de preencher tudo o que ele perdeu. Mas pensar assim provavelmente é apenas arrogância.
Dito isso, eu absolutamente não posso perdoar a Amada-san e o Kondo do clube de futebol.
Enquanto caminhava, pensando em tudo isso, algo inesperado aconteceu.
Uma beldade de rosto pálido cambaleava em minha direção. Eu a reconheci. Nunca havíamos conversado diretamente, mas ela era bem conhecida como uma bela veterana — e a mesma garota mencionada no relatório que eu acabara de ler.
“Ichijou Ai?”
Ela também deve ter me reconhecido. Seu rosto estava pálido como o de um zumbi.
“Amada Miyuki-san...”
Essa foi a primeira vez que nos encaramos. E para ela, não poderia ter sido em pior momento.
※
O encontro inesperado me deixou momentaneamente sem palavras. Quanto ao motivo de ela saber meu nome... decidi não pensar muito nisso agora.
Considerando o quão ousada tenho sido em minhas investigações, não é surpresa que os boatos tenham chegado aos ouvidos de Amada Miyuki-san.
“Muito prazer. Sou Ichijou Ai.”
Falei friamente. Para ser honesta, eu nem queria conversar com ela.
“V-Você não está com o Eiji hoje?”
Ela ignorou a saudação e perguntou com a voz trêmula.
“Você fala como se nos observasse juntos o tempo todo. Pode até ser uma veterana na escola, mas essa é a nossa primeira conversa. E considerando o quão pessoal foi essa pergunta, não acho que eu tenha obrigação de responder.”
Meu tom saiu afiado — cheio de farpas. Eu não me importava se ela passasse a me odiar por isso.
“Mas... eu sou a namorada do Eiji...”
Essas palavras me fizeram arregalar os olhos. Depois de tudo o que ela fez com ele, ainda acha que vocês estão namorando?
Não — não é isso. Ela está fugindo. Do peso da culpa por tê-lo machucado. Do fato de que o traiu. Esse tipo de fuga, essa recusa em assumir responsabilidade — é isso que eu não posso perdoar. Ela quase empurrou alguém tão gentil quanto ele para o suicídio. Se eu não o tivesse encontrado a tempo, se apenas uma coisa tivesse sido diferente, então nós dois...
Eu a encarei com raiva fervendo em silêncio.
“É mesmo? Mas não foi você quem escolheu o Kondo do clube de futebol, Amada-san? Você abandonou o Aono Eiji-senpai, seu amigo de infância que sempre esteve ao seu lado. E fez isso no aniversário dele...”
Falei como se já soubesse de tudo — em parte para confirmar se as informações que eu tinha estavam corretas.
“Isso... eu...”
Ela se calou. Acertei em cheio.
“Naquele ponto, o relacionamento de vocês já tinha acabado, não é? E acabou da pior forma possível — com você o traindo.”
“Mas...”
Ainda assim, ela não respondia. Não — estava tentando fugir de novo.
“Se você não consegue responder, isso significa que é verdade, não é?”
Ela abaixou a cabeça, à beira das lágrimas. Lentamente, eu a pressionava com a realidade. Se não fizesse isso, ela continuaria fugindo.
Nós já sabemos de tudo — sobre a traição, sobre como você abandonou seu amado namorado e o incriminou para se proteger. Foi isso que eu transmiti a ela, sem dizer diretamente.
Eu poderia tê-la condenado ali mesmo, mas como uma estranha, isso não teria significado algum. Em vez disso, decidi mostrar calmamente o lugar onde ela agora se encontrava, enquanto mantinha meu olhar frio sobre ela, que ainda tentava se defender.
“Nós ficamos juntos por mais de dez anos, sabia?”
Ainda tentando se justificar!?
“E você foi quem traiu. Você destruiu dez anos de confiança. E fez isso de um jeito inacreditavelmente cruel. O amor é livre, claro. Se você se apaixonou por outro, deveria ter terminado com o Eiji-senpai de forma adequada. Esse seria o mínimo. Mas você não fez. No fim, escolheu abandoná-lo no aniversário dele da maneira mais impiedosa possível. Por quê? Por que se deu ao trabalho de trair alguém tão gentil assim, de uma forma tão dolorosa?”
Minha voz estava se elevando. Eu falava cada vez mais rápido, mais intensamente do que o normal. Mas eu não conseguia parar.
“Eu também não queria terminar com o Eiji. Nós sempre estivemos juntos. Ele foi meu primeiro amor. Mas então eu cometi um erro com o Kondo... e depois disso, não consegui acabar com aquilo. Continuei com o relacionamento. Fiquei dizendo a mim mesma que seria só por um tempinho... que no fim escolheria o Eiji. Mas então, naquele dia... a gente acabou se encontrando. Num lugar em que não devia ter acontecido. Por alguma razão, ele estava lá.”
Ela falava como uma máquina quebrada, despejando linhas de pena de si mesma. Como se fosse alguma espécie de heroína trágica. Mas ela não era. Ela não tinha esse direito. Por que não consegue ver isso?
“Mas foi você quem o machucou. Você age como se fosse a que mais sofreu, mas quem sofreu de verdade foi o Eiji-senpai. Só ouço desculpas suas.”
“Ugh...”
Ela desabou no asfalto duro. Talvez não conseguisse mais fugir. Ou talvez só estivesse tentando pensar numa nova desculpa.
“Por que espalhou mentiras tão horríveis? Por causa disso...”
Quase soltei a verdade antes de morder a língua em pânico — percebendo que não era algo que eu tinha o direito de dizer.
“Eu estava com medo. Morrendo de medo de acabar sozinha. Eu sabia que nunca conseguiria voltar a ser como era com o Eiji. Por isso me agarrei ao Senpai. Me desculpa, me desculpa mesmo...”
Ela engasgava nos pedidos de desculpa como se tentasse se agarrar a algo.
E ouvi-la dizer isso fez meu sangue ferver.
“Por esse motivo?”
A pergunta escapou dos meus lábios antes que eu pudesse me conter.
“Eh?”
Essa resposta não era o que eu queria ouvir.
“Você tentou arruinar a vida de alguém tão gentil quanto Aono Eiji... por esse motivo?!”
“Eek—!”
Ela soltou um gritinho curto, dominada pela minha raiva. Senti uma vontade quase incontrolável de esbofeteá-la ali mesmo, mas me contive com pura força de vontade. Se cedesse, estaria me rebaixando ao nível deles. Não passaria de um animal patético guiado pelos instintos mais baixos.
“O Senpai... ele ia acabar com a própria vida. No terraço, depois das férias de verão. Aquele garoto gentil e amável foi levado tão longe que estava pronto para se matar. E o que ele fez para merecer isso? Apenas queria comemorar o aniversário feliz com a namorada. Só isso. E mesmo assim... Amada-san. Você pisoteou aquela pureza, transformou-o no vilão para se proteger. Você empurrou a vítima para a beira do suicídio. Pessoas como você não merecem perdão. Eu nunca vou te perdoar. Eu não posso te perdoar!!”
“Eiji... suicídio? Não... pode ser...”
O rosto dela ficou ainda mais pálido enquanto a luz sumia de sua expressão. Mas eu não tinha mais nada a dizer.
Ela nunca percebeu que a maldade — uma maldade casual como a dela — pode facilmente roubar a vida de alguém. Ela nem conseguia encarar essa realidade. O ódio que me atingiu depois do acidente deve ter vindo de pessoas exatamente como ela.
“Eu passei dos limites. Com licença.”
Sem lançar outro olhar, me afastei. Saí dali às pressas, como se fugisse de Amada-san, carregando a culpa por ter dito demais.
Eu contei a ela sobre a tentativa de suicídio do Senpai — algo que nunca deveria ter revelado. Algo que ele quis manter escondido.
Mas eu não consegui me conter. Minhas emoções assumiram o controle. Eu me sentia péssima por ele.
Mas... ele foi levado até aquele ponto. Alguém tão gentil, encurralado pela maldade de outra pessoa até quase escolher a morte — e a responsável ainda agia como se fosse a vítima. Eu não consigo perdoar isso. Eu não sou uma pessoa boa o bastante para deixar passar quando alguém tão puro é distorcido pela maldade dos outros.
Ódio de mim mesma e raiva se misturavam dentro de mim. Meu coração pesava com tanta negatividade.
E ainda assim... eu não me arrependia.
Eiji-senpai é tão gentil — gentil demais. Provavelmente, ele só recuaria de novo.
É por isso que eu falei por ele. Me pergunto se ajudou ao menos um pouco. Mesmo que ela acabe me odiando por isso, se eu pude ficar na linha de fogo por ele, talvez tenha retribuído um pouquinho.
Se não tivéssemos nos encontrado naquele dia no terraço, Eiji-senpai poderia ter morrido. Alguém tão bondoso não merece morrer sozinho, em algum lugar esquecido. Ele é alguém que deveria viver uma vida plena, cercado de pessoas que o amam, e partir em paz algum dia.
Ele não é como eu — alguém que continuou viva mesmo depois de sacrificar a vida de outra pessoa. Nós existimos em planos diferentes.
Ele tem que ser feliz. Aono Eiji é alguém que merece isso.
“Ai. Promete para mim que vai ser feliz.”
“Me desculpe. Eu devia ter te contado direito. Perdoe essa mãe inútil por só dizer isso agora. Eu sempre te amei.”
“Tá tudo bem. Você com certeza vai encontrar alguém que realmente te ame, eu tenho certeza.”
“Eu sempre estarei com você, Ai. Se eu tenho um arrependimento, é nunca ter te visto de vestido de noiva.”
Lembrei das últimas palavras da minha mãe — aquelas que eu tentei tanto esquecer. As palavras das quais fugi por tanto tempo voltavam a soar repetidamente na minha mente. Até mesmo o calor dela, que eu não sentia há tanto tempo, retornou para mim.
Obrigada, mãe. Eu quase tinha desistido, mas agora finalmente entendi o que você quis dizer.
Me desculpa por ter tentado fugir. Me desculpa por ter tentado escolher o caminho mais fácil.
Mas finalmente—
Eu me apaixonei. Conheci alguém que me valoriza mais do que eu mesma.
“Quero ver o Eiji-senpai.”
Finalmente pude admitir meus sentimentos por ele. Eu costumava achar que romances de ensino médio eram passageiros — que nunca duravam. Odeio a mim mesma por ter sido tão fria.
Mas eu quero acreditar que o que sinto por ele vai durar para sempre.
Acelerei o passo, voltando para meu apartamento. Mas o destino ainda tinha mais um milagre reservado para mim.
Ao longe, vi alguém acenando. Era Aono Eiji. Agora que eu sabia o que era amor, não pude deixar de ver até uma coincidência tão simples como um sinal do destino.
“Senpai!!”
Quase me joguei nos braços dele. Era só uma coincidência. Mas eu queria tanto vê-lo... e não podia mentir para mim mesma — eu queria acreditar que era o destino.
“Ichijou-san, que coincidência! Eu estava indo jantar — pensando em comer ramen. Quer vir comigo?”
Ele sorriu gentilmente. Foi então que percebi que ele lembrava do que eu tinha dito no nosso encontro ontem — como eu nunca tinha ido a uma loja de ramen. Sempre tive curiosidade, mas nunca tive oportunidade de ir.
Minha boca respondeu antes mesmo do meu cérebro processar. “Sério? Eu adoraria!”
Mais do que qualquer coisa, eu estava feliz pela gentileza dele. A sensação ruim que tinha ficado desde que li o relatório desapareceu completamente.
※
— Perspectiva do Eiji —
Eu estava indo para a loja de conveniência copiar os resumos que o Satoshi tinha me emprestado. No caminho, encontrei a Ichijou-san por acaso e perguntei se ela queria comer ramen. Pelo visto, como uma verdadeira garota rica, ela nunca tinha ido a uma loja de ramen antes.
Fomos a um lugar ali perto. De jeito nenhum eu levaria uma iniciante em ramen para um restaurante super intenso — aquele ali era tranquilo e servia um ótimo miso ramen clássico.
“Hum, o que eu faço aqui?”
Ela parecia não saber como usar a máquina de bilhetes. Ver ela se atrapalhar na frente dela era sinceramente adorável. As pessoas dentro do restaurante já olhavam para ela — ela realmente chamava atenção. Eu precisava garantir que a guiasse direito.
“Você só coloca o dinheiro e aperta o botão do ramen que quiser. As porções aqui são bem grandes, então acho que o tamanho normal ou mini é melhor para você. Recomendo o tanmen de missô com legumes. Vem bastante vegetal, então menos macarrão deve ser mais seguro.”
“Tão intenso assim?! Ainda bem que perguntei. Vou querer esse então.”
Ela apertou obedientemente o botão do tamanho mini. Também escolheu um chá oolong.
“Eu tô morrendo de fome, então vou de missô com legumes e chashu extra.”
Sentamos numa mesa para duas pessoas. Dava para ver claramente a cozinha dali. O cardápio não era complicado e os funcionários eram simpáticos — perfeito para uma estreante como a Ichijou-san.
“Uau. Ele está girando aquele panelão enorme com tanta facilidade. Isso é para fritar os legumes?”
“É. Aqui eles capricham de verdade nos legumes salteados. Sério, dá para comer só eles. Se pedir arroz, vira uma refeição completa.”
“Isso é basicamente carboidrato com carboidrato... Eu ficaria com medo de amanhã, mas parece delicioso.”
“É, você só vai ter que maneirar.”
Dito isso, o prato que ela pediu tinha bem mais vegetais do que macarrão, então, tirando o sal, até que era meio saudável.
“Obrigado por esperarem!”
A senhora de meia-idade do restaurante trouxe os dois bowls com facilidade prática.
“Muito obrigada,” disse Ichijou-san com um sorriso. A funcionária sorriu de volta, encantada.
“Itadakimasu.”
Nos deliciamos com o ramen fumegante. Ela ficou um pouco surpresa com a quantidade de vegetais, mas no momento em que deu o primeiro gole no caldo, seus olhos se arregalaram de surpresa.
“Tem uma doçura tão suave dos legumes. Usaram óleo de gergelim? O aroma da fritura é tão rico e perfumado.”
“Você pode colocar um pouco de yuzu kosho para mudar o sabor também.”
“Com certeza combinaria. Essa é minha primeira vez com ramen de verdade, e já tô começando a me arrepender de não ter provado antes.”
Ela estava aproveitando feliz o prato recomendado. A reação dela me deixou genuinamente feliz. Só isso já bastava para me fazer sentir abençoado. Compartilhar coisas de que gostávamos assim — era uma alegria tão simples, mas que eu não tinha valorizado antes. E isso era graças à Ichijou-san. Desde que a conheci, só senti felicidade. Não era só porque o terraço foi o ponto mais baixo. É que ela se tornou alguém tão importante para mim... alguém que preencheu os espaços vazios deixados por tudo que eu perdi.
Foi meio triste ter que ir embora logo depois de terminar o ramen. Eu queria passar mais tempo com ela. Mas, bem... eu a veria de novo amanhã, de qualquer jeito.
“Vou te acompanhar até em casa.”
Ela também parecia um pouco triste, mas no momento em que falei isso, seu rosto se iluminou. Fiquei feliz — poderíamos ficar juntos só mais um pouquinho.
“Obrigada.”
Caminhamos o mais devagar que podíamos. O apartamento dela ficava a apenas cinco minutos dali. Ia acabar em um instante.
A mão dela roçou de leve na minha. Provavelmente foi sem querer, mas nós dois dissemos suavemente ““Ah”“ ao mesmo tempo. Nos olhamos e rimos. Estamos conscientes um do outro demais, né? Ela tinha tomado a iniciativa no nosso último encontro — então, desta vez, era a minha vez...
Com uma decisão silenciosa, segurei gentilmente a mão dela. Sua mão era pequena — tão pequena que parecia que poderia quebrar se eu não tomasse cuidado. E um pouco fria ao toque.
Ela abaixou o olhar, envergonhada, mas apertou minha mão de volta com força. Apenas alguns minutos de contato — mas para nós, parecia uma eternidade.
“Isso foi astuto,” ela disse, soando um pouco emburrada — mas com o sorriso mais feliz no rosto.
“Era isso que eu queria ter dito no domingo passado.”
Por uma vez, consegui dar uma boa resposta.
“Ugh, isso também foi astuto...”
Eu não pude evitar achá-la tão preciosa naquele momento.
“Quando eu chegar em casa... acho que vou tentar postar minha novel online.”
Foi a ideia que ela me deu esta manhã. Naquela hora, ela me deu a coragem que eu precisava. Por isso decidi dar o primeiro passo.
“Que bom. Seria um desperdício se só eu pudesse ler. Eu sei que vai fazer sucesso.”
Vendo-a sorrir tão feliz, me senti aliviado. A mão que ela segurava apertou só um pouquinho mais.
“Mas, Senpai?”
“O que foi?”
“Isso pode me fazer soar como uma garota grudenta, mas... não vá muito longe, tá? Continue segurando essa mão, sempre.”
Aquele olhar levemente preocupado no rosto dela era incrivelmente lindo.
“Sim... eu vou segurar.”
E assim, o momento perfeito chegou ao fim. Apesar de termos prometido segurar as mãos para sempre, relutantemente soltamos.
“Obrigada por hoje. Até amanhã.”
“Sim, até amanhã.”
Nos despedimos com um aceno simples, escolhendo não dizer mais nada.
Com meu propósito cumprido, comecei a voltar para casa.
“Que bom que ela gostou,” murmurei, sorrindo.
Mas enquanto caminhava, vi um rosto familiar se aproximando na direção oposta.
Não havia como me enganar.
Meu coração começou a bater descontroladamente.
Era a última pessoa que eu queria ver.
“Eiji?”
Amada Miyuki — minha amiga de infância e ex-namorada — me chamou, com o rosto pálido como o de um zumbi.
A garota que eu nunca mais queria ver estava bem na minha frente.
※
── Perspectiva da Miyuki ──
O Eiji tentou se suicidar?
Por quê? Por que ele faria algo assim? Por que eu não percebi? Por que não vi o quanto ele estava perto de desmoronar?
Por que eu não consegui perceber que minhas ações o empurraram até esse ponto?
Depois de ouvir essa verdade chocante, comecei a repassar tudo o que eu tinha feito.
Como eu traí Eiji com Kondo pelas costas dele.
Como eu furei o aniversário de Eiji e saí num encontro com Kondo em vez disso.
E depois que tudo foi exposto… como tentei me proteger, transformando Eiji no vilão.
Por minha culpa, Eiji foi intimidado e empurrado tanto que realmente pensou em acabar com a própria vida.
“Eu sou a pior… não sou?”
Eu finalmente entendi. Não, isso não é certo — eu sempre soube. Eu só não queria admitir. Eu estava com medo. Quando o caso veio à tona, eu fiquei apavorada de perder tudo o que havia construído — minha reputação de boa menina, meus amigos…
Mas eu fui tão míope naquela época.
Por causa desse desejo patético de me proteger, acabei jogando fora a única coisa que nunca deveria ter perdido.
Quando percebi, já tinha vagado até o nosso parque de sempre.
O parque perto de casa onde Eiji e eu costumávamos brincar.
Passamos tanto tempo aqui — conversando enquanto balançávamos juntos.
Sentei-me em um balanço, deixando-me afundar nas velhas memórias.
“Então, quando eu crescer, vou ser sua noiva, Eiji-kun.”
Provavelmente eu estava na primeira série quando disse isso.
“Não se preocupe. Eu sempre vou estar com você.”
Quando o pai de Eiji faleceu, eu o consolei bem aqui, neste mesmo parque. E mesmo assim… eu o traí. Quebrei a única promessa que deveria ter mantido. Fiz a única coisa que uma pessoa nunca deveria fazer.
Mas eu estava com muito medo. Medo demais de encarar isso, então continuei fugindo. Mesmo quando Eiji sempre manteve nossa promessa. Quando meu pai foi embora e eu estava desmoronando, foi ele quem me apoiou. Daquele dia em diante, ele sempre me protegeu. Mesmo quando não estávamos namorando, ele fazia questão de que eu nunca me sentisse sozinha.
E eu retribuí essa bondade com traição. Acho que… talvez eu estivesse procurando o tipo de calor que meu pai me dava naquele Senpai. Mas Eiji também era caloroso. Eu só tinha me acostumado com isso — com a gentileza dele. Eiji sempre esteve ao meu lado.
“Você finalmente se declarou, hein? Okay… eu sempre gostei de você também.”
Lembrei do dia em que começamos a namorar. Essa memória preciosa foi seguida de outra, e de outra, numa enxurrada de flashes.
Os dez anos que passei com Eiji… foram o tempo mais importante da minha vida. Eu percebi isso agora.
Por quê… Por que agi de forma tão egoísta esse tempo todo?
Com a visão embaçada, olhei adiante. Um aviso chamou minha atenção:
“Aviso de Remoção dos Equipamentos do Parque. Os trabalhos serão realizados nos horários listados abaixo para instalação de novos equipamentos.”
Ah… então até os balanços e escorregadores onde brincávamos juntos — essas memórias preciosas — vão desaparecer também. Ao perceber isso, as lágrimas começaram a cair descontroladamente.
“Eu o amava tanto… Eu o amava tanto… Eu amava ele tanto. E mesmo assim, por minha culpa, perdi tudo.”
A verdade cruel deixa meu coração em ruínas. Eu nem tinha o direito de chorar… e ainda assim as lágrimas não param.
Eu traí aquele Eiji tão gentil e bondoso. Eu mereço cair no inferno. Não tenho o direito de ser feliz.
Por isso — até mesmo o veterano que escolhi em vez de Eiji está prestes a me abandonar. Até minha própria mãe desistiu de mim.
Eu fui uma tola, uma idiota.
Nunca mais poderei voltar para aquele tempo quente e feliz.
Desabo em prantos no parque cheio de memórias, depois cambaleio de volta para casa com passos trôpegos.
Não há mais nenhum lugar além daquela casa vazia.
E é então que vejo uma silhueta na multidão — alguém que eu não deveria estar vendo.
A pessoa que eu mais queria ver no mundo.
“Eiji…?”
Chamei antes que pudesse me conter. Mesmo sabendo que não tenho mais esse direito.
Eiji ficou tenso por um momento, depois se virou lentamente para mim.
“Miyuki?”
O rosto dele estava tomado pela confusão… e pelo medo. Aquele sorriso gentil desapareceu. Claro que sim…
“Eiji é só… meu amigo de infância. Mas ele é grudento demais, tipo um stalker, e o pior tipo de namorado abusivo.”
Aquele dia — quando ele descobriu que eu o traía — eu soltei essas palavras horríveis só para ficar do lado do Senpai.
Essas palavras continuam ecoando na minha mente. Palavras imperdoáveis. Palavras que eu nunca poderei retirar. E não foi só isso. Eu ainda deixei Eiji levar a culpa por algo que ele não fez. Tive tantas chances de contar a verdade — e escolhi ficar em silêncio.
Só queria proteger minha imagem de aluna exemplar. E por causa dessa desculpa rasa, eu o marquei para sempre.
Depois de um longo silêncio, ele finalmente falou.
“E aí? Veio aqui rir de mim? Você mesma disse para eu não falar mais com você, lembra?”
A voz dele era mais fria do que eu jamais imaginei ouvir.
E eu entendi. Eu realmente tinha feito algo tão horrível assim.
Mas ser completamente rejeitada por Eiji… doeu muito mais do que eu esperava. Achei que estava preparada para isso, mas essa ilusão desmoronou no momento em que ouvi ele falar.
“V-Você tá enganado! Não é isso! Eu só… eu só queria que as coisas voltassem a ser como antes, nem que fosse um pouco…!”
Nosso laço de amigos de infância estava completamente rompido. A voz desconfiada de Eiji perfurava meu coração.
Até eu sabia o quanto isso soava egoísta. Mas só depois de perdê-lo percebi o quanto ele significava para mim. O Senpai sempre sabia o que dizer, mas para ele eu não passava de alguém conveniente. Deixei-me enganar e agora estou prestes a perder meu namorado, meus amigos, até minha família. Essa sou eu agora. As pessoas me chamavam de aluna exemplar, mas eu só estava cuidando de mim mesma. Claro, eu sabia estudar, mas era uma idiota que nunca entendeu as partes mais importantes de ser humana. De novo e de novo, afundo no auto-ódio.
Mas, no fundo, ainda me agarrava à esperança de que Eiji pudesse me perdoar. Que talvez, só talvez, ele ainda me visse como uma amiga de infância preciosa. Esse pensamento ingênuo foi despedaçado pelas próximas palavras dele.
“O que você está falando?”
Despedaçada pela frieza na voz dele, tremo e abaixo a cabeça.
É um momento tão curto, e mesmo assim despedaça meu coração mais do que qualquer longa sentença de prisão poderia. E ainda assim, tudo o que posso fazer é me agarrar a ele. Desabo em lágrimas, tentando desesperadamente me apoiar nele de novo. Minha razão já não consegue mais conter meu coração em descontrole.
“Me desculpa. Eu sei que o que eu fiz foi horrível. Mas… eu precisava te dizer…”
Ao ouvir meu pedido de desculpas, Eiji soltou um suspiro sem suavizar a expressão.
※
── Perspectiva do Eiji ──
O pedido de desculpas dela me pegou de surpresa — e então percebi algo: eu já tinha superado tudo isso.
Eu já havia aceitado o fato de que alguém que um dia significou tanto para mim, minha amiga de infância, não tinha mais lugar na minha vida. Eu tinha me perguntado, uma ou duas vezes, o que faria se a Miyuki algum dia pedisse desculpas. Mas achava improvável — e, para ser sincero, nem achava que conseguiria perdoá-la de qualquer jeito.
Mas depois que conheci a Ichijou-san, a presença da Miyuki começou a desaparecer do meu coração. Ela já estava se tornando parte do meu passado. Eu nem sentia mais raiva. As palavras dela simplesmente… não me afetavam.
“Eu achei que estaria mais bravo, sabe? Mas acho que o oposto do amor é mesmo a indiferença.”
[Almeranto: Eita lapada seca kkkkkkkkk.]
“O que você tá dizendo, Eiji? Se você me perdoar, eu faço qualquer coisa…”
Ela provavelmente estava tentando se desculpar do jeito dela. Mas isso não chegava até mim.
Não era isso que eu precisava. Nós ficamos juntos por mais de dez anos e, ainda assim, de alguma forma, nunca entendemos o que realmente importava um no outro.
Isso não era uma questão de perdoar ou não.
Eu só… me sentia repulsado pelo pedido de desculpas dela. Percebi que nem queria mais lembrar da Miyuki.
“Não é isso. Eu só não quero que você manche mais as nossas memórias. Sinceramente… acho que é melhor se a gente não tiver mais nada a ver um com o outro a partir de agora. Vai ser melhor para os dois. Eu não quero acabar te odiando mais do que já odeio.”
Fiz questão de rejeitá-la claramente. Acreditei que era a coisa mais sincera que eu podia fazer. Talvez eu não devesse isso a ela — afinal, foi ela quem me traiu — mas se eu não fizesse, sentiria que estaria descendo ao mesmo nível das pessoas que desprezo. Dito isso, também não sentia necessidade de mostrar piedade. Para mim, agora, Miyuki não passava de uma presença desagradável.
Quando ela ouviu minha rejeição, ficou paralisada.
“…Huh?”
Continuei, com um leve toque de culpa surgindo. Talvez ela não esperasse que eu fosse tão longe. Mas o motivo de ter feito isso foi por causa da traição dela. Eu precisava deixar isso claro. Era a única coisa decente que eu podia oferecer, como alguém que estava sendo chamado para recomeçar por uma ex-namorada. E com essas palavras, eu cortava todos os laços com a pior mulher que já conheci — ainda que um dia tenhamos sido próximos por mais de uma década. Eu já tinha tomado minha decisão.
“Eu gosto de outra pessoa agora.”
Com essas curtas palavras de rejeição, me virei e fui embora. Agora que penso nisso, não é tão diferente do dia em que fui traído. Mas eu não bati em ninguém. Eu não traí. Ela foi quem quebrou tudo primeiro. Então acho que… isso é o bastante. Não há necessidade de mais nada.
“Não! Não, Eiji! Eiji…!”
Miyuki gritou atrás de mim, mas eu não tinha mais motivo para responder. Continuei andando, sem olhar para trás.
※
── Perspectiva da Ichijou Ai ──
Comi ramen em um restaurante pela primeira vez na vida.
Claro, isso não significa que eu nunca tivesse comido antes. Depois que saí da casa do meu pai e comecei a viver sozinha, experimentei algumas comidas instantâneas que sempre tive curiosidade.
Lámen instantâneo e cup noodles eram gostosos — mas enjoei rápido. Logo voltei às refeições equilibradas que sempre aprendi a preparar. Eu sempre gostei de cozinhar, e me divertia preparando o jantar com a ajuda da empregada.
Mesmo assim, eu sempre quis experimentar ramen em um restaurante de verdade. Mas para uma garota ir sozinha... parecia um obstáculo alto demais.
Por isso fiquei tão feliz que o Senpai se lembrou daquele pequeno comentário que fiz. E especialmente nos fins de semana, quando a empregada está de folga, isso significava que eu não precisava comer outro jantar solitário. Eu estava realmente grata.
Ele se lembrou de uma conversa casual e me chamou por causa disso. Que garota não se sentiria feliz quando alguém de quem gosta a trata com tanta gentileza?
Nós realmente só jantamos e depois nos separamos — mas foi um momento tão divertido. Foi o bastante para dissipar o peso que ficou depois de eu ter lido aquele relatório mais cedo.
“Ah, é mesmo. Acabou meu chá.”
Percebi que tinha acabado o chá que sempre bebo enquanto estudo.
Não consigo me concentrar sem ele, então saí do apartamento, indo para o supermercado ali perto.
O Senpai talvez ainda estivesse por perto. Mesmo que a gente tivesse acabado de se despedir, me peguei procurando por ele de novo.
Que patética. E mesmo sabendo disso, meu coração disparava só de pensar nele.
Depois de uma curta caminhada, vi as costas do Senpai. Talvez… só talvez, ele fosse fazer compras comigo.
Podia ser um incômodo, mas pensei em tentar chamá-lo mesmo assim.
“Eiji–…”
Justo quando comecei a chamá-lo, percebi que havia outra pessoa ao lado dele.
Era Amada Miyuki.
“...Por quê...?”
Ela estava à espreita? Estava seguindo ele?
Meu humor leve ficou instantaneamente frio.
Não. É cedo demais. O Eiji-senpai só agora começou a sorrir de novo depois de ter se machucado tanto. É cedo demais para ele estar perto da Amada-san.
Afinal, ele acabou de ser traído pela amiga de infância com quem passou dez anos. Mesmo que ele esteja agindo como se não ligasse, não passou tempo suficiente…
E pela conversa nossa de antes, estava óbvio que a Amada-san ainda tem sentimentos por ele. Existe até a chance de que ela tente se aproveitar da bondade dele para voltar…
Foi então que percebi o que realmente estava me deixando em pânico.
Eu estava com medo de perdê-lo para outra pessoa. O medo de que Aono Eiji pudesse não me escolher me abalava até o fundo da alma. Mas a verdade é que nem estamos numa posição de sermos possessivos um com o outro.
Esse medo me dominou — e mesmo sabendo que era errado, não pude evitar me esconder onde eu pudesse ouvir um pouco da conversa deles.
“V-Você entendeu errado! Não é isso! Eu só… só queria que as coisas voltassem a ser como eram antes, nem que fosse um pouco…!”
“O que você está falando?”
“Desculpa. Eu sei que o que eu fiz foi horrível. Mas… eu precisava te contar...”
A primeira coisa que ouvi claramente foi a desculpa da Amada-san. Quase explodi de raiva — Como ela ousa dizer algo assim? Ela não tem esse direito. Nenhum.
Em resposta, o Senpai congelou por um momento antes de responder com uma expressão vazia.
“Eu achei que estaria mais bravo, sabe? Mas talvez o oposto do amor seja mesmo a indiferença.”
“O que você está dizendo, Eiji? Se você me perdoar, eu faço qualquer coisa...!”
O oposto do amor é a indiferença. Quem não ficaria arrasado ao ouvir isso de alguém que ama? Era uma rejeição cruel. E a Amada-san, desesperada, só disse as coisas erradas.
Para o gentil Senpai ouvir aquilo — estava claro no rosto dele que estava decepcionado. Nenhuma surpresa. Não era isso que ele queria ouvir.
A voz dele, as palavras… até o tom tinham um frio cortante, como se ele a rejeitasse desde o fundo do coração.
“Não é isso. Eu só não quero que você manche mais as nossas memórias. Sinceramente… acho que é melhor se a gente não tiver mais nada a ver um com o outro a partir de agora. Vai ser melhor pros dois. Eu não quero acabar te odiando mais do que já odeio.”
Ele realmente é uma pessoa gentil. Mesmo depois do que ela fez, ele se recusa a negar as memórias que eles compartilharam.
Se fosse eu no lugar dele, talvez tivesse descontado minha raiva. Mas ele não. Ele se segurou, tentando não deixar as emoções tomarem conta. É o quanto ela significou para ele um dia.
E então, ele deu a rejeição final, inconfundível. Ele, que nunca quer ferir os outros, não hesitou.
“Eu gosto de outra pessoa agora.”
No momento em que ouvi essas palavras, meu coração começou a disparar. Talvez eu estivesse me precipitando. Mas… se essa pessoa fosse eu, como eu seria feliz.
“É… a Ichijou-san?”
Amada-san, depois de sussurrar “Não” várias vezes, de repente disse meu nome. Senti como se estivesse prestes a ouvir algo que não deveria.
Senpai nem sequer olhou para trás quando respondeu.
“Acho que não devo dizer algo assim para você, Miyuki, antes de falar para a própria pessoa. Então… não posso responder.”
Com isso, ele deixou a Amada-san chorando na rua e foi embora.
※
── Perspectiva do Eiji ──
Depois de me despedir da Miyuki, segui em frente. Fiquei surpreso com o quão pouco aquilo realmente doeu.
Claro, não é como se eu tivesse saído ileso — mas doeu bem menos do que eu imaginava.
Bem, ficamos juntos por mais de dez anos. Muitas memórias vieram disso. Mas agora, são só memórias. Coisas do passado.
E com tudo isso, percebi que ganhei algo muito mais valioso do que o que perdi.
Uma kouhai que me protegeu como um anjo, mesmo que isso significasse se colocar em desvantagem.
Um melhor amigo que me mostrou verdadeira sinceridade e confiança.
Uma mãe e um irmão que me amam, não importa que tipo de pessoa eu seja.
Tio Minami, que carrega a vontade do meu pai.
E meus professores, que tiraram um tempo de suas agendas ocupadas para me ajudar e garantir que eu não fosse tratado injustamente.
Mesmo tendo perdido alguém que um dia foi tão importante, ainda tenho tantas pessoas preciosas ao meu redor. Provavelmente é por isso que não sinto nenhuma sensação de perda.
“Por todas as pessoas que me apoiaram, eu preciso encontrar a felicidade.”
Com essa resolução no coração, continuei andando — quando, de repente, ouvi alguém me chamando por trás.
“Senpai!”
Virei-me — e lá estava ela, Ichijou-san, sorrindo alegremente, mesmo que tivéssemos nos despedido há pouco tempo.
“O que foi?”
Parecia um sonho. A pessoa que eu mais queria ver estava bem na minha frente.
“Na verdade, eu esqueci de comprar chá. Eu estava indo para o supermercado ali e acabei te vendo, Senpai, então te chamei.”
Ela parecia um pouco envergonhada, mexendo-se levemente. Suas bochechas estavam levemente coradas.
“Entendi. Mas já está ficando tarde — você não deveria andar por aí sozinha. Eu vou com você.”
“Obrigada. Mas... não vai ser um incômodo para você?”
“Não. Na verdade... eu meio que queria passar um pouco mais de tempo com você hoje.”
No momento em que disse isso, percebi que tinha escapado. Estou sendo honesto demais sobre como me sinto...
Ela deu um sorriso tímido.
“Obrigada. Você é sempre tão gentil, Senpai.”
“Bem, você é uma garota, afinal. E... ah, deixa pra lá.”
Ela é linda, qualquer um pode ver isso. Claro que eu me preocupo com ela. Mas eu não podia dizer isso tão diretamente.
“Fufu, você está preocupado comigo? Obrigada. Nesse caso… talvez eu vá ser um pouquinho egoísta hoje à noite.”
O sorriso inocente da Ichijou-san parecia mais radiante do que nunca.
“Eu estou muito feliz agora.”
“Hm? Por quê?”
“Bem, é que... me deixa feliz quando você depende de mim assim. Na escola, você é o tipo de pessoa em quem todos dependem, não o contrário.”
Ver esse outro lado dela, um que ela não mostra na escola… isso me deixa feliz.
Me faz sentir que temos algo especial.
“Eu só ajo assim com você, sabia? Porque você é especial...”
Havia um tom brincalhão na voz dela, e eu não pude evitar sorrir mais do que o normal.
“Isso me deixa feliz. Se eu sou especial o bastante para você se apoiar, significa que você confia em mim.”
Respondi mais brincalhão do que de costume, e ela de repente corou profundamente, respirando fundo para se acalmar. Então ela também faz esse tipo de expressão, hein?
“Você sempre diz essas coisas tão sério... Você é um bobo, Senpai.”
Ela disse de um jeito tão fofo que, de repente, fiquei consciente do quanto eu estava feliz naquele momento.
“Vamos.”
“Sim. Conto com você.”
Começamos a caminhar — como se estivéssemos deixando o passado para trás. Dessa vez, foi ela quem estendeu a mão e segurou a minha.
※
── Perspectiva da Ichijou Ai ──
Nós começamos a andar.
Nós dois entendíamos que aquela caminhada marcava um rompimento definitivo com o passado.
Eu já tinha ouvido palavras que soavam como uma confissão vinda dele — mais de uma vez. Ele sempre me olhava nos olhos e falava sem uma única mentira.
Todos os homens que haviam se confessado para mim antes nunca falaram de mim com suas próprias palavras. Eles só diziam coisas como “Você é bonita” ou “Você é popular” — apenas repetindo o que os outros diziam.
Por isso eu tinha decidido viver sozinha.
Nunca imaginei que alguém andaria ao meu lado assim, me enxergando de verdade como eu sou.
Assim como antes — ele percebeu quando eu tentei me apoiar nele e me envolveu em sua gentileza.
Alguém como eu nunca deveria estar ao lado de alguém tão gentil. Foi só coincidência em cima de coincidência...
Mas se ele está me deixando tão feliz assim, então eu quero fazê-lo feliz também.
Quero que ele pense que fez a escolha certa ao me escolher…
※
── Perspectiva do Eiji ──
De volta para casa, abri casualmente o site de web novels no qual eu havia me inscrito há algum tempo. Era uma grande plataforma que sempre me deixou curioso, mas eu nunca tinha passado da fase de registro.
Lembrei-me das palavras que Ichijou-san disse ontem. Eu ainda não sabia se tinha algum talento de verdade, mas com o clube de literatura acabado, aquele lugar se tornara minha única válvula de expressão criativa.
Por um tempo, estive abalado demais para escrever qualquer coisa. Mas graças a ela, estava lentamente recuperando a motivação. Copiei o manuscrito em que estava trabalhando para o jornal do clube e colei no formulário de submissão.
Depois de preencher as informações obrigatórias, finalmente cliquei no botão “Enviar” — algo que nunca tive coragem de fazer antes. Normalmente, eu teria sido consumido pela ansiedade. A ideia de deixar estranhos lerem meu trabalho era aterrorizante.
Seria mentira dizer que eu não tinha interesse em novels online. Mas compartilhar seu trabalho em um site com um público tão amplo exigia coragem — coragem que eu não tinha.
Mas desta vez, o medo de críticas duras não pesava tanto.
“Bem, não é como se eu fosse receber o tipo de insulto que levei na escola.”
Eu realmente havia me tornado mais forte. Toda aquela experiência me deu um tipo estranho de coragem.
Atualizei a página sem motivo algum — e alguns minutos depois, a contagem de leitores subiu.
“Uau, dez pessoas já leram.”
Ainda não havia comentários, mas só de saber que alguém tinha lido minha história me deixou genuinamente feliz. Toc toc — houve uma batida suave na porta.
“Eiji, posso entrar um pouquinho?”
Era a voz da minha mãe.
“Pode, está aberta.”
Quando respondi, ela entrou com um sorriso ainda mais gentil do que o de costume.
“Na verdade, ontem eu fui à delegacia com o Takayanagi-sensei.”
“Huh? A polícia?”
Fiquei um pouco surpreso. Mas assim que ela mencionou o Sensei, entendi rapidamente.
“Sim, foi sobre o incidente em que você foi agredido. Acontece que alguém gravou um vídeo daquilo, e seu professor conseguiu encontrar. Então fomos lá para confirmar tudo. Me desculpe por não ter percebido o que você estava passando. Deve ter doído muito.”
Então foi isso que aconteceu. Ela me puxou gentilmente para um abraço. É verdade... não é só a Ichijou-san. Eu tenho família que me entende também. Tantas pessoas estão do meu lado. Eu não estou mais sozinho. Se ao menos eu tivesse falado com alguém antes de subir naquele telhado — se eu não a tivesse encontrado naquela hora, teria acabado magoando todo mundo.
Eu realmente fui um idiota.
“Eu estou bem agora. É tudo graças a todos que estiveram comigo.”
“Sim. Nós realmente somos abençoados com boas pessoas. Seu pai, lá do céu, também está nos protegendo. Mais cedo, eu fiz uma denúncia formal à polícia — contra aquele veterano do terceiro ano, Kondo.”
Ouvir isso me encheu de um turbilhão de alívio e ansiedade.
“Entendo...”
Se eles tinham gravações daquele dia, ele não teria como inventar desculpas. Kondo com certeza seria arruinado. Eu ainda sentia um pouco de medo de ele tentar se vingar, mas me acalmei — eu não estou mais sozinho. Eu vou ficar bem.
“E sabe de uma coisa, Eiji? Ouvi algo incrível da polícia. Eles me contaram que você ajudou aquele homem que desmaiou ontem — junto com a Ai-chan! Fiquei tão surpresa. Você é incrível. Tenho tanto orgulho de ter você como filho.”
Aquelas palavras me atingiram de um jeito tão forte que eu quase desabei. Eu queria chorar feito uma criança.
“Por quê...?”
Ela sabia exatamente o que eu estava sentindo, mesmo sem que eu dissesse nada.
“A polícia reconheceu você. Eles perceberam que o garoto que foi agredido e o de ontem eram a mesma pessoa. E o corpo de bombeiros vai entregar uma condecoração para você e para a Ai-chan. Um representante vai visitar sua escola amanhã.”
“E o homem que desmaiou? Ele está bem?”
Sem querer, falei como uma criança.
“Ele está bem. Disseram que sua resposta rápida salvou a vida dele. Ele quer agradecer pessoalmente a vocês dois.”
“Que bom...”
Isso estava na minha cabeça o tempo todo. Eu procurei online e nas redes sociais algumas vezes, mas não encontrei nenhuma atualização.
“Você é realmente incrível, Eiji. Seu pai estaria tão orgulhoso. E eu vou te proteger no lugar dele — a partir de agora.”
“Certo...”
Pela primeira vez, senti que talvez tivesse me aproximado um pouco do meu pai — o homem que eu sempre admirei de longe.
Envolto em um sentimento esmagador de alívio, deixei-me levar por ele, como uma criança.
No dia seguinte—
Assim que a notícia se espalhou, a atmosfera na escola mudou drasticamente.
Ao longo da semana seguinte, foi como se o jogo tivesse virado — e Kondo começou a ser encurralado.
Foi então que percebi... ele já estava trilhando o caminho da própria ruína desde aquele dia.
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