Volume 2

Capítulo 2: O Colapso do Lado Ofensor

── 7 de setembro, manhã – Perspectiva de um Calouro do Clube de Futebol ──

Como sempre, terminamos o treino e voltamos para a sala do clube. Estávamos exaustos, claro, mas com um grande torneio se aproximando, agora era a hora de aguentar firme.

Nosso clube de futebol era fraco até Kondo-senpai entrar. Mas graças àquele gênio de nível quase profissional, o nível da nossa escola disparou. No ano passado, até chegamos ao torneio nacional. Por aqui, ele é um herói — o cara que levou um time desconhecido ao cenário nacional.

Muitos de nós, do segundo ano, entramos nesta escola porque o admirávamos. Éramos todos jogadores que já se destacavam no ensino fundamental.

Comparado ao ano passado, nosso elenco ficou muito mais forte. Deveríamos ir ainda melhor no nacional desta vez.

Somos completamente devotos ao Kondo-senpai.

Por isso... faríamos qualquer coisa por ele.

Até mesmo o bullying que fizemos com o Aono — foi tudo pelo bem do Senpai.

Se isso deixava Kondo-senpai feliz, faríamos o que fosse preciso.

“Kondo-senpai é realmente incrível, né? Mal treina e ainda assim joga daquele jeito.”

Aida disse, praticamente vibrando de empolgação. Aquele cara era ainda mais obcecado pelo Senpai do que eu. A essa altura, ele era praticamente um fã de carteirinha.

“Totalmente. Aquele toque de bola suave dele, cara...”

“Ele já está jogando em nível de J.League, sério. Nunca vi um gênio como ele. O Senpai é um tesouro nacional para o futebol japonês. Sem dúvidas!”

Sorri de lado com o fervor do Aida, o que ajudou a afastar um pouco do meu próprio desconforto.

Eu tinha conseguido enganar no meu interrogatório com o Takayanagi, mas aquilo me deixou um pouco abalado. Estava percebendo o quanto eu era covarde.

Aida, por outro lado, acreditava que Kondo-senpai não podia errar. Se eu expressasse alguma dúvida, ele só riria. Diria algo como: “Não seja idiota. Não tem como o Senpai ter feito besteira.”

“Ei, tinha um envelope estranho do lado de fora da sala do clube. Alguém deixou cair?”

O Mitsuda-senpai, do terceiro ano, chamou alto a nossa atenção.

“O que é? Não tem nome nem nada. Acho melhor a gente abrir, né?”

Respondi, e Senpai concordou. “É, faz sentido”, ele disse, rasgando o envelope.

“O que... que diabos é isso?”

O rosto dele ficou vermelho — e logo depois perdeu toda a cor.

As mãos tremiam, e ele deixou cair o envelope e as fotos que estavam dentro.

Pegamos as fotos e olhamos juntos.

Não devíamos ter feito isso. Teria sido melhor não saber. Não queríamos ver o que estava naquelas imagens.

A primeira foto mostrava o Senpai entrando num motel com a Amada Miyuki, tirada de um ângulo escondido. A proximidade dos dois era óbvia. Aida e eu ficamos visivelmente abalados.

Lembrei do que Senpai nos disse — que Amada tinha vindo pedir ajuda porque o Aono era abusivo e a estava perseguindo. Não sabíamos quando essa foto tinha sido tirada, mas... parecia mesmo que eles estavam namorando.

Será que o Aono realmente estava assediando a Amada?

Olhando para essa foto, parecia mais que...

Senpai estava tendo um caso com a Amada desde o início.

“Isso deve ser um engano. Não tem como isso ser real.”

Aida tremia ao meu lado. A imagem perfeita que ele tinha do Senpai havia se despedaçado, e dava para ver isso. Mas pensando logicamente — se o Senpai mentiu para nós, fizemos algo imperdoável.

“Além disso, isso não é considerado conduta imprópria? Alunos de menor nem podem entrar em motels, né? Se isso vier a público, será que a gente ainda vai poder competir? Mesmo que o time ainda entre, conseguiríamos vencer sem o Kondo?”

Um veterano do terceiro ano soltou um grito de pânico. Para eles, esse torneio era crucial — eles contavam com isso para as recomendações da faculdade.

“Quem diabos tirou essas fotos? Será que foi alguém do clube? Caso contrário, não tem como esse envelope ter acabado do lado de fora da nossa sala.”

Mitsuda-senpai disse, com a voz falhando. Todo mundo começou a olhar um para o outro, desconfiado.

Será que um de nós era o traidor? O culpado? De repente, todos pareciam inimigos.

“Mostra logo a próxima foto.”

Eu tinha outra foto em mãos. Virei-a — e o que vi era ainda pior que a primeira.

Amada, sendo segurada por um policial. Kondo-senpai, imobilizado no chão por outro oficial, tentando escapar.

“Não pode ser... isso é um desastre. O craque do time, pego pela polícia? Nossas recomendações para a faculdade já eram — pior ainda, talvez o clube seja dissolvido! O que diabos a gente vai fazer então?! Eu não quero isso!”

[Almeranto: Agora o circo vai pegar fogo pra vocês.]

Mitsuda-senpai desabou em lágrimas histéricas. Dissolver o clube? Se isso acontecesse, nossos futuros estariam arruinados. Mas mais importante — por que o Senpai estava sendo preso?

Será que éramos cúmplices de um crime?

Será que o Aono era inocente...?

Se for esse o caso, então somos tão culpados quanto.

Eu quase podia ouvir o som dos nossos futuros brilhantes desmoronando.

“Quem fez isso... Quem tirou essas malditas fotos — apareça agora mesmo! Eu juro que te mato!”

“Foi você, não foi? Você sempre reclamava do Senpai, não era?!”

“De que adiantou a gente se esforçar tanto por três anos?!”

A paranoia se espalhou como fogo selvagem.

Num instante, a sala do clube virou um verdadeiro inferno. Todos começaram a desconfiar uns dos outros, acusando e apontando dedos — um inferno de suspeita e traição.

E nesse inferno entrou o antigo “rei”.

 

 

 ── Na mesma manhã Perspectiva do Kondo  ──

Depois de toda aquela confusão, me mandaram para casa da delegacia. Meu velho ficou lá pra resolver as coisas com a Miyuki. Ele achou que ia complicar demais se eu continuasse por perto, então mandou eu voltar. Dormi pesado e acordei no dia da partida de treino.

Mesmo assim, apesar de ter descarregado um pouco... alguma coisa nisso tudo deixou um gosto ruim na boca.

Enfim, fui até a sala do clube. Um time mediano de outra província vinha jogar contra a gente dessa vez. Eu ia esmagá-los e depois...

Me divertir com a “Garota Conveniente nº 1”, que disse que viria torcer por mim.

“Ahh~ A vida é doce.”

Bom, hora de aliviar o estresse brincando com os fracotes. Ainda tô meio sonolento, mas tudo bem.

Abri a porta da sala do clube, animado — e encontrei quase todo mundo já lá dentro.

Mas o que me recebeu foram olhares frios, estranhos, que eu nunca tinha visto antes.

“E-ei… o que há com vocês?”

Não tinha como o time olhar assim para o próprio artilheiro. Tinha algo muito errado.

“Kondo, seu desgraçado!!”

Watanabe — o capitão do time — me agarrou pela gola e me jogou contra os armários.

“Que merda, cara! Isso dói! Qual é o teu problema?!”

Reclamei, preso contra os armários. Não me importava se era o Watanabe — tem limites que não se cruzam.

“Cala a boca! Que diabos você fez... justo agora?!”

“Hã?”

Eu não fazia ideia do que ele estava falando. Esses caras tinham enlouquecido de vez?

“Não se faz de idiota. Olha essa foto!”

Ele enfiou a imagem na minha cara.

Era uma foto minha e da Miyuki entrando num motel — nítida como o dia. A próxima mostrava eu sendo contido pela polícia.

O quê... que merda...?

Quem tirou isso? Quem diabos...?

Um traidor. Tinha que ser. Meu sangue gelou.

Quanto será que já tinha sido exposto? Os professores? Será que...?

Meu velho devia ter limpado tudo isso — então como alguém conseguiu uma foto minha quase sendo detido? Isso é ruim. Muito ruim.

Minha recomendação... meu futuro glorioso—tudo isso está em risco.

“Eu não sei de nada disso! Não fui eu!”

Mentira. Pura baboseira saindo da minha boca. Eu sabia disso. Mas não conseguia parar.

“Para de fingir! Tá na cara que foi você! Chega!”

Ainda me segurando pela gola, Watanabe me jogou de novo contra os armários. Uma dor surda se espalhou pelas minhas costas.

Humilhação. Humilhação. Humilhação.

Eu sou o rei deste clube. Se o rei se machucar — como é que vocês vão sobreviver? O artilheiro e o rei — vocês não seriam nada sem mim!

“Fui eu que tornei possível o futuro de vocês!!”

“Cala a boca!”

“Por sua culpa, a gente pode perder o torneio final! Eu estava contando com a recomendação esportiva — não tenho tempo de começar a estudar para a prova normal agora! E se a gente não puder competir por causa da sua idiotice?! E se o clube for dissolvido?! Minha vida acabou! Me devolve minha juventude — devolve a juventude de todos nós!!”

“Já cansei desse chororô. Vocês se agarram em mim como rémoras e ficam de blá blá blá. Vocês chegaram até aqui por minha causa.”

Empurrei Watanabe com toda a força. Eu não ia me acalmar até bater em alguém.

“Seu desgraçado!”

Os olhos de Watanabe ardiam de fúria. E eu encarei de volta.

“Presta atenção, todos vocês. A escola não pode me punir. Isso não passa de ‘conduta inadequada’. Um monte de colegiais faz isso. No pior dos casos, eu levo uma suspensão curta. Não vai afetar o clube.”

“E não se esqueçam — meu pai é vereador. Ele é da elite. Um escândalo desses? Ele varre para debaixo do tapete fácil. Eu não sou como vocês. Não me misturem com seus valores medíocres.”

“O que você disse!?”

“Não tem chance da escola me expulsar também. Imagina o escândalo se souberem que expulsaram a estrela do futebol colegial. Ia arruinar a reputação deles. Você acha que aqueles professores velhos e conservadores iam arriscar isso?”

Falei tudo num fôlego só.

“É verdade!”

Um dos calouros disse. Isso mesmo. Claro que é. Saboreei o apoio. Alguns até bateram palmas.

É... assim que tem que ser.

Agora eu estava me sentindo melhor.

“Isso mesmo. Eu sou invencível. Vocês, vermes, nunca recebem elogios como eu!”

É isso mesmo — eu sou especial. Meu pai vai resolver. Meu talento vai resolver.

Ninguém pode me derrubar!

“Kondo!!”

Mesmo quando Watanabe tentou avançar de novo, eu o cortei e declarei—

“Me respondam uma coisa. Vocês são meus capachos, não são? O fato de terem ajudado a atormentar o Aono não vai sumir do nada. O que vocês acham que vai acontecer se isso vier à tona, hein? E se eu não estiver por perto, vocês acham mesmo que conseguem ganhar o torneio? Hmm? Acham que conseguem vencer sem mim? Acham que ainda vão ganhar suas recomendações sem mim?”

Quando provoquei, Watanabe tremeu de raiva, sem saber o que dizer. Parece que meu veneno começou a fazer efeito. Isso mesmo — zé-ninguéns como vocês, nascidos sem talento, deviam agradecer por serem governados por alguém como eu. Entenderam agora? Vai, fala alguma bobagem furiosa e aceita. Me aceita. Vira meu escravo.

“Desgraçado...”

Watanabe rosnou entre os dentes, tentando disfarçar. Mas você acha mesmo que pode se esconder assim? Ele chutou uma lixeira com força total, espalhando lixo para todo lado.

Lindo. Isso só prova o quanto está funcionando. Depois desse jogo, vou fazer ele se ajoelhar e implorar meu perdão. É a única forma de eu me sentir satisfeito!

“Contanto que tenham entendido. Isso é o que importa. Vocês entenderam agora, não entenderam? Vocês não vencem sem mim. Então calem a boca e aceitem o lugar de vocês, seus perdedores patéticos!”

Ri dos membros do clube enquanto começava a trocar de roupa.

Eu sou o rei aqui. Entenderam agora, seus camponeses inúteis?

Eu tenho o poder de vida e morte sobre esses caras. Isso mesmo — eles não passam de escravos.

Não importa como eu os trato, sempre vai ser justificado. Na verdade, eles deviam ser gratos por isso. Essa é a verdade — inegável.

“Se a gente perder por sua causa de novo, é bom que você assuma a responsabilidade.”

Watanabe resmungou, fraco. É, é… escutem o escravo tentando retrucar. Ignorei ele com uma risada.

“Então é bom estarem preparados para chorar e me pedir desculpas!”

Lancei um olhar ameaçador. Alguém na minha posição não pode se dar ao luxo de ser desrespeitado.

Tá tudo bem. Eu tô bem. Afinal, eu sou um dos escolhidos!

Todo esse estresse acumulado — vou descontar tudo nesse jogo-treino. Vou provar o quanto eu realmente valho.

Tremendo, fui em direção ao campo.

Está tudo bem. É só adrenalina. Só isso.

 

 

 ──  No mesmo dia – Perspectiva do Endou  ──

De uma sala de aula vazia no prédio da escola, eu observava o jogo-treino do time de futebol.

Como a nossa escola é voltada para o lado acadêmico, eles deixam as salas abertas nos fins de semana para autoestudo.

Bom, a maioria dos alunos estuda em cursinhos de qualquer forma, então dificilmente alguém aparece nas salas do terceiro ano. Isso as torna perfeitas para vigilância.

Eu trouxe binóculos e conferi o time de futebol. Como esperado, eles não estavam mais passando a bola para o Kondo. O movimento geral do time tinha caído. A foto de ontem deve ter causado um belo estrago.

Frustrado porque as coisas não estavam saindo do jeito dele, Kondo ficava cada vez mais isolado, levando gol atrás de gol de adversários mais fracos.

Foi uma derrota absolutamente deliciosa. Se o time todo estava envolvido no bullying, então bem feito para eles.

Avistei a ex-namorada dele torcendo perto do campo. Antiga amiga de infância, agora não restava nenhum traço do passado nela — apenas uma versão totalmente degenerada do que costumava ser. Era o suficiente para me enojar.

Parece que meu plano está funcionando bem. Com o Kondo em frangalhos, ele provavelmente vai descontar a frustração nela. É patético como ela se tornou o brinquedinho dele e ainda assim continua agarrada a ele.

[Almeranto: Na verdade, é bem triste.]

Se tudo correr como planejado, vou testemunhar algo divertido de novo.

E quando eu tiver isso, vou passar para a Amada. Assim, o Kondo será completamente destruído.

Ele vai perder os dois maiores pilares que o sustentam — o time de futebol e as garotas.

Comparado ao Aono, que perdeu tudo e ainda acabou numa situação pior, essa é honestamente uma vingança suave.

Para ser sincero, vai ser difícil conseguir uma prova concreta de que o Kondo era o líder do bullying. O time inteiro provavelmente está envolvido, então, a menos que algo grande aconteça, eles nunca vão confessar — ocupados demais tentando se proteger.

É por isso que o objetivo dessa vez é semear a dúvida entre eles, balançá-los e empurrá-los para a autodestruição.

Eu já vazei algumas informações para a escola também. Isso vai colocá-los sob ainda mais pressão.

E dessa pressão, talvez alguém quebre. Esse é o cenário ideal.

Quando a paranoia se instalar, alguém inevitavelmente vai trair os outros.

E quando o Kondo for traído pelo próprio time, ele vai ser socialmente obliterado.

“Me deem o espetáculo da minha vida, seus lixos inúteis.”

Quase todo mundo lá embaixo é alvo da minha vingança.

 

 

── No campo – Perspectiva do Kondo ──

“O que diabos é isso...”

O placar marcava 1–4.

A gente devia estar esmagando eles. Sem dúvida nenhuma.

Por quê? Por quê? Por quê!?

Estamos jogando contra um time fraco, e mesmo assim levamos quatro gols e já estamos nos acréscimos. Normalmente, o banco estaria lotado de elogios para mim, mas agora estava completamente silencioso — além do luto, além da morte. Era o nada.

“Eu não vou aceitar essa merda!”

Meu último chute longo da partida passou bem acima da trave.

E com uma frieza cruel, o apito soou, encerrando o jogo.

“Depois de toda aquela arrogância, você termina com um foguete para a estratosfera? Onde diabos você estava mirando?”

Ouvi a voz zombeteira do Watanabe.

“O que você disse!?”

Quando lancei um olhar furioso pra ele...

“Eu disse: como esperado da nossa nobre elite! Seus padrões são altos demais — nós, plebeus, nunca poderíamos alcançar.”

Watanabe me provocou sem um pingo de medo, as palavras carregadas de malícia.

Enfurecido, me lancei para  socá-lo, mas meus companheiros de time correram para me segurar. O time adversário só conseguia assistir em silêncio, espantado.

Nosso time tinha se despedaçado completamente — isso não era nada menos que o prelúdio da ruína.

Tomado pela frustração, descarreguei minha raiva em todo mundo ao redor.

“Mas que diabos! Por quê!? Por que caralho vocês não passaram a bola pra mim!?”

Irritados depois da derrota humilhante, voltamos arrastados para o vestiário. Eu chutei a lixeira com força. Já perdi a conta de quantas vezes fiz isso hoje. A porcaria já estava toda amassada, irreconhecível.

“Ei, Mitsuda! Por que diabos você não passou para mim!?”

Descarreguei minha fúria no Mitsuda, outro meio-campista — e um dos meus capachos.

“Você estava sendo marcado em cima, Kondo. Não tinha espaço para passe...”

“Seu idiota careca, imbecil, lesma inútil. Então você devia ter corrido feito um desgraçado para criar um espaço pro passe! Faz o seu maldito trabalho, seu lixo inútil!”

“ D-Desculpa...”

Patético. Vocês são todos tão inúteis. Não é óbvio que o trabalho de vocês é se matarem para mim? Como podem não entender algo tão simples?

Esse time existe para me fazer o rei. Vocês, soldados de baixo nível, deviam se sacrificar para que eu brilhe. Se não me libertarem da marcação dos zagueiros, a gente não vai ganhar, e o time vai desmoronar.

Como podem não entender algo tão básico!?

Se eu me mexer demais, vou ficar cansado demais para jogar no segundo tempo. Por que vocês não conseguem perceber isso!?

“Mas mesmo que você diga isso, Kondo-senpai, os adversários de hoje te leram completamente. Toda vez que você pegava a bola, perdia. E nem tentou cobrir quando isso acontecia...”

Um dos veteranos do segundo ano resmungou baixinho. Meu sangue ferveu e eu esmaguei o punho contra o armário.

“Quem disse isso!? Quem diabos acabou de me insultar!? Foi um de vocês, do segundo ano!?”

Nenhum deles sustentou meu olhar.

“Droga. Isso tudo é culpa dos atacantes. Inúteis. O único ponto que conseguimos foi do pênalti que EU conquistei. Não é à toa que perdemos. E vocês acham que vão conseguir recomendação esportiva desse jeito? Watanabe, não brinque comigo. Vocês são todos figurantes. Só servem para serem usados por mim.”

No fim das contas, Watanabe não conseguiu fazer porcaria nenhuma. Apesar de toda a besteira que falou. Isso foi até engraçado. Esses caras perdem a bola na mesma hora. Não conseguem atacar sem passar para mim. Por isso o sistema inteiro desmorona!

E mesmo assim, ainda têm a audácia de me retrucar?

“Qual é o problema? Digam alguma coisa. Vocês são meus peixes-rémora. Ajam como tal. Só fiquem grudados no rei e calem a boca. Nem isso conseguem fazer, seus lixos inúteis!?”

Ah, isso fez bem. Mesmo que eu seja só o capitão, ninguém pode desafiar o rei. É assim que deve ser. Agora entenderam, não é? O quão importante eu sou!!

Tentando tomar meu lugar por causa de algum escândalo idiota com uma garota? Nem em um milhão de anos!!

“Cala a boca.”

Watanabe me encarou, trêmulo, mas desafiador.

“Hã?”

“Cala essa boca imunda, seu lixo. Eu cansei de você.”

Furioso, Watanabe enfiou o punho direto no meu plexo solar.

Foi tão repentino que eu nem consegui reagir. Tomei o soco em cheio.

Sem tempo de me proteger, o choque e a dor rasgaram meu corpo, e eu desabei, segurando o estômago. Uma onda de náusea me atingiu em cheio, e eu soltei um som patético. Por que diabos alguém como eu — um rei — tem que levar um soco desse cara? Não faz sentido nenhum.

“Ugh...”

O golpe limpo incendiou meu esôfago. A dor era tão intensa que eu nem conseguia respirar.

Pensando bem, eu já soquei muita gente antes... mas nunca tinha levado um soco eu mesmo. Dói assim tanto...?

De algum modo segurei o vômito, mas quando levantei o olhar e vi Watanabe me encarando, ofegante, senti medo.

“E-ei. Vocês viram isso, né? Ele me atacou! Vou contar pro treinador. Ele está acabado.”

Mas ninguém do time me apoiou. Na verdade, todos me olhavam com olhos frios e indiferentes.

Por quê...? Eu sou o rei, não sou? Sem mim, vocês nunca vão chegar ao Nacional. Vocês estão mesmo bem com isso? Se a gente não for pro Nacional, podem dar adeus às recomendações e às vagas nas faculdades. Se forem se desculpar, é agora.

Sou generoso, então vou perdoar vocês. Basta condenarem o Watanabe!

“E-ei. Vocês viram, não viram? O capitão usou violência contra o artilheiro! Bem aqui, na frente de todo mundo!”

Ainda assim, ninguém disse uma palavra.

Em vez disso, o time inteiro soltou uma risada seca — me zombando.

Watanabe especialmente me lançou um sorriso frio e disse:

“O quê, tropeçou e bateu a cabeça ou algo assim? Você só escorregou. Não foi, pessoal?”

Em resposta, o time assentiu lentamente.

Não me zombem. Eu sou a única esperança de vocês.

Fui eu quem carregou esse time patético. Sem mim, vocês vão ser humilhados nas eliminatórias regionais. Vocês tiveram vida fácil até agora, e vão mesmo jogar tudo fora?

Mas eles realmente não entenderam. Os plebeus ousaram se rebelar contra o rei.

“É isso mesmo.”

“O Senpai só tropeçou de frustração.”

“Se todo mundo diz isso, então deve ser verdade.”

Os olhos deles estavam cheios de malícia enquanto me encaravam. Alguns dos novatos até riam abafado.

Esses merdinhas…

“Então é assim. Estão todos querendo brigar comigo agora, hein? Muito bem. Vocês vão se arrepender — cada um de vocês.”

Tenho podres de todo mundo aqui. Tudo bem. Depois eu chantageio e eles vão voltar rastejando rapidinho. Só preciso esperar esfriar a cabeça.

“Presta atenção, imperador nu. A gente te seguia porque você sabia vencer. Mas se não consegue mais nos levar à vitória, então não serve para nada. Enfia isso nessa cabeça oca, seu idiota!”

Watanabe gritou para mim, mas eu o ignorei. Isso passava a mensagem melhor.

Furioso, saí andando para fora. Ninguém me seguiu. Droga. Pensei em ligar para a Miyuki, mas depois de ontem, seria uma péssima ideia.

Tudo bem. A Número Um serve. Ela disse que viria torcer hoje, não disse? Aquela garota é conveniente o bastante — provavelmente está me esperando em algum lugar mesmo sem eu ter chamado.

“Kondo-kun!”

Sabia. Uma garota devotada que roubei do amigo de infância lá no fundamental.

Ikenobe Eri.

Antes de me conhecer, ela era o tipo quieta, de cabelo preto comprido. Mas para agradar meu gosto, tingiu de castanho e cortou curto.

Depois eu fiz ela terminar com o amigo de infância... e larguei ela logo depois. Ela acabou faltando na escola dois meses inteiros na fase mais importante do último ano. Hilário. E mesmo depois de tudo isso, ela ainda estudou desesperadamente só para passar na mesma escola que eu.

Nessa altura, ela já tinha perdido todos os amigos do fundamental, e desde que entrou no ensino médio quase nem estudou, então as notas despencaram.

Ela largou tudo por mim, e a gente nem voltou a namorar. Só ficou sendo levada nessa relação unilateral de “conveniência”. Uma garota patética cuja juventude inteira eu roubei. De certo modo, é prova do meu poder. Mesmo depois de perder tudo, ela ainda me ama.

A cadelinha perfeita e fiel.

Ela era uma aluna modelo antes — nem maquiagem usava. Agora está espalhafatosa, irreconhecível.

“Que pena esse jogo, né? O resto do time foi totalmente inútil. Que frustração.”

A garota que antes era gentil com todo mundo virou isso. Honestamente, eu podia largá-la a qualquer momento, mas agora é tipo um troféu. Por enquanto, vou manter as coisas leves.

“É, sério. Eri, você é a única que entende.”

É só falar isso que ela abana o rabo na hora. Certo, hora de descontar um pouco o estresse.

 

 

── Depois da Partida – Sala do Clube de Futebol – Perspectiva de Shimokawa ──

No final, fomos esmagados. Uma derrota massiva contra um time fraco.

O técnico surtou durante a reunião pós-jogo, jogando uma garrafa plástica no chão de tanta raiva. Mas isso nem era o que mais nos preocupava.

Se as coisas continuassem desmoronando desse jeito, alguém com certeza ia ceder. E quando isso acontecesse, o fato de termos intimidado o Aono em grupo viria à tona. Se isso acontecesse, não só seríamos banidos dos torneios — podíamos até enfrentar uma punição da escola. E para nós que estávamos no centro disso tudo, uma suspensão talvez nem fosse o pior. Se fôssemos expulsos… o que diríamos para nossos pais? Entramos numa escola de prestígio só para estragar tudo desse jeito?

“Não se deixem enganar pela palavra ‘bullying’. O que aconteceu aqui não é apenas travessura infantil — é crime. Quero que se lembrem disso.”

As palavras do Takayanagi-sensei me perfuraram o cérebro e ficavam se repetindo sem parar.

Durante o interrogatório anterior, escapamos porque não havia provas concretas. Mas agora… isso é péssimo. Péssimo demais.

A pessoa que tirou aquela foto… e se ela já contou para algum professor? Talvez já tenha contado. Se isso acontecer, até a menor inconsistência nos nossos depoimentos será fatal. Nossa história era à prova de falhas antes, mas basta um ponto fraco e vamos ter que improvisar para sobreviver aos próximos interrogatórios. Com cuidado, sem nos contradizermos.

Depois que o técnico saiu furioso, ficamos em silêncio, uma nuvem pesada pairando sobre a sala. Será que a gente consegue mesmo esconder isso para sempre? A ansiedade bateu de uma vez.

“Não dá. Não vamos conseguir esconder isso para sempre.”

Murmurei sem pensar. Aida, da minha sala, me olhou assustado.

“O que você disse, cara? ‘Não dá’? Não me diga… você está pensando em trair o Kondo-senpai e o resto de nós?!”

Ele gritou, praticamente em pânico, tomado pela paranoia.

Mitsuda-senpai e o capitão vieram até mim. O resto do time também.

“Não, não! Eu não vou trair ninguém. É só que… eu estou perdendo a confiança de que consigo aguentar isso nos interrogatórios…”

Uma desculpa patética. Até minha voz tremia.

Por que diabos eu falei isso em voz alta? Nesse clima de desconfiança total, dizer algo assim é praticamente me oferecer de bandeja como o próximo bode expiatório…

“Está de brincadeira, né?! Você e o Aida que depredaram a carteira do Aono, não foi? Não arrasta a gente para a lama junto com você!”

Mitsuda agarrou a gola do meu uniforme e puxou com força.

“Mas, Mitsuda-san, foi você quem mandou a gente fazer isso…”

“Hah!? Agora está respondendo para o seu senpai? Você é o mais culpado aqui e está tentando botar a culpa em mim? Assuma a responsabilidade, seu lixo. Confessar não é uma opção. Se não consegue ficar de boca fechada… então morre. Assuma a responsabilidade e morra por todos nós. Assim não vai ter mais interrogatório.”

“Não pode ser…!”

Alguém vai me ajudar. Foi o que pensei. Mas ninguém se mexeu para parar o senpai. Todos me encaravam como se eu fosse o vilão. Então, finalmente, o capitão falou.

“Mitsuda, já chega. Entendeu, Shimokawa? Se você fraquejar, a gente está acabado. Não fala besteira.”

Por que só eu estou sendo culpado? O capitão nem tentou impedir. Na verdade, ele mesmo espalhava os boatos da conta secreta dele. Por que só eu sou o culpado?

“S-Sim...”

A pressão ao meu redor me esmagou e eu cedi. A vergonha e o pânico se espalharam pelo meu peito.

Talvez eu devesse confessar — abrir o jogo e pedir ajuda aos professores. Se eu disser que só fiz isso porque tive medo de ser o próximo alvo, talvez eles acreditem.

Esse instinto escuro e egoísta crescia cada vez mais dentro de mim.

Mas parecia que o resto do time já tinha chegado a um acordo silencioso: eles iam encobrir a verdade incômoda. Ainda achavam que podiam se safar.

“Primeiro, precisamos descobrir quem tirou aquela foto. Não podia ser alguém daqui, né?”

Todos balançaram a cabeça em negação diante da pergunta do capitão. Mas mesmo que o culpado estivesse ali, não ia confessar de jeito nenhum. Honestamente, qualquer um podia ser suspeito. Talvez algum reserva frustrado por ter sido deixado no banco, ou um calouro com raiva de como os veteranos os tratam.

É. Só precisamos jogar a culpa em alguém. Fazer dessa pessoa o bode expiatório de tudo.

“Senpai, vamos logo descobrir quem tirou aquela foto. A gente tem que dar uma surra nesse desgraçado e fazer ele calar a boca! Senão, todos nós vamos afundar. Não acha que os calouros são os mais suspeitos?”

Soltei tudo o que estava pensando. Depois de ter ouvido “então morre” mais cedo, eu só queria desviar a raiva de todo mundo para longe de mim.

Aida soltou um suspiro agudo e avançou em um dos calouros.

“Agora que eu penso… Ishigami, não foi você que falou mal do Kondo-senpai, hein?!”

O alvo mudou para Ishigami, um calouro metido. Ótimo. Mandou bem. Assim eu fico fora dessa.

Entrando em pânico, Ishigami gritou:

“Eu não falei nada disso! E além do mais, o Chiyoda também estava falando mal dele comigo!”

Ele imediatamente começou a jogar a culpa em outro.

Com o time agora consumido pela paranoia, os membros do clube de futebol começaram a se virar uns contra os outros, trocando acusações e insultos. A situação virou um inferno ainda pior que antes.

O clube de futebol havia desmoronado por completo. Até ontem, estávamos todos unidos com o mesmo objetivo — chegar ao Nacional. Agora, todo mundo só pensava em si mesmo, cheio de desconfiança, começando o que só podia ser chamado de caça às bruxas.

 

 

── Várias Horas Depois – Perspectiva da Miyuki ──

Depois de passar a noite no quarto do hospital, voltei para casa uma vez para arrumar algumas coisas. E lá, bem na frente da minha casa, encontrei um velho amigo que estava correndo — um dos meus amigos de infância que eu realmente não queria ver.

Imai Satoshi. O melhor amigo do Eiji, e alguém que me conhecia desde o ensino fundamental.

“Satoshi-kun...”

Eu já sabia exatamente o que ele ia dizer. Finalmente chegou. O dia em que eu perderia tudo.

“Faz tempo, hein, Miyuki? Você sabe o que eu vim dizer, não sabe?”

“Sei...”

Até minha mãe havia virado as costas para mim. Eu estava destinada a perder tudo — inclusive meus amigos. Não havia como evitar.

Satoshi-kun já tinha sido salvo pelo Eiji. Por isso eu sabia — ele definitivamente ficaria do lado do Eiji agora. Eu sabia melhor do que ninguém, tendo sido tão próxima dos dois.

“É. Eu só não consigo mais te considerar uma amiga, Miyuki. Quis deixar isso bem claro. Obrigado por tudo até agora.”

Com um senso de dever, ele me deu seu adeus e foi embora. Era bem a cara dele — sério, mas direto. Palavras finais que deixavam nossas posições claras como cristal.

Corri para dentro de casa, desabei no hall de entrada e gritei em meio às lágrimas.

Por que tinha que chegar a isso...?

Por que eu fiz algo tão terrível...?

O arrependimento me consumiu por completo.

Eu só queria continuar sendo feliz com o Eiji. Só isso.

Eu sabia que estava errada. Mas no momento em que as coisas passaram dos limites com o senpai, fiquei apavorada — apavorada de que, se o Eiji descobrisse, tudo acabaria.

Por isso, não pude deixar ninguém saber do meu relacionamento com o Kondo-senpai. Eu estava com tanto medo de perder tudo que contei aquela mentira.

Achei que, quando o senpai se formasse, as coisas naturalmente iriam desaparecer. Sabia que era injusto com o Eiji, mas me convenci de que era só uma aventura passageira — uma emoção idiota.

Você só tem uma juventude. Vai se arrepender se não aproveitar.

Está tudo bem ter um namorado de verdade.

Enquanto você realmente o amar, tudo vai dar certo.

Kondo-senpai me deu essa rota de fuga. E eu aceitei.

Naquele dia — quando o Eiji descobriu minha traição—

Meu coração foi esmagado. Eu sabia que nunca poderia voltar àqueles dias felizes. Entrei em pânico. E fiquei apavorada. Se eu perdesse o Eiji, o que me restaria?

Estávamos juntos há mais da metade de nossas vidas. Agora é inútil. Meu coração, soterrado pelo desespero, fez a escolha mais egoísta.

Para anestesiar o medo de ser rejeitada pelo Eiji, corri para outra pessoa — alguém que eu achava que ainda me aceitaria. Se eu não podia mais ser feliz com o Eiji, então nada mais importava. Esse impulso autodestrutivo, esse desejo de mostrar o pior de mim mesma — esses sentimentos deram origem a um arrependimento que nunca vai desaparecer.

E com isso, eu perdi tudo.

Menti para proteger tudo… e no fim, perdi tudo. Tudo o que eu mais prezava. Desse jeito, vou até perder a imagem de aluna exemplar que tanto me esforcei para manter.

“Eu quero voltar… Eu quero voltar...”

Voltar para aquele dia. Voltar para quando eu poderia simplesmente ter comemorado o aniversário do Eiji direito e sorrido feliz ao lado dele.

Voltar para antes de conhecer o Kondo-senpai. Para quando eu ainda não havia traído o Eiji. Quando eu ainda era a versão pura de mim mesma.

O Eiji sempre foi o único para mim, afinal.

“Se eu nunca tivesse conhecido o senpai, ainda estaria sorrindo com o Eiji agora...”

Eu me odeio por dizer isso.

Só sinto nojo de mim mesma.

Fui eu quem o traiu.

Sentindo-me enjoada, saí para tomar um pouco de ar.

Notei um envelope na caixa de correio.

Sem pensar, abri.

Dentro havia uma fotografia.

Era uma foto que me arrastou direto para o desespero.

“Não… Isso não pode ser real. Ele disse que eu era a única. Kondo-senpai… Você disse que era só comigo… Por favor, não faça isso… não me jogue fora…”

Dentro do envelope havia uma imagem do senpai entrando na casa de outra garota — sorrindo, de braços dados, como se estivessem se divertindo como nunca.

[Almeranto: Tudo que vai, volta. Eu sinto muito, mas você mereceu, Miyuki.]

 

 

── Casa da Eri – Perspectiva do Kondo ──

“Eu te amo, Kondo-kun.”

Aproveitei a sensação da pele macia dela e aliviei um pouco do estresse.

A Eri tinha seu próprio charme — diferente da Miyuki.

Talvez eu já estivesse um pouco enjoado da Miyuki.

“É… foi incrível.”

“Estou tão feliz. Eu só tenho olhos para você, Kondo-kun.”

O maior defeito dessa garota é agir como se a gente estivesse namorando, mesmo não estando. Mas tanto faz. Ela é conveniente. Vou continuar me divertindo com ela por enquanto.

“Ei, Kondo-kun. Por favor, olhe só para mim, tá? Eu abri mão de tudo por você, então você não vai me trair, né?”

Trair...? Nem somos um casal, sabia? Que ilusão.

“É, claro.”

Respondi vagamente enquanto cochilava, aproveitando o clima agradável.

Depois de um tempo, me recomponho e saio do apartamento da Eri. Ela morava sozinha — os pais já tinham desistido dela. Sempre que eu tinha fome, vinha aqui e fazia ela preparar o jantar para mim. Já fazia parte da minha rotina diária.

Mas ela é temperamental e se empolga fácil. Para falar a verdade, é uma garota reserva bem trabalhosa.

Enquanto caminhava para casa, meu celular tocou.

“Kondo-kun? Está livre agora?”

Era ela — a mesma que me apresentou à Miyuki. Aquela que disse: “Tem uma garota com namorado que acho que você vai gostar de conhecer.”

E graças a isso, conheci a Miyuki — e arrumei outro brinquedinho no Aono.

“Sim, o que foi?”

“Ah, nada demais mesmo… mas você tem algum plano agora? Eu estava pensando se não queria sair um pouco.”

É. Continua completamente obcecada por mim.

“Claro. Qual a ocasião?”

“Bom, eu te ajudei a encurralar aquele garoto, né, e nunca ganhei uma recompensa. Acho que só queria te ver um pouquinho.”

“Você criou um roteiro incrível para mim. Queria que tivesse visto a cara patética do Aono. Foi impagável.”

“Meu Deus, que horrível você é.”

“Vindo de você? Essa é boa. Você é o pior tipo de femme fatale... Enfim, tenho uma coisa para te contar também.”

“Sério?”

“Está rolando um probleminha com o time de futebol.”

Marcamos logo um encontro, e fui para o lugar combinado, de ótimo humor.

 

 

Depois daquele pequeno encontro secreto, fui para casa. Como esperado, não tinha ninguém lá.

O velho provavelmente está trabalhando. A mãe saiu para sabe-se lá o quê. Os dois são um casal de fachada famoso.

Tudo bem por mim — enquanto eu puder usá-los. O status social dos meus pais é um recurso que posso explorar. Quando sua família tem influência, dá para resolver quase qualquer problema. E além disso, eu tenho talento pro futebol e sou inteligente. Imbatível.

Graças a isso, estou no caminho para virar profissional. E mesmo que eu largue, posso assumir a empresa do velho. Se ele subir ainda mais na política, posso herdar o círculo eleitoral dele. Essa é a beleza do privilégio hereditário no Japão.

“Caramba, nascer na família certa deixa a vida num modo fácil mesmo. Tudo são flores. Sério — obrigado, Deus, pelos pais poderosos que eu tenho.”

Usei essas palavras ousadas para afogar a ansiedade que ainda grudava no meu peito — para me convencer de que tudo ia ficar bem. Aquela garota também disse que eu ia ficar bem. Que ia me ajudar a bolar uma contra-medida.

Nessa casa enorme, minha voz ecoou pelo vazio.

Droga. Por que eu estou me sentindo tão patético?

Meu celular começou a tocar. Chamada de um orelhão. Suspeito. Só de receber uma ligação direta assim já era estranho.

Ignorei, é claro.

Mas as ligações continuaram, uma atrás da outra.

“Bastardo insistente. Quem diabos é você!?”

Apertei o botão de atender e gritei no receptor.

Então ouvi uma voz bizarra, como se tivesse passado por gás hélio.

[Kondo, você está acabado.]

“Seu desgraçado! Não fale comigo sem honoríficos!”

A voz era estranha — leve e brincalhona, como a de um palhaço zombeteiro.

Provavelmente usando um desses troços baratos de mudar voz. Ridículo. Já ia desligar quando—

[Ei, não desliga. Fui eu quem tirou aquela foto.]

Fiquei paralisado, a mão suspensa sobre a tela. Esse cara. Então é ele quem está me cercando…!

“Foi você quem espalhou aquela foto para o time de futebol!? Eu nunca vou te perdoar!”

[Espalhar? Ah, você deve estar falando de quando eu “acidentalmente” deixei cair na frente da sala do clube.]

“Não se faz de idiota!”

As palavras só saíam cada vez mais fortes e afiadas.

[Se continuar falando assim, talvez eu ‘acidentalmente’ deixe cair outra cópia em outro lugar da próxima vez.]

Seu filho da—

“Acha que pode me zoar!? Eu vou te matar. Meu pai é político. Posso abafar isso do jeito que eu quiser. Posso calar os professores também. Sempre fiz as coisas assim, e sempre funcionou. Dessa vez não vai ser diferente!”

Droga, isso está me irritando tanto.

[Então acho que tá na hora de agir.]

Só blefe. Só pode ser.

“Tenta, se tiver coragem. Eu vou te achar e te arrebentar.”

Gênios como eu podem se safar de qualquer coisa. Vou espancar esse desgraçado até ele se arrepender de ter cruzado meu caminho.

[Entendi. Que pena. Você realmente acha que não fez nada de errado, não é?]

“É claro que não fiz. Eu sou um dos escolhidos.”

[Mesmo depois de incriminar falsamente o Eiji Aono?]

“...Como você sabe disso?”

[Porque estou mais perto do que você imagina. Eu estive te observando.]

Aquelas palavras jogaram gasolina na fogueira da minha raiva. Como ele sabe disso? Só o time de futebol e aquelas garotas deviam saber desse esquema.

“O Aono era só um fracote. Os fracos são devorados pelos fortes. É assim que funciona. Eles não têm direito de reclamar, não importa o que façam com eles. Você... você é do time de futebol, não é? Eu não vou perdoar traição. É melhor se preparar!”

Gritei com convicção. Mas não houve resposta. Apenas um suspiro.

[Kondo, você é mesmo um tolo. Um tolo patético.]

Ao ouvir isso, instintivamente joguei o celular no chão. A tela se despedaçou — como um reflexo perfeito do meu próprio coração.

É isso mesmo. Eu sou um dos escolhidos. Então vou ficar bem. Mesmo que o time de futebol se volte contra mim, com meu histórico, ainda sou desejado. Talvez não pelas escolas de elite, mas qualquer uma de nível médio ficaria feliz em me ter.

“Fracassar? Eu? De jeito nenhum...”

Perceber que até uma ponta de dúvida tinha escapado dos meus pensamentos me deixou abalado.

“Droga... droga!”

Tentando me acalmar, disquei o número da Miyuki.

 

 

── Perspectiva da Miyuki ──

“Que horas são...?”

Eu estava encolhida em desespero, completamente vazia. O sol já havia se posto. Eu não tinha fechado as cortinas. Nenhuma luz acesa. Sozinha na casa. Estou completamente isolada. Não há mais ninguém para me dizer palavras gentis.

Eu tinha levado as roupas da minha mãe para o quarto do hospital, mas ela não estava lá — devia ter saído para fazer exames ou algo assim.

Sem ter o que fazer, voltei para casa e deixei as horas vazias me consumirem.

Tudo é culpa minha.

É claro que é. Eiji e sua mãe sempre me trataram com carinho. Quando minha mãe trabalhava até tarde, eu podia ir para a casa do Eiji e nunca me sentia sozinha. Havia ali um verdadeiro senso de família. Eles me tratavam como uma filha de verdade.

Minha mãe está brava... e com razão. Eu traí aquelas pessoas que cuidaram de mim. No fim, o Kondo-senpai só me viu como um brinquedo. Eu sabia disso. Eu entendia. Ou, pelo menos, achava que entendia...

No fim, deixei meus desejos me trazerem até aqui. Depois de ver aquela foto mais cedo, meus sentimentos congelaram. Como se o calor do amor tivesse evaporado em mentiras. Como se o sangue no meu corpo tivesse gelado por completo.

Mas naquele dia... o que foi que eu disse para Eiji...? Você sabe as palavras.

“Não! Não me abandone! Se você, Senpai, me deixar, eu não vou conseguir continuar vivendo…”

“O Eiji é só... meu amigo de infância. Mas ele é pegajoso, tipo um stalker, e o pior tipo de namorado abusivo…”

“Desculpa, Eiji. Eu não posso mais ficar com você. Nem fale mais comigo na escola…”

Ao me lembrar daquele momento, fui tomada por uma onda de náusea e um ódio esmagador por mim mesma.

Por que eu disse algo assim?

Me arrependi tantas vezes, mas agora o nojo que sinto é mais intenso do que nunca.

Aquele dia... desde que traí o Senpai pela primeira vez, sinto que não sou mais eu mesma — como se tivesse me transformado numa estranha estúpida e inconsequente.

[Del: “Deixou de ser você mesma”, e por causa disso, deixou de ser Amada.]

E de novo, aquela onda de náusea intensa me invadiu.

Por quê... o Eiji era tão gentil, um namorado tão querido. Eu sei que fui eu quem me apaixonei primeiro. Ele foi meu primeiro amor. Criei coragem para me aproximar dele, e finalmente nos tornamos um casal.

Eu amava o jeito carinhoso dele. Amava as histórias acolhedoras que ele escrevia. Amava a sensação de conforto de sua casa, que me fazia feliz só de estar lá.

E agora nunca mais terei isso. Desde aquele incidente, Eiji não apareceu nem uma vez na aula. Depois de ter sido falsamente acusado pelo Senpai, ele foi isolado na classe, sofreu bullying — escreveram insultos na carteira dele. Ouvi dizer que até enfiaram lixo no armário de sapatos dele. E até a família dele, o lar que eu tanto amava, foi ridicularizada publicamente. Eu não fiz nada para impedir. Eu era a única que podia ter feito algo, mas ignorei por egoísmo. Não... isso não está certo. Eu também fiz parte disso. Acabei me tornando a líder do bullying.

Chamei Eiji de stalker. Disse que ele ficou violento comigo. Mesmo sabendo — sabendo que alguém tão gentil como ele jamais faria algo assim. Mesmo assim, fui eu quem errou.

Sou o pior tipo de mulher. Traí meu namorado no dia do aniversário dele. O Eiji não é quem merece ser condenado. Sou eu.

De algum jeito, saí de casa e fui até a loja de conveniência. Só para comprar o jantar.

Mesmo querendo tanto morrer, meu corpo ainda sente fome. Que patético.

Ao longe, um casal passou caminhando. Eu congelei no momento em que os vi.

Era Eiji. Ele estava sorrindo tão feliz. E ao lado dele... claro, Ai Ichijou. Mesmo do ponto de vista de outra garota, dava para ver o quanto ela se arrumou. Estava vestida como se fosse para um encontro romântico.

Eiji também usava aquele sorriso gentil que você só mostra para alguém que ama.

Minha mente ficou em branco. Me escondi imediatamente para que eles não me notassem.

“Obrigada por hoje. Eu me diverti tanto no nosso primeiro encontro”, disse Ichijou Ai, sorrindo com verdadeira felicidade.

“Fico muito feliz em ouvir isso.”

“Já estou ansiosa para a próxima vez. Eu sei que é meio cedo, mas... será que eu poderia comemorar seu aniversário com você algum dia?”

“Huh? Como você sabe quando é meu aniversário?”

“Sua mãe me contou! Você foi um acompanhante tão maravilhoso hoje, eu queria agradecer de verdade.”

A voz e a expressão dela eram doces e encantadoras como as de uma garota apaixonada. Mesmo sendo outra garota, meu coração disparou diante daquele sorriso angelical.

“Obrigado. Vou esperar por isso.”

Naquele momento, eu soube — Eiji agora pertencia a Ichijou Ai. Ela foi reconhecida pela mãe dele. Ela fez planos para um encontro de aniversário que deveria ter sido meu. Agora ela recebe toda a gentileza que antes era destinada a mim. Eram tesouros que um dia foram meus.

Talvez fosse por causa do desespero... ou pelo fato de que eu não tinha comido nada e continuava vomitando. Mas, de repente, toda a força saiu do meu corpo. Minha visão escureceu, e minha respiração ficou fraca.

Gritei em silêncio, me esforçando para que eles não me notassem. Mesmo quando terra e pedrinhas entraram na minha boca, eu não consegui parar.

O inferno estava apenas começando. Desabei no chão e, depois de um tempo, a tontura passou, então consegui me levantar.

Pelo visto, Eiji e Ai não tinham me notado.

Comprei uma sopa na loja de conveniência — algo que eu podia esquentar facilmente — e fui direto para casa para comê-la. O que deveria ter sido um jantar agradável virou apenas uma tarefa de sobrevivência.

Fiquei imaginando o que Eiji e Ai estariam fazendo agora. Talvez estivessem jantando juntos no Kitchen Aono, rindo. Talvez tivessem ido a algum lugar um pouco mais sofisticado, só para variar. Talvez... esta já fosse uma noite especial para eles.

Meu coração parecia prestes a se partir. Mesmo estando faminta, eu não tinha apetite algum. Foi quando recebi uma ligação de Kondo-senpai.

“Sim, aqui é a Miyuki.”

[Oi, Miyuki? O que você está fazendo agora?]

“Eu estava comendo...”

[Entendi. Eu queria me acalmar um pouco — você se importaria de conversar comigo por um tempo?]

Normalmente, eu teria aceitado na hora. Mas não mais — não depois que as dúvidas começaram a crescer.

Ele sabe que minha mãe está no hospital. E mesmo assim, nenhuma palavra de preocupação.

“Hum... eu não estou me sentindo bem agora.”

É isso. Para ele, eu sou só... algo trivial.

[Por favor, só um pouquinho. Eu realmente preciso que você me escute agora.]

Aquilo decidiu tudo para mim.

“Kondo-senpai, no fim, você realmente só me via como um tipo de brinquedo, não é?”

Se fosse o Eiji, ele com certeza se preocuparia com minha mãe. Se importaria com meu estado mental. Perceberia na hora, só pelo tom da minha voz, que algo estava errado, viria me visitar, preocupado.

E eu perdi aquele amigo de infância insubstituível.

[Hã? O que deu em você de repente?]

“Você não se importa comigo. Eu vi uma foto — de você entrando na casa de uma garota do nosso ano. Só vocês dois, bem íntimos.”

[Não, isso... isso foi antes mesmo de eu te conhecer. Já terminamos há tempos. Na verdade, estou sendo stalkeado agora. Alguém anda espalhando essas fotos velhas no clube. Era sobre isso que eu queria falar com você. Desculpa trazer isso do nada…]

Aquela desculpa soou totalmente vazia.

“Entendo.”

Respondi de forma mecânica, e ele reagiu com um tom que parecia quase satisfeito. Aquilo me tirou do sério.

[É verdade, eu juro. Por favor, acredite em mim.]

Ele acha mesmo que pode me enganar com algo tão vazio? Que nojo. Esse cara é mesmo... E eu finalmente percebi sua verdadeira natureza. Foi por esse homem que eu joguei tudo fora? Nem consigo acreditar.

“Naquela foto, você está usando a pulseira da amizade que eu te dei. E ainda quer me dizer que isso é do passado?”

[Q-Que...?]

Odeio como meus olhos são afiados em momentos assim. A pulseira artesanal que eu mesma fiz para ele vencer uma partida do clube — aquela que eu teci com tanto cuidado — estava claramente visível na foto. Era para ser um símbolo do nosso laço... mas acabou virando prova do nosso verdadeiro lugar um na vida do outro. Eu não fiz tudo aquilo só para acabar assim.

“Para de mentir para mim.”

Até eu mesma me surpreendi com o quanto minha voz soou fria.

[E-Então... talvez tenha sido photoshopada…]

Eu costumava amar tanto a voz dele, mas agora, só de ouvi-la, minha pele se arrepiava de nojo.

“Ah, é?”

Isso é praticamente admitir que é mentira. Se for para mentir, que ao menos invente uma decente.

No fim, tudo nele era baseado em mentiras. E eu me convenci de que aquelas mentiras brilhavam como joias.

As palavras gentis que ele me disse, a ternura no tom de voz — nada daquilo era real. Só pedrinhas sem valor. E eu me deixei enganar por essas pedras, destruindo o verdadeiro tesouro que eu tinha bem na minha frente o tempo todo.

Eu sei que não tenho o direito de zombar dele. Porque, no fim das contas, eu sou igual a ele. Assim como ele, eu sou lixo. Somos ambos pessoas egoístas, ingratas e terríveis.

[…Tch.]

Ele estalou a língua alto. Não pude evitar soltar uma palavra surpresa com o quanto o tom dele mudou de repente.

“Hã?”

Em vez de responder à minha pergunta, ele retrucou com raiva.

[Você é a pior — grudenta, se fazendo de minha namorada. É por isso que eu não suporto malucas como você.]

O insulto inesperado me perfurou como uma faca gelada. Eu devia saber que ele era esse tipo de cara, mas ouvir isso em voz alta ainda doeu demais.

“Namorada”, hein…

Eu abandonei meu amado amigo de infância por ele. Joguei tudo fora por ele. E é isso que eu recebo?

“……”

Diante dessa cruel verdade, fiquei sem palavras.

[O que você quer dizer com traição? Nós nunca nem ficamos juntos. Não estávamos namorando, estávamos? Não se faça de vítima com base num mal-entendido. Eu alguma vez disse que queria ser seu namorado? Eu me confessei para você ou algo assim!? E além do mais, você também foi uma das líderes do bullying, não foi? Se você não tivesse me ajudado, o Aono não estaria nessa situação. Considerando seu passado com o Aono, você foi quem agiu da pior maneira — não percebe isso, sua mulher inútil!? É tudo culpa sua!!]

Com esse último grito, a ligação foi encerrada.

“…Por que eu joguei tudo fora por alguém assim… Eu fiz algo que nunca poderei desfazer.”

Minhas palavras solitárias ecoaram pelo quarto vazio.

 

 

── Perspectiva do Kondo ──

Depois que a ligação terminou, comecei a me debater descontroladamente.

“Cada um deles… sempre fazendo o que bem entendem. Confiando em todo mundo menos em mim. Eu não vou perdoar.”

O quarto estava uma bagunça, destruído pelo meu ataque de fúria. Até o troféu que eu tanto prezava do ensino fundamental estava quebrado. Droga, droga, droga. Desgraçados.

“Hah… Hah… Droga, aqueles caras do clube de futebol da universidade, os membros do clube daqui, até mesmo a Amada Miyuki… Tomara que todos eles desapareçam.”

Que se dane, talvez eu devesse ir atrás de alguma garota...

Mas se a Miyuki já não serve mais, só sobra a Eri, aquela outra, ou talvez alguma caloura…

Não, a garota com quem acabei de falar não serve. Ela é perigosa. Se eu demonstrar fraqueza, vai saber o que ela pode fazer.

Droga… então vai ter que ser a Eri.

Não, também não dá. Acabei de ver ela mais cedo, e ela fica insuportável quando age como se fosse minha namorada. Preciso de um tempo longe dela. Mulheres são mesmo inúteis nessas horas.

“Tch… acho que vou ter que espalhar uns rumores podres sobre o Aono pela minha conta alternativa.”

Não há nada mais doce para um rei do que saber que alguém está abaixo dele. Aquele cara não passa de um escravo — um perdedor patético que teve a garota roubada.

Com esse pensamento, abri o SNS. Até recentemente, a timeline estava lotada de ódio contra o Aono.

Mas agora...

[Ei, é verdade — Aono Eiji e Ichijou Ai saíram para um encontro hoje.]

[Detalhes, por favor.]

[Eu estava fazendo compras perto da estação e vi eles saindo de uma cafeteria chique.]

[Eu os vi entrando no cinema também.]

[Então eles estão mesmo namorando.]

[Mas a Ichijou-san sempre foi super rigorosa com garotos. Por que ela sairia com alguém como o Aono, que tem tantas fofocas ruins em volta?]

[Ouvi de uma colega de classe dela que, na verdade, é a Ichijou quem está caidinha por ele. Ela anda correndo atrás dele faz tempo.]

[Se até a Ichijou-san está tão interessada assim, esse cara deve ter algo especial.]

[Pensando bem, será que esses boatos sobre o Aono eram mesmo verdadeiros? Não tinha só umas fotos suspeitas? E se tudo não passou de uma mentira?]

[Sempre achei estranho também. Eu estava na mesma sala do Aono ano passado, e ele é super gentil. Não é o tipo que seria violento com garotas.]

[Isso tudo tá ficando muito confuso…]

Em algum momento, a maré virou.

Por quê? Por que as coisas mudaram?

A Ai Ichijou é mesmo tão confiável assim? Ela é só uma caloura. Eu usei várias contas do clube de futebol para espalhar esses boatos, e mesmo assim o poder da quantidade perdeu para a influência de uma única garota!?

Isso não pode estar certo.

Por que a Ai Ichijou está tão obcecada por um cara tão sem graça? Quando eu dei em cima dela, ela me desprezou sem hesitar e ainda me insultou. Então eu disse:

“É melhor você não se achar demais. Sabe quem é o meu pai? Ele é alguém importante!”

“Aquele olhar que você sempre tem — como se fosse passar a vida inteira sozinha — me irrita.”

“Você parece uma maldita robô.”

E mesmo assim, ela me ignorou completamente e foi embora. Sinceramente, aquilo matou qualquer interesse que eu tinha. Nunca entendi por que uma garota tão fria fazia tanto sucesso na escola, para começo de conversa.

Mas é, mesmo que aquela garota de coração de gelo vire minha inimiga, do que diabos eu tenho medo!? Eu sou o Kondo, o ás do clube de futebol!!

Isso ainda não acabou. Eu ainda posso virar esse jogo. Para arruinar a reputação da Ai Ichijou, comecei a postar algumas coisas.

[Ei, não se deixem enganar por ela. A Ai Ichijou na verdade é uma completa psicopata. Fria como gelo, vive insultando os caras que ela dispensa.]

Entrei na thread de comentários usando uma conta anônima.

[Aff, que saco.]

[Provavelmente algum fracassado que levou um fora e está surtando. Ignorem ele.]

[Se alguma coisa, isso faz ele parecer ainda mais suspeito.]

Fui descartado na hora.

Droga. Droga. Droga! Por que ninguém acredita em mim!? Eu sou o futuro rei do futebol japonês, caramba!

Fervendo de frustração, acabei arremessando o celular contra a janela. O vidro estilhaçou com um estalo alto, e o telefone já destruído caiu no chão com força.

“Droga,” murmurei, correndo para pegá-lo. A tela estava ainda mais destruída do que antes — completamente inutilizável. Nem ligava mais.

Agora eu não podia entrar em contato com nenhuma garota.

Onde diabos eu ia descarregar toda essa raiva? Cada um deles... todos são um bando de lixo. Fazendo um gênio como eu chegar nesse nível de fúria...

“Droga! Que ódio!”

Eu podia sentir essa sensação crescente de isolamento. E quanto mais ela aumentava, mais a fúria fervia dentro de mim.

Claro, não havia ninguém ali para responder.

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