Volume 1

Capítulo 7: O Erro de Cálculo de Kondo

Perspectiva do Kondo

Mesmo que sejam jogadores universitários, é só isso que conseguem fazer?

Por enquanto, me deixaram treinar com o time reserva, mas honestamente, ninguém aqui é páreo pra mim. Hoje, estou imparável.

É tão entediante. Meus passes brilhantes chegam com perfeição, um após o outro. Não que isso importe muito quando os atacantes não têm talento e continuam errando, no entanto.

“Ei! Não deixem um colegial passar por cima de vocês!”

O técnico do time reserva rugiu, sua raiva ecoando pelo campo.

“Droga!” o capitão do time reserva murmurou enquanto caía no chão de frustração. Ver eles desmoronando assim — é eletrizante. Não há nada melhor do que ver lixo perder a confiança diante de um talento esmagador. Nesse ritmo, entrar direto pro time titular assim que me matricular vai ser moleza.

“Nem pensar que vamos deixar ele se achar aqui. Ei, Gouda! Vem aqui marcar esse colegial!”

O chamado era um volante defensivo do time titular — um pouco mais baixo que eu, mas claramente alguém em quem confiavam para lidar comigo.

Interessante. Pelo menos esse cara pode ser um oponente decente. Se eu conseguir vencê-lo, vou provar que já sou um dos melhores jogadores do futebol universitário. Isso está começando a ficar divertido.

A bola veio direto para mim. O veterano chamado Gouda se posicionou na minha frente.

Hah, essa vai ser fácil. Vou passar por esse cara num piscar de olhos.

Ou pelo menos foi o que pensei.

No momento em que fiz meu movimento, algo duro colidiu meu corpo com força. Fui lançado pelos ares.

“Gah!”

Um som estranho escapou de mim enquanto batia no chão com um baque, meu rosto se chocando contra a grama. Grama encheu minha boca.

“Você está bem?”

Era a voz do Gouda. Por um segundo, senti um medo real diante da força do corpo sólido como pedra daquele cara. Ele me lançou como se eu não fosse nada.

Não, isso foi só um acaso. Não tem como a diferença entre nós ser tão grande. Não pode ser. Afinal, eu estou destinado a ser o rei do futebol deste país algum dia!

 

Uma hora depois

Eu não tive a menor chance. Eu — o grande eu — fui completamente derrotado. Toda vez que tentava driblar ele, era empurrado com facilidade.

Cada passe que eu tentava fazer era imediatamente interceptado, como se ele pudesse ler minha mente.

Momentos atrás, eu estava dominando os jogadores do time reserva, saboreando a glória de ser o herói. Agora, eu não passava de uma piada.

Precisando esfriar a cabeça, voltei para o banco e engoli minha bebida esportiva.

Tudo bem. Só estou num dia ruim. Se eu jogar sério, um cara como ele não seria nada…

“Ei, técnico. Você está falando sério sobre recrutar aquele moleque do ensino médio?” Ouvi a voz do Gouda ali perto. Parecia que ele estava conversando com o técnico atrás do banco.

“Sim, esse é o plano. Por quê? O que você acha dele?”

“Desiste disso. Aquele moleque é só um desses reis do futebol colegial. Físico fraco, resistência péssima, e no momento em que perde a bola, ele simplesmente desiste. É tipo um fóssil de outra era. Se você trouxer ele, vai acabar sendo só um pseudo-craque desfilando por aí como se fosse especial, provavelmente bancando o rei do time reserva. Pra ser honesto, ele é patético. Completamente inútil. Sem talento nenhum.”

Antes que eu percebesse, a garrafa que eu segurava tinha escorregado da minha mão e rolado no chão. Tudo que eu podia fazer era encará-la, sem conseguir me mover.


※※※※

 

Droga, qual é a daquele cara? Isso me irrita — me irrita — me irrita!

 Nem ele nem o técnico notaram que eu estava sentado no banco, enquanto continuavam a conversa atrás dele.

“Claro, talvez ele tenha talento, mas dá pra ver que odeia treinar. Assim ele nunca vai melhorar. Ele depende totalmente do talento bruto, não tem respeito pelos outros e acaba destruindo a química do time. Além disso, é o tipo de jogador que causaria problema com cartões ou até seria expulso, deixando a gente em desvantagem. Não vejo ele tendo uma influência positiva no time.”

A análise fria e precisa fez meu sangue ferver. Eu estava prestes a gritar quando meu pé esmagou a garrafa caída ao meu lado. A bebida restante vazou pela tampa, manchando o chão.

“Eu entendo o que você quer dizer,” respondeu o técnico, “mas não dá pra negar o talento bruto dele. Ele foi excepcional contra o time reserva. Se a gente conseguir treiná-lo direito, talvez dê pra moldar ele em algo mais. Tipo uma joia bruta.”

“Bom, se é assim que você pensa, vamos tentar. Mas caras assim geralmente só se rebelam, faltam aos treinos e ficam estagnados. É o padrão.”

“Nesse caso, o problema vai ser dele. Vamos deixar ele apodrecer no time reserva ou no terceiro time, se for necessário.”

Humilhação. Humilhação. A palavra ecoava sem parar na minha mente. Meu orgulho parecia lixo sendo esmagado sob o sapato de alguém.

Peguei meu celular e enviei uma mensagem para a Miyuki, minha conveniente “Garota Nº 2.”

Ela tinha ficado chateada mais cedo, reclamando de como se sentia sozinha já que eu não poderia acompanhá-la até em casa hoje. Se eu ligasse, ela viria correndo. A mente daquela garota já estava começando a se despedaçar.

Ela não tinha mais escolha a não ser se agarrar a um cara como eu. Esmagada pelo peso da culpa e do auto-ódio, ela estava pronta para ser manipulada.

Era minha futura esposa de troféu — uma aluna modelo, linda, completamente apaixonada por mim, disposta a fazer tudo que eu mandasse.

Era excitante saber que ela trairia aquele namoradinho patético tão facilmente, rastejando aos meus pés, implorando pra que eu não a abandonasse.

[Ei, Miyuki. Pode sair? Vamos fazer um encontro em Tóquio.]

A mensagem foi lida quase imediatamente.

Fácil demais

[Sim! Estou a caminho!!]

Como eu esperava. Perfeito

Combinamos de nos encontrar em frente a uma estação próxima de um distrito onde eu poderia “aproveitar” ao máximo a companhia dela.

Que se dane essa faculdade. Eu não preciso disso.

Com certeza serei requisitado em outro lugar.

Por enquanto, vou manter essa oferta como reserva.

Mas em breve, receberei propostas de uma universidade onde poderei ser titular desde o começo.

Vou construir um time ao meu redor e então vou destruir o Gouda — aniquilá-lo.

Vou fazer ele se arrepender de ter se metido comigo.

Pode escrever.

 

Perspectiva da Miyuki

Fui chamada pelo Senpai e rapidamente troquei de roupa para sair.

O local do encontro não era exatamente respeitável, então ir com o uniforme escolar provavelmente faria com que a polícia me parasse.

Por isso, eu sempre tentava vestir algo mais maduro. Hoje, escolhi um vestido azul-marinho elegante.

Isso também foi algo que o Senpai me ensinou.

No fim das contas, fui completamente moldada por ele.

Na escola, eu fazia o papel da séria vice-presidente do conselho estudantil. Mas, por dentro, eu estava suja.

As únicas coisas que eu continuava aprendendo eram truques — como perambular pela noite sem ser pega pela polícia.

"Ei, Miyuki. Onde você vai? O sol já vai se pôr. É perigoso uma garota andar por aí a essa hora."

Sempre que ia me encontrar com o Senpai, eu tentava escolher dias em que a mamãe estivesse de plantão à noite.

Mas hoje não era um desses dias.

Eu tinha planejado sair sem ser notada, mas minha sorte acabou.

Eu pretendia recusar o convite do Senpai, mas meu coração já estava no limite por causa do Eiji.

Eu só queria ser abraçada pelo Senpai e esquecer de tudo, mesmo que fosse só por um momento.

"Desculpa, uma pessoa a quem eu devo muito me chamou,” disse, tentando soar despreocupada.

"Miyuki, tem algo estranho com você ultimamente. Você está assim há semanas. Aconteceu alguma coisa? Ou… é sobre o Eiji-kun?"

No momento em que mamãe mencionou o nome do Eiji, senti um arrepio percorrer meu corpo inteiro, como se meu sangue tivesse congelado.

"Isso não tem nada a ver com o Eiji!"

Sem pensar, rebati com um tom mais agressivo do que pretendia.

O rosto dela se contorceu, como se estivesse prestes a chorar.

"O que deu em você? Por que está levantando a voz assim, de repente?"

"Cala a boca! Eu já estou no ensino médio! Para de se meter na minha vida!"

Afastei o aperto desesperado dela no meu braço e saí correndo de casa.

Fugindo como se quisesse escapar dela, fui até a estação e peguei o trem para encontrar o Senpai.

 

※※※※

 

"Senpai!!"

Entrei apressada no fast-food perto da estação onde combinamos de nos encontrar.

Ele ainda estava com o agasalho de treino, embora não fosse o da escola. Com seu porte largo, parecia mais um universitário.

Sua mochila e qualquer outra coisa que pudesse revelar sua identidade provavelmente estavam guardadas em algum armário com fechadura.

Não se devia carregar nada com o nome da escola — como uniformes, jaquetas ou mochilas — quando se planejava passar o tempo em um distrito noturno como aquele.

"Você já chegou, hein?" ele disse.

Senpai tinha acabado de comer seu cheeseburger e batatas fritas.

Ótimo. Parece que não o fiz esperar por muito tempo.

"Desculpa por te fazer esperar", respondi.

"E aí, o que vamos fazer? Quer ir no fliperama?"

Os fliperamas dessas áreas sempre me pareceram intimidantes, e eu os evitava antes. Mas com o Senpai ao meu lado, eu não tinha medo.

Essa sensação de segurança era um dos encantos dele — algo que o Eiji não conseguia me dar.

"Isso parece divertido, mas…"

"Hm?"

Ele me deu aquele sorriso de quem já sabia o que eu estava pensando, como se enxergasse através de mim.

Não consegui evitar o entusiasmo ao continuar.

"Eu não quero voltar pra casa hoje."

Senpai sorriu calorosamente e assentiu em concordância.

Por sorte, amanhã era sábado. Não haveria aulas normais, apenas um simulado escolar geral.

Mas como não era uma prova oficial, faltar não seria um problema.

O Senpai me ensinou isso há muito tempo.

Eu queria continuar caindo cada vez mais, atraída pela escuridão e pela satisfação autodestrutiva que isso me trazia.

E assim, fomos para um hotel. Uma vez lá dentro, me agarrei a ele, buscando seu carinho.

Nesses momentos, ele sempre dizia "Eu te amo" com uma voz suave. Só de ouvir essas palavras, as bordas cortantes do meu coração eram suavizadas.

Por um breve instante, eu conseguia esquecer a culpa, o ciúme e a possessividade ligados ao Eiji.

Eu só conseguia me sentir feliz.

"Senpai…"

Sussurrei com uma voz doce como mel enquanto me enroscava nele.

"O que foi?"

"Vamos matar aula amanhã juntos. Quero ficar com você o máximo que eu puder."

"Por mim, tudo bem."

Ele me abraçou com força, apertando-me firmemente em resposta.

 

Algum lugar em Tóquio. Perspectiva de (???)

 

"Alô, é da polícia? Acabei de ver um casal que parece ser de estudantes do ensino médio entrando em um love hotel. Isso não é ilegal? Sim, o local é..."

Encerrei a ligação. Isso marcaria o início da queda do Kondo.

Deixe-me contar uma história antiga. Sempre fui uma pessoa fraca.

Tinha uma amiga de infância. Nos conhecíamos desde o jardim de infância, nossas famílias eram próximas.

Ela era precoce e ousada o suficiente para me convidar a dividir com ela o meu primeiro beijo.

À medida que crescíamos e entrávamos na adolescência, passamos a nos ver de outra forma e começamos a namorar.

O ensino fundamental foi o período mais feliz da minha vida.

Ter uma amiga de infância bonita como namorada parecia um sonho.

Ingenuamente, acreditei que nos casaríamos algum dia, depois de crescermos.

Achei que tínhamos um futuro cheio de felicidade pela frente.

Mas essa felicidade foi destruída no verão do meu segundo ano do ensino fundamental — por aquele maldito jogador de futebol, Kondo.

Kondo já era mulherengo naquela época, conhecido como um playboy por toda a escola.

Aproveitou-se dos mal-entendidos entre mim e minha namorada, infiltrou-se na brecha do coração dela e a desviou.

"Aquele nerd esquisito é nojento."

"É a coisa mais vergonhosa da minha vida ter sido namorada dele."

Essas foram as palavras que o Kondo a fez dizer, apenas para satisfazer seu ego. Até hoje, acho que foi a forma mais vil de entretenimento.

Então veio o dia fatídico.

Quando a confrontei sobre a traição, ela me olhou com desprezo gelado, como se eu fosse lixo, e disse:

"Não destrua minha felicidade. Por favor, só me deixe ir."

A garota que costumava sorrir para mim com tanta gentileza agora me encarava como se eu fosse sujeira.

E, é claro, estava agarrada ao braço do Kondo.

"Por quê? Por quê? Você prometeu que iríamos nos casar!"

Chorava e implorava, jogando fora todo o meu orgulho. Mas ela apenas riu friamente e me deu a cruel verdade.

"Não percebe? Já estou completamente apaixonada pelo Kondo-kun. Estou terminando com você porque vou ser feliz com ele. É só isso."

Foi nesse momento que todo o meu mundo desabou. Tudo o que restou foi um ódio ardente pelo Kondo.

Parei de ir à escola e levei mais de dois anos para conseguir voltar.

Felizmente, eu era bom em estudar, e meus professores do ensino fundamental nunca desistiram de mim.

Com o apoio deles, consegui entrar em uma prestigiada escola pública.

Mas o Kondo e minha amiga de infância estavam lá também.

Diziam os boatos que ela havia sido largada por ele e tinha se tornado quase uma perseguidora.

Fingi que não a conhecia.

Queria recomeçar minha vida no ensino médio, mas nem isso deu certo.

Passei o primeiro semestre à deriva, sem conseguir fazer amigos, por causa da profunda desconfiança que sentia pelas pessoas.

Então, no começo do verão do meu primeiro ano — há um ano — conheci alguém que mudou tudo.

O nome dele era Aono Eiji.

Aparentemente, ele havia notado que eu ficava sozinho durante o primeiro semestre e começou a conversar comigo depois que nossos lugares foram trocados.

"Ei, você tá sempre lendo livros, né? Eu sou do clube de literatura, adoraria umas recomendações."

Não saíamos juntos depois da aula, mas ele se tornou meu único amigo. Compartilhávamos hobbies e podíamos conversar à vontade na sala.

Só isso já me ajudou a escapar daquele mundo sem cor em que vivi por anos.

Conversar com ele me deu coragem para falar com meus colegas, e comecei a recuperar a juventude que havia perdido.

O Aono-kun nunca percebeu, mas ele me salvou.

Sem dúvidas, ele mudou a minha vida.

Embora tenhamos nos distanciado quando fui para a área de exatas, sempre quis retribuir a ele.

Minha vida feliz no ensino médio agora é toda graças a ele. Então, um ano depois, no início das férias de verão, aconteceu.

Um boato se espalhou dizendo que Aono-kun havia agredido a namorada, Amada-san. Ele foi excluído quase imediatamente.

Meu herói nunca faria algo tão desprezível.

Quando fui investigar, descobri a sombra do Kondo por trás do boato. O mesmo Kondo que já tinha arruinado minha vida uma vez.

Minha raiva transbordou. Eu não podia permitir que ele ferisse novamente alguém precioso para mim.

"Kondo. É você. De novo!!"

Movido pela fúria, comecei a investigar a vida do Kondo, determinado a encontrar algo que pudesse usar contra ele. Ontem, o vi entrando na casa da Amada-san, mas isso não era suficiente — poderia ser descartado como uma visita casual.

Então, esperei pela oportunidade perfeita. Ela veio mais cedo do que eu esperava.

Peguei-os se encontrando no distrito noturno de Tóquio, entrando em um motel — um lugar onde estudantes do ensino médio são legalmente proibidos de entrar. Gravei suas ações com meu smartphone e imediatamente as denunciei à polícia.

Essa evidência deve encurralá-los. Vou imprimir as fotos e enviá-las para a escola.

Este será o golpe decisivo. O movimento final para derrubar aquele falso rei do clube de futebol.

A partir daqui, vou executar minha vingança e fazer justiça do meu jeito. Tudo pelo Aono-kun, na esperança de melhorar sua situação, mesmo que seja um pouco.

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