Volume 1
Capítulo 6: Primeiro Encontro e...
Naquela tarde, eu disse ao Takayanagi-sensei, que tinha vindo me ver: “Acho que vou conversar com meus pais sobre isso.”
Ele pareceu um pouco aliviado e perguntou: “Tem certeza disso?”
Eu assenti. O que a Mitsui-sensei me dissera mais cedo tinha deixado uma impressão profunda. Percebi que tentar esconder isso só me faria ser um filho ainda pior.
Eu não vou mais fugir. Quero lutar junto com todos.
É por isso que preciso confiar nos adultos que podem ajudar e trabalhar com eles para enfrentar isso de frente.
“Entendo. Obrigado. Se for difícil de falar, posso conversar com eles por você. O diretor também disse que quer envolver sua família para discutirmos como lidar com a situação daqui para frente.”
“Sim, obrigado. Mas acho que é algo que quero dizer pessoalmente.”
“Compreendo. Sério... você ficou muito mais forte em apenas meio dia, Aono. Sua família tem um restaurante, certo? Imagino que estejam ocupados. Vamos tentar ajustar o horário da reunião o máximo possível. Se for mais fácil, podemos até ir à sua casa. É só me avisar. Aqui estão meus contatos. Assim que falar com seus pais, me ligue neste número. Eu retorno na hora.”
“Obrigado. Pode ser tarde da noite — tudo bem?”
“Claro. Para ser honesto, sou uma coruja noturna. Fico mais animado à noite do que de manhã. É por isso que não sou exatamente o melhor exemplo de professor,” disse ele com uma risada autodepreciativa.
A piada me fez rir sem querer.
Foi reconfortante.
“Estou contando com você, Takayanagi-sensei.”
“Claro. Sinta-se à vontade para contar com seu professor, Aono.”
E assim, deixei a escola. Esse era o segundo dia desde que Takayanagi-sensei se envolveu.
Pouco a pouco, a esperança começava a brilhar.
※
Quando saí pelo portão principal da escola, fui recebido por uma garota deslumbrante que me esperava. Mesmo sabendo que ela estaria ali, não pude deixar de me surpreender um pouco.
“Você demorou, Senpai!”
A provocação brincalhona dela me deixou mais à vontade, mesmo que só um pouco.
“Ah, me dá um desconto. Esperei a multidão diminuir antes de sair. Afinal, é a hora do pico da saída. Mesmo assim, recebi minha cota de olhares frios.”
Respondi com um toque de sarcasmo, fazendo-a rir.
“Bom, tem todos esses boatos sobre você, e ainda por cima, ter andado comigo até a escola hoje de manhã pode ter provocado alguns outros ‘inimigos’.”
“Não posso negar isso.”
“Mas eu estou feliz.”
“Feliz? Com o quê?”
“Bem, comparado com esta manhã, você parece muito mais relaxado agora. Tem uma suavidade no seu rosto… gentileza, posso dizer. Eu percebi na hora. É um alívio.”
Parece que essa kouhai realmente estava prestando atenção em mim.
“Isso é graças a você, Ichijou-san.”
“Huh? Eu não fiz nada.”
“Fez sim. Você foi a primeira pessoa a acreditar em mim.”
Ela tinha sido racional o bastante para não se deixar levar pelos rumores. Eu nem sabia como expressar o quanto isso tinha me salvado. Todos os outros próximos de mim, exceto o Satoshi, tinham duvidado de mim.
“Sério? Isso me torna… ‘especial’?”
Ela enfatizou a palavra com um sorriso brincalhão, embora eu soubesse que aquilo carregava um peso real.
“Sim. Sinceramente, isto te torna especial. Por isso, no dia em que viramos amigos, eu já te considerei uma melhor amiga.”
“Hmmm…”
Ela pareceu feliz, mas um pouco confusa, murmurando suavemente:
“Bem, ser especial — mesmo como ‘melhor amiga’ — não é tão ruim assim.”
“Por enquanto, pelo menos…”
[Del: Peraí rapaziada, eu sei que já passou mais da metade do volume, mas cêis se conhecem tem pouco mais de 1 dia. | KKKKKKK. Assim tu me mata de rir Del, eu sabia que você iria estranhar. E sim, a velocidade cronológica é bem lentinha, tipo, vocês lerão tanta coisa que parece que passaram semanas ou meses, mas na verdade, talvez nem dois dias]
Ichijou-san deu um sorriso levemente triste.
Enquanto caminhávamos juntos — um par improvável indo para casa — sussurros começaram a se espalhar entre os alunos ao nosso redor.
Os boatos se espalhavam ainda mais rápido do que de manhã. Provavelmente, tudo fazia parte do plano da Ichijou-san.
“Você está bem?” Perguntei, sentindo um pouco de ansiedade.
“Hã? Sobre o quê? Está preocupado que comecem a espalhar boatos de namoro sobre a gente ou algo assim?”
Ela desviou com uma piadinha leve, tentando aliviar minha preocupação. Sua gentileza não passou despercebida.
“Não, não é isso. Quero dizer… você está bem em andar comigo? E se isso prejudicar sua reputação ou fizer as pessoas falarem mal de você?”
Ichijou-san não era só popular; ela era adorada — descrita como a ídola da escola, santa e até mesmo um anjo. Esses títulos refletiam o peso das expectativas das pessoas.
“Você é tão gentil, Senpai. Mesmo passando por um momento difícil, ainda pensa nos outros. Nem todo mundo consegue fazer isso.”
“É natural. Eu não quero que minha melhor amiga se machuque por minha causa.”
“Eu sabia que você diria isso. Mas não se preocupe comigo. No máximo, o pessoal vai sussurrar sobre a gente ser um casal. Nada sério.”
“‘Nada sério’? Isso ainda é um problema! Só para ter certeza… você não tem namorado nem está gostando de alguém, né?”
Ela riu suavemente e murmurou algo quase inaudível:
“Problema? É mais como uma recompensa. Uma recompensa muito importante…”
Então, com uma voz mais clara, ela continuou:
“Se eu tivesse, você não acha que eu teria te contado antes da nossa ‘fuga’ ontem? Normalmente, você checaria esse tipo de coisa antes de convidar alguém, certo?”
Eu não podia argumentar com a lógica dela. Seria isso o que as pessoas chamam de ‘assédio lógico’? Talvez fizesse parte das táticas de rejeição pelas quais ela era famosa.
“Obrigado por tudo.”
“Não, obrigada a você, Senpai. Mas sabe, eu fiz o esforço de acordar cedo hoje, então acho que mereço uma pequena recompensa.”
“Eh?”
“É por isso que estou perguntando se você gostaria de sair comigo. Talvez comer alguma coisa doce?”
A declaração alta e inesperada dela foi o bastante para fazer meu rosto congelar num sorriso sem graça. Ao nosso redor, os outros estudantes indo para casa soltaram gritos silenciosos de desespero.
“Por quê?!”
“Por que, logo ele, a Ichijou Ai está chamando o Eiji Aono para sair?”
“A destruidora de corações que já rejeitou dezenas de caras...”
“Isso não pode estar acontecendo.”
“E, para piorar, é ela quem está convidando?!”
“Eu gostei dela primeiro...”
Assim começou o coro de vozes ressentidas dos alunos ao nosso redor.
Enquanto eu permanecia ali, completamente atônito e paralisado, Ichijou-san caiu na risada.
“O que foi, Senpai? Você está completamente travado. Eu tive que criar muita coragem para te convidar, então pelo menos fala alguma coisa!”
“Bem, é que... você chamou isso de encontro.”
“Ué? Mas é. Duas pessoas — um garoto e uma garota — saindo depois da aula para comer um docinho. Como mais você chamaria isso?”
“Bem, é... tecnicamente é verdade. Mas mesmo assim! Você tem que pensar no tempo e no lugar. Tem gente olhando, sabia?”
“Está tudo bem. Eu queria sair, então eu perguntei. Ignorar os meus sentimentos ou deixar a opinião dos outros interferir — isso sim seria o que há de errado no mundo, não acha? Então... você não vem comigo?”
Ela me olhou diretamente nos olhos, o olhar firme e inabalável. Havia uma força silenciosa, mas inconfundível, em suas palavras.
Enquanto isso, a multidão ao nosso redor explodiu em caos, reagindo alto ao uso dela de “você não vem comigo” como se fosse uma confissão pública. Gritos de “Uoooh!” e “Isso é uma confissão?!” encheram o ar, mas eu decidi ignorá-los por enquanto. Ichijou-san também não parecia incomodada — na verdade, parecia até satisfeita.
Eu ainda tinha alguma economia do meu trabalho de verão de curto prazo, então dinheiro não era problema.
Mais importante que isso, não havia como eu decepcionar essa kouhai que tinha feito tanto por mim e agora estava se arriscando desse jeito.
“Você tem razão. Já que você fez questão de me convidar... vamos sim. Já tem algum lugar em mente?”
“Sim! Tem um lugar que eu queria muito ir.”
Eu me peguei monopolizando o sorriso alegre e cheio de vida de uma das garotas mais bonitas da escola. Falando objetivamente, estando numa situação tão luxuosa assim, não pude deixar de pensar — sou mesmo um cara de sorte.
※
Ela me levou a uma cafeteria perto da estação. Para um lugar frequentado por estudantes do ensino médio, era surpreendentemente elegante.
Tinha aquele tipo de atmosfera onde universitárias e senhoras locais poderiam facilmente perder a noção do tempo enquanto conversavam sem pressa.
Apesar de ser mais nova do que eu, minha kouhai se encaixava perfeitamente no estilo antigo da cafeteria, com uma postura calma que parecia além de sua idade. Mesmo usando o uniforme escolar, ela exalava uma aura de elegância e refinamento que não podia ser escondida. Se segurasse uma xícara de chá com uma expressão melancólica, não haveria garota mais adequada para a frase “uma jovem protegida de uma família nobre”.
“Uma das minhas colegas disse que veio aqui para um encontro no fim de semana e se divertiu muito. Acho que sempre admirei a ideia. É como um pequeno sonho se tornando realidade.”
Ela falou em voz baixa, como se estivesse compartilhando um segredo, com um sorriso doce e delicado. Apenas o tom e a escolha de palavras já seriam o suficiente para fazer qualquer garoto — incluindo eu — se apaixonar por ela. O contraste entre sua aura nobre e os traços sutis de inocência infantil em sua expressão era simplesmente esmagador.
“Mas... é um pouco surpreendente,” eu disse.
“O que?”
“Quero dizer... você ter algum tipo de admiração por encontros assim.”
Para ser honesto, com a aparência e a personalidade que ela tinha, poderia facilmente ter um namorado se quisesse.
Na verdade, desde que entrou no ensino médio, dezenas de garotos já haviam se declarado para ela e sido rejeitados sem rodeios.
“Bem, seria mentira dizer que eu não tenho esses sentimentos. Também sou uma garota adolescente, sabe. Mas a verdade é que... a maioria dos garotos que se declara para mim só me vê como um símbolo de status, como se eu fosse algum tipo de acessório. Isso me machuca muito.”
O sorriso dela vacilou levemente ao dizer isso, um traço de amargura cruzou seu rosto antes que ela rapidamente o escondesse sob uma expressão alegre. Eu podia entender o quão exaustivo devia ser lidar com pessoas que só se importavam com aparências — ou pior, que a tratavam como um objeto.
Então... por que comigo é diferente?
Esse pensamento cruzou minha mente, mas parecia grosseiro demais para ser dito em voz alta.
“É verdade. Desculpa, falei uma coisa estranha. Enfim, vamos pedir. Já que você fez tanto por mim, hoje é por minha conta.”
“Obrigada. Ouvi dizer que as panquecas daqui são muito boas, então vou querer isso.”
“Eu também vou querer o mesmo. E de bebida?”
“Quero um chá de maçã quente, por favor.”
Perspectiva da Ichijou Ai
Depois de fazer nosso pedido, pedi licença para ir ao banheiro.
Eu precisava de um momento para me acalmar — meu coração disparado parecia tão alto que ele poderia ouvi-lo. Lavei as mãos, na esperança de que a água fria esfriasse um pouco o calor que irradiava do meu corpo, mesmo que só um pouco.
“Então é assim, é? Chamar um garoto de quem você gosta para um encontro deixa a gente tão nervosa assim…”
Era estranho, até para mim, o quanto eu me sentia como uma garota comum agora.
“Será que ele percebeu... que ele é especial para mim?”
A confissão silenciosa escapou e se perdeu, levada pelo som da água corrente.
De longe, pude ver o Senpai se remexendo na cadeira, claramente desconfortável. Ele ainda não parecia ter notado que a mesa que eu havia reservado era um assento de casal. Senti um pouco de culpa por manter isso em segredo, mas... meu sonho de tomar chá com alguém que eu amo em uma cafeteria charmosa — ele tinha se realizado.
※
Perspectiva do Eiji
Conversamos sobre nós mesmos enquanto comíamos panquecas. Apesar de termos nos conhecido apenas um dia atrás, a distância entre nós parecia surpreendentemente pequena. E, ainda assim, não sabíamos muito um do outro — um relacionamento que era apenas levemente desalinhado.
Quando o assunto era família, ficava claro que Ichijou-san lidava com alguma coisa. Percebendo isso, evitei cutucar demais e, em vez disso, conduzi a conversa para uma troca gradual de apresentações.
Falamos sobre nossas coisas favoritas e os dias do ensino fundamental. Ichijou-san havia frequentado uma escola particular na cidade. Parecia haver alguma razão para ela não ter continuado no colégio afiliado a essa escola. Julgando por sua relutância em se aprofundar, provavelmente era algo relacionado à família.
Fiz questão de não perguntar mais. Conhecendo-a, dificilmente seria por causa de notas baixas ou má conduta.
“Eu não fui para o colégio afiliado por circunstâncias familiares,” disse ela, com um sorriso levemente amargo. Parecia ter notado minha curiosidade e decidido explicar só o suficiente.
Vendo sua expressão desconfortável, escolhi não insistir.
Por outro lado, minhas histórias pareciam despertar bastante interesse. Ter crescido na região e frequentado a escola próxima significava que eu não faltava com episódios peculiares para contar.
Teve a vez em que peguei um ladrão roubando oferendas no santuário do bairro e o denunciei, e como esse incidente me levou a fazer amizade com Satoshi, que me ajudou na ocasião. Ainda assim, sempre que falava sobre o passado, os pensamentos sobre Miyuki surgiam. Era difícil. Acabei apagando sua presença das minhas histórias, não mencionando a garota que deveria estar lá. Esse pequeno ato de omissão doía de maneira amarga.
“Senpai?”
Ichijou-san deu um gole no chá de maçã e sorriu para mim — um sorriso tão gentil que parecia quase sagrado.
“Hmm?”
“Tudo bem. Quando algo é difícil, tudo bem dizer que é difícil. Talvez eu não entenda completamente, mas dá para ver que algo aconteceu. Algo tão doloroso que uma pessoa comum talvez nunca se recuperasse. Você é forte... mas ser forte demais pode acabar quebrando alguém. Então, antes que isso aconteça, por favor, fale comigo, tá?”
Ela pousou delicadamente a mão sobre a minha, seu toque irradiando calor e cuidado.
“Por que você confia tanto em mim, Ichijou-san?”
“No começo, era só porque achei errado acreditar em boatos sem fundamento sobre alguém. Mas agora é diferente. Mesmo que só tenha se passado um dia, passar esse tempo com você me fez ter certeza — você não é o tipo de pessoa que esses boatos sugerem. Eu acho... não, eu tenho certeza, que você se importa mais com os outros do que consigo mesmo. Você é o tipo de pessoa que se sacrificaria pelos outros. É uma qualidade maravilhosa, mas eu não suporto a ideia de alguém como você sendo esmagado pela maldade. Então, se você estiver sofrendo, eu estarei aqui por você.”
Comovido pela gentileza dela, decidi me permitir confiar nela.
“Obrigado, por tudo.”
As palavras escaparam dos meus lábios antes que eu pudesse impedi-las.
“‘Tudo’? Só se passaram dois dias, sabia?”
Nós dois rimos suavemente com isso.
“A propósito, Senpai, sinto dizer isso, mas já que nos entregamos aos doces hoje, acho que teremos que adiar as ostras fritas. Vou avisar sua mãe eu mesma.”
“Espera, quando é que você trocou contato com ela? Na verdade, deixa pra lá... tem certeza?”
“Sim! Eu não gostaria de interferir na sua determinação, afinal.”
Como ela me entende tão bem? Eu estava surpreso, mas não podia deixar de ser grato pela consideração dela. Assenti com a cabeça, aceitando sua decisão.
Perspectiva da Ichijou Ai
Depois de me despedir dele, entrei no carro que me esperava, refletindo sobre a felicidade do tempo que acabáramos de passar juntos.
Quando nos encontramos no portão da escola, sua expressão havia mudado — parecia como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros. Foi nesse momento que percebi: ele havia tomado a decisão de conversar com sua família sobre tudo isso.
Diferente da minha situação, a família do Senpai certamente estaria ao lado dele e lutaria junto. Mesmo que não fosse fácil trazer esse assunto à tona, a força da confiança e do vínculo entre eles me fez sentir uma pontada de inveja.
E ainda assim, aquelas palavras que ele disse mais cedo não foram só para mim — também foram para ele mesmo. Se o Senpai não estivesse, por acaso, naquele telhado naquele dia, quem teria quebrado... quem teria desmoronado... seria eu.
“Obrigado por tudo,” ele me disse. Mas quem devia agradecer sou eu.
“Por me encontrar quando eu estava prestes a quebrar... por me salvar quando eu estava à beira de desistir — obrigada.” Isso é o que eu deveria ter dito.
Por agora, somos apenas amigos... mas um dia... um dia, sem falta.
※
Perspectiva do Eiji
Fiquei parado em frente à porta do restaurante por vários minutos.
Se eu fosse falar, aquela era a minha chance. Já devia estar na hora em que os preparativos da noite estavam terminando. Eu não atrapalharia muito o trabalho deles. Eu precisava entrar. Eu sabia disso. Mas meu corpo parecia pesado, se recusando a se mover.
Ichijou-san, Satoshi, Takayanagi-sensei, Mitsui-sensei... Os rostos deles passaram pela minha mente — pessoas que acreditaram em mim, apesar de tudo. E então, finalmente, o sorriso da kouhai que disse: “Se ficar difícil demais, estarei aqui por você.”
Antes que eu percebesse, minha mão já estava na maçaneta da porta, apertando com força.
“Cheguei.”
Quando entrei, vi minha mãe sentada à mesa, calculando as vendas.
“O irmãozão está onde?” Perguntei.
“Bem-vindo de volta. Ele saiu para repor uns temperos que acabaram.”
Ela levantou os olhos do caderno de contas com um sorriso e perguntou:
“Quer alguma coisa para beber?”
Sua expressão calorosa me deu uma sensação momentânea de alívio. Reunindo coragem, abri a boca para falar.
“Mãe... desculpa. Eu preciso conversar com você sobre uma coisa.”
“O que foi? De repente, tão sério...”
Surpresa com a expressão incomumente solene no meu rosto, ela se virou para mim, o olhar cheio de preocupação.
“A verdade é que... eu...”
Minha respiração acelerou, e parecia que o tempo tinha desacelerado. As palavras não saíam fácil. Minha voz tremia enquanto eu me forçava a dizer a verdade.
“Desde o começo desse semestre...”
“Sim?” Ela incentivou, agora com o rosto tomado pela preocupação.
“Me desculpa. Na verdade... eu tenho sofrido bullying na escola. Eu acho... que por alguns colegas.”
Por um instante, minha mãe congelou, seus gestos pararam completamente. Ela me encarou, como se não conseguisse processar o que eu acabara de dizer.
“Bullying?” Ela repetiu, a voz fria e distante, a palavra cortando o ar de forma dolorosa. O arrependimento começou a ferver dentro de mim. Eu não devia ter dito nada. Só causei mais dor a ela.
“É... me desculpa.”
Eu estava dominado pela culpa. Só de imaginar o quanto isso devia doer nela — saber que o filho que ela criou com tanto carinho estava passando por isso — me enchia de vergonha.
Tudo o que eu conseguia fazer era pedir desculpas. De novo e de novo. Eu sentia vontade de chorar de tanta vergonha e humilhação.
“Por que você está pedindo desculpas? Eiji... você está sendo intimidado, não é?”
Embora eu tivesse usado a palavra “bullying”, mamãe percebeu imediatamente a verdade. Sua voz tremia enquanto me pedia uma confirmação.
“Sim… desculpa.”
Mais uma vez, as mesmas palavras escaparam dos meus lábios. Eu me odiava por ser tão fraco e patético. Quando fechei os olhos, tomado pela frustração, de repente senti algo quente me envolver.
“Você não precisa pedir desculpas. Na verdade, obrigada… por ter me contado. Deve ter sido tão difícil. Você deve ter sofrido tanto. Me desculpa por não ter percebido, mesmo sendo sua mãe.”
Sua voz era suave e reconfortante enquanto ela falava, me puxando para um abraço apertado.
“Desculpa… me desculpa mesmo,” eu disse, com a voz falhando.
“Tá tudo bem. Agora está tudo bem. É você quem está sofrendo mais, então, por favor, não se culpe mais. Obrigada por me contar algo tão difícil. Você continua sendo meu filho maravilhoso — meu orgulho.”
Eu desabei, chorando nos braços dela como uma criança, me deixando levar pelo calor de seu abraço.
“Tá tudo bem. A gente sempre vai estar do seu lado. Quando as coisas ficarem difíceis, é para isso que os pais existem. Eu vou te proteger — por mim e pelo seu pai também.”
Por um instante, parecia que meu pai, que já se foi, também estava ali conosco.
※
Contei para a minha mãe sobre o bullying que vinha sofrendo.
Sobre como informações falsas sobre meu problema com a Miyuki foram espalhadas nas redes sociais, levando ao meu isolamento na escola. Como esses boatos evoluíram para pichações de ódio na minha carteira, incluindo ameaças contra a Kitchen Aono. Como meus amigos começaram a me ignorar e como eu fui praticamente forçado a largar as atividades do clube.
O rosto da mamãe, enquanto eu falava, ficou mais furioso do que eu já tinha visto na vida. Eu percebia que ela tremia de raiva. Mas quando contei sobre as pessoas que ficaram do meu lado, sua expressão suavizou um pouco.
Falei sobre como a Ichijou-san foi a primeira a me entender e me apoiar.
Sobre como o Satoshi, percebendo que não tinha notado meu sofrimento nem conseguido me proteger, curvou a cabeça pedindo desculpas.
Sobre como meu professor responsável, Takayanagi-sensei, levou minha situação a sério e agiu rapidamente para me ajudar.
Sobre como o diretor, o vice-diretor e o Iwai-sensei, o coordenador do meu ano, estavam trabalhando para garantir que eu não sofresse mais nenhuma injustiça. E sobre como a Mitsui-sensei me deu coragem para enfrentar tudo.
“Que bom. Você tem pessoas do seu lado,” disse ela, finalmente aliviada, assentindo com a cabeça.
Quando contei que o diretor e o Takayanagi-sensei queriam conversar sobre os próximos passos, ela declarou com firmeza:
“Quero me encontrar com eles o quanto antes.”
“Tudo bem. Vou marcar para eles virem amanhã, no horário do seu almoço.”
Depois de a avisar, saí do quarto para ligar para o Takayanagi-sensei.
※
Depois de confessar para minha mãe sobre o bullying e contatar meu professor, eu estava tão esgotado que adormeci quase imediatamente.
Quando acordei no meu quarto, já passava das nove. Nem percebi o quanto estava cansado.
A essa hora, minha mãe e meu irmão provavelmente ainda estavam fechando o trabalho no restaurante.
Perto da porta, notei um prato com bolinhos de arroz e uma garrafa térmica cheia de sopa de missô com wakame e tofu.
Parecia que a mãe tinha preparado aquilo para mim. Junto com a comida, havia um bilhete: “Você deve estar cansado. Por favor, descanse bem. Coma isso quando acordar.”
Os bolinhos de arroz já estavam frios, mas eram meus preferidos — atum com maionese e salmão. Mesmo arroz frio parecia um banquete quando acompanhado da sopa quente de missô.
Enquanto respirava fundo, não pude deixar de me sentir grato pela sorte que tinha. Pelo Takayanagi-sensei, Mitsui-sensei, o diretor e os outros que me apoiavam nos bastidores. Pela Ichijou-san, Satoshi, minha mãe e meu irmão.
Eu achava que tinha perdido tudo depois de ser traído e sofrer bullying. Mas, no lugar disso, percebi que havia tantas pessoas que realmente se importavam comigo. Se eu não tivesse encontrado a Ichijou-san naquele dia no terraço… estremeço só de pensar no que poderia ter acontecido. Provavelmente teria acabado causando tanta tristeza para todos.
A Ichijou-san me salvou tantas vezes.
Então me lembrei de algo e peguei meu celular. Quase tinha esquecido que havíamos trocado contatos no café mais cedo.
“Senpai, vamos caminhar juntos para a escola amanhã pros simulados de toda a escola! Tô contando com você!!”
Sua mensagem tinha chegado há cerca de trinta minutos. Caminhar juntos até a escola — algo que normalmente poderia parecer um grande passo entre um garoto e uma garota — de alguma forma já havia se tornado parte natural da nossa rotina.
Notei também uma mensagem do Satoshi. Era só uma brincadeira casual, mas dava pra perceber que ele estava tentando ser atencioso do jeito dele.
Falando em mensagens, as contas de redes sociais que estavam lotadas de textos ofensivos no começo do semestre agora estavam estranhamente silenciosas. Mesmo com as notificações silenciadas, nenhuma nova notificação aparecia.
Talvez o plano da Ichijou-san tenha funcionado.
Ainda assim, a ideia de voltar para aquela sala de aula me dava calafrios. Provavelmente, minha história curta para a coletânea do Clube de Literatura já tinha sido jogada fora.
Embora eu ainda tivesse a versão digital salva no celular, pensar no meu manuscrito escrito à mão sendo descartado assim me enchia de tristeza.
Ficava repetindo para mim mesmo, de novo e de novo, que, embora eu tivesse perdido tanto, ganhei algo muito mais valioso em troca.
E então percebi algo curioso. Os sentimentos que eu achava que tinha pela Miyuki — o amor que acreditava existir — haviam desaparecido por completo.
Quando pensava nela agora, meu coração se enchia apenas de decepção e raiva. E, no lugar desses sentimentos perdidos, uma nova emoção crescia cada vez mais forte.
“Acho que é assim mesmo.”
Pensando na garota que estava se tornando minha maior aliada, fechei os olhos lentamente.
Perspectiva da Mãe do Eiji
“Você foi orientada a manter seus princípios, Miyuki-chan. Mas você cruzou a única linha que jamais deveria ter cruzado. Não vou mostrar misericórdia. Farei tudo o que puder para proteger o Eiji. E quando esse momento chegar, não me importarei mais com o que acontecer com você.”
Na solidão do meu quarto, declarei guerra à amiga de infância do Eiji — alguém que eu um dia adorei como se fosse minha própria filha.
Eu estava determinada a fazer o que fosse preciso para proteger o Eiji. Com essa decisão firmemente gravada no coração, meu telefone tocou. O número era de alguém em quem eu sempre pude confiar.
“Há quanto tempo, Minami-sensei.”
“Li sua mensagem. É verdade? O Eiji-kun está sofrendo bullying na escola?”
Minami-sensei era como um aliado jurado do meu falecido marido. Apesar da diferença de idade, os dois eram próximos como irmãos, confiando um no outro de forma absoluta. Sua voz ao telefone transbordava vigor, uma energia surpreendente para alguém com mais de setenta anos. Desde a morte do meu marido, Minami-sensei assumiu o papel de guardião dos meus filhos, quase como um verdadeiro avô. Se alguém poderia nos ajudar agora, era ele — eu tinha certeza disso.
“Parece que sim. O diretor da escola e o professor responsável pela turma do Eiji virão aqui amanhã, durante o almoço, para conversar sobre a situação e os próximos passos.”
“Inacreditável. Como alguém pode causar problemas a um garoto tão gentil como o Eiji-kun? Mas não se preocupe — eu conheço pessoalmente o diretor da escola dele. Participamos do mesmo grupo de voluntariado. Ele é um educador exemplar e tenho certeza de que dará apoio. E quanto ao Eiji? Ele está bem? Nessa idade, deve ser algo profundamente doloroso. Só de pensar já me parte o coração. Imperdoável. Se houver algo que eu possa fazer, não hesite em me pedir.”
“Muito obrigada. Ouvir isso do senhor significa o mundo para mim.”
Aquele calor em sua voz quase me fez chorar.
“Mesmo depois de ter deixado o cargo de prefeito, mantive boas relações com o chefe de assuntos educacionais da prefeitura e com os membros do conselho de educação. Eles certamente ajudarão também. Mamoru-kun, seu falecido marido, foi um dos maiores contribuintes desta cidade. Eu juro proteger o filho dele, Eiji-kun, com a minha própria vida, se for preciso.”
As palavras do ex-prefeito estavam cheias de convicção inabalável, fortalecendo ainda mais a minha determinação.
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