Volume 1
Capítulo 5: Adultos Confiáveis
5 de Setembro
A manhã fatídica havia chegado.
Eu tinha dito ao Satoshi que iria para a escola hoje. Mas, para ser honesto, tudo o que eu sentia era medo.
Eu não queria enfrentar a mesma maldade de ontem. É assim que se sente alguém pego em uma tempestade de ódio na internet? Mesmo pessoas que não têm nada a ver comigo parecem cheias de hostilidade.
Forcei o café da manhã goela abaixo — uma fatia de torrada acompanhada de sopa de consomê. O estresse deixou meu estômago revirado, e eu me sentia enjoado. Eu estava na pior forma possível.
"Estou indo."
Gritei para minha mãe e meu irmão, que estavam ocupados com os preparativos, antes de sair de casa.
A luz do sol brilhava intensamente, fazendo meu corpo parecer ainda mais pesado.
Uma garota de uniforme escolar me esperava em frente de casa. Seria a Miyuki? O pensamento fez um suor frio escorrer pelas minhas costas em rejeição.
Mas quando ela se virou, sua presença graciosa não era nada menos que angelical.
Não era Miyuki — era minha amiga insubstituível.
"Ah, bom dia, Senpai!"
Era Ichijou Ai. Ao presenciar esse momento surreal, instintivamente recuei de volta para dentro de casa.
"Q-que!? Por que você está fechando a porta? Eu acordei cedo só para virmos juntos para a escola!"
Sua voz aflita, tingida de pânico, só aumentava o quão surreal aquilo tudo era.
"Oh, é a voz da Ai-chan que eu estou ouvindo? Ela veio te buscar? Anda logo, Eiji. É falta de educação deixar uma garota esperando."
Apesar das palavras, minha mãe apareceu animada na porta para cumprimentar a Ichijou.
"Bom dia, Ai-chan! Veio de tão longe só por causa do meu filho tolo? Muito obrigada. Ah, aliás, você gosta de ostras empanadas? A partir de hoje teremos ostras empanadas no cardápio, e você tem que vir experimentar à noite. Elas vêm com bastante molho tártaro — nossa especialidade da estação! E para você, é sempre por conta da casa!"
A energia de "tia animada" dela estava a todo vapor.
"Ah! Bom dia, mãe do Senpai! Eu adoro ostras empanadas. Mas fico com peso na consciência por sempre ser tratada assim, então da próxima vez faço questão de pagar."
"Ah, que menina educada! Não se preocupe com isso de jeito nenhum. A gente até faz para viagem, então é só pedir quando quiser."
"Obrigada! Estou mesmo ansiosa para provar."
Como sempre, minha mãe e Ichijou se davam maravilhosamente bem. A conversa das duas não dava sinal de que iria parar, e era evidente que nenhuma das duas estava forçando simpatia.
Por fim, minha mãe praticamente me empurrou para fora de casa, dizendo: "Pronto, podem ir agora!" Eu não tive escolha a não ser sair.
"Então tá bom, vocês dois, tenham um ótimo dia!" Ela se despediu alegremente.
※
Seguimos pela rota até a escola e, aos poucos, outros alunos começaram a aparecer à distância.
Para ser sincero, graças à Ichijou-san caminhando comigo, o medo que eu havia sentido mais cedo diminuiu consideravelmente. Nossa conversa fluía naturalmente, e mesmo nessa situação, me peguei rindo enquanto andávamos juntos. Ela realmente parecia adorar ostras empanadas.
"Mas... tem certeza de que está tudo bem? Caminhar comigo até a escola pode fazer com que você também acabe sendo alvo de bullying," eu disse, expressando minha preocupação.
Ela dispensou o assunto com uma risada.
"Impossível. Sem querer me gabar, mas eu sou bem popular, sabe? Tanto com os garotos quanto com as garotas."
E ela não estava errada. Eu nunca tinha ouvido um único boato ruim sobre ela. Claro, ela rejeitava as declarações de amor sem piedade, mas fazia isso com tato e sinceridade suficientes para que ninguém guardasse rancor. Quase havia virado uma regra que guardar ressentimento por uma rejeição dela era fora de questão. Ela não era popular só entre os garotos; sua natureza gentil e confiável também a tornava uma das favoritas entre as meninas.
"Bom, acho que é verdade..."
"Senpai, você devia aproveitar o que pode. Caminhar comigo deixa tudo muito mais seguro para você. Pelo menos, as chances de alguém te insultar diminuem bastante."
Ela tinha razão. Alguns alunos passaram por nós e, em vez de jogarem insultos, apenas me encararam em choque e cochicharam entre si.
"Por que a Ichijou-san, que odeia garotos, está andando com um!?"
"Ei, não é aquele ‘Aono’ infame? Será que ele forçou ela ou algo assim?"
"De jeito nenhum. Olha só como ela está se divertindo."
"É, nunca vi ela parecer tão feliz assim antes."
Essa foi a reação geral de todos por quem passamos.
"Se tivermos sorte," disse Ichijou-san com um sorriso animado, "os boatos de hoje podem substituir aqueles desagradáveis. O interesse das pessoas é volúvel e irresponsável assim mesmo. Além do mais, garotas adoram fofoca sobre romance mais do que escândalos."
Ela riu, claramente se divertindo.
"Mas... eu não quero que a sua reputação sofra por causa disso," eu disse, incomodado.
"Você é gentil, Senpai, mas está pensando demais. Minha reputação não vai ser abalada só porque estou indo para a escola com um amigo. E, para ser honesta, eu não preciso da aprovação de pessoas que jogam maldade em alguém sem nem conhecer seu verdadeiro caráter."
Nós só nos conhecíamos havia um único dia.
"Você é incrível..."
Ter uma amiga tão maravilhosa me fazia querer chorar de alegria de novo e de novo.
"É cedo demais para chorar. Quando tudo isso acabar, vamos chorar o quanto quisermos juntos," ela disse com um sorriso radiante.
Graças ao Satoshi, eu tinha decidido ir para a escola hoje.
Graças à Ichijou-san, eu tinha encontrado coragem para enfrentar essa batalha.
Eu estava à beira de perder a fé na humanidade, mas agora sentia que podia acreditar nas pessoas novamente. Juntos, passo a passo, seguimos em frente.
※
Continuávamos a atrair os olhares de muitos alunos. Com a escola já à vista, essa dupla incomum era o centro das atenções.
De um lado, estava Ichijou Ai, uma das maiores belezas da escola e uma prodígio altamente respeitada.
Do outro lado, eu — Aono Eiji, o chamado pior tipo de cara, acusado de ter usado violência contra sua amiga de infância.
Os alunos ao nosso redor lançavam olhares de desprezo para mim, mas a presença esmagadora da Ichijou os impedia de dizer qualquer coisa. Se cochichassem alto demais, a ídola da escola poderia ouvi-los.
E se isso acontecesse, corriam o risco de perder seu próprio lugar nesta escola. O instinto de autopreservação provavelmente mantinha suas bocas fechadas.
Mas, o mais importante, Ichijou-san parecia genuinamente feliz. Ela caminhava comigo por vontade própria, irradiando alegria enquanto conversava comigo. Sua felicidade era tão evidente que até os que estavam ao redor podiam senti-la.
Seu sorriso era deslumbrante — o suficiente para cativar qualquer homem. Ninguém conseguia interromper alguém tão alegre.
"Ah, estamos quase chegando na escola," ela disse com um tom melancólico. "Senpai, você vai voltar para casa comigo de novo hoje, não vai?"
Era a maneira dela de ser gentil. Ela estava agindo como meu escudo para me proteger do bullying.
O modo como ela enfatizou a palavra "de novo" deixava claro — era uma forma sutil de avisar a todos que também havíamos voltado juntos para casa ontem.
"Tem certeza?"
"O que você está dizendo? Quem está te pedindo sou eu, lembra?"
Ela ergueu um pouco a voz, apenas o suficiente para que os outros ouvissem. Seu tom tornava impossível para mim — ou para qualquer um ali — recusar. Na verdade, muitos dos caras que já haviam sido rejeitados por ela provavelmente sonhavam em estar na minha posição agora.
"Tá bom. Por favor, cuide de mim."
"Fufu, então você vai ter que me pagar ostras empanadas! Tô brincando!"
Nos despedimos no armário de sapatos, combinando de nos encontrar ali novamente depois da aula.
※
A partir daqui, essa seria uma batalha que eu teria que enfrentar sozinho. Reforçando minha determinação, segui em direção aos armários de sapatos. Meus sapatos de uso interno podiam ter sumido de novo. Ou o armário podia estar cheio de tachinhas ou lixo. Eu me preparei para o pior.
No entanto, meu armário de sapatos estava tão limpo e intocado quanto havia estado ontem.
Não havia sinais de adulteração. Olhando ao redor, notei o professor responsável pelo ano, Iwai-sensei, pairando de maneira visível perto da entrada.
"Então é assim."
Parece que ele estava de vigia desde cedo para impedir que alguém mexesse nas minhas coisas. Não havia muitos que ousariam fazer algo sob o olhar atento do professor responsável.
"Oh, Aono! Bom dia. Você já conversou com o Imai, certo?"
"Sim, já," respondi.
Iwai-sensei sorriu amplamente e soltou uma risada calorosa. "Ótimo, ótimo."
"Então vá primeiro até a sala dos professores e encontre o Takayanagi-sensei. Ele está preocupado com você desde ontem."
Eu estava preparado para levar uma bronca por ter matado aula, mas não havia o menor sinal de repreensão no tom dele.
"Sim," respondi.
Embora nossa conversa tenha sido breve, o sorriso em seu rosto mostrava que ele estava satisfeito.
※
Segui em direção à sala dos professores no primeiro andar. Para ser honesto, entrar ali nessas circunstâncias era algo terrível. Eu sabia que seria o centro das atenções. Alguns professores provavelmente ainda duvidavam de mim, e eu podia sentir seus olhares frios em minha imaginação.
"Bom dia, Aono."
Enquanto me preocupava com isso, meu professor responsável, Takayanagi-sensei, já me esperava no corredor, do lado de fora da sala dos professores.
"Bom dia. Por que está aqui fora?"
"Ah, bem," ele respondeu, com o tom calmo de sempre, "dada a situação, imaginei que poderia ser desconfortável entrar sozinho na sala dos professores. Então resolvi esperar aqui por você."
Seu jeito descontraído de falar carregava uma consideração inconfundível. Eu não pude deixar de me sentir grato.
"Obrigado."
"Não precisa agradecer; isso é o mínimo que posso fazer. Agora, vamos conversar. Mas o corredor ou a sala dos professores não são os melhores lugares para isso. Vamos usar a sala de reuniões."
Sala de reuniões? Não seria a sala de orientação o lugar comum para esse tipo de coisa?
Esse pensamento passou pela minha cabeça, e parecia que Takayanagi-sensei havia percebido.
"Você prefere a sala de orientação? O problema é que lá o ambiente costuma dar a sensação de que o professor está no controle, e não é isso que eu quero aqui. Quero que a gente converse em pé de igualdade, por isso escolhi a sala de reuniões."
Balancei a cabeça rapidamente. De jeito nenhum eu queria ter essa conversa em um espaço tão sufocante.
"Imaginei," disse ele com um pequeno sorriso.
Entramos juntos na sala de reuniões.
"Sente-se ao meu lado, Aono. Fica mais fácil conversar assim do que um de frente para o outro."
Dava para perceber que ele estava tentando me deixar à vontade, até mesmo forçando um sorriso leve enquanto indicava a cadeira.
"Antes de começarmos," disse ele, com o tom de voz de repente mais sério, "tem algo que preciso dizer."
A mudança de postura me fez me endireitar na cadeira, com a ansiedade no limite.
"Aono, sinto muito de verdade. Eu falhei em perceber o que você estava passando e, como resultado, você sofreu muito. Se eu tivesse criado um ambiente onde você se sentisse seguro para conversar antes das férias de verão, talvez pudesse ter aliviado um pouco da sua dor. Eu carrego essa responsabilidade pelo que aconteceu. Me desculpe de verdade."
Ele se curvou profundamente, mantendo a posição por mais de um minuto. Sua sinceridade era palpável, e eu não pude evitar de me sentir culpado também.
"Sensei, por favor, levante a cabeça. Eu nem tentei falar com você, então a culpa não é sua. Além disso, o fato de ter percebido tão rápido que algo estava errado é... impressionante."
Quando finalmente falei, ele levantou a cabeça devagar e me encarou com olhos sinceros.
"Aono, eu já tenho uma ideia geral do que aconteceu. O Imai me contou algumas coisas ontem. Mas quero ouvir de você — quando estiver pronto, e só o que se sentir confortável em contar. Sem pressa. Mesmo que seja aos poucos, gostaria que você conversasse comigo."
A ideia de contar tudo a um professor — especialmente algo tão humilhante quanto meu término e as acusações que vieram depois — era insuportável. Eu não queria contar a ninguém como a garota em quem mais confiava me chamou de "stalker e abusador" antes de me dar um fora. Como fui cortado pelos meus colegas de classe e de clube, e virei alvo de bullying. Só de pensar nisso já me sentia patético.
E ainda assim, por algum motivo, sentia que talvez conseguisse contar para ele.
Se ao menos eu conseguisse reunir um pouco mais de coragem.
O que me segurava era o medo. Se eu contasse, a escola poderia ter que intervir, e os alunos que me assediaram poderiam se vingar por "dedurar para o professor". As coisas poderiam piorar ainda mais.
Percebendo minha hesitação, Takayanagi-sensei falou gentilmente.
"Desculpe, Aono. Talvez eu esteja te apressando. Você não precisa falar nada hoje se ainda não estiver pronto. Tome seu tempo; tudo bem esperar até você conseguir organizar seus pensamentos."
"...Me desculpe."
"Não precisa se desculpar. Está com sede? Normalmente isso não seria permitido, mas só por hoje, vou te oferecer uma bebida enlatada. O que você gostaria?"
Suas palavras gentis me fizeram sentir um pouco menos tenso.
"Então... uma cola, por favor."
"Entendido. Espere aqui um momento."
"Mas, Sensei, e sua aula do primeiro período? Não está prestes a começar?"
"Ah, é mesmo. Não se preocupe, já acertei isso com o restante da equipe. O vice-diretor vai cobrir minha aula de história mundial hoje. Ele costumava ensinar história e geografia, então está mais do que preparado. No momento, a prioridade da escola é te apoiar, Aono, porque sei que você está passando pelo momento mais difícil de todos."
Parece que os professores estavam mesmo fazendo vários esforços para me apoiar. O Iwai-sensei mais cedo foi um exemplo claro disso. Eu estava tão grato, mas não conseguia me forçar a conversar direito, e isso só me fazia sentir ainda mais patético.
"Obrigado," soltei, incapaz de segurar as palavras.
"Ei, eu nem peguei sua cola ainda. Guarda o agradecimento para quando eu voltar com ela," respondeu Takayanagi-sensei com um leve sorriso, o tom de voz só um pouco descontraído o suficiente para aliviar a tensão.
Aquele pequeno toque de brincadeira me fez sentir genuinamente feliz.
※
"Aqui, beba."
Takayanagi-sensei voltou com uma lata de cola gelada, recém-saída da máquina de vendas. Ele segurava duas latas vermelhas, uma em cada mão.
"Obrigado."
"Está tão insuportavelmente quente hoje que vou quebrar minha regra de não tomar açúcar e tomar uma também," ele disse com uma risada enquanto abria a lata. Do jeito que agia, parecia mais um primo mais velho do que um professor.
"Sensei, por que o senhor acredita em mim? Ninguém mais sequer se dá o trabalho de ouvir o meu lado da história."
"Bem," ele respondeu, "tem dois motivos para isso."
"Dois?"
"Sim. Primeiro, é óbvio para mim que a maioria dos alunos está presa num frenesi irresponsável de boatos — uma espécie de pânico coletivo. Adultos como eu conseguem dar um passo para trás e enxergar isso pelo que realmente é. Você já viu brigas na internet, certo? A pessoa que está no centro de tudo sempre é pintada como a vilã absoluta, não importa a situação real. As pessoas se iludem achando que são justas e lançam insultos cruéis."
"Sim."
Essa era exatamente a posição em que eu estava.
"Mas muitas vezes a origem dessa briga é obscura. Quando as pessoas embarcam nessa onda e machucam alguém com base em boatos, elas mesmas correm o risco de perder tudo. E nem percebem. Os que estão te assediando estão presos nesse mesmo ciclo sem sentido."
"...Mas e se eu for mesmo o tipo de pessoa que eles dizem? E se os boatos forem verdadeiros?"
"Essa possibilidade não é zero," ele admitiu. "Mas aí entra o segundo motivo. Não importa em que encrenca você tenha se metido, você não me parece alguém que recorreria à violência. Você não é do tipo que desconta nos outros quando as coisas dão errado. Pelo contrário, me parece mais do tipo que culpa a si mesmo. No mínimo, você não é alguém que mereça esse tipo de bullying cruel. Se eu tivesse que resumir, diria que é a minha 'intuição de professor'."
Ele tomou um gole da cola, como se quisesse amenizar a seriedade do que dissera. Mas eu sabia que Takayanagi-sensei era um pensador afiado. Chamar isso de "intuição de professor" parecia um jeito de suavizar o impacto.
Percebi que ele disse dessa forma por minha causa. Um professor típico talvez dissesse "eu acredito em você", mas dada a fragilidade da minha situação, essas palavras poderiam soar como pressão. Como se carregassem uma exigência não dita de "então me conte tudo". Em vez disso, ele fez questão de tornar sua confiança leve e indireta, como se dissesse: "Você pode me contar quando estiver pronto".
Um professor que se importava tanto assim comigo...
Tomei minha decisão.
Olhei Takayanagi-sensei diretamente nos olhos. Ele pareceu entender o que eu estava prestes a dizer e me deu um leve aceno de encorajamento.
"Takayanagi-sensei, tem algo sobre o qual eu gostaria de conversar com o senhor."
Perspectiva de Takayanagi
Aono se encheu de coragem e começou a falar por minha causa.
"Sensei, o senhor sabe que eu namorava a Miyuki... Amada Miyuki, certo?"
"Sim."
Então era um problema de relacionamento, pensei. A maioria dos problemas no ensino médio costuma vir disso.
"Bem, eu tinha combinado de sair com a Miyuki no dia 30 de agosto, meu aniversário. Mas ela cancelou de repente, dizendo que não poderia ir. Mais tarde, quando eu estava andando pela cidade, vi ela... de braços dados com o Kondo-senpai, passeando pelo distrito comercial."
Ao ouvir isso, não pude deixar de sentir uma pontada de simpatia.
Então a Amada estava traindo ele — com o Kondo do time de futebol.
Kondo, um aluno do terceiro ano, era o craque do time e bastante popular entre as garotas. Seu pai era vereador da cidade, e ouvi dizer que ele tinha sido sondado por algumas universidades de prestígio no futebol. Em termos acadêmicos, ele não estava reprovando, mas estava longe de ser um aluno exemplar.
Para ser honesto, Kondo não tinha uma boa reputação entre os professores. Ele mantinha a fachada de astro esportivo exemplar, mas tinha um número preocupante de problemas envolvendo relacionamentos. O que o tornava ainda mais problemático era sua astúcia.
Traição, embora moralmente indefensável, não é contra a lei a menos que envolva um casal casado. Sem um contrato de casamento, nenhum dos parceiros pode legalmente exigir reparação por infidelidade.
Como professor, já ouvi histórias de Kondo ignorando até mesmo conselhos sutis sobre seu comportamento. Quando seu antigo professor responsável tentou adverti-lo indiretamente sobre seus relacionamentos, Kondo respondeu friamente: "Os professores têm o direito de se meter na nossa vida particular?" Ele já havia desviado o rumo de vida de vários alunos sem que a escola pudesse intervir.
Será que suas ações finalmente resultaram em um conflito aberto?
"Eu fui até eles, tentando confrontá-la. Peguei o braço da Miyuki — não com força, pelo menos eu não achei — mas ela fez uma careta de dor. Então o Kondo-senpai de repente..."
Aono hesitou, lutando para encontrar as palavras certas.
Para um garoto do ensino médio, contar uma história de decepção amorosa para um professor não era tarefa fácil. Quando eu estava prestes a dizer que ele não precisava forçar aquilo, ele me encarou com determinação.
"Eu tô bem," disse ele.
"Então... ele me deu um soco no rosto e me chamou de perseguidor violento."
"O quê?"
Fiquei paralisado, completamente atônito com o que acabara de ouvir.
O Kondo o chamou de perseguidor violento? No que ele estava pensando?
Isso não era só um caso de traição — era violência e difamação aberta.
"E então... o Kondo pediu para a Miyuki escolher. Eu ou ele. E ela..."
Aono baixou a cabeça, o corpo tremendo.
"Ela escolheu o Kondo, não foi?"
As palavras escaparam antes que eu pudesse me conter, e me arrependi no mesmo instante. Que tipo de professor joga sal numa ferida tão recente?
"Isso," sussurrou Aono. Sua voz falhou de angústia, e ele parecia estar se segurando para não desabar.
Ao ver sua dor, minha visão se turvou. Por um momento, me vi tomado por pensamentos sentimentais demais para um professor solteiro de trinta e poucos anos.
"Você passou por muita coisa, não é? Sofreu demais," eu disse. "Obrigado por me contar."
Olhando para Aono, dava para ver que ele não tinha ido ao hospital nem contado para os pais sobre ter sido agredido. Se ele tivesse um laudo médico ou qualquer prova concreta, Kondo poderia ter sido punido imediatamente.
Mas sem provas, a astúcia de Kondo quase certamente prevaleceria. Ele distorceria a história para se passar por herói, o salvador de uma garota de um perseguidor. Eu já podia imaginar ele sorrindo e dizendo algo como: "Eu só separei eles de leve, e agora ele tá dizendo que eu bati nele."
A única maneira de avançar seria reunir o máximo de informações possível, identificar as contradições na história de Kondo e desmontar sua defesa peça por peça.
"É aqui que os adultos entram."
[Almeranto: Aí sim mlk, Takayanagi vai virar o Batman agora KKKKK.]
A questão mais urgente agora era garantir que a vida escolar de Aono não fosse irreversivelmente arruinada. Forçá-lo a suportar a hostilidade diária na sala de aula só deixaria cicatrizes emocionais profundas. Isso não resolveria nada.
Felizmente, o diretor havia insistido que "vítimas de bullying não devem ser forçadas a largar os estudos ou parar de frequentar a escola. Elas não podem sofrer desvantagens, como perder aulas." Ele trabalhou com os professores das disciplinas para garantir que Aono pudesse acompanhar os estudos por meio de aulas suplementares e tarefas.
Mas quanto mais isso se arrastasse, mais difícil seria para Aono aguentar.
"Desculpe, Sensei. Eu só estou causando problemas para todo mundo, não estou?"
Mesmo na dor, Aono se preocupava mais com os outros do que consigo mesmo.
"Problemas? De jeito nenhum. Escute, Aono. Você pode achar que isso é só problema seu, mas não é. É meu problema como seu professor, e também é um problema da escola. Para mim, trabalhar para resolver isso não é um fardo — é minha responsabilidade. E você é bondoso e responsável demais para o seu próprio bem."
"…"
Aono me olhou, confuso.
"Essas qualidades suas... são virtudes. Mas, porque você é tão atencioso com os outros, existem pessoas, como eu, que querem ser alguém em quem você possa confiar."
"Isso… realmente está certo?"
"Sim. Se apaixonar por alguém é um dos sentimentos mais puros que existem. Quando isso é pisoteado, até adultos podem ter seus corações despedaçados. Para alguém da sua idade, passando pela adolescência, é ainda mais difícil. Por isso, quando as coisas ficarem difíceis, não hesite em contar com alguém. Pode ser comigo, com a Mitsui-sensei ou qualquer um dos outros professores que estão preocupados com você. Pode ser um amigo como o Imai, seus pais ou seus irmãos. Quando você estiver sofrendo, pense primeiro em você. Por favor."
Não pude evitar sentir um pouco de vergonha por essas palavras idealistas demais, mas elas vinham do coração. Com isso, renovei minha determinação de dar tudo de mim para resolver esse problema.
※
Perspectiva do Eiji
[Na tradução em inglês, nessa parte, não possui esse: “Perspectiva do Eiji.” Só pus para o entendimento de vocês, leitores(as), para não ficarem confusos(as).]
Acabei passando o dia inteiro na enfermaria. A partir de amanhã, os professores começarão as aulas suplementares para mim, mas parece que não conseguiram organizar tudo a tempo para hoje. Honestamente, eu nunca esperava que a escola fosse tão longe para me apoiar, e parece quase um sonho. Dito isso, ficar o dia todo na enfermaria é difícil. Eu me sinto inquieto, e ocupar uma cama mesmo estando perfeitamente saudável me parece um pouco egoísta.
"Aono-kun, você passou por muita coisa. Está se sentindo bem?" Mitsui-sensei apareceu para ver como eu estava.
"Sim, obrigado."
"Que bom. Mas mesmo que seu corpo esteja bem, você passou por algo muito difícil. Não se force demais — seu coração precisa de tempo para se recuperar."
Ela falou com uma doçura tão tranquilizadora que quase me deixou sem jeito.
"Eu realmente sinto que os professores estão cuidando de mim. Isso é reconfortante."
"Sente mesmo? Então lembre-se de que o Takayanagi-sensei tem se esforçado especialmente por você. Guarde isso no coração, tá bom?"
"Vou guardar."
"Mas passar sete horas na enfermaria deve ser bem entediante, né? Quer que eu pegue um livro na biblioteca para você? Consegui uma permissão especial."
Para ser sincero, ficar parado me faz sentir que posso ser engolido pela negatividade. Manter a mente ocupada soa como uma boa ideia.
"Pode mesmo?"
"Claro. Só não faça alarde. Se chamarmos muita atenção, podemos acabar levando bronca."
O sorriso caloroso dela trazia um toque de malícia, e esse contraste me fez rir, mesmo sem querer.
"Claro, vou manter em segredo."
"Ótimo. Então será nosso segredinho, só entre nós dois."
Ficou claro que aquela enfermaria se tornaria um refúgio seguro para mim.
※
Mitsui-sensei trouxe uma seleção de novels para mim. Eram todos best-sellers recentes, variando desde ficção geral que havia ficado em alta nas premiações de livrarias do ano passado até um mangá médico clássico de um artista lendário, além de uma coletânea de entrevistas com especialistas renomados em várias áreas.
Ficava claro que ela havia escolhido livros com temas mais leves, para evitar algo muito pesado, considerando meu estado atual. A maioria deles tendia para o drama humano, um gênero que parecia estranhamente apropriado.
Sempre fui um leitor rápido, então, até o fim da manhã, já havia terminado uma das novels. Para um estudante do ensino médio como eu, comprar um livro de capa dura que custa mais de mil ienes é um desafio, então poder ler assim, de graça, era sinceramente uma bênção.
"Oh, já terminou? Você é rápido. Quer fazer uma pequena pausa? Posso preparar um chá."
Mitsui-sensei acabara de voltar da sala dos professores com alguns papéis. Ao ver meu progresso, sorriu calorosamente.
"Pode mesmo?"
"Só desta vez. Está bom chá verde? Não tomo café, então não tenho por aqui."
"Agradeço."
Achei surpreendente descobrir esse lado dela. Mitsui-sensei sempre parecia tão composta e capaz, mas aqui estava ela, com uma preferência simples por chá verde. O cheiro do chá era maravilhoso, e o rótulo da caixa sugeria que era de uma variedade bem refinada.
Relaxando com a bebida quente, me peguei falando sem nem perceber.
"Por que a senhora decidiu se tornar professora, Sensei?"
Ao ouvir minha pergunta, ela riu suavemente.
"Para ser honesta, tirar a licença para dar aulas foi mais um plano de reserva. Eu queria sair da universidade com uma qualificação útil, sabe? Não tinha metas muito definidas, então me matriculei no curso de educação da faculdade local e tirei o diploma de professora... por precaução."
A honestidade dela me pegou de surpresa, e minha reação deve ter ficado estampada no rosto, porque ela riu de novo.
"Talvez eu não devesse contar isso para um aluno, mas como estamos só nós dois aqui, não vejo problema em ser sincera."
"Então, a senhora virou professora logo depois de se formar?"
"Não. Na verdade, comecei em uma empresa comum. Só mudei de carreira há cinco anos."
"Sério? Que inesperado. Achei que a senhora sempre tivesse sido professora."
"Bem, eu até queria ser na época da faculdade, mas acabei desistindo da ideia no início."
A expressão dela ficou nostálgica, e eu instintivamente hesitei, sem querer forçar o assunto.
"Está tudo bem", ela me tranquilizou. "Não é algo que eu não possa falar. De certo modo, você pode dizer que eu fugi. O estágio de docência foi divertido, e me diziam que eu levava jeito, mas me dava medo."
"Medo?"
Mitsui-sensei é bem querida entre os alunos. Sempre recebe pedidos de conselhos, então ouvir esse lado dela foi surpreendente.
"Sim. Ser professora é uma responsabilidade enorme. Uma única palavra de um professor pode mudar completamente o futuro de uma criança. Quando percebi isso, fiquei apavorada."
"Então... ainda sente medo?"
Parecia indelicado perguntar, mas não consegui conter minha curiosidade.
"Sinto, sim. Especialmente agora, sabendo que você está numa situação tão delicada. Mas é justamente por esse medo que quero compartilhar minha história. Você me ouviria?"
"Sim."
Ela olhou direto nos meus olhos e começou.
"A verdade é que, no meu emprego anterior, eu sofria para lidar com as pessoas. Meu coração estava em frangalhos. A empresa onde eu trabalhava tinha uma cultura rígida, hierárquica ao extremo. Para dizer o mínimo, não combinava comigo."
Eu assenti. Histórias sobre lugares assim costumam aparecer em novels. Soava como um daqueles ambientes cheios de assédio e estresse — não muito diferente das lutas que estou vivendo agora.
"Aquele sistema engessado me levou ao limite físico e mental. Mas tudo que eu pensava era em aguentar. Quanto mais me esforçava, mais me destruía. Não conseguia confiar em ninguém. Só continuava afundando."
Se não fosse pela Ichijou, Satoshi ou Takayanagi-sensei, eu provavelmente teria acabado do mesmo jeito — me forçando a ir para as aulas, suportando o bullying constante e me despedaçando por dentro.
Perspectiva da Ichijou Ai
Depois de me despedir do Senpai, segui para minha sala de aula. Os olhares dos meus colegas estavam tingidos de confusão — provavelmente por causa da minha ausência repentina ontem, quando saí discretamente da sala e faltei à escola. Felizmente, avisei a professora responsável que não estava me sentindo bem, então provavelmente constaram como saída antecipada.
"Ichijou-san, ouvi dizer que você não estava se sentindo bem. Está melhor agora?"
A representante da turma perguntou, com uma expressão genuinamente preocupada. Com suas tranças e óculos, ela parecia a imagem perfeita de uma aluna exemplar, exalando um senso de confiabilidade.
"Sim, estou melhor agora. Acho que o calor me derrubou, mas descansei e me recuperei."
Respondi com a mesma naturalidade de sempre.
"Entendo. Ainda está bem quente esses dias. Não se esforce demais, tá bom?"
"Obrigada. Agradeço."
Essa é a máscara que uso na sala de aula. Ser gentil com todos, mas manter uma leve distância. Assim, evito o isolamento enquanto garanto que ninguém tenha ideias erradas.
A boa aparência num ambiente fechado como a escola é uma faca de dois gumes. Atrai mal-entendidos românticos e inveja ao mesmo tempo. Por isso, faço questão de não fazer inimigos, mas também de não me aproximar demais de ninguém.
Eu sei que sou uma mulher problemática. No fundo, quero me apoiar em alguém, mas não consigo. Por isso acabo me encurralando, como fiz ontem. É patético como luto com essa contradição. E mesmo assim, aqui estou, interpretando o papel de "Ichijou Ai" que todos esperam. Ninguém vê o verdadeiro eu — nem os professores, nem os amigos, nem mesmo os empregados de casa. Nem mesmo meus próprios pais.
[Almeranto: Esse tipo de atitude me lembra alguém… quem será mesmo? Kkkk | Del: Estava pensando o mesmo, obviamente.]
Por isso, a anomalia na minha vida — a pessoa que mudou tudo — é o Senpai, aquele que conheci só ontem e que já considero um amigo precioso.
Com ele, pude mostrar minhas partes mais vergonhosas, o verdadeiro eu, e até facetas de mim mesma que nem sabia que existiam.
"Então é assim que se sorri desse jeito… Eu nem sabia que conseguia."
Estranhamente, estar com ele não parece um fardo. Ele provavelmente acha que estou agindo como escudo para protegê-lo da dureza dos outros. Isso porque ele é gentil, e eu sou quem está sendo egoísta.
Mas a verdade é que foi ele quem protegeu meu coração. Acho que é por isso que quero passar o máximo de tempo possível com alguém tão importante para mim.
Deve ser assim que uma garota se apaixona, pensei comigo mesma. Embora, no meu caso, talvez seja um pouco incomum.
"Ei, Ichijou-san. Desculpa, posso te perguntar outra coisa?"
A representante da turma se aproximou novamente, sua voz levemente hesitante.
"O que foi?"
Fingi ignorância, mesmo já sabendo o que ela ia perguntar. Não era difícil prever essa conversa. Por isso, não fiquei particularmente surpresa nem abalada.
"Hum… desculpa, mas eu vi. Hoje de manhã."
"Viu o quê?"
Fingi que não sabia. Mesmo já entendendo, queria confirmar de qualquer jeito.
"Hoje de manhã… eu vi você indo para a escola com aquele veterano de quem todos estão falando."
Claro.
"Ah, você quer dizer o Aono-senpai?"
Eu disse seu nome de propósito alto o bastante para que toda a sala ouvisse. Como esperado, a menção ao seu nome causou um murmúrio espalhado pela sala.
"Espera, por que a Ichijou-san...?"
"Não é o Aono aquele veterano envolvido naquele incidente violento?"
"Isso é impossível. Deve ter algum engano."
A representante da turma parecia um pouco culpada, como se tivesse desejado manter essa conversa discreta, provavelmente tentando não colocar minha reputação em risco. No entanto, a reação da sala saiu do controle, e seu desconforto se tornou evidente.
"Sim, eu fui até a casa do Senpai esta manhã, e viemos juntos para a escola."
Eu disse firmemente, me certificando de que toda a classe ouvisse. Se era para fazer isso, precisava causar impacto.
"Espera, na casa dele!? Ichijou-san, você é mesmo tão próxima dele assim?"
"Sim. Próxima o bastante para que a mãe dele até me convide para refeições."
A reação da classe ficou ainda mais caótica. Rumores sobre mim e um estudante do sexo masculino nunca tinham circulado antes, então esse acontecimento deixou meus colegas visivelmente abalados.
De certa forma, era o meu lado egoísta e possessivo se revelando. Eu não menti, mas certamente conduzi a situação de uma maneira que não deixasse espaço para dúvidas sobre minha proximidade com ele.
"Ichijou-san, você sabe dos rumores sobre o Aono-senpai? Ele não tem uma boa reputação, sabia?!"
Um garoto do clube de futebol, Maehira-kun, interveio de repente. Ele era um daqueles tipos descolados e despreocupados que costumavam agir sem pensar muito.
"Sim, eu sei."
Reconheci sem hesitar.
"Então por que... Alguém assim não é digno de estar perto de você—"
[Del: Ih rapaiz… Até onde sei, alguém ficaria pistola com isso.]
Normalmente, eu não interromperia alguém no meio da frase, mas as palavras dele me irritaram o bastante para que eu me virasse e o fitasse com um olhar frio e implacável.
"Maehira-kun, você já falou diretamente com o Aono-senpai?"
"Não, mas..."
"Então, você já viu com seus próprios olhos algum dos incidentes sobre os quais esses rumores falam?"
"Bem... não."
Continuei pressionando, deixando o silêncio que se seguiu pairar pesado no ar. A sala ficou mortalmente quieta, os sussurros anteriores foram substituídos por uma tensão incômoda. Meus colegas pareciam sentir a minha raiva.
"O Senpai não é o tipo de pessoa que esses rumores fazem parecer. Eu sei disso melhor que ninguém porque ele é meu amigo. Não, mais do que isso — ele é meu salvador. Então, eu agradeceria se vocês não espalhassem boatos sem fundamento sobre ele. Francamente, eu odeio pessoas que atacam os outros sem saber a verdade, só porque é mais fácil."
Percebi que talvez estivesse forçando demais, então suavizei o tom, tentando soar mais como alguém que está argumentando do que acusando diretamente. Ainda assim, não consegui suprimir completamente a ponta afiada da minha voz — aquilo era pessoal demais.
"...Desculpa. Você tem razão. Eu não deveria ter dito algo tão imprudente."
O pedido de desculpas veio mais rápido do que eu esperava. Apesar do seu jeito despreocupado, Maehira-kun não era uma má pessoa no fundo, e sua resposta direta me tranquilizou.
"Não, eu também peço desculpas. Não deveria ter sido tão dura."
Sorri para ele, um sorriso treinado para dissipar a tensão.
"Desculpa também," a representante da turma disse. "A culpa foi minha por ter tocado no assunto."
"Está tudo bem. Não há necessidade de se desculpar. Não é algo que eu esteja tentando esconder."
Na verdade, eu me sentia um pouco culpada por tê-la envolvido no meu plano.
A verdade é que, mesmo que o Senpai eventualmente seja inocentado, o dano dos rumores não vai desaparecer da noite para o dia. Eles vão persistir como uma mancha escura, continuando a assombrá-lo.
Eu não suportava a ideia de vê-lo sofrendo com isso pelo resto da vida. Se eu pudesse substituir as fofocas negativas por algo positivo, mesmo que um pouco, eu faria.
Decidi fazer o que fosse preciso para proteger o Senpai. Esse era o mínimo que eu poderia fazer por ele.
Perspectiva do Kondo
Droga, que saco.
Com uma partida de treino se aproximando, eu não tive escolha a não ser me arrastar para o treino matinal — algo raro para mim — e isso estava me deixando de mau humor.
"Não caia num drible tão básico, Mitsuda! E você, lateral do primeiro ano, não deixa esse espaço todo aberto! Como diabos a gente vai ganhar o jogo-treino desse jeito, seus idiotas?"
Despejei minha irritação nos meus companheiros de time.
Honestamente, se a gente perder aqui e isso manchar a minha carreira brilhante, quem vai se responsabilizar? Eu sou o rei desse time.
Defender? Isso não é meu trabalho. Existe uma regra não dita entre o técnico, meus colegas de time e eu: contanto que eu resolva no ataque, não preciso me sujar na defesa. Se eu perder a bola, não preciso correr atrás dela. Os meio-campistas e zagueiros cuidam disso. Gastar minha energia em algo tão tedioso quanto defender só tiraria o brilho das minhas jogadas ofensivas. Isso é senso comum.
Eu controlo a bola e faço um passe perfeito no espaço aberto. Esse toque refinado é o que me diferencia.
Não importa o quanto esses jogadores comuns tentem me marcar, é inútil. O abismo entre o talento deles e o meu é incomparável. Vê-los se debatendo me lembra da cara patética do Aono Eiji.
Será que aquele perdedor ainda consegue aparecer na escola? Vai ser tão divertido ver quanto tempo ele aguenta.
Ontem, meus subordinados se divertiram mexendo na mesa dele. Os boatos de que ele é um delinquente violento estão se espalhando como fogo em palha pela escola. Com a reputação dele em frangalhos, só existir já deve ser insuportável para ele. Desse jeito, ele vai direto para o abandono escolar permanente.
E ainda teve a noite passada — algo ainda mais divertido aconteceu.
Parece que a Miyuki começou sua espiral de fuga.
Ela me chamou para ir até a casa vazia dela, desesperada por companhia, e é claro que eu aceitei.
"Me faz esquecer de tudo."
"Eu sei que nunca vou conseguir voltar a ser como antes."
"Você é tudo o que me resta."
Eu mal consegui segurar o riso enquanto ela se agarrava a mim, e acabamos enroscados um no outro.
E é isso — mais uma que caiu.
Você sabe, não sabe, Miyuki? Você está deslizando pelo mesmo caminho que o Aono.
"É, nós vamos ficar sempre juntos. Somos parceiros nisso,” sussurrei docemente.
Lágrimas escorriam pelo rosto dela enquanto repetia "Obrigada" sem parar. Eu ainda dei umas dicas de como se virar nas próximas reuniões com os professores. Isso deve manter as coisas sob controle por enquanto.
Quando o Aono estiver completamente fora do jogo, eu vou largar a Miyuki e partir para a próxima garota. Agora mesmo, ela está se segurando por um fio, se corroendo de culpa por trair o amigo de infância. Mas quando a mente frágil dela finalmente quebrar, e aquele rostinho perfeito e bonito se contorcer em desespero... ah, essa é a melhor parte.
Ela já disse umas coisas realmente hilárias:
"Eu abandonei a pessoa que mais amava para ficar com você..."
"Por favor, não me deixa. Por favor, tô implorando!"
"Eu faço qualquer coisa — qualquer coisa que você quiser!"
E quando uma mulher se agarra assim em você, você só precisa dizer uma coisa:
"Qualquer coisa, hein? Então fica de joelhos."
E todas desabam em lágrimas. Sem exceção.
"Já deu, sua vadia traidora."
"Como se eu fosse confiar em alguém como você."
"Eu não suporto garotas grudentas, sabia?"
Esse momento em que elas desmoronam em lágrimas, se encolhendo no chão — é isso que alimenta meu valor próprio.
Ah, mal posso esperar para ver aqueles dois desmoronarem completamente!
※
O treino matinal havia terminado, e eu estava me trocando no vestiário do clube.
“Ufa. Finalmente acabou.”
“Ei, Kondo-senpai! Dá uma olhada nisso — tá circulando por aí.”
Aida, do segundo ano, me mostrou o celular. Parecia ser uma captura de tela de um grupo de bate-papo entre colegas de classe.
“O que é...? Espera—”
Fiquei paralisado, encarando a tela sem acreditar no que via.
Era uma foto de algo que nem deveria existir.
Na tela, aparecia o Aono — aquele desgraçado que eu espanquei outro dia — caminhando para a escola com a idol da escola. Os dois estavam sorrindo.
Alguns dos veteranos viram aquilo e começaram a rir.
“Não é a Ichijou Ai, do primeiro ano? O que ela tá fazendo andando pra escola com aquele delinquente? E ainda com esse sorriso no rosto…”
“Pois é? Hilário. Todo mundo diz que a Ichijou é tipo uma super-humana perfeita, mas parece que ela tem um defeito — um gosto péssimo para homens.”
Aida riu junto com eles.
“Nem me fala. Aono? Sério? O gosto dela é um lixo completo. O que deu nela?”
Com isso, os dois saíram do vestiário, ainda rindo.
Mas eu fiquei ali, tremendo de humilhação.
Ichijou Ai, hein…
Aquela garota. Aquela que, no semestre passado, quando eu tentei chamá-la para sair, me dispensou friamente dizendo: “Desculpa, mas sair com um cara que eu mal conheço é meio assustador, para ser honesta.”
E agora ela anda com ele?
Mesmo depois de eu já ter ‘marcado território’ e feito inimigos na escola inteira… por quê? Por que eu tenho que engolir essa humilhação?
Eu sou o rei dessa escola. Não tem como eu perder para um zé-ninguém como ele.
Tudo bem. Se é assim que vai ser, eu vou fazer questão de mostrar para ela.
Vou mostrar o que significa sentir a diferença entre as nossas classes — o abismo que existe entre nós!
Perspectiva de Takayanagi
Com as informações confiáveis obtidas do Aono, organizei para que ele permanecesse na enfermaria, para não forçá-lo demais. Afinal, considerando tudo o que ele passou, seria irracional esperar que ele voltasse imediatamente para a sala de aula e participasse das aulas normalmente.
Ele concordou com minha avaliação, então, conforme combinado previamente com a Mitsui-sensei, decidimos que o Aono frequentaria a escola através da enfermaria por um tempo. No entanto, se seus estudos sofressem com isso, o esforço seria em vão. Para resolver isso, pedi aos professores que estivessem livres em determinados períodos para ajudarem com aulas de reforço em uma sala vazia. O diretor e o vice-diretor coordenaram os preparativos, então o plano entrará em vigor amanhã.
O diretor, que também leciona inglês, ficará responsável por essa disciplina.
Iwai-sensei, o responsável pela série, também concordou gentilmente em ajudar.
Quando pedi desculpas, dizendo “Me sinto mal por fazer o Aono ter que andar às escondidas assim,” Iwai-sensei me tranquilizou, dizendo “Pelo contrário, sua consideração é muito bem-vinda. Somos realmente gratos.”
Ouvir isso aliviou um pouco minhas preocupações.
No entanto, um grande problema permanece: quando informei ao Aono que queria compartilhar os detalhes deste incidente com sua família, ele recusou veementemente, dizendo: “Essa é a única coisa que eu absolutamente não posso permitir.”
Está claro que ele não quer preocupar sua mãe solteira, que o criou sozinha, nem seu irmão mais velho, que tem se esforçado para sustentar a família apesar da pouca idade.
Entre todas as conversas que tivemos hoje, esse foi o ponto em que ele mais resistiu.
Por ora, deixei a questão em suspenso, mas não posso deixá-la assim para sempre. Como professor responsável pelo bem-estar dele, é minha obrigação compartilhar essas informações com sua família o quanto antes. Esperar que algo mais aconteça seria tarde demais — já chegou longe demais.
Dito isso, forçar o assunto corre o risco de prejudicar ainda mais a confiança e o estado emocional do Aono. Ele depositou sua confiança em nós, e compreendo totalmente seu desejo de manter a família fora disso.
“No fim das contas, não existe uma resposta ‘certa’ ou ‘errada’ aqui…”
Pela primeira vez desde que comecei a lidar com esse caso, não pude evitar soltar um suspiro de fraqueza.
Quando consultei o diretor mais cedo, ele disse: “É uma questão muito delicada. Do nosso ponto de vista, queremos informar a família dele imediatamente. Mas também entendo os sentimentos do Aono-kun. Questões do coração assim fogem da nossa área de especialidade. Venho de uma geração que confiava em abordagens mentais simplistas demais, e posso acabar ferindo ele sem querer. Por isso, vou pedir para a Mitsui-sensei cuidar disso. Também estamos providenciando para que um conselheiro escolar venha em breve.”
É verdade que, apesar dos nossos melhores esforços, é incrivelmente desafiador lidar com o espaço pessoal de um aluno na adolescência. Vou seguir o conselho do diretor e confiar na Mitsui-sensei. Só espero que dividir minhas preocupações com ela ajude a guiar o Aono para um estado mental mais positivo.
Por enquanto, vou me concentrar no que posso fazer.
Primeiro, preciso conversar com o Aida e o Shimokawa do clube de futebol que estão na minha turma. Depois disso, a próxima é a Amada. Dada sua personalidade, é improvável que a Amada tenha feito algum mal diretamente ao Aono. Isso deixa os mais próximos do Kondo, o craque do time de futebol, como os suspeitos mais prováveis. Começarei falando com eles e, se nada surgir, passarei para alunos que estudaram com o Kondo no ensino fundamental.
Além disso, quando falei com o representante da classe ontem, ele testemunhou: “Quando cheguei na sala às oito horas, a pichação na mesa do Aono já estava lá.” Se alguém estava na sala antes dele, é provável que fosse um membro de algum clube que tivesse treino matinal. Isso reduz consideravelmente os suspeitos em potencial.
※
Após terminar a entrevista com Aida, comecei a com o Shimokawa, que entrou em seguida.
Ambos os alunos haviam sido dispensados de suas aulas para isso.
“Desculpe te chamar assim de repente, Shimokawa. Sei que é inesperado.”
Iniciamos a reunião na sala de orientação estudantil. Shimokawa, com o cabelo levemente tingido de castanho, sentou-se à minha frente.
“Então, por que me chamou aqui?”
“Bem, entre os alunos com quem eu precisava conversar hoje, o seu nome apareceu primeiro em ordem alfabética. Ontem, já falei com alguns dos alunos que não participam de nenhum clube. Isto é só uma precaução. Espero que compreenda — estou apenas cumprindo meu dever aqui.”
Coloquei minha habitual postura relaxada para aliviar um pouco da tensão. A expressão dele suavizou um pouco, parecendo menos nervosa.
"Isso é sobre o Aono, né? Você está desconfiando de mim ou algo assim?"
Falante. Pelo menos isso agiliza as coisas.
"Claro que não. Quando perguntei a um dos alunos que chegou cedo ontem de manhã, ele disse que a pichação já estava na mesa quando chegou. Por isso, preciso verificar com os membros dos clubes que tiveram treino matinal."
Falei o mais casualmente possível, desempenhando o papel de um professor desmotivado.
"Ah, que chato, hein, sensei. Mas não fui eu. Quer dizer, nós do time de futebol vamos direto para o vestiário do clube sem passar pela sala."
"É mesmo?"
"É, é assim que a gente faz. Então, quando a gente foi para a sala depois, também ficamos chocados com o que tinha acontecido."
"Entendi. Você viu alguém da nossa turma antes do treino?"
"Hã? Não… acho que só o Aida. Ele também é do time de futebol."
"Certo."
"Se você vai suspeitar da gente, pelo menos mostre alguma prova, Takayanagi-sensei!"
"Justo. O Aida disse a mesma coisa. Entendi. Pode voltar para a sala agora."
"Beleza, então."
Com um sorriso descuidado, ele saiu da sala de orientação, parecendo não se importar nem um pouco.
Observei-o ir embora e suspirei.
"Sério, como é que os dois deram exatamente o mesmo depoimento? Ao menos tentem disfarçar um pouco."
Aida e Shimokawa são definitivamente suspeitos. Primeiro, os dois fizeram questão de confirmar se estavam sob suspeita. Depois, deram exatamente a mesma explicação: que foram direto para o vestiário do clube para o treino matinal, não entraram na sala de aula e não viram mais ninguém da turma além um do outro. E, por fim, ambos exigiram provas caso fossem duvidados.
É como se estivessem seguindo um roteiro, dando respostas perfeitamente mecânicas. Suspeito demais.
E tem mais uma coisa... Aida, Shimokawa. Vocês dois encontraram o Makabe do time de basquete e cumprimentaram ele, não foi?
Eu sei disso porque conversei com o Makabe ontem durante nossa reunião.
Agora então, o que devo fazer com isso? Por ora, vou manter os olhos nesses dois. Se estão envolvidos, alguém deve estar manipulando tudo nos bastidores. Vou precisar descobrir quem é o mentor por trás dessa trama.
※
Agora, para a próxima entrevista.
A aluna que eu aguardava entrou na sala de orientação.
Miyuki Amada. Amiga de infância do Aono e provavelmente a única pessoa, além de Kondo, que conhece todos os segredos.
Ela é uma aluna excepcional que atuou como vice-representante de classe no primeiro semestre. Ela e Aono deviam ter começado a namorar no último inverno. Para ser honesto, ela é bonita e muito popular entre os garotos. Não parecia do tipo que trairia, mas o amor pode ser uma droga que enlouquece as pessoas.
Desde os tempos imemoriais, amores proibidos levaram incontáveis jovens à ruína. Como professor de história, consigo pensar em inúmeros incidentes catastróficos movidos por romances.
Na história japonesa, há o caso Kusuko no Hen, ou o Incidente do Dojo.
Na história chinesa, o imperador Xuanzong e Yang Guifei.
Na história britânica, o divórcio do rei Henrique VIII ou o caso amoroso envolvendo a coroa.
Até mesmo governantes no auge do poder tiveram suas vidas jogadas no caos por causa do amor. O quanto mais frágeis, então, são alunos exemplares à mercê da adolescência?
Bem, talvez o motivo de eu ainda ser solteiro seja justamente porque sou do tipo que usa referências históricas para organizar os pensamentos. Dizem que os tolos aprendem com a experiência, mas os sábios aprendem com a história. Ainda assim, é algo a se pensar.
"Desculpe chamá-la aqui, Amada. Sei que foi de repente."
"É sobre o Eiji, não é?"
"É, isso mesmo."
Amada não parecia tão abalada quanto eu esperava. No entanto, as olheiras e a palidez denunciavam seu estado.
"Eu não tenho nada a ver com esse incidente!"
Sua voz saiu aguda, quase histérica, enquanto ela declarava isso com força.
"Oh?"
"Você me chamou aqui porque acha que eu sou suspeita, não foi?! É verdade que eu e o Eiji tivemos problemas por causa do término... e então ele me viu andando com o Kondo-senpai, que estava me dando conselhos, e entendeu tudo errado."
A postura calma que ela tinha há pouco se desfez. Ela começou a falar rápido, dizendo coisas que eu nem sequer havia perguntado ainda. Isso não tinha nada a ver com a vice-representante de classe que eu conhecia do primeiro semestre.
"E foi aí que o Aono pegou seu braço?"
"Sim. O Eiji ficou bravo e tentou nos separar puxando meu braço com força! Nós já estávamos conversando sobre terminar há um tempo, então foi por isso..."
"Hmm. Isso é bem diferente do que o Aono me contou."
"Isso porque... ele deve estar escondendo a verdade."
Entendi. Por ora, vou ouvir toda a versão dela.
"Então, você sabe algo sobre a postagem na rede social dizendo que o Aono te agrediu?"
Nesse momento, um brilho suspeito apareceu em seus olhos. Era como se ela já tivesse ensaiado a resposta.
"Acho que o Kondo-senpai, preocupado comigo, deve ter consultado alguém e isso vazou. Ele não é do tipo que espalha boatos por diversão. E é verdade que fiquei com um leve hematoma de tanto que ele puxou meu braço."
Por um instante, ela voltou a ser a aluna exemplar de sempre.
"Tenho só uma pergunta. Posso fazer?"
"Sim."
Sua resposta foi hesitante, com uma expressão que mostrava que ela não esperava ser questionada nesse ponto.
"Perdoe-me, mas eu revisei a postagem na rede social em questão para confirmar os fatos. Se for verdade que o Aono te agrediu, a escola terá que tomar medidas disciplinares contra ele. Então, me diga: conforme descrito na postagem, o Aono realmente cometeu violência contra você?"
Essa foi uma jogada calculada. Mencionar a punição do Aono era um apelo à consciência dela. Com base na agitação anterior dela e nos depoimentos suspeitos de Aida e Shimokawa, é quase certo que o Aono é a verdadeira vítima aqui. Isso foi um blefe. Como precaução, eu já havia orientado o Aono a salvar os registros das mensagens dele com a Amada na rede social. Aparentemente, esses registros ainda estavam intactos. Embora eu preferisse evitar violar a privacidade de um aluno, se eu pedisse para o Aono me mostrar as conversas, ficaria imediatamente claro quem está mentindo.
Na verdade, eu já o tinha visto salvar as mensagens usando a função de captura de tela do celular. Ninguém preservaria voluntariamente uma prova que pudesse prejudicar o próprio caso, a menos que não tivesse nada a esconder.
A Amada devia estar sentindo alguma culpa pela traição e por ter tentado incriminar o Aono. Era essa culpa que eu queria despertar.
"Is-isso é…"
Ela baixou o olhar, incapaz de responder.
"É importante."
Fiz questão de que meu tom carregasse o peso do que estava em jogo — o fato de que uma única afirmação poderia determinar o futuro de alguém. Encarei-a enquanto falava.
"Eu… eu não sei. Eu também estava nervosa…"
Entendo.
"Certo. Vamos encerrar por hoje. Talvez eu tenha mais perguntas depois. Se lembrar de algo, não hesite em me procurar. Se houver algo mais que queira dizer, agora é a hora."
"…Não há nada."
Após um momento de hesitação, Amada escolheu seu caminho. Um caminho desviado.
"Entendido. Obrigado. Pode voltar para a sala."
Para ser sincero, senti uma enorme decepção. Se ela tivesse dito a verdade agora, talvez houvesse outro caminho possível.
Mas não há o que fazer. Agora, terei que investigar a fundo, expor suas contradições e me aproximar do verdadeiro mentor por trás de tudo isso. Infelizmente, isso também pode significar que a Amada enfrentará medidas disciplinares.
Assim que eu combinar os registros de conversa do Aono com outra prova que estou guardando, ela não terá saída. Ainda assim, estou perdendo a pista decisiva para encurralar o mentor que manipula tudo nos bastidores. Por ora, vou deixá-la em paz.
Que pena, Amada. De verdade.
※
E finalmente, o último entrevistado chegou. O mentor, e provavelmente a verdadeira causa de tudo — o aluno do terceiro ano, Kondo.
“Fala aí!”
Ele entrou com um sorriso inocente no rosto. Conseguir agir assim mesmo depois de ser chamado para a sala de orientação... ele talvez seja um gênio, num sentido distorcido.
“Obrigado por ter vindo. Você sabe por que está aqui, certo?”
“Claro! Você queria perguntar sobre aquele tal de Aono que machucou a Miyuki, né? Sem problema!”
Ser capaz de continuar sustentando essa narrativa contra Aono mesmo agora — isso é uma habilidade, embora uma que nunca deveria ter sido cultivada.
“Isso mesmo. Parece que a Amada ficou abalada demais para explicar claramente o que aconteceu no dia em questão, então pensei em perguntar a você, já que era quem estava mais próximo dela.”
“Claro. Quer dizer, qualquer garota reagiria assim depois de ser machucada pelo namorado. Naquele dia, a Miyuki veio me pedir conselhos. Disse que queria terminar com ele, mas ele não aceitava. Ela estava com medo porque ele estava começando a agir como um perseguidor.”
“Entendo.”
O tom dele era tão confiante que poderia ter sido convincente, se eu já não tivesse verificado a verdade.
“Então, quando nós estávamos andando juntos, por acaso, aquele cara nos viu. Deve ter pensado que ela estava traindo ele. Ele começou a gritar, bem irritado, e agarrou o braço da Miyuki com força. Ela estava sentindo dor, tentando se soltar. Eu intervi e os separei porque estava perigoso — vai saber o que ele poderia ter feito.”
Ele mente com a mesma facilidade com que respira.
“O Aono disse que você bateu nele.”
“Isso é só delírio de perseguidor. Ele estava apertando o braço delicado dela com tanta força que eu tive que intervir para impedir que ele a machucasse. Se alguém ficou violento, foi ele que começou.”
“Entendo.”
O objetivo desta sessão era principalmente ouvir o lado dele e observar. Eu precisava ter paciência.
“Isso faz sentido para você?”
“Só mais uma pergunta. Por que você postou sobre esse incidente nas redes sociais?”
“Ah, imaginei que você fosse perguntar isso. Mas aquela conta não é minha. Eu só estava tentando proteger a Miyuki desse perseguidor. Pedi ajuda para o pessoal do clube de futebol e, bem… acabei mandando uma foto do hematoma da Miyuki para eles. Esse foi o meu erro. Alguém deve ter se empolgado de raiva e postado de uma conta falsa.”
Então essa é a história que ele inventou. Honestamente, Kondo, você daria um golpista melhor do que jogador de futebol.
“Tem ideia de quem possa ter feito isso?”
“Não, nenhuma. Mas, sensei, tenho um pedido. O clube de futebol tem uma partida importante chegando. A pessoa que postou provavelmente não quis fazer mal — só estava agindo pela Miyuki. Então, se você descobrir quem foi, espero que possa resolver isso discretamente.”
Ele realmente não poupa esforços para sair bem na foto. Na verdade, ele tem um talento natural para a política.
“Não posso prometer nada, mas farei o que puder.”
Para evitar ser arrastado para um duelo de inteligência com esse vigarista, dei um passo atrás de propósito, focando em extrair o máximo de informações possível.
“Obrigado. Eu sabia que você entenderia, Takayanagi-sensei. Eu estava preocupado que você pudesse realmente ficar do lado de um perseguidor desses. Ele é uma vergonha para a escola.”
A verdadeira vergonha desta escola é o fato de alguém com o seu caráter ter sido aceito aqui.
Eu mal consegui me segurar para não dizer isso em voz alta.
Se eu mostrasse hostilidade abertamente aqui, ele provavelmente faria de tudo para atrapalhar a investigação. Um homem tão vil quanto ele merece sentir todo o peso da desgraça iminente se aproximando antes de ser arrastado para o inferno.
[Del: Caracas Takayanagi. | Almeranto: Quando lí pela primeira vez, minha reação foi a mesma.]
“Mais uma coisa. Se o Aono realmente agrediu a Amada, a escola teria que tomar medidas disciplinares. Talvez até envolver a polícia. Então, para deixar claro — você realmente presenciou isso?”
Se ele ainda tivesse um mínimo de decência, isso talvez o fizesse reconsiderar. Mas, como eu esperava, sua resposta veio na hora certa.
“Eu com certeza vi. Mas não acho que a Miyuki gostaria que isso chegasse até a polícia.”
Essa resposta me fez estreitar levemente os olhos.
“E por que acha isso?”
“Quanto maior o escândalo, pior será para a reputação da Miyuki. Além disso, ela teria que reviver aquelas memórias horríveis de novo e de novo. Isso seria terrível para ela, não é? Por isso que ela ficou evasiva quando falou com você.”
Na superfície, é uma explicação plausível...
Mas, quando mencionei a polícia, a expressão de Kondo se fechou por um breve instante. Claramente, a ideia de investigadores profissionais se envolvendo o deixou desconfortável. Isso significa que há algo aqui — uma verdade que ele não quer que venha à tona.
Além disso, eu só havia sugerido vagamente que Amada estava abalada demais para explicar claramente o incidente, mas Kondo declarou abertamente: “Amada foi evasiva.” Esse deslize o traiu — foi como se ele admitisse que combinaram suas versões.
“Entendo.”
Deixei as palavras no ar, carregadas de implicações ocultas.
“Então, posso ir agora? Na verdade, eu tenho um convite para participar de um treino com o time de futebol de uma universidade em Tóquio hoje. Preciso ir.”
“Claro. Desculpe por tê-lo feito perder tempo.”
Com passos leves e confiantes, Kondo deixou a sala.
É verdade que Kondo é esperto e articulado, mas isso só em comparação com seus colegas. No fim das contas, ele ainda é apenas um estudante do ensino médio.
Por um breve momento, senti pena dele como professor. Mas quase imediatamente minha perspectiva mudou, e passei a vê-lo como apenas mais uma pessoa.
Lancei um olhar de desprezo para a cadeira onde ele estivera sentado instantes antes.
“Continue avançando, se quiser — direto por esse caminho que te levará ao inferno.”
Perspectiva do Kondo
“Haha, isso foi muito fácil. Isso é tudo que eles tinham? Honestamente, professores realmente não possuem nada de especial.”
Eu não conseguia parar de rir.
[Almeranto: Vai nessa amigão, daqui a pouco é vascão pra tu.]
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