Volume 2

Capítulo 40: Sonho de treinamento: Nádia III

                         

Falta só dois dias para acabar o mês.

Nosso treinamento para controlar a Gnosis está no fim. Nessa reta final, as sessões estão servindo apenas para lapidarmos tudo o que aprendemos. Refinarmos o controle e as características dessa energia. Estamos focando em aplicar isso durante o combate, então as patrulhas viraram o foco do jogo agora.

Mesmo Yatsufusa, uma versão inconsciente e incompleta da Emma, de um modo também inconsciente, conseguiu aprender sobre a essência da Gnosis ao entender sobre seus desejos e motivações. Pelo menos agora ele não tá que nem um maníaco atrás de lutar com a Sashi e tem se focado no treinamento.

— Lembrem-se do que ensinei. Expandam sua Gnosis e mantenham fluindo por seus personas — Nádia instruía. 

Nós obedecemos. Nádia espera e observa, parada ao centro com olhar de expectativa ao iniciar mais uma sessão. Todos nós aumentamos nossa Gnosis e o primeiro efeito visível são as auras que circulam por nós se manifestarem, todas aos seus modos.

A aura da Sashi são suas chamas violeta que, após aquele dia, tornaram-se mais vivas e pulsantes. Em sua forma de aura, esse fogo fica mais translúcido e circula por todo seu corpo como ondas ondulantes. A outra mudança que percebo é o cabelo dela, agora ainda mais roxo e luminoso, e aqueles pequenos chifres de luz no topo de sua testa se tornando mais visíveis.

Já a aura de Gnosis de Yatsufusa é preta e sua nodachi parece ainda maior, o que pode ter relação direta com aura. Os olhos dele ficam ainda mais brilhantes por trás da máscara e seus cabeços pretos ficam com contornos brilhantes. A máscara não muda em nada.

Zeppelin e Jamal fazem um pouco diferente; mesmo que suas auras cobrissem seu corpo, eram contornos ondulantes sutis comparados à camada que cobria suas armas, bem mais forte e densa. As lâminas de Zeppelin tem maior quantidade de Gnosis a envolvendo, assim como Jamal com suas manoplas. Uma forma de priorizar o ataque, Nádia explicou a algumas sessões atrás.

Já o Roberto manteve a forma de sua aura concentrada e constante em todo o seu corpo. Entre todos, o Roberto foi o que mais mostrou proficiência entre nós para manipular sua Gnosis, moldá-la e mantê-la firme. Claro, sua habilidade exigia que ele tomasse dano e redirecionasse esse dano ao seu inimigo, então quanto mais ele conseguisse minimizar esses impactos, melhor.

— Olha, até que melhoraram bastante. Estou surpresa. Alguns ainda estão com dificuldades para manter esse fluxo constante, mas todos conseguem acessar energia de forma espontânea e consciente. — Ela solta círculos de fumaça tremulantes. — Meus parabéns.

— É normal sentirmos coisas ruins quando acessamos a Gnosis? — Zeppelin pergunta.

— Ia fazer a mesma pergunta — pontua o Rei de Latão.

— Como assim?

— Emoções ruins — esclarece a empregada caolha. — Algo como raiva e medo e vontade de matar todos que estão na minha frente, principalmente o tonto do Jamal.

— Ei!

O Rei de Latão leva a mão à testa que não tinha. Yatsufusa olha torto para os dois, incomodado com tanto barulho. Acho que ele deseja aprender alguma habilidade para cortá-los apenas usando os olhos.

Nádia tamborila seus dedos por cima de seus perfeitos lábios, pensativa.

— Imagino que tenha a ver com suas emoções. Como eu repeti várias vezes, a Gnosis passiva tem muito a ver com seu eu, então as sensações que libertar esse poder desencadeia podem ser diversas. Tem muito a ver com as experiências que o fictor enfrentou na vida. Dominar essas emoções e canalizá-las para transforma-las em força é a verdadeira arte da fictomancia. É assim que Gnosis é refinada.

Zeppelin estreitou seu olho e o fechou, voltando a se concentrar. Ela era um das que tinha dificuldade em manter aquela energia fluindo sem muitos entraves. Não me atrevo a perguntar a ela o motivo.

Todos ali deviam ter seus motivos para se jogarem de cabeça nesse mundo.

Continuamos no nosso exercício habitual. Mesmo que agora as chamas de Sashi agora pudessem ser direcionadas e controladas, ainda é muito difícil manter aquele fluxo. Os sentimentos são intensos e... sufocantes.

Um sinal de que ainda não superei totalmente. Ainda há coisas que preciso me lembrar, que preciso aceitar. Mas já fiz um progresso de milhões só da última semana para cá, o que deixou Sashi animada.

De tarde, ficávamos à toa — segundo Nádia, era o momento que tínhamos para nos concentrar nas nossas “cicatrizes”, fazer meditações ou assistir a filmes que desencadeassem sentimentos em nós, uma espécie de treinamento extra —, e à noite, patrulha.

Confesso que nunca foi tão fácil retalhar pesadelos agora que Sashi parece mais forte. As noites eram entediantes para ela quando Emma não estava dormindo. Yatsufusa sempre tinha um jeito de tirar a Sashi do tédio. Sinto até um pouco de ciúmes.

Os pesadelos mais comuns eram facilmente dissipados. Já os mais fortes — geralmente pesadelos de várias pessoas ao mesmo tempo — também não eram o bastante para fazer Sashi usar suas técnicas mais fortes.

Só sobrava o tédio.

— Ei, Calebe — Sashi me chama. — Pode me responder uma coisa?

— Hm?

— Essa... Carla. Ela era... muito importante para você?

Arqueio as sobrancelhas, sem entender a pergunta. Coço a cabeça, pensando em uma resposta. Dá para ver que Sashi está desconcertada com a pergunta que fez. Quem souber o motivo, morre.

— Por que essa pergunta de repente?

— Meio que sinto suas emoções também e... quando as memórias dela vem, você sente... dor. Angustia, tristeza.

Suspiro com certo pesar.

— Eu não sei ao certo os sentimentos que eu tenho... ou tinha, por ela, sei lá... Só sei que nossa promessa é algo que quero cumprir.

Sashi me encara com um olhar incerto.

— E você... sente a mesma coisa quando olha para mim? — Sua voz vacila. — Dor?

— Eu vejo alguém importante e com quem posso contar — digo, sorrindo. — Não fique pensando muito nisso, está bem?

Ela cora e vira o rosto. Seus lábios tremem e um sorriso tímido se forma. Uma rajada de vento sopra seus longos cabelos pretos com uma aurora azul violeta os sombreando. Ela olha para o céu e posso jurar que seus olhos brilham mais que estrelas. Aquilo magnetiza minha atenção.

— E já pensou o que faremos quando tudo isso terminar? — O olhar dela foca a imensidão noturna do céu.

— Ainda não pensei nisso. Mas seja lá o vá acontecer, quero que esteja lá.

Sashi deixou escapar um risinho felino.

— Aonde estiver, eu estarei.

— Se concentre, Sashi — ordena Nádia enquanto faz chover meteoritos assassinos sobre nós.

Simplesmente são muitos. Para cada dois que Sashi retalha, mais quatro são criados. Ela esquiva, corta e bloqueia, sem parar em nenhum momento. A cada momento ela aumenta a densidade dos projeteis e a velocidade com que eram lançados.

As chamas violeta de Sashi a rodeiam, queimando vários dos meteoritos. Ela balança a katana em círculos e faz as labaredas seguirem seus movimentos. A área ao redor dela se expande. Uma enorme quantidade de Gnosis se aglomera e as chamas se tornam tão vivas que criam um brilho nocivo aos olhos.

— Vai apelar para técnicas? Sequer consegue manter o controle das chamas ainda — provoca Nádia.

Sashi engole em seco e recua sua espada. Uma das pedras passa de raspão no seu rosto e sinto minha bochecha esquentar. Outra atinge sua perna e meu fêmur parece se torcer em resposta. Soltei um grunhido.

— Calebe!

— Não ligue para ele! — Nádia a repreende. — Foque no inimigo a sua frente! Não permita sua Gnosis vacilar em nenhum momento, samurai.

Ela responde com um estalo de língua e isso me faz me sentir mal. Não só porque estou com dor, mas sinto que sou um peso morto para a Sashi. Esse sentimento não é de hoje.

Será que eu de alguma forma a limito?

Sashi ignora os comentários da Executiva e ergue a katana acima da cabeça, com as duas mãos. Nádia sorri, como se já esperasse que ela fizesse aquilo.

— Prepare-se!

Venha, samurai. Use sua...

Sashi acumula as chamas na sua arma e então acerta o solo, bem nos seus pés. A potência do ataque é capaz de propelir ela para cima, na direção de Nádia. No meio do voo, ela leva várias e várias pedradas em vários cantos. Rosto, peito, braços e abdome são os mais atingidos.

Me sinto fuzilado nesse momento. Mas não solto nem um gemido. Tinha que resistir. Não posso atrapalhar a Sashi.

Ainda com as duas mãos na empunhadura, em pleno ar, Sashi aproxima sua espada perto do rosto, dando a entender que ela usaria um golpe de estocada. Nádia ainda se mantinha em uma distância segura o suficiente para reagir a qualquer investida da Sashi, mas afastou-se um pouco mais por precaução.

Por um breve momento, aquele sorriso de confiança some do rosto e dá lugar a um semblante sério de cautela. Pelo visto, Sashi não está agindo como ela calculou.

— Hyaaah!

As chamas espiralam ao redor da lâmina e seus cabelos se iluminam, adquirindo o mesmo tom vivo e violáceo da sua energia. Seu corpo se ilumina e o espiral de fogo é disparado da ponta de sua katana. Nádia é o alvo.

— Que?

—...?!

 


Um pouco de sensibilidade e imaginação são bons. Essa é a segunda parte para dominar a Gnosis.


 

A espiral serpenteou entre as pedras, deslizando entre os projeteis como se fosse intangível. Ela não destrói nenhum deles, mas também nenhum dos meteoritos consegue frear o ímpeto do espiral violeta.

Como ela está fazendo isso?!

 


Basta o menor gatilho... para uma pessoa mudar. A imaginação pode lhe dar as asas que precisa para voar, mas não se prenda a limitações.


 

O espiral avança. Nádia começa a fugir dele, mas o tornado de fogo violeta a persegue no ar. E seus projeteis continuam intactos, sendo disparados de sua própria Gnosis. Mesmo sendo acertada, várias e várias e várias vezes, ela se mantém em sua postura.

Sua concentração está somente em manter o controle do fogo. Da Gnosis.

Agora a energia era uma extensão sua. Mesmo sentindo toda aquela torrente de dor e sentimentos se revolvendo dentro de mim, eu sinto... e ela também. Podemos continuar!

 


Imagine uma versão futura de si mesmo que superou plenamente seus limites. Seja essa versão, domine esse pensamento e sinta com sua energia.


 

Nádia desce de sua plataforma até o chão. Esse é o momento que tenho para surpreendê-la. Ela está ocupada demais fugindo das chamas da Sashi!

Ao se virar, ela percebe que já estou atrás dela. Mesmo usando sua habilidade fictomântica, ela não conseguirá escapar do meu punho.

 


E por fim, seja mais livre. Deixe os sentimentos fluírem por você. Bons ou ruins, familiares ou estranhos... deixe que eles façam parte de você e sejam sua força. Essa é...


 

Canalizando aquela onda de sentimentos em relação à Carla, à Enrico, a focalizo em um único ponto no meu punho. Como se pudesse colocar todo aquele mundo de frustrações, mágoas e arrependimentos na palma da mão.

Carrego tudo aquilo comigo. São parte de mim. São eles que fluem por mim como o rio que Nádia descreveu.

 


... a essência da sua força! A verdadeira essência da fictomancia!


 

— Tome isso!

Meu soco dispara como um canhão destruidor para encontrar o rosto perfeito da Nádia. Sinto sua pele, seu rosto macio sendo amassado pelo meu punho e me sinto até cometendo um pecado capital.

Mas naquele momento, sou a pessoa mais livre do mundo! A pessoa mais poderosa do mundo!

O golpe foi bem encaixado. A cara de Nádia se contorce em dor e ela rodopia até cair sentada no chão, cuspindo saliva com sangue. Os pedregulhos cessam e o ambiente se clareia de repente. Sashi cai de joelhos, apoiando-se com a mão, perto de mim.

Ela está um trapo. Seu quimono está todo rasgado e sujo. Seu rosto, braços e pernas com feios machucados, sua katana, com o fio carcomido. É a primeira vez que vejo Sashi tão esgotada desde nossa luta contra Enrico e Jane.

Nádia permanece sentada no chão, me encarando com espanto nos olhos arregalados. Ela mantinha sua mão no lado do rosto que soquei, agora com um terrível machucado.

— Como... como fez isso?

Essa é a pergunta que eu mais temo: as que eu não consigo responder.

— Então... meio que eu não sei.

— Como assim não sabe? Você me... atacou!

Ela faz isso soar pior do que é realmente. É quase como se eu tivesse cometido o pior crime.

— É... meio que descobri recentemente que consigo fazer isso, mas não acontece quando eu quero, sabe? Hahaha!

Nádia se levantou e bateu a poeira de seu imaculado vestido chinês. A energia dela que faz o mundo tremer ao nosso redor se dissipa. Sashi relaxa os ombros, quase deixando a própria arma cair.

— Devem estar cansados. Hoje dispensarei a dupla da guarda e vamos colocar os tragedianos para guardarem a região.

— O que está pensando? — pergunto.

Ela sorri, animada.

— O que acham de sairmos para comemorar?

 — Caraca, menina, você é um poço sem fundo. — Não pude deixar de dizer.

Havia certos privilégios em se ter o cargo que tinha em uma organização secreta, e eu posso ver como são bem aproveitados por alguém que come mais do que a própria barriga.

Nádia come praticamente pelo grupo inteiro. Nós assistimos, assombrados, enquanto ela detona uma bandeja de sanduíches do Sandwich King sozinha.

— Hahaha! Gostei de ti, minha ousada! Gosta mesmo de encher o prato, né? Quem pode, pode... ai!

— E já que não pode, sossega o facho aí — censura Ingrid com seu jeito áspero habitual.

Emma estava ocupada com seu próprio hamburguer. Roberto comia um prato de comida com salada e purê de batatas e um suco natural. Ele é muito preocupado com sua saúde.

Acho que... preocupado até demais.

— Roberto... tá inspecionando o copo de novo? — pergunto, franzindo o cenho.

— Só verificando mais uma vez se não tem nenhuma sujeira ou bactéria que possa me prejudicar. Pelo visto, não tem, né?

— Sim, igual às últimas 20 vezes que conferiu.

— Ufa — suspira, colocando o copo na mesa. — Posso continuar minha refeição em paz.

— Já que estamos aqui, querem me perguntar algo? — Nádia olha para nós com um ar descontraído, até meio infantil. — São os últimos dias de vocês aqui e o voo de vocês vai sair bem cedo na terça-feira, então...

— Se me permite a pergunta — Ingrid levanta a mão, interrompendo-a. Ela ajeita os óculos retos no rosto. — Como ganharam sua fictomancia?

Todos olham para ela, piscando. Eu engulo, e dessa vez não a comida. Foi o seco mesmo.

— Como assim?

— Curiosidade mesmo. Meu propósito é descobrir o máximo que eu puder sobre esse mundo dos sonhos, então fiquei curiosa para saber como ganharam seus poderes. — Ingrid encara os sachês amassados de ketchup sob a bandeja. — Eu descobri que herdei esse poder de uns parentes. Ele foram fictors e, de alguma forma, herdei a capacidade de usar fictomancia também.

Nádia sorri.

— Que ingríbel! — Ela termina de mastigar e continua: — A fictomancia é um dom que todos os humanos tem desde que nascem, mas poucos tem a capacidade de continuar utilizando-a ao longo da vida. Aqueles que utilizam ou passaram por maus bocados ou herdaram suas habilidades por vias sanguíneas.

Silenciado, refletindo sobre a conversa. Agora que ela perguntou, houve vários momentos em que, de alguma forma, tudo isso pareceu ligado à minha mãe. Uma coisa completamente absurda a qual nunca parei para cogitar.

Minha mãe, uma dona de casa aposentada que tem como hobby aguar plantas e costurar roupinhas para bonecas, uma fictor trabalhando para uma organização extragovernamental super secreta?

A ideia é, no mínimo, risível.

 


É uma pena. Você tem talento para isso, jovem. Me lembra muito o sangue do seu sangue

 

Esse persona está ligado ao incidente da Mandala há 2 anos... Está ligado de alguma forma a você e sua família, Calebe.

 

Ainda assim, sua fictomancia despertou mais cedo do que eu esperava. Como imaginei, sua mãe deve ter feito exatamente o que eu esperava depois do seu acidente.

 

Ainda não é a hora. Você voltará para mim muito mais forte e então terei a diversão que tanto espero de você... meu filho nascido da tragédia.

 

A fictomancia é um dom que todos os humanos tem desde que nascem, mas poucos tem a capacidade de continuar utilizando-a ao longo da vida. Aqueles que utilizam ou passaram por maus bocados ou herdaram suas habilidades por vias sanguíneas.


   

Mas, e se...?

— Ei, Calebe! — Ingrid estala os dedos e me desperta das lembranças. Eu pisco várias vezes para me situar no mundo. — Tá tudo bem, cara? Estava fora do ar.

— De novo, por sinal. Você é muito avoado, sabia disso? — Jamal brinca ao jogar uma bolinha de guardanapo amassado em mim.

— Foi mal, foi mal. O que estão falando?

— Sobre como ganhamos os nossos poderes, ué. Você não ouviu nada da conversa? Todo mundo falou.

— É. E você, meu nobre? Como ganhou?

— Você é, de longe, o que tem o persona mais bizarro — pontua Roberto, passando o guardanapo higienizado e cuidadosamente dobrado em sua boca. — Também estou curioso para ouvir.

Todos se inclinam para ouvir minha história. De longe, de um lugar aleatório no cenário da praça de alimentação, Sashi me encara com o rosto zombeteiro, como quem diz: “E então, como você exatamente ganhou seus poderes?”.

Samurai sacana.

— É... então, é uma longa história, mas...

Minha garganta se fecha de repente, as palavras emudecem. Todo o ambiente observável no meu campo de visão se desfoca e apenas um elemento é visível para mim. Um rosto sério a me fitar obsessivamente, de uma mesa do outro lado da praça.

— Calebe...? — Nádia pergunta. Mal consigo ouvi-la naquele estado de hiper foco.

Emma observa tudo, em silêncio. Ela está com aquele jeito distante, mas atenta a todos os meus gestos e sinais. Algo a incomoda.

— É... nada. Eu só... preciso ir ao banheiro. Vocês me dão licença?

O grupo se entreolha e não espero a permissão deles para me levantar. Empurro a cadeira e ando através das mesas, apressado. O shopping está lotado naquele dia e o mar de pessoas conversando, comendo e cuidando de suas próprias vidas chegam aos meus ouvidos somente como cacos de sons, misturados em um amálgama barulhento.

Eles passam por mim como borrões enquanto acelero os passos. Aquela pessoa se levanta e anda na direção contrária, onde um mar de pessoas o encobre. Eu não posso perde-lo de novo! Eu preciso chegar até ele...

Preciso chegar até Enrico!



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