Volume 1
Capítulo 28: Amigos
Despedaçada... o corpo de Sashi se contorce e se despedaça em várias partes. O mundo para completamente. O chão some, o céu se torna preto.
O cenário está idêntico ao da minha visão de meses atrás. Tudo acontece exatamente como estava destinado a acontecer.
— Sa...shi?
Sem resposta. Meu coração se despedaça.
É isso. Eu falhei. Falhei com a Sashi. Falhei com todos. Perdi para o Enrico e agora, por causa da minha incompetência, todos vão morrer! A começar comigo!
Fico paralisado de medo com a visão estarrecedora da Sashi sendo estraçalhada na minha frente e não consigo me mexer. Vou morrer em instantes, assim como Francisco morreu quando seu persona desapareceu.
Vou morrer, vou morrer, vou morrer!!
Aperto os olhos e baixo a cabeça, meu corpo caindo de bruços no chão. Completamente sem forças e rendido, espero meu triste fim.
Me perdoa, Sashi! Me perdoa! Eu não... eu não pude fazer nada.
...
Me perdoa... snif...
...
Você é um bobo mesmo, Calebe.
— ...?!
Meu coração dá um salto. Quando arregalo os olhos, depois de ouvir a voz dela novamente, me dou conta de algo: eu ainda estou vivo! Vivinho da Silva! Mas...
... como? Sashi completa minha pergunta. Digo que essa é uma pergunta trivial. Olhe direito, Calebe.
Levanto o queixo e olho na direção da redoma de sombras de Jane. Um buraco enorme foi feito na lateral da esfera, a poucos metros de onde a mulher costurada surgiu da fissura no espaço.
E não há mais nada no lugar onde, supostamente, Sashi teria sido trucidada. Somente uma cratera circular e poeira. E, para minha surpresa — dentre tantas que estou tendo ao mesmo tempo —, ao meu lado, arfando e tremendo, está Yatsufusa empunhando, à duras penas, sua nodachi.
A máscara que ele está usando é a máscara preta de corvo. Isso significa que...
—『Yata... garasu no kata: Kage... musha! 』 — arfa Yatsufusa, se apoiando na nodachi.
Aquela habilidade! A habilidade que ele usou contra nós... ele a utilizou mais uma vez, em uma janela de tempo que não consegui acompanhar.
— Mas... quando?
— O que significa isso? — pergunta Enrico, descrente no que acaba de acontecer.
— A habilidade Kagemusha... — Yatsufusa começa a falar. — Minha espada consegue criar uma sombra minha ou de qualquer coisa que eu já tenha cortado — explica, de voz pesada e rouca. — No momento... antes de você atacar, eu ataquei e usei a habilidade para criar a ilusão de uma redoma intacta, mesmo depois de tê-la estilhaçado. E, é claro, de uma Musashi derrotada.
— Seu... maldito intrometido! — grunhi Enrico de algum lugar.
— Mesmo debilitado, foi... muito fácil para mim.
Isso quer dizer então que o que vi sendo dilacerado por vários tentáculos era, na verdade, uma sombra? A mesma sombra que Yatsufusa usou para enganar a nós quando lutamos... E isso tudo em uma fração de milissegundos?!
O nível dessa luta é, definitivamente, sobre-humano. Então, seria loucura também pensar sobre ela por perspectivas humanas. Nunca imaginei que veria aquelas lutas malucas dos desenhos, mas na vida real. Ou seria um sonho?
— Pera... onde tá a Sashi, então?!
— Ali. — O mascarado aponta na direção de Jane, só que mais além.
A mulher costurada se vira de uma vez e encontra uma Sashi em postura combativa, seus braços em ponto de sacar a espada. Seu olhar é tão afiado quanto a própria espada. Seu cabelo está completamente incendiado pelas chamas violeta, as mechas praticamente se tornando labaredas cintilantes.
— Você...!
— Hyyyaakk!!
— Eu... não serei derrotada! Vencerei e protegerei Calebe... e a todos!
Sashi faz se movimento, avançando com velocidade para cima de Jane. Sua oponente responde movendo suas sombras, das que sobraram da redoma destruída, e as usa para atacar com vários ramos negros afiados.
Sashi abre de leve sua boca, deixando sua respiração fluir como uma baforada. Poucos momentos antes das milhares de sombras atingirem a samurai, o TLIC metálico, sua katana deixando a bainha, sibila no ambiente.
As duas colidem e passam uma pela outra; Sashi, de joelhos, com o braço da espada levantado e Jane, a Obscura, parada de costas. Ambas sem movimento, sem reações ou sons. O que havia acontecido dessa vez?!
— Sashi?
E então, Sashi se move e gira a katana com maestria, deslizando a arma para dentro da bainha. Nesse decorrer, algo tão incrível quanto insano acontece: Como peças de xadrez a se desconectar, o próprio espaço é cortado e começa a desmontar-se ao redor da dama de sombras.
Uma distorção digna de um filme cheio de efeitos especiais.
ZAAASH!!
—『Retalhadora de Sonhos: Roda das Estações! 』
***** *****
— Buuum!! — berrou Carla, jogando todos os brinquedos para o alto enquanto ria com gosto.
Também a acompanhei nas risadas.
— E a Musashi, a grande espadachim que derrota todo o mal, salva o dia mais uma vez! Ihuuuu!!
— É! Graças à sua incrível habilidade secreta! Ela é a mais forte de todas!
Ficamos deitados no chão, rindo e então, quando o silêncio veio, me levantei de uma vez, encarando uma Carla de rosto pensativo.
— Que foi?
— Nada. Só queria ser assim... criança pra sempre, sabe? Poder dar asas aos meus sonhos pro resto da minha vida.
— E quem disse que não podemos?
Ela levantou uma sobrancelha.
— Vamos continuar brincando pra sempre, Carla. — Fiz o convite a ela. Carla se levanta quase com um pulo. — O que me diz?
***** *****
Ao embainhar de sua espada, lembrando o estilhaçar de um espelho ou uma janela, as partes fatiadas explodem junto de uma bola flamejante que se torna um pilar incandescente em poucos momentos. A pressão do ar quente nos arremessou para trás.
— Droga!!
O máximo que consigo fazer é proteger o rosto e me encolher no chão. Yatsufusa finca sua nodachi no chão para evitar se jogado para trás.
Quando as chamas e a poeira se dissipam, Sashi surge andando na nossa direção. Seu quimono está completamente sujo, rasgado e queimado em vários lugares. Seu corpo perfeito é maculado por arranhões, sujeira e retalhos soltos de seu quimono.
Ela sorri quando me vê e, logo depois, cai dura no chão, suas pernas já translúcidas e com as arestas praticamente inexistentes.
— Sashi! Aargh!
Levanto de uma vez para ir a seu socorro e os músculos e ossos gritam, todos ao mesmo tempo, me fazendo cair de cara no chão. Estirado, de bruços, me esforço para rastejar até ela.
— Sa-Sashi! Aguenta! E-eu tô aqui!
Ela ergue a cabeça e força um sorriso exausto. Em seu rosto é nítido como a água que não há mais como lutar.
— Eu tô bem. Só preciso... descansar um pouco.
Solto um suspiro de alívio e deixo a cabeça desabar no chão arenoso da clareira.
— Calebe — chama Sashi.
— Hum?
— Conseguimos — arqueja ela, mandando um “joinha” enquanto sorri.
Não posso evitar de sorrir também, apesar de que até para isso me doía. Eu não disse e nem pensei, mantendo isso em segredo, mas é impossível não ver Carla ali. É como voltar e navegar pelas memórias.
— É... conseguimos, parceira — respondo com outro joinha.
— Urrh! Merda! Mil vezes merda!
Jane, a Obscura, tomba, metade de seu corpo sumindo totalmente e, o que sobrava, ficando transparente com sérios riscos de desaparecer. Me esforçando para fazer meu corpo obedecer, forço os músculos dos braços e das pernas, dores horríveis a me afligir.
Porém, consigo levantar.
Foi a vez de ajudar a Sashi. Ela se apoia em mim e eu, nela. Com um servindo de muleta para o outro, conseguimos nos manter de pé e ir em direção ao persona caído no chão.
Enrico está separado de Jane, tremendo e convulsionando com a dor. Me admira o fato de ainda manter-se dormindo, levando em conta que foi estourado pela habilidade da Sashi. Qualquer outro teria acordado ou morrido com os danos.
Enrico é mesmo um cara casca grossa. Assim como seu persona. O que ele deve ter passado, o caminho que trilhou até chegar a esse momento. Me doía pensar no que o motivou a fazer tantas atrocidades.
— Já era, Enrico. Acabou.
— Não. Não acaba... até que eu pare de respirar.
— Qual o sentido disso?! Não tá vendo que não tem lógica continuar com essa loucura? Você ainda tá com a porra do sino, o que significa que ainda tem alguma merda de consideração pela promessa que fizemos! Então, por que não deixa essa obsessão de lado?! Por que insiste com isso?
Enrico torce os lábios, seu olho bom se apertando para segurar lágrimas. Cobre o rosto com um dos braços, soltando gemidos de dor, e com o outro começa a socar o chão.
— Você sempre, sempre, sempre, se mete na minha vida! Sempre consegue o que quer e tira tudo de mim! — Ele parece uma criança birrenta agora.
Nunca tinha visto essa faceta dele até agora. Eu e Sashi nos entreolhamos.
— Enrico, apesar de você não acreditar, eu realmente não lembro de nada do que aconteceu antes de eu acordar na cama de um hospital, sem se lembrar nem do meu nome. Posso ter feito algo de ruim mesmo, mas estou disposto a recomeçar. Quero honrar a promessa que fizemos, mas espero que também possa fazer isso e estar disposto a me perdoar.
— Se é tão simples para você falar isso, então realmente tá com o cérebro mais fodido do que eu julguei que estaria.
— Você não faz ideia. Sashi, ajuda aqui? Só pra eu me sentar. Isso. Aqui, do lado dele. Obrigado. — Agora podemos conversar melhor.
Com um gemidinho, Sashi senta ao meu lado, nós dois próximos do corpo estirado de Enrico, sem qualquer força para conseguir se erguer. Por esse ângulo de fragilidade, ele não parece mais o monstro temível de outrora.
— Eu quero começar de novo. E graças a você, consegui recuperar algumas poucas lembranças, Enrico. Lembrei de você e da Carla. — Os olhos deles ainda demonstram raiva, mesmo que agora estejam mais suaves. — Qualé cara, vamos deixar tudo isso de lado e cumprir nossa promessa. Quem sabe se você me levar até a Carla, a gente pode...
— A Carla morreu.
Algo amargo desce pela minha garganta quando engulo em seco. Me falta ar, como se um soco tivesse me acertado bem no diafragma.
— E-eu acho que não entendi.
— Ela está morta, Calebe! E a culpa é toda sua!
— Minha? Eu... eu matei a Carla?
Sashi me olha com olhos marejados, preocupada. Talvez essa revelação abrupta seja duas vezes mais do que eu conseguiria absorver em um dia. Nem mesmo sabia o que dizer, o que pensar, o que sentir.
Ao olhar para Sashi, um mal-estar súbito me acomete, acompanhado a ânsias de vômito e tontura. O rosto da amiga que morreu por minha causa. Sashi passa seu braço por cima do meu ombro, esfregando minhas costas com círculos tranquilizadores.
Enrico torceu os lábios e continuou:
— Até minha amada amiga você conseguiu tirar de mim! E agora até meu direito de ter justiça. O que mais pretende me roubar, Calebe? Hein?!
— Já chega! — exclama Sashi. — Não tá vendo que ele tá passando mal?
— Eu não ligo. — Enrico vira a cabeça de lado. — Isso não chega nem perto do que eu sofri todos esses anos.
— Mas você tem que entender que...
— Tá bom, Sashi. Já chega.
— Calebe?
Passo a mão no rosto, me esforçando para não desabar na frente deles. É difícil conter toda a torrente de emoções que está transbordando de mim agora e sinto que vou me despedaçar ali mesmo com qualquer palavra ou gesto.
Meu coração não suporta a ideia de eu ter sido a causa dos males do que eu supostamente gostava. Ainda assim, é completamente descabido sua acusação. Com ou sem memórias, eu ainda sou eu. E eu sendo eu, nunca faria isso.
Volto a falar:
— Ainda assim, Enrico, se está guardando esse sino com você, isso significa que ainda não esqueceu. Não deixou a promessa que fizemos de lado. — Abaixo a cabeça, solenemente. — Eu peço seu perdão, Enrico.
Sashi arregala os olhos. Enrico move os lábios como se fosse dizer algo, mas se mantém calado.
— Se não por mim, faça por ela. Pela memória dela. Eu te imploro, Enrico — insisto quando ele não responde. — Talvez o que eu possa ter feito foi imperdoável, mas eu quero fazer o máximo para reparar isso! Agora que lembro e sei, não quero perde-lo também! Por favor, Enrico!
— Calebe...
Enrico continua em silêncio.
— Fala alguma coisa desgraça! Por que não fala nada?!
— Pff... Muahahahahaha!!
Ele gargalha com gosto de repente, me dando um nó no cérebro.
— Que foi?
— Na época eu brinquei com isso, mas hoje entendo o porquê de a Carla ter dado o sino de cachorro a você. Ainda o tem?
— Está em algum lugar do meu quarto — respondo, sincero.
— Sabe de uma coisa? Eu não sei se estou disposto a te perdoar e nem se vou conseguir algum dia. — Estremeço por dentro com a afirmativa. — Mas quem sabe eu não esteja disposto a... tentar?
— Enrico?
Ele sorri e eu também. Algo quentinho afaga meu coração em cacos, tanto que quase posso sentir os olhos se afogando em lágrimas. Sashi sorri silenciosamente.
De repente, o mundo estremece com sons ecoando por toda a clareira. A terra se move debaixo de nós, como se tivesse vida e vontade própria. As arvores chacoalham bruscamente, um carpete de folhas se espalhando pelo solo em movimento.
— Que é isso?! — Sashi ameaça se levantar, mas o corpo rejeita a ação.
Ela cai desajeitadamente, sendo movida, levada pela terra que agora lembrava uma esteira de caixa de supermercado. E essa mesma esteira está levando Enrico embora.
— Ei! Enrico!
— Quê?!
Como em um passe de mágica, a clareira se entope de pessoas e... seres estranhos, por todos os lados. Lembram soldados medievais, mas suas armaduras são ligeiramente diferentes. Mais robóticas, mais enfeitadas e, é claro, mais amendrontadoras.
Cada elmo tem a face de um demônio zangado, um fantasma desfigurado, uma mulher histérica... qualquer coisa que lembre o pior medo de cada um que ouse olhar para seus rostos.
Coordenadamente, eles montam uma formação em paredão. Mais três cidadãos surgem das sombras, de algum lugar, ocupando espaço no centro da clareira. Yatsufusa se junta aos dois irmãos caídos e recua para um lugar seguro, oculto entre as arvores.
— Quem são esses caras?
— Fica atrás... de mim, Calebe — arqueja Sashi, se esforçando para manter a postura de samurai assassina e temível.
As três figuras quem vem após os soldados armadurados são distinguíveis e familiares; o urso falante, Erick, com seu persona de Chapolin, e a maga de RPG, Lena. Isso só pode significar uma coisa.
— Muito bem, Calebe — diz uma quarta voz de outro lugar.
De repente, descendo em uma escadaria de pedaços de terra flutuantes, majestática e irrepreensível, vem Nádia, a nova Chefe Executiva da Mandala. Lembra uma deusa descendo à terra em meio aos seus súditos.
Enrico me fixa seus olhos de reprovação e descrença, os lábios torcidos como se desejasse gritar um palavrão.
— Chamou a Mandala? Armou isso pra mim, Calebe?!
A pergunta “Como ele sabia sobre a Mandala”, surge na mente.
— Eu?! Eu não...
— Seu filho da puta, eu acreditei em você! E você armou tudo isso pra me prender!
— Eu estava falando sério, Enrico!
— Calebe. — Nádia nos interrompeu. — Posso falar com você um instante?
Olho uma última vez para Enrico, seu rosto despejando ódio como se pudesse me matar apenas com os olhos. Sinto um peso gigante sobre os ombros ao lembrar do acordo que fiz com Nádia, sem saber com quem eu estava lidando.
Nas circunstâncias que se moldaram com a chegada da Mandala, é praticamente impossível ter qualquer conversa com Enrico agora. Qualquer tentativa de reconciliação com ele já era.
Concordo com a cabeça. Nádia usa de sua habilidade para me colocar de pé e nós vamos para um canto mais reservado enquanto o trio parada-dura vigia Enrico.
— Quero agradecer por ter cooperado com a gente. — Nádia esboça um sorriso calculado. — Por ter feito isso, estamos em dívida com você.
— O que vão fazer com ele?
Nádia parece não entender a pergunta, muito menos o motivo dela.
— Por que quer saber?
Aperto os olhos, ponderando se deveria contar ou não. Mas me decidi a cumprir minha parte da promessa que eu e meus amigos de infância fizemos, então, qualquer coisa que eu pudesse fazer para aliviar a barra dele, eu faria.
— É que ele é um velho amigo meu. Está desorientado. Por favor, deixa eu lidar com ele.
Os olhos de Nádia se endurecem subitamente. Tento disfarçar as engolidas em seco por trás de um rosto sério e decidido.
— Creio que não poderei fazer isso.
— E por que não? — Não cedo um centímetro.
— Seu amigo causou problemas demais para nós. Meus superiores querem a cabeça dele em uma bandeja por isso e vão exigir satisfações minhas se eu não o fizer.
— O que?
— Sinto muito, Calebe.
Ela ameaça se virar para voltar ao seu grupo, mas eu seguro seu braço. Os olhos dela se estreitam, perigosos. Não adianta mais disfarçar ou forçar uma postura de vantagem. Eu tenho de partir para outra abordagem.
— Nádia. Me diga pelo menos o que vão fazer com ele.
— Não vejo como assuntos confidenciais podem interessar a um padrão — retrucou, áspera.
— Eu já disse. Ele é meu amigo, porra!
— E também um criminoso perigoso.
— Eu que fiz o trabalho por vocês, então mereço saber.
— Esse assunto acabou. — Ela força o braço para se soltar de mim. — Agora, se me der licença, preciso escolta-lo até a QG da Mandala para...
Antes que Nádia pudesse terminar de falar, um grito alto rasga o silêncio da clareira e do bosque ao redor, fazendo meu coração dar um salto. Um grito e depois outro e outro, engolidos por um som grave e estridente.
Nádia se apressa para voltar. Saio cambaleando atrás dela, encontrando Sashi no meio do caminho, tão pálida quanto cera de vela. O que encontro ao chegar é um chafariz gigantesco, vertendo sombras como se fosse água.
Várias lâminas enormes brotaram e continuam a brotar da massa negra que preenche boa parte do descampado, engolindo os soldados como uma areia movediça sombria, um buraco negro assassino.
Para o meu terror, muitos dos soldados de armadura, os que montavam guarda no centro da clareira, estão suspensos no ar, empalados por aquelas lâminas gigantescas, em vários ângulos grotescos, seus corpos sem vida.
Entre eles, Lena e o urso. Seus personas, assim como os soldados, desaparecem como névoa. Para sempre.
Mortos... completamente mortos.
Então... esse é seu limite, meu garoto.
—...!
Uma voz ecoante sibila no ambiente. Uma voz perigosa e sedutora, arrogante e imponente. Olho para Nádia e, para a minha surpresa e terror, seu rosto está quase amarelo. Medo escorre pelos olhos dela.
É a primeira vez que a vi desse jeito.
— Não pode ser...
— O que... o que tá acontecendo?
— Esse é... o verdadeiro Oru!