Reino da Verdade Brasileira

Autor(a): Lucas Baldi


Volume 3

Prólogo

Flocos de neve cruzavam minha visão conforme eu andava na direção do enorme monstro caído. Uma brisa de ar sacudiu minha capa marrom e minha visão parou nos pés de aura branca do goblin em cima do ser. Abaixei o capuz e observei a espada cravada na coluna do monstro morto, enquanto o pequeno goblin de aura branca lançava um fraco sorriso para mim. Ele arrancou a espada e pulou para perto de mim, entregando-me a arma em seguida. Passos próximos surgiram e ambos olhamos para ver o que era. Sairon surgiu entre os corpos de diversas criaturas, a felicidade estava estampada em seu rosto. Seus olhos escarlates ainda brilhavam, combinavam com o vermelho que irradiava o chão — que lentamente era coberto pela neve que caía.

 

Seguimos rastros de magia desde a base da montanha até essa clareira, onde havia colunas antigas com símbolos desenhados. O local era misterioso por si só, mas a decisão de vir aqui foi devido ao meu aniversário. No natal e no ano novo, nós comemoramos buscando algo diferente para comer e um novo desafio para treinar. No caso, essa clareira entrou na lista de lugares mais perigosos na Dungeon a Céu Aberto, porque um grande número de aventureiros entrou aqui e desapareceu. Essa questão repercutiu tanto que solicitaram a presença de uma Aurora e colocaram guardas ao redor do lugar até que ela chegasse, mas eu tinha companheiros que pouco se importavam com as regras impostas. Já precisávamos usar as capas marrons de qualquer forma, apenas facilitou nossa ocultação. 

 

Durante esses meses, salvamos várias vidas, como agora. A fama cresceu tão rápido que muitas pessoas queriam entrar em nosso grupo, por mais que estivéssemos aqui apenas para treinar e não para fins exploratórios. Isso acabou chamando atenção demais e precisamos nos camuflar para passarmos despercebidos. Breaky deu a ideia de nos equiparmos com capas marrons de capuz e nós aderimos a ideia. Em parte, ajudou. Seria impossível treinar com pessoas nos seguindo a todo momento querendo montar um time. Mas, também, virou um problema.

 

Ficamos conhecidos — a ponto de conquistar o primeiro lugar no ranking de grupos — como Os Caçadores.

 

Breaky saiu dentre as colunas de concreto antigas com uma enorme besta de magia nas costas e um colar de ouro em seu pescoço. Seus olhos escuros encontraram os meus, logo os do Spectro e os de Sairon. Ele havia ficado mais musculoso, o que fez ele parecer mais alto do que já era. Sua grande espada, agora adornada com uma runa de terra, estava manchada de sangue, porém com uma mínima rachadura. Que tipo de monstro ele encontrou lá dentro? A neve caía cada vez com mais pressa, bloqueando mais e mais a minha visão. 

 

— Achei esse… amuleto em cima do altar, no centro dessa colunas — Breaky observou a neve cair e sacudiu a roupa. — E parece que vamos precisar de outra lareira improvisada. Enfim, parece que esse amuleto me fornece uma camada de proteção de mana por baixo custo.

 

— O aniversariante não é você, Breaky — disse Sairon.

 

— Ei, eu mereço essa recompensa! — respondeu Breaky, e nós começamos a rir.

 

Até que eu esbarrei no olhar verde mágico do goblin ao meu lado. Desde que ele voltou, de uma maneira que eu ainda não compreendia, ele passou a usar a energia da minha aura para ficar vivo. Eu era o núcleo dele agora. Ele podia tomar a forma de um goblin pequeno e precisava ficar perto de mim, e isso era de imensa ajuda. Simplesmente vagava pela minha aura e surgia sem ninguém esperar para me ajudar. Com certeza um possível trunfo contra Miguel ou qualquer outro. Assobiei e meus Voins pousaram em meus ombros, e logo deixamos o local.

Demoramos bastante a subir a enorme colina, mas conseguimos a tempo de ver a chuva de meteoros pela linda brecha dentre as nuvens. Havia parado de nevar, mas fizemos cinco fogueiras apenas por precaução. Sairon colheu várias frutas no caminho e fez uma variedade de sucos, enquanto Breaky assou a enorme besta de magia e Spectro pescou — com as garras — alguns peixes. Nós bebemos e comemos até cansar. Passar esse tempo com eles foi divertido e me trouxe lembranças da minha família. Nos falamos pelo Voin, mas eu queria muito aquele abraço… De qualquer forma, em breve eu voltaria. Por hora…

 

Eu tinha um aniversário para comemorar.

 

Deitamos nos colchonetes entre as fogueiras. Por sorte nenhum deles foi levado pelas traças de fogo. Não desta vez

 

— Preciso ir para o reino sete — falei, meu olhar perdido no céu.

 

— Você está pronto? — perguntou Sairon.

 

— Descobrirei quando chegar — Sentei-me, e logo o encarei. — E desta vez eu tenho o Spectro. 

 

— O tal príncipe parece forte — falou Breaky. — O duelo vai ser mesmo aberto para milhares de pessoas? É uma ótima chance de mudar o apelido de "Sem Magia”.

 

— Podíamos finalizar o treino com uma missão que estou de olho há algum tempo — Sairon disse fazendo voz de suspense, enquanto eu, Breaky e Spectro aguardávamos ele continuar. — Relatos de assombrações nas fazendas das terras do rei Balnor. Nenhum aventureiro voltou de lá.

 

— Parece que o requisito para você pegar missão é “ninguém voltou de lá”. — falei. — A missão está aberta há quanto tempo?

 

— Por volta de duas semanas — Um tempo consideravelmente grande. — Paga muito bem.

 

Falamos sobre a missão e, obviamente, iremos aderir. O vento frio alcançou minhas costas e eu puxei meu cobertor para cima, relaxando-me no calor e permitindo-me deitar. Breaky colocou mais lenhas na fogueira, e Sairon chamou a minha atenção:

 

— Sabe, eu acho que você entrou para o ranking desde o incidente da muralha.

 

— Sério? — Não contive a empolgação. 

 

— Seu apelido é um pouco peculiar, mas faz jus. Pelo que soube, pessoas já estão te procurando.

 

— Qual é o apelido? — perguntei.

 

— O Menino da Lâmina Flamejante, do grupo dos Caçadores. 

 

Era simplesmente o disfarce perfeito, os Ritualista ainda me conheciam por não ter magia. Com um sorriso no rosto, eu falei em como deveríamos aceitar essa missão.

 

Aguarde um pouco, Lotier, em breve eu estarei de pé ao seu lado sob o poder de sua coroa.



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