Reino da Verdade Brasileira

Autor(a): Lucas Baldi


Volume 3

Capítulo 60: Apesar de todo o esforço

Música da luta



Seus ombros eram bem mais largos do que eu me lembrava, eu diria que João era agora mais de dez centímetros mais alto do que eu. Ele vestia ombreiras douradas, joelheiras, uma blusa com grandes botões. A espada falsa em sua perna entregou ser uma das roupas do evento. Neste momento, foi como se qualquer som fosse abafado enquanto eu sorria para o meu amigo. Andei sem pressa até ele e o abracei. 

 

— Eu senti falta, cara — falei, logo dei um passo para trás. — Você está aqui — As palavras foram mais para mim do que para ele. — no reino sete. Por que?

— Eu adoraria te contar tudo, mas na hora certa — Ele deu lentos passos para trás. — Eu senti sua falta também, Lumi. Sabia que eu ouvi sobre sua luta contra um certo príncipe? Como pôde não me chamar? — Seu tom crescia conforme ele se distanciava. — Bruno me contou como você destruiu Miguel com uma espada coberta de fogo. Você tem algo a dizer? — João parou, posicionando-se para lutar.

 

— Eu também tenho muito a falar — Estiquei o braço para frente em punho e dobrei levemente o joelho da perna de trás. — Mas acredito que queira fazer uma coisa antes. 

 

— E temos um desafiante ao representante! — berrou o apresentador. — Por favor, senhores, nos presenteiem com um ótimo duelo.

 

— Os outros também vieram — disse João, ignorando o homem. — Alice queria ser a primeira a te desafiar, mas desistiu ao ver que não se tratava de uma luta de espadas. E… bem, não posso deixar você disparar na frente assim. 

 

— Os outros? — comentei. 

 

A surra que levei de Alice surgiu com clareza. A espada de madeira adentrando no meu estômago e quase atravessando o meu corpo, depois a ponta de sua lâmina no meu pescoço. Praticar com ela de novo serviria como parâmetro de quanto eu melhorei desde os treinos na academia de Alatar. Eu podia dizer o mesmo sobre lutar com Ellie. Era estranho, mas de alguma forma, mesmo tendo quase morrido várias vezes, eu sentia que essas duas garotas podiam me destruir. Quando vi um fluxo de magia veloz nas mãos de João, deixei os pensamentos de lado. 

 

Por mais que eu não conseguisse distinguir os elementos, sabia que o ataque era um pouco maior do que as regras permitiam. Mas o que importava? João tacou um braço para trás com o punho cerrado, mantendo a palma da mão aberta no braço da frente. A energia que percorria o braço rapidamente formou uma espécie de clava na mão de João. Eu podia ver o braço dele tremer ao remodelar a magia, o controle incrível que tinha com o ataque que logo sairia para me atingir. 

 

Segundos de silêncio.

 

João socou o vazio em sua frente. O ar ao redor de seu braço girou, tornando-o semelhante a um tornado. Como uma lança de ferro afiada e pronta para me perfurar, seu feitiço veio em minha direção. Deslizei meus pés para desviar, abaixando-me enquanto inclinava meu corpo para o lado. Seu golpe rasgou parte da minha blusa, e uma alteração na magia de seu ataque fez meu coração acelerar. O mini tornado se curvou e veio com a mesma velocidade do lançamento. Meus olhos se arregalaram quando fui atingido nas costelas. 

 

O que foi isso? Como moveu o ataque mesmo estando longe?, pensei, enquanto minhas costas varreram a arena como um pano de chão. Até que vi a multidão de cabeça para baixo, meu pescoço estava à beira da ringue. Spectro levou uma pipoca até a boca enquanto me olhava de forma confiante, e Emy gritava, animada, para eu levantar. 

 

— Se você limpasse o chão do quarto como limpou a arena hoje, certamente te contratariam para faxineiro.

 

— Vá se ferrar, Spectro.

 

Levantei com a mão nas costelas, João me aguardava com os olhos atentos, a ansiedade era visível em seu olhar. O calor alcançou o meu corpo quando me pus de pé. Uma sensação de “cócegas” consumiu os braços, meus punhos pediam para revidar. Até que o sino tocou. Nossas canelas se encontraram em menos de um segundo no centro da arena, e um estrondo surgiu assustando o público. O duelo foi tomado por uma chuva de chutes, onde eu incansavelmente tentava compensar minha falta de técnica com velocidade e esquivas. João parecia um mestre. Cada golpe era preciso e combinado com mais ataques, ele simplesmente girava no ar com três chutes altos. Para João, não era problema lutar fora do chão. 

 

Ele lançou seu chute frontal no meu rosto, mas bloqueei com os antebraços. Girei meu calcanhar esquerdo e lancei minha canela em um chute giratório, mas ele desviou, girando no ar novamente para me acertar. Deixei uma risada escapar. Ele não ia me vencer em um jogo de esquiva. Com uma rápida pisada no chão, eu girei de novo. Os olhos de João ficaram grandes quando recebeu um chute meu no meio do estômago. Ele quicou duas vezes no chão antes de suas costas limparem a arena. 

 

— Levanta, João! — Duas meninas gritaram da plateia, e atrás delas…

 

Estava Alice, seus olhos vermelhos afiados avaliavam a luta.

 

— Você melhorou muito, hein — disse João, enquanto se levantava. — Zelforne não teria chance contra você hoje em dia. 

 

Partimos novamente para o centro, porém as pernas do João arderam em chamas. Eu cobri as minhas com a camada mais grossa de mana que pude fazer sem desperdiçar, e o calor do seu poder começou a queimar minha calça. Utilizei a explosão para afastar nossas pernas e em dois passos rápidos tomei distância. João usou os braços para criar correntes de ar enquanto atiçava o fogo de suas pernas. O apresentador se jogou para fora da arena, e o escudo ao redor impediu as magias de se alastrarem; e um grande tornado de fogo começou a ser criado.

 

Desta vez, nossos golpes danificaram o chão. Nossos chutes ficaram mais velozes, havia mais mana nas minhas pernas do que meus músculos podiam suportar. João equilibrava perfeitamente os dois elementos no corpo, seus socos de ar que desviavam a rota eram um problema tão grande quanto seus chutes potentes. Estava difícil de acompanhar o ritmo. O tornado de fogo cresceu a ponto de atingir a altura de um prédio de cinco andares, mas nada disso importava agora. Meus pelos eriçaram quando senti outro golpe vir. João estava em minha frente no ataque, então…

 

O braço de Aria passou em frente ao meu rosto quando me inclinei para trás. Segurei o braço da minha velha amiga e a arremessei para cima de João. Antes que eu pudesse derrubar os dois, Kashi entrou na arena com seus braços cobertos de chamas, seus olhos amarelos queimaram junto ao fogo que crescia pelo seu corpo. No meio de todos esse poder, e do tornado, ela parecia invencível. 

 

— Saudações, Lumi Kai — disse ela, seu tom calmo e implicante. — Não esqueceu seus amigos da academia, não é?

 

Seu soco era pesado como uma marreta de metal, meus antebraços latejavam de dor quando meus pés deslizavam pelo chão. Eu pude sentir o vento quente do tornado em minhas costas. Novamente meus pelos eriçaram. Abaixei surpreso com o chute de João e girei no ar para esquivar da corrente de água de Aria. Ouvi algo sobre o apresentador gritar sobre elementos surpresa. Todos os três estavam sorrindo quando tomaram a minha frente. Me deixei relaxar por um momento, foi uma brincadeira assustadora eles me fazerem pensar que teria que lutar contra eles juntos. 

 

Mas Kashi e João voaram até mim.

 

Ativei o Olhar da Aura com o coração na mão e usei toda mana possível para proteger todo o meu corpo. Kashi me recheou de socos pesados enquanto João tentava me tirar da arena com seus chutes poderosos. Quando eles abriram uma mínima brecha sequer, Aria atirou suas cinco correntes de água em mim. Joguei-me para trás e bloqueei a água com a perna. 

 

Estavam muito bem posicionados.

 

Kashi foi a primeira a se aproximar de novo. Seus punhos eram como lâminas, talvez até mais letais. Defender cada ataque dela trazia uma dor irritante para os meus braços, e o vigor da menina parecia infinito. Ela simplesmente segurou meu braço e me lançou para trás com a palma da mão, deixando-me à beira da arena. João surgiu do céu de chamas, sua perna, para mim, passou lentamente rente ao meu nariz. Meu amigo estourou o chão. Minha roupa estava encharcada de suor, mas Aria apareceu com sua lança de água, lançando-me inúmeros ataques. Usei uma explosão no chão para me afastar desta maldita lança que, por um momento, jurei que se estendeu. 

 

Quando parei, ofegante e com medo, o círculo de fogo começou a abaixar. A plateia — com exceção de Spectro e Emy —  estava aplaudindo de muito longe agora. 

 

— Habilidade de esquivar. Me conta… como é esse feitiço? É passivo? — perguntou Kashi, aproximando o rosto perto demais do meu. — Você ficou muito forte, garoto. Queria ter visto a luta contra Miguel. — Ela deu um passo para trás.

 

— Uma habilidade passiva? Jura? — questionou Aria, seus olhos em Kashi. — Ele basicamente consegue desviar de quase tudo que lhe é lançado. — Seus olhos vieram a mim, e um sorriso bobo alcançou o seu rosto. — Você era baixinho quando eu te conheci, sabia?

 

— Eu estou com bastante fome — disse João. — Tem um restaurante aqui que você vai gostar de ir, Lumi. Temos bastante a conversar. 

 

Quando ele parou de falar, Kashi e Aria concordaram acenando que sim com a cabeça. 



Spectro se responsabilizou por passear com Emy para que eu pudesse ir ao restaurante com o grupo de João, e eu torcia para que ele ficasse longe de qualquer problema. Quando desci da arena destruída e passei pelo chão queimado, cumprimentei Alice com um simples gesto com a cabeça. Ela era uma das pessoas com maior habilidade na espada que eu conhecia. Eu entendia pouco disso antes, relembrar de nossa luta torna isso cada vez mais claro. 

 

— Melhor, de fato — Seu tom suave e mortal, seus olhos vermelhos me encaravam como uma águia. — Eu gostaria de treinar com você novamente, em uma duelo de espadas.

 

Ela me elogiou. Levante o queixo, Kai!

 

A aura dela me lembrava a de Ellie. Afiada e perigosa, uma leve tonalidade vermelha e o mínimo de intenção de machucar. Era como se elas usufruíssem do mesmo poder, porém de maneiras diferentes. Havia até uma semelhança na arte da espada dos Higasa e no estilo Samurai de Alice. Quem venceria em um combate? 

 

— Fico lisonjeado — falei, me esforçando para esconder a surpresa. — E aceito o seu convite.

 

Ela apenas me encarou por alguns segundos e seguiu o grupo, e eu logo fui atrás. Aria e Kashi riam do João por ele ter errado o chute, que ocasionalmente destruiu a arena. Um sentimento de medo e felicidade me atingiu quando pensei no que teria acontecido se eu fosse acertado, mas tudo bem. Me aproximei, e Kashi e Aria andavam ao meu lado, enquanto João ia na frente e Alice, atrás.

 

— Bem… — ponderei por alguns segundos. — Antes de eu sair naquela missão com Alatar — Olhei de relance para Alice —, aquela em que Alice foi, o que vocês fizeram?

 

— Nós viramos um grupo de aventureiros, falando por cima — respondeu Aria. — Alice voltou muito mais disposta depois do ocorrido no vilarejo de Endvir, então, para tentar acompanhar essa monstra, tivemos que treinar também. A notícia se espalhou e as pessoas começaram a ficar com medo, falavam que uma imensa bola de fogo fora lançada sobre o lugar — Aria olhou para o nada, como se estivesse imaginando a cena, e um frio alcançou a minha barriga ao lembrar.

 

Eu podia ter morrido se Ellie não tivesse segurado a katana comigo e se Breaky não tivesse resgatado nós dois; além da Gina. Era apenas mais um lembrete que eu não podia ir longe sozinho. 

 

— Alatar teve a brilhante ideia de nos treinar — disse Kashi, seus olhos amarelos brilhantes em mim. — Eu, Aria, o bundão ali da frente — João abriu a boca para refutar, mas ela continuou. —, Alice e Sander. Inclusive, ele estava animado para treinar com você, mas infelizmente teve que encontrar outras pessoas neste reino. 

 

— O treino com Alatar deixou vocês muito mais fortes do que antes. Digo, para mim vocês sempre foram fortes. 

 

— Você é quem surpreendeu aqui, para quem não tinha magia — respondeu Kashi, e logo um sorriso leve surgiu em seu rosto. — Nós fomos ao lugar onde o Lâmina de fogo salvou a cidade de Etin! João e Aria, e talvez um pouquinho eu, acharam o feito incrível e resolveram ir até lá, mas-

 

— Era muito perigoso! — interrompeu Aria. — Ele podia ser o herói desconhecido de Etin, mas ficar um dia lá foi assustador. Se Alice não tivesse nos convencido com o “a arte da espada dele é boa”, não teríamos ido. 

 

— E era boa — disse Alice, seca. — segundo os relatos. Talvez tenha sido ele quem causou a cicatriz na criatura. 

 

Aria e Kashi pararam por um momento, e eu também. 

 

— O monstro era cinza e gigante. Tipo uma pessoa, sabe? Alice derrotou ele sozinha, mas, se havia mais dessas coisas dentro daquela floresta, eu não iria querer entrar. 

 

Um semelhante de Zenoir. Eu evitei aquela criatura por parecer hostil. Direcionei rapidamente meu olhar para as costas de Alice, que havia me passado. Ela virou para mim, sua aura fez, por um momento, meu coração acelerar, antes que ela virasse de novo. 

 

Ela me sentiu? E como venceu aquilo? Eu sobrevivi por Sairon e Breaky serem fortes, apesar de quase ter morrido envenenado…

 

— Agora você — disse João enquanto andava de costas. — Não tinha magia, era um pouco mais fraco que a maioria das pessoas, quase morreu algumas vezes em missões de coleta e surge, repentinamente, como representante de um rei que bateu de frente com Miguel. Eu sempre acreditei que você ia avançar, mas caralho. 

 

Nós chegamos no grande restaurante, onde havia um homem de terno na porta. Falei para eles que contaria melhor quando nos sentássemos e nós entramos. A maioria das pessoas sentadas levantaram as mãos e comemoraram a minha entrada, logo voltaram a prestar atenção em suas mesas. Aria disse que eu não havia me acostumado com a fama, e eu concordei. O lustre do restaurante parecia estar flutuando, se não fosse o olhar da Aura eu jamais teria visto os fios de mana pura o segurando. Era dourado, com várias jóias incrustadas perto das luzes. O tapete era inteiramente vermelho, e as mesas e cadeiras tinham um aspecto único de azul e vermelho, que de alguma forma combinava com o resto do lugar. Nós sentamos, e João pediu todos os pratos do cardápio. Ele sentou em minha frente e ao lado de Aria, enquanto eu fiquei entre Alice e Kashi.

 

— Agora me conte. Como chegou aí? Eu sei que determinação conta tanto quanto o dom natural, mas você ultrapassou isso. 

 

Quando abri a boca para falar, senti o olhar afiado de Alice, então tossi para prosseguir.

 

— Eu realmente quase morri diversas vezes no time dos Coletores. Eu não sabia lutar, não carregava nada além de água e material. Eu mal aguentei o material. Mas eu sentia que precisava melhorar, como se uma voz tivesse me incentivado a isso. O fato de não ter magia me irritava, eu achava que o mundo seria muito mais fácil se eu a tivesse — Dei uma rápida olhada em todos, a atenção estava toda em mim. — Mas parei de ver isso como um obstáculo e passei a enxergar como uma oportunidade. Depois da missão com Alatar, eu treinei junto de duas pessoas — Suspirei. — Breaky e Sairon. Spectro, o goblin mágico que me ajudou contra Miguel, foi um dos fatores que me manteve vivo. Fosse na missão ou no treino, ele foi um amigo para mim nos momentos escuros. Treinei todos os dias, o dia inteiro, eu sabia que para sobreviver precisava me dedicar no treino. Eu queria passar mais tempo com a minha família, ter mais tempo de descanso, mas não o fiz. Talvez eu tenha feito mais sacrifícios do que alguém comum faria. E eu tive muita ajuda, treinar com vocês foi um diferencial. A magia era nova para mim, eu tinha medo de não conseguir avançar por despertar tarde.

 

E todo santo dia pensava em como vencer Miguel e me tornar mais do que um inseto para os Ritualistas.

 

— Você sempre foi incrível para mim — disse João. — E apesar de tudo você manteve sua essência. Queria ter estado mais presente.

 

— Eu também — disse Aria, logo segurou minha mão. — Você sabe que pode falar comigo, não é?

 

— Isso explica como chegou onde está agora — Kashi colocou a mão em meu ombro. — Sem sorte, apenas puro esforço — Ela virou o rosto. — Apesar de ter conseguido bloquear meus novos socos…

 

— A missão de vocês se tornou famosa por causa do sujeito Letholdus — disse João. — Ele era conhecido por torturar suas vítimas, e nem animais escapavam dessa. 

 

— Que ela apodreça e morra na prisão. — respondeu Alice. 

 

— Alice estudou diversas vezes a missão que vocês fizeram, apesar de ter dado um certo destaque para você e o Bruno. 

 

Ela virou o rosto para o lado, e eu podia jurar que a vi corar por um milissegundo. Ela tinha sentimentos!?

 

O garçom encheu a mesa de comida, tantos pratos que eu não conhecia, tantos molhos com uma textura deliciosa. A cultura do reino sete era maravilhosa. Agradecendo a refeição, eu comecei a comer, deixando cada sabor se aprofundar em minha boca. Aria contou sobre as primeiras missões em grupo, como era difícil lutarem próximos sem misturarem os ataques ou se acertarem com golpes simples. Ela disse que competiam internamente contra o grupo de Bruno, Áki, Nirmim, Riler e Amara. Me surpreendera saber que Bruno também saira com um grupo. Eu não tive muito contato com Nirmim e Riler, mas Amara tinha sido gentil no meu tempo na Academia. Ela quem me explicou sobre os representantes. 

 

Desejei que estivesse bem.

 

— … tiveram a ideia de lutar. Bruno venceu por muito pouco de João, eles meio que lutaram além dos limites — disse Aria. — E João passou a se dedicar todo dia para a revanche com ele. Por mais que eu ache difícil causar dano naquela armadura de água abençoada. Bruno se superou para vencer. 

 

— Eu estou bem perto de superá-lo, meus golpes vão sacudir ele da próxima vez. — respondeu João. — Até que um novo concorrente surgiu. — Ele me olhou.

 

— Eu vi Ellie duelar em pequenos torneios — disse Alice. — O estilo dela é admirável, e você possui traços dele. 

 

— Ela me instrui desde que entrei na academia, então eu pratiquei. Também absorvi suas lições, me ajudaram a construir minha base atual.

 

— Percebo, você era horrível. — falou Alice, séria, antes de levar um sushi à boca, e os outros começaram a rir.

 

Passamos parte da noite conversando até meu bucho encher. O grupo era mais divertido do que eu me lembrava, e boas lembranças irradiavam em minha mente. 

 

Eu senti falta disso.

 

Nós dividimos a conta na hora de pagar, apesar de ainda ter saído um tanto caro. Eu podia ter mais dinheiro que antes, mas ainda era pão duro. A brisa nos atingiu quando saímos, as músicas já haviam acabado e o comércio estava começando a fechar. João me deu um abraço firme, e eu apenas retribui.

 

— Venha treinar conosco se tiver tempo. É só ir na academia do Alatar, ele só tem aparecido menos depois da reunião com os reis.

 

— Eu vou, sim. — Era simples achar um cavaleiro real em minha posição.

 

Aria pulou em mim em um abraço, depois Kashi passou seus braços de leve ao redor do meu corpo. Alice apenas acenou com a cabeça e eu os vi partir, desejando ter mais momentos como esse, por mais que tudo me mostrasse que o mundo iria piorar.



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Suspirei, um sorriso bobo em meu rosto, enquanto olhava os fogos silenciosos no céu. As ruas estavam quase vazias, e os guardas haviam praticamente sumido. Meus traumas me alertavam que era perigoso, foi assim que Grannus me espancou e tentou me matar, mas eu sabia que era seguro. Coloquei as mãos no bolso, a rosa ainda estava aqui. As nuvens vinham com pressa no céu estrelado, e perto do chafariz tinha duas meninas.

 

Ellie e Meggy acenaram para mim, e em passos lentos eu me aproximei. O cabelo de Meggy estava gigante, eu não a via desde a festividade em Karin. 

 

— Lumi Kai — disse ela, olhando de leve para cima. — Você cresceu um pouquinho. 

 

— Oi, Meggy. Há quanto tempo. — falei, logo troquei olhares com Ellie.

 

— Eu vou deixar vocês a sós.

 

Meggy me abraçou de leve e saiu.

 

— Você está esplêndida. 

 

— Obrigada, Lorde Lumi. Elogiar sua professora desta maneira é inapropriado. 

 

— Pra você — Entreguei a rosa, e o leve sorriso de Ellie se tornou um rosto surpreso.

 

Ela aceitou e estendeu o braço para mim, e eu o segurei, até que andamos em uma rua com enfeites de luzes.

 

Eu iria curtir um pouquinho com ela. Afinal, amanhã a rotina me aguardava.








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