Reino da Verdade Brasileira

Autor(a): Lucas Baldi


Volume 3

Capítulo 52: Vindo do céu

Então eles já iniciaram um relacionamento? Pelo que Lumi falou de Ellie, pensei que eram apenas um pouco mais que amigos. Ela deu falta dele. Kanro estava surpreso pelas relações de Lumi. Irati, Arvid, Rei Dez, Higasa. Se envolver com pessoas desse calibre precisava ter algum motivo oculto, afinal, ele era um menino de dezessete anos. Decidimos voltar para casa andando, o reino estava se preparando para um evento importante, então a cidade estava quase inteiramente enfeitada.

 

— Ellie é muito bonita. — disse Emy. 

 

— É sim. — Eu e Kanro concordamos.

 

Emy tinha muito em quem se inspirar. Kanro, eu e Lumi. Seu elemento ar, nessa idade, já mostrava que minha pequena tinha um potencial desigual. Ao chegar em casa, fomos direto dormir. Kanro desmaiou na cama e Emy disse que ia tentar meditar para se aprofundar no elemento. Sentei na cama, e uma sensação peculiar me trouxe animação para o duelo de representantes.

 

 

Tomamos o café da manhã às pressas. Emy e Kanro davam uma garfada atrás da outra sem ao menos mastigar a comida. Emy levantou, seus olhos bem abertos. Kanro olhou para mim e disse:

 

— Vamos! Emy está muito animada para sair. — Ele deu seu sorriso lindo e perfeito, e eu arqueei uma sobrancelha.

 

— Acabei. Vamos! — disse Emy. — Quero ver meu irmão.

 

Quando foi que esse menino ficou tão apaixonado por lutas?

 

— O torneio é só à tarde!

 

— Nós queremos bons lugares! — Eles responderam em uníssono, e eu cedi.

 

Era um dia de pleno céu aberto. Havia muito mais guardas que o comum, todos com armaduras de criaturas superiores ao nível Fulgor. A média de poder aqui era incomparavelmente maior com relação a Karin. Hoje, o reino sete tinha seu padrão de segurança elevado mesmo se comparado aos outros reinos de Laum. Kanro colocou Emy na cacunda e foi na frente em meio a multidão. Estava muito agitado. 

 

Como esse menino vai nos achar? Não, ele disse que iríamos vê-lo. Mas como?

 

Representar os reis era um ato magnífico, eram preparados especialmente para evitar conflitos internos e, muitas vezes, agiam como diplomatas e emissários. Conhecidos como portadores da esperança, criados com o único sentido de dar segurança ao próprio povo. Com tanto poder, me perguntei se todos eles eram, de fato, leais a Elderer. Miguel foi dado como representante mais poderoso, porém eu sentia que a energia dele era… peculiar, ardilosa. Diferente do sentimento bom e confortante, esse príncipe parecia perigoso. 

 

Poderia ele ser alguém gentil?

 

Paramos na loja de compridos sanduíches e compramos alguns para levar, em seguida Emy pediu para pararmos em uma loja de roupas de pessoas famosas. Ela cismou que queria levar a capa do “Lâmina de Fogo”, integrante do grupo Os Caçadores. Ela simplesmente virou fã quando a notícia do ataque à muralha de Etin se espalhou. Segundo relatos, ele segurou uma manada de monstros com uma onda de chamas amarelas. Quando me virei para o balcão, no entanto, esbarrei em uma pessoa.

 

— Me descul- — Era Ellie. — Peço perdão, Lady Ellie. 

 

— Está tudo bem — Ela me deu um fraco sorriso, todos da loja suavam de nervoso. — Eu posso acompanhar vocês hoje?

 

Kanro e Emy rapidamente a cumprimentaram, e eu a respondi:

 

— É claro, seria uma honra.

 

— Obrigada.

 

Emy a elogiou simplesmente, e Ellie agradeceu. Durante uma parte do caminho, nós andamos em silêncio, até meu marido quebrar o gelo e iniciar a conversa. Eu te amo!

 

— Qual é o seu nível atual? Você é elogiada até pelos Auroras do meu time — Kanro disse. — Com algumas de suas avaliações eu percebi um estilo peculiar na sua arte da espada.

 

— Eu sou Fulgor — Ellie respondeu. — Essa arte é da família Higasa, meu pai me ensinou desde pequena. Ela envolve o domínio e o controle da magia nos músculos e na espada, criando o ataque e a defesa perfeita. É complicado, mas certamente útil. — Ellie o encarou. — Como capitão dos Auroras essas técnicas o impressionam?

 

— Sim, por mais que eu tenha enfrentado muitos inimigos, qualquer aprimoração ou técnica nova é impressionante para mim. 

 

— Entendo. Meu pai queria ter falado com você desde antes de assumir o cargo, mas disse que era melhor esperar você sair de Karin. Como você chegou a esse posto? 

 

— Eu tive uma boa instrução do meu pai — Ele sorriu sem graça. — e mais esforço do que eu poderia dar.

 

— Senhora Amice, os seus poderes de cura são requisitados por muitos. Pode me contar um pouco mais? — Ela me perguntou, dando-me um leve susto.

 

— A magia da cura é peculiar, rara. Diferente da maioria, que você consegue acessar usando a aura, a cura exige uma saída de magia diferente. Mesmo com minha experiência, é difícil curar feridas muito grandes.

 

— Eu sempre achei interessante — Ela respondeu. — Você acha que é possível alcançar um nível… passivo? A ponto de regenerar pequenos cortes?

 

Pergunta interessante.

 

— Sim e não — Os três me lançaram um olhar confuso. — Nesse ramo de estudo, nós usamos como base a magia de raio. O passivo te permitiria ser mais veloz que o natural, então o corpo e a energia teriam de ser um só. Acredito que com a cura seja o mesmo. Estar tão distante do mundo físico, talvez, possa fazer com que seu corpo se regenere junto com a mana.

 

Após nosso papo sobre magia, nós chegamos ao grande estádio. Ellie elogiou os olhos de Emy antes de entrarmos, minha filha ficou boba. A fila estava abundante, porém andou rápido. Era realmente imenso, milhares de assentos e uma grande arena feita de pesados blocos de pedra. No meio, estava apenas o que supus ser o apresentador. Perto dele, havia a saída exclusiva do castelo, onde jazia apenas a equipe de curandeiros. Pegamos um lugar no meio da plataforma, perto o suficiente para ver os detalhes das lutas. Ellie, de volta a seu semblante inexpressivo, procurava por algo juntamente com Kanro.

 

— Será que ele vem mesmo? — perguntou meu marido. — Como ele vai nos achar?

 

— Vem sim, amor.

 

Mais e mais pessoas chegavam e nenhum sinal do Lumi aparecera. Meu coração batia forte, a arena cada vez mais barulhenta. Ele realmente apareceria?

 

Os 3 grandes reis, de repente, saíram dos portões direto do castelo.

 

Um silêncio devastador surgiu no mesmo instante, e todos, ao mesmo tempo, se curvaram. Alud, Rei Dez, foi o primeiro a subir na arena. O apresentador estava curvado de joelhos perante ele. Seu semblante sério e confiante analisava firmemente a arena, como se procurasse algo. Vestígios de sua magia trouxeram um leve desconforto, pude notar diversas pessoas à minha frente suarem frio. Emy estava protegida pela aura de Kanro, e Ellie parecia não ter sido afetada. Sussurros mínimos diziam que Lotier havia desistido, que não encontrara o representante dele. Já outros falaram que ele havia apenas se atrasado. Como um rei se atrasou a um evento desse?

 

Alud acenou, e o público o aplaudiu e exclamou seu nome. O estádio tremeu. Eram três dos grandes reis em apenas um lugar, incrível de ser ver. Alyssa, rainha sete, subiu em seguida. Bela e deslumbrante com seu lindo vestido azul, Alyssa acenou e a arena ferveu novamente. Em seguida veio Gevid, rei oito, e varreu a arena com seus olhos brilhantes amarelos. Ele apenas cumprimentou os outros reis sem dar atenção a plateia e tomou o lado deles. O apresentador cumprimentou e se curvou individualmente aos reis, fazendo questão de elogiá-los para o público com seu potenciador de voz. 

 

Ele gritou pelos representantes, e três pessoas com uma aura forte subiram na arena. Miguel era o representante de Alud, seu semblante confiante e sorriso amargo. O príncipe ficou ao lado de seu rei, sua armadura cobria o corpo inteiro e seu véu mal alcançava a cintura. O próximo foi o surpreendente Bruno. O pequeno que frequentava minha casa para brincar com Lumi agora era o representante da rainha mais maravilhosa de todas. Bruno tinha apenas partes de uma armadura azul e uma espada média nas costas, ele parecia calmo em meio a tudo quando ficou ao lado de sua mãe. Por último, entrou uma menina alta com uma espada reta nas costas e tomou a frente do rei oito. Seu nome era Neka Alohan, uma guerreira do reino oito. 

 

Neka e Miguel exalavam pura confiança, enquanto Bruno se mantinha impassível. O apresentador explicou, de modo geral, sobre o evento de representar os reis. Quatro representantes, duas lutas. Eu sabia que o objetivo de cada um do trono era um pouco além das lutas. Os reis vieram pessoalmente porque eles podiam exibir sua força e superioridade, não era só um torneio demonstrativo para o público, era para exibição, luxo. Os reis tomaram seus assentos especiais e uma barreira protetora foi ativa em torno da arena quadrada. 

 

— Ele está atrasado — Kanro disse, frustrado, enquanto uma movimentação entre os reis agitava o lugar. 

 

Bruno e Neka foram os primeiros a subirem na arena. Todos estavam quietos. O apresentador deu início a luta. Bruno se posicionou sem sacar sua arma, já Neka sacou sua espada adornada de prata e jóias vermelhas de magia. Arma feita com magia específica. Eles se encararam por quase 10 minutos, trazendo a tensão para o ar. Ambos disparam para o centro da arena, deixando um rastro de poeira no ar. A espada de Neka encontrou a lâmina de água de Bruno, e um baque soou por todo o lugar. Bruno havia conjurado tão rápido que o apresentador mal percebera o que aconteceu e comentou depois sobre ser um feitiço. Empatados na força, pularam para trás e trocaram ataques rápidos. Cada um com seu estilo próprio de lutas atacava ferozmente o outro. 

 

— Focar em velocidade tem consequências — disse Ellie, enquanto analisava firmemente a luta. 

 

— Eles estão além do que deveriam?

 

— Dada os estilos — ela me olhou. —, eles querem encerrar a luta logo. 

 

Um estrondo.

 

— Eles não pretendem perder! Cada segundo vale! — O apresentador berrava no potenciador de voz.

 

Bruno recuava enquanto Neka raspava os ataques em sua armadura, deixando rachaduras e, até, destruindo algumas partes. A espada da guerreira fora cercada com uma espécie de mini tornando. Lanças de água surgiram — instantaneamente — do chão e quase perfuraram a guerreira, mas quando chegaram a um palmo de sua armadura foram cortados. A habilidade de conjurar e manipular água de Bruno alcançava facilmente qualquer Fulgor, o apresentador fez questão de dizer isso. Até mesmo Alud e Gevd pareciam impressionados com a habilidade do menino. Era como se a água escolhesse obedecer, manipular um elemento assim era impossível para muitos. Se considerarmos a agilidade dele…

 

— Ellie, o que acha da manipulação de água? — perguntei, deixei a curiosidade invadir minha voz.

 

Ela pensou por um momento e respondeu:

 

— É a melhor que já vi.

 

Bruno afundou um chute no estômago da armadura de Neka, mas um corte impediu sua perna de jogá-la para longe. O apresentador elogiou ambos. Neka se cobriu com uma aura de ar, e a água cobriu o corpo de Bruno como uma armadura e lhe deu um aspecto de poder azulado. Me lembrei de quando era apenas uma criança que mal podia fazer bolhas. Ataques carregados de poder foram lançados de um para o outros, os muros de magia começaram a tremer e eles voltaram a colidir suas armas. Desta vez, os dois foram cobertos por cortes e pancadas, até mesmo suas armaduras foram danificadas no processo. Bruno acertou sua espada azul brilhando no ombro de Neka, que o contra-golpeou com uma rajada circular de ar. Os dois atingiram com força o chão a ponto de quebrar a arena, e o estádio tremeu com a torcida. 

 

— Isso foi incrível! — gritou o apresentador, praticamente pulando da arena

 

Os reis declaram o fim da luta e os guerreiros, ofegantes e pingando de suor se cumprimentaram após se arrastarem um para o outro, recebendo uma imensa salva de palmas em seguida. A equipe de curandeiros os atendeu rapidamente, e o apresentador chamou Miguel Enguerrand, que chegou acenando e sorrindo para o público, recebendo diversos assobios. 

 

— Considerado o representante mais forte… Miguel Enguerrand está pronto para lutar! — exclamou o apresentador, mais animado do que antes. Miguel sussurrou no ouvido do apresentador e ele disse: — Infelizmente o rei Lotier não se encontra presente! — O estádio desanimou. — Então a vitória irá para Miguel!

 

O príncipe ajeitou o cabelo de modo confiante, e o rei dez deu um sorriso malicioso para si mesmo. Como um rei não viria a este evento? Alguma coisa estava errada. Kanro parecia desanimar, e Ellie encarava tranquilamente o céu.

 

— Ellie, o que-

 

— Um bater de asas. 

 

Eu, Kanro e Emy olhamos também. Havia algo grande se aproximando, algo que fez todos os guardas correrem para o centro da arena. Miguel ficou com um semblante mais sério, os reis ficaram de pé, até mesmo Bruno e Neka prepararam suas armas. O ser vermelho chegava cada vez mais perto, mas ninguém ousava atacar. O estádio estava quieto, como se o que estivesse em cima, o poder exalado dele, os mantivessem no lugar. A barreira da arena foi desativada, e um homem com uma coroa surgiu em cima do grande dragão. Todos começaram a se curvar, e eu não conseguia parar de olhar quando o dragão pousou.  

 

— Não achou que eu perderia isto, certo, Alud? — falou com confiança o rei Lotier, e o semblante do rei Enguerrand nunca pareceu tão enfurecido.

 

Miguel rangeu os dentes enquanto o rei descia de sua montaria.

 

— Você ainda precisa de um representante para lutar, Lotier! Caso contrário, Miguel ainda é o vencedor! — exclamou o rei de seu assento. 

 

— Eu tenho — Lotier sorriu, e o dragão abaixou a asa.

 

Meus pelos arrepiaram. Kanro e Ellie ficaram boquiabertos, e Emy apenas mostrou todos os dentes em um sorriso. Sussurros de todos os lados alegaram ser alguém que não podia usar magia. Eu só consegui levar minhas mãos a boca enquanto olhava um menino descer da asa do dragão.

 

— Apresento a todos vocês — disse Lotier. — o meu representante. — Ellie, desta vez, abriu um sorriso. — Lumi Kai!

 

Música da chegada



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