Reino da Verdade Brasileira

Autor(a): Lucas Baldi


Volume 2

Capítulo 30: Laços a se formar

Sinos começaram a tocar de todas as direções. 

 

As pessoas ficaram desesperadas. Elas corriam para se esconder em suas casas destruídas e gritavam em choro com os badalares. Pude perceber uma pessoa ou outra tropeçar no chão terroso e serem pisoteadas pelos demais. Os guardas correram rapidamente para as muralhas de madeira e para perto dos portões, mas até eles relutavam para fazer isso, seus olhares mortos e sem vida, como se estivessem preparados para morrer. A maioria das pessoas já ocupava as pequenas casas, o que deixou um amplo espaço no que deveria ser a viela do vilarejo. As caídas no caminho — as que sobreviveram, ao menos — foram carregadas pelos magros guardas próximos, enquanto os corpos sem vida foram levados para um canto que parecia ser específico para isso. Uma carranca alcançou o meu rosto. Isso era extremamente errado, ninguém deveria estar vivendo assim. 

 

Adelai se aproximou de nós, seu olhar determinado. Gina veio atrás dela, mas ela tremia e lágrimas dominavam os seus olhos. Elizabeth, Alfi-rar e Breaky já estavam a caminho do portão, e demorou pouco para que nós fossemos também. Eu e Ellie trocamos olhares, e desta vez não consegui compreender seu rosto desprovido de emoções. Olhei para o céu, no exato encontro entre as nuvens circulares escuras e as quadriculadas brancas havia um pequeno pássaro preto grotesco. O Voin de Lotier voava alto o suficiente para que ninguém o incomodasse; isso já me livrou de um peso. 

 

Engoli seco quando olhei mais uma vez para o muro que circundava a cidade: destruído, esburacado e de madeira. Uma quantidade imensa de auras se aproximava daqui, como se os monstros tivessem feito uma barreira circular para que ninguém tivesse chance de escapar. Apertei firme o pomo da katana e pus minha outra mão ao redor da pedra no bolso do casaco enquanto seguia atrás de Ellie.

 

Esse lugar ia desabar em breve, e aí seria tarde demais para evacuar. Alatar, por favor… 

 

Passamos entre a multidão que apontava as armas para o mortal, e eu pude ver Bruno, Breaky e Elizabeth em cima de uma pequena torre feita para os arqueiros. Alfi-rar estava com o escudo apontado para o portão, como se algo pudesse entrar a qualquer momento. Eu não sentia nada, no entanto. Sussurros incontáveis sobre o fim evidente fluíam nas pessoas como ventos sobre as nuvens, por um momento o temor deles me distraiu do perigo que se aproximava. Amanda andou até a base da torre e chamou por Breaky, que tirou o foco do que havia além do portão e olhou para ela. Amanda estava um pouco mais equipada que antes, com braceletes e caneleiras de metal, uma flauta extra no cinto marrom em sua cintura e uma tiara de prata com duas jóias vermelhas. Ela absorveu as palavras do espadachim arrogante e virou o olhar para mim e Ellie, depois para Gina e Adelai.

 

Ela fechou os olhos e respirou fundo enquanto andava até nós. Seus olhos cor de mel encontraram os meus e ela abriu a boca para falar, mas foi interrompida quando Áki, com um pulo, subiu na torre e apontou o arco para o que quer que estivesse do outro lado do portão. Bruno disse algo para ela que a fez afrouxar a corda, mas seus olhos permaneciam fixados no seu alvo, prontos para atacar a qualquer movimento. Olhei para Amanda e ergui uma sobrancelha, ela entendeu e finalmente falou:

 

— Um urso das sombras avançou contra o portão, mas algo fez ele parar de repente. Ele está o encarando fixamente agora, seus olhos nem ao menos piscam. Breaky notificou que outros seres estão se aproximando, então atacar ele agora pode evitar uma ameaça maior, apesar de ter seus riscos. 

 

— Teríamos que passar por ele para evacuar o povo, de qualquer forma — Adelai disse. — Melhor fazermos isso antes que esse lugar encha de monstros de novo, eles não aguentariam perder outra centena de pessoas.

 

Assenti para Amanda em resposta e subi a escada da torre, deixando elas debatendo sobre como prosseguir — até a menina da flauta subir também. Breaky desceu em um pulo, e eu me pus entre Bruno e Elizabeth. O urso realmente estava parado, fumaça cinza e negra saíam de seus membros, olhos e boca. A única coisa que notei nele foi o seu respirar fraco e constante. Por que a aura dele não... O vento fraco nos atingiu, mas, por algum motivo, eu cambaleei. Amanda me segurou pelo braço e Bruno pela gola do meu casaco. 

 

— Ainda não é hora de relaxar, amigo — disse Bruno, um fraco sorriso no seu rosto, Amanda deu uma risadinha e ele me colocou de pé. — Reconheço essa espécie de uma dungeon peculiar que abriga variadas criaturas distintas. Para ele estar aqui, significaria que ele está fora do seu habitat natural como as-

 

— Anormalidades fazem — completou Elizabeth. — Se seguirmos esse raciocínio, devemos considerar que estamos nos envolvendo com algo mais perigoso que uma dungeon.

 

Nós todos trocamos olhares, o clima de repente ficou pesado, e um leve medo nasceu no olhar de cada um. 

 

— Se isso for uma alrofy, devemos informar a possibilidade ao líder imediatamente. — disse Bruno, com seu olhar afiado. 

 

— E simplesmente fugiremos!? — exclamou Amanda, sua voz falhando e seus olhos ficando vermelhos. — Sairon ainda está por aí com seu batalhão, e eu não vou voltar sem ele! 

 

— Eu não me sentiria bem deixando pessoas para trás também. — comentou Áki, seus olhos ainda focados no urso. 

 

— Por enquanto, precisamos aguardar — Bruno foi firme no tom de voz. — Temos muitas vidas a considerar aqui antes de tomar qualquer atitude. 

 

Bruno desceu depois que disse que ia se juntar a Adelai para tentar acalmar o povo local, enquanto Break subiu de volta na pequena plataforma que eu tinha dúvidas se resistiria a esse vai e vém de pessoas. O urso moveu as patas dianteiras e, em um impulso que liberou fumaça para todo lado, ele ficou de pé. Áki mirou o arco para ele novamente e Breaky sacou sua grande espada e colocou um pé sobre o muro. 

 

— Posso levá-lo para longe daqui, chamar a atenção dele parece pouca coisa — falei, meu coração acelerando. — Uma luta direto aqui podia chamar a atenção dos demais monstros ao redor. 

 

— Eu posso descer e acabar com ele ali. Simples assim. — Breaky comentou confiante, já se preparando para pular, mas seus olhos varreram a floresta e ele recuou. — Tem realmente criaturas se aproximando — seus olhos encontraram os meus. — Como você sabia disso? 

 

— Porque eu sou sensato. 

 

— Como é que é? Está dizendo que eu não sou? — Breaky disse, seus dentes cerrados.

 

Rugimos um para o outro. Saquei minha katana em um movimento rápido e apontei para o pescoço dele, até sua grande espada entrar no caminho e bater na minha arma, me desequilibrando. Me posicionei, a madeira sob minha perna rangendo e entortando, e lancei minha espada para trás. Breaky fez o mesmo, e a torre balançou. 

 

— Vocês estão de sacanagem? — gritou Elizabeth. — Temos coisas mais preocupantes que essa rivalidade de merda de vocês! — Ela virou para Breaky. — Eu realmente esperava mais de você, Breaky.

 

Ele baixou a arma e desviou o olhar, logo se desculpou com ela e saltou da torre. Elizabeth não perdeu tempo para me olhar e, junto de Amanda, foi verificar Áki, que quase havia caído por causa da nossa discussão patética. Áki me lançou um olhar julgador e eu corei, logo ela se aproximou e me acertou um soco firme no estômago que me fez cair de joelhos. Depois de me recuperar, dei uma última olhada na floresta, antes de descer. Se os monstros mantivessem essa formação circular ao redor do vilarejo, seria impossível sair daqui com todos vivos. Precisaríamos abrir um caminho matando muitos deles e ainda assim nossas chances de vitórias seriam incertas. 

 

Passei pelo nobre do escudo e encostei contra uma das cordas que levantava o portão. Coloquei a mão no rosto e me permiti soltar um longo suspiro, logo pressionei minhas sobrancelhas e cerrei os dentes. Alatar foi claro quando disse sobre o trabalho em equipe ser essencial para o êxito da missão, mas esses malditos… Vi Ellie e Alice trabalharem junto de Adelai e Alfi-rar para fazerem rondas pelas partes mais expostas dos muros, Bruno e Amanda tentarem falar com as pessoas que tudo ficaria bem e Breaky conversar em um canto com Elizabeth, enquanto os guardas- cidadãos só seguiam as ordens na esperança de talvez sobreviver. Inspirei o ar novamente, mais lento desta vez, e repassei com calma os meus pensamentos. Me irritar à toa não iria me levar a nada, era esse o exemplo que eu queria ser para minha irmã? Sempre iriam haver pessoas assim, eu realmente deixaria elas tirarem a minha paz com simples palavras? Miguel e Zelforne eram nobres que acabaram facilmente comigo, perder o controle com eles em uma situação desfavorável para mim acabaria… da pior forma possível. 

 

Bem, depois eu penso sobre reflexão pessoal. Spectro sussurrou que eu era muito implicante, e eu dei uma leve risada, antes de me dirigir a um dos guardas que me informara. Era Amyon. Ele estava parado de braços cruzados perto do aglomerado de pessoas, seus olhos sem vida no chão, suas pernas bambas, suas mãos pressionando os braços.

 

— Ei. Tudo bem? — Ele se virou para mim como se tivesse acabado de tomar um susto.

 

— Oh, menino de Karin. Eu só… estou apreensivo. — Não restara nada da confiança que ele passara antes. — Tem tanta gente aqui, tantos monstros… Eu realmente conseguiria sair vivo dessa? — Seus olhos tristes encontraram os meus, eu arriscaria pensar que era em busca de conforto, mas eu abri a boca sem ter o que dizer, e o olhar do jovem logo baixou.

 

Notei Alatar e Rona próximos ao centro da viela. Meu líder acenou para que fossemos para perto dele, assim como Rona fez com seu grupo. Nós finalmente entramos na cabana de madeira que tinha o muro feito de estacas, onde também estava Martin. O local era pouco espaçoso, cheio de caixas velhas com ouro cobertas por teias de aranha, ratos, um véu branco que cobria alguma coisa no canto e uma espécie de quarto sem paredes. Uma mesa de madeira clara cercada por seis cadeiras e uma cama com um colchão bem grosso no canto. No lugar onde devia ter as paredes havia linhas brancas e brilhantes nos quais minha habilidade de ver mana me permitiu enxergar dois caminhos de fluxos diferentes. 

 

Ao invés de sentarmos, todos ficamos em pé, e Martin iniciou a reunião. Ele disse que era necessário trazer mais reforços para Endvir e que um investimento de Tera era crucial para a sobrevivência do povo. Sinceramente, eu não entendi o porquê dele ser tão contra a evacuação, mas fiquei quieto e continuei ouvindo pessoa após pessoa falar. Depois de ser confrontado cerca de três vezes por Alatar, Rona e Amanda, ele finalmente surtou:

 

— Eu não vou deixar ninguém sair dessa cidade! Eu investi muito dinheiro aqui, abriguei pessoas aqui, nós só precisamos defender o local e lidar com o grande mal! — Seus olhos estavam bem aberto, veias eram visíveis em seu rosto. 

 

— Isso não faz o menor sentido — disse Bruno, sendo o quarto a confrontar Martin. — Se todos estiverem mortos, não vai ter nada para administrar e fazer sua renda. 

 

— Deixando de lado o dinheiro, o que você já deveria ter feito, as pessoas estão apavoradas — Ellie comentou. — O desespero é visível no olhar delas, elas sabem que podem morrer se continuarem aqui. Aventureiros, coletores, Sairon e até mesmo os cidadãos local saíram e não voltaram, como pode pensar em continuar aqui depois disso tudo? 

 

Martin explodiu, ergueu os ombros e encarou a Ellie, que manteve o olhar neutro enquanto estufava o peito. Que mulher.

 

— Eu concordo com Ellie — Alatar disse. — Você não tem soldados e claramente não pode se defender dos monstros sozinhos, e muito menos pagar mais aventureiros de Tera ou Karin para tanto trabalho.

 

— Fora o fato que pode ser uma alrofy — Rona se pronunciou. — Eu perdi um amigo lá dentro, e ele era muito mais forte que qualquer aventureiro que você possa encontrar. Se eu decidir que é melhor evacuar todos daqui, isso eu farei. — Amanda fechou o rosto com a menção de Sairon, me permiti imaginar que tipo de relação eles poderiam ter. — Informantes de Tera disseram que um Laiky estava atacando e mutilando os moradores de vilarejos pequenos. Para quem nunca viu um, ele é do tipo que vem da fronteira. Corpo humanoide e branco, devora humanos por prazer. Um desafio para o cavaleiro Real, então já sabem o suícicio que é enfrentá-lo.

 

Desta vez, notei um olhar de tristeza em Ellie quando ele disse sobre a fronteira. O que acontecia lá, afinal? 

 

Com exceção de Alatar, todos encolheram. Eu engoli seco ao lembrar da criatura que arrancou o braço do meu líder e confrontou a aura da minha mãe. Ao mesmo tempo, mordi o lábio e pensei em confrontá-lo. Meus pensamentos estavam indo e vindo, eu sabia que iriar morrer, mas também sabia que ia me sentir péssimo se deixasse ele sair impune. Então o encapuzado e o Laiky tinham ligação? E, de alguma forma, Miguel estava envolvido com eles. 

 

Era muito problema que eu era incapaz de resolver. Jogando os pensamentos no canto da minha mente, voltei ao foco na reunião.

 

— …exploração para termos certeza que têm uma alrofy ou um dungeon aqui, assim poderíamos chamar reforço de Tera e fazer uma evacuação forçada — Alfi-rar quem falava. — Com tantos monstros ao redor, isso já vai acontecer em breve. 

 

Depois de mais algum tempo discutindo, nós fomos dispensados. Já era noite, e barracas nos foram dadas. Elizabeth, Adelai e Alice organizavam nosso local de dormir, enquanto Bruno e Breaky tentavam fazer uma fogueira entre as barracas. Kashi poderia usar o elemento dela facilmente. Amara, Ellie e Gina usavam a panela para fazer uma sopa com legumes e carnes doadas pelos moradores, enquanto Alfi-rar apoiou o escudo ao lado do banco de tronco improvisado e só observou os outros trabalharem. Alatar e Rona ajudavam as pessoas a carregarem roupas de um lado para o outro e tentavam confortá-los de alguma maneira. Auras cercaram o vilarejo, as criaturas já eram visíveis daqui. Mas elas estavam paradas. Por que esperavam quando podiam atacar agora? 

 

Oh, eu também estava só olhando.

 

Quando me virei para pegar mais legumes, no entanto, Amanda chegou ao meu lado. Seu olhar estava baixo, ela estava virada para uma extremidade do muro em que garras e olhos vermelhos podiam ser vistos. Seu cabelo grisalho balançava com a brisa de ar frio, e sua voz saiu com uma fluidez e em um tom que eu jamais ouvira antes.

 

— Será que Sairon poderia estar bem lá fora? — Seus olhos cor de mel me encontraram, e eu pude sentir o seu pesar. — Ele disse que voltaria. 

 

Mesmo com os chiados das criaturas, sons das garras arranhando pedras e o uivar do vento, meus pelos se arrepiaram quando eu percebi a semelhança…

 

Entre a voz de Amanda e A Voz que eu ouvi na luta contra o goblin.

 

— Esse Sairon parece alguém incrível — comentei, tão baixo que eu mal pude ouvir. — Me apresente ele quando o encontrarmos, pode ser? 

 

Amanda olhou para mim, um sorriso triste se formou em seu rosto, mas me senti aliviado quando ouvi ela falar com um pouco mais de esperança que antes.

 

— É claro, eu adoraria. 

 

Andei até perto da fogueira que os dois demoraram a acender e olhei novamente para o vilarejo; agora escuro e sem vida debaixo do céu nublado. Ellie se aproximou de mim, e deixei minhas palavras saírem.

 

— Elas sofrem tanto… Eu só queria ser capaz de tirá-las daqui. 

 

— Faremos o que pudermos.

 

Bruno se aproximou, sua espada em suas mãos.  Ele acenou para Ellie e olhou para mim. 

 

— Está tudo bem?

 

— Estou só preocupado.

 

— Nós vamos tentar salvar todos.

 

— E se não conseguirmos?

 

— Então estaríamos pensando de maneira inefetiva. — Ele deu um passo rápido e colou as mãos em meus ombros, Ellie nos olhava inexpressiva. — Você chegou até aqui, mesmo sem usar magia. Isso foi incrível por si só, amigo. Não deixe pensamentos assim te corroerem. 

 

Eu abri a boca para responder, mas Gina e Amanda se aproximaram, falando que era a vez do Bruno de patrulhar na área sul. Ele foi, e elas duas foram para as barracas, logo colocaram os colchonetes ao redor da fogueira e sentaram ali junto de Breaky, Alfi-rar, Elizabeth e Adelai. Ela me chamou para ir, mas eu recusei. Eu queria ir, mas outro pensamento chamou minha atenção. Deixei minha bolsa perto dos colchonetes e andei até um canto escuro, longe o suficiente para ficar seguro dos muros e perto o suficiente para pegar a penumbra que a fogueira fazia. Sentei e entrei no estado meditativo, vislumbrando e tentando usar a mana da minha aura. Ellie transferia sua energia com fluidez e a mantinha no braço, minha mana saia em uma quantidade exagerada e se dispersava antes que eu pudesse cobrir o meu bíceps. 

 

Tentativa após tentativa, eu passei parte da noite assim. 



A luz do sol bateu no meu rosto e eu acordei deitado sobre a terra e a lama. As nuvens escuras formaram círculos no céu e deixaram pequenas brechas para o tom alaranjado e diversos feixes de luz. Sentei-me e dei uma olhada geral em volta. Meu grupo já estava acordado. Alguns bebiam água, outros tinham chá, outros comiam os restos da sopa de ontem. Uma ou outra pessoa do vilarejo buscava preguiçosamente baldes de água no poço, e Breaky e Alice andavam próximos aos muros. 

 

Ellie andou até mim, seu rosto reflexivo.

 

— Bom dia. 

 

— Bom dia. 

 

Ela olhou para o copo de água que tinha na mão, parecia ponderar sobre o que fazer com ele. Amanda, Gina e Airo se aproximaram, eles falavam um pouco alto para essa hora da manhã. 

 

— O que há? — perguntei, minha voz exalava preguiça.

 

— Eu só estava pensando em uma coisa… Sabe, só uma teoria do que está acontecendo aqui. — Gina disse timidamente. 

 

— Conte, Gina. Faz todo sentido. — Airo comentou, seu olhar assustado.

 

— Olha… — Suas bochechas coraram, seus olhos foram a todos os lugares, menos para mim. — Os monstros chegaram no mesmo dia, quase na mesma hora, que o grupo do capitão Sairon e do líder Rona, ontem, no dia que vocês chegaram, um urso apareceu e ficou vidrado no nosso portão. — Olhei curioso, minhas engrenagens começaram a funcionar. Ellie fez o mesmo. — E agora os mesmo monstros voltaram e cercaram a cidade, justo quando outro grupo chegou.

 

— Você está dizendo que-

 

— Temos quase certeza de que o Ritualista está envolvido nisso — interrompeu Amanda. —  E o prefeito está escondendo algo, ele desviou o assunto quando tentei falar com ele mais cedo. 

 

— Ele estava acordado de madrugada? — questionou Ellie, e todos nós ficamos em silêncio.

 

— Ele veio do- 

 

Um baque grave cortou a frase de Amanda. Rapidamente me virei para o portão, que havia sido estraçalhado. Os guardas caíram e apontaram as armas para a enorme cortina de fumaça que apareceu. De repente, uma garra saiu da cortina e perfurou a barriga de um dos guardas no chão, o que fez com que os outros largassem as armas e corressem em desespero. A garra logo ergueu o corpo e um braço de sombras apareceu. O homem pendurado golfava sangue, seus olhos encontraram os meus. Ele pedia socorro. Coloquei a mão na cintura, mas deixei minha katana perto da bolsa. Quando me virei para ele, outra garra surgiu e partiu o homem em dois. Das sombras, ele surgiu.

 

O urso havia entrado…  E ele tinha companhia. 



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