Volume 1
Capítulo 5: A Era dos Escultores, Parte 2
A partir do bater de palmas, um disparo elétrico atingiu diretamente uma das atiradoras. Sem sequer conseguir ver o que lhe acertou, a mulher caiu sobre o chão. O cadáver não seria capaz de lutar novamente. A perda de uma companheira era como a chuva antes da tempestade, alertando o esquadrão para que pudessem tomar uma atitude decisiva.
— Escultora abatida! Aquele cara pretende matar cada um de nós!
— Então, devemos fugir?
— Essa não é uma opção! Não podemos deixar essa relíquia nas mãos da STONES!
Uma explosão percorreu todo o interior do departamento comercial. Uma carga excessiva de eletricidade fez todos os eletrodomésticos serem a causa de uma destruição em massa. Atingido pelo impacto de danos inesperados, Roccan foi impulsionado contra os destroços do edifício em chamas. O jovem acabou expulso de uma luta que não mais lhe pertencia, desmaiando após o choque.
A luz proporcionada pelo fogo ardente se destacava em meio ao brilho artificial da grande metrópole. Os cidadãos na proximidade do embate correram para longe da confusão, deixando o local com espaço de sobra para um confronto sem limites. Sparklez caminhava entre os destroços da construção destruída, dirigindo-se para os seus alvos verdadeiros. O esquadrão o aguardava a céu aberto.
— Não sei dizer se são corajosos ou apenas inteligentes, mas aceitar o destino é realmente a melhor escolha.
— Acho que está confundindo as coisas. Aquele garoto expôs a sua fraqueza. Você é confiante demais.
— Sério? Nunca parei para pensar por esse lado.
Um clarão preparava a abertura de um espetáculo violento. A praça era como uma arena de batalha, servindo de base para a investida dos nove soldados restantes. Cada um dos membros da equipe armada alcançara o seu mais alto nível de determinação, avançando contra um único homem de cabelos brancos.
— Cerquem o alvo! Vamos realizar um ataque simultâneo!!
— Suas ações são incoerentes. Parecem ter compreendido bem a situação, mas continuam tomando decisões sem sentido. — O sujeito encurralado revelou a sua decepção.
Raios despencaram um após o outro, acertando um atirador por vez. Metade da equipe foi aniquilada em menos de três segundos, reduzindo seus números para apenas cinco membros. O olhar sério do inimigo era como uma faca, que cortava friamente todo o ímpeto do grupo motivado. As luzes neon, responsáveis pela enérgica aura de entretenimento da cidade, eram ofuscadas pela tempestade elétrica, afastando os olhos que não gostariam de serem dominados pela cegueira. Todos os sobreviventes ficaram pálidos. Mesmo sem serem afetados pela eletricidade, seus corpos permaneciam em estado de choque.
— I-impossível… o que devemos fazer?
— Não dá para se aproximar. Como podemos deixá-lo inconsciente?
— É sequer possível acertar essa coisa?
De frente para uma ameaça em constante crescimento, as mentes de todos ali presentes eram pouco a pouco forçadas a aceitar um destino cruel. Desesperadas, as forças armadas pareciam apenas esperar a sua hora chegar. Suas bocas eram as únicas partes do seu corpo que ainda conseguiam se mover. Emoções, que outrora se encaixavam como uma simples oposição, ganharam a forma de um pedido honesto. Com a areia da ampulheta se esvaindo, o subconsciente desses humanos entendeu o momento como uma última chance de reafirmar os seus desejos mais íntimos.
— Quando eu subir no ranking da resistência, a minha filha vai conseguir comer todos os dias. E-então, por favor… precisamos dessa relíquia!!!
— Movam-se seus idiotas! Eu tenho que voltar para a minha esposa!!
Um clarão antecedeu a queda de outros dois soldados. Um trio foi tudo o que restou da equipe determinada.
— Eu imaginava que os trajes da resistência eram melhores. Não dão conta nem de alguns choques? — Em uma situação de vitória praticamente garantida, Sparklez debochava dos adversários.
Os sobreviventes sentiram a provocação, mas não responderam da maneira esperada.
— Os esquadrões de ranque S e A com certeza possuem equipamentos isolantes. Eles te derrotariam sem qualquer dificuldade.
— Esperem, vocês são ranque B? Isso é inacreditável!! Como puderam achar que venceriam essa batalha?
— Somos ranque C. Não escolhemos as nossas lutas, esse é um privilégio impensável para nós.
O rugido dos céus levou mais um atirador ao chão, eletrocutado após um som estrondoso. O homem de cabelos brancos encarou os seus dois últimos alvos, enquanto se despedia adequadamente.
— Vocês parecem bem mais preparados para morrer. Isso é uma rendição?
— Diferente dos outros covardes, nós entendemos o nosso papel. A morte não é o fim para um membro da resistência. Todos os outros esquadrões levarão os nossos sonhos adiante!
— É isso o que nos torna Escultores.
— Que seja.
Um soco movido por partículas rosa. Punhos repletos de ódio marcaram cada centímetro da face de Sparklez. Utilizando dezenas de portais em sequência, Roccan acertou o inimigo a partir das mais diversas direções, utilizando membros inferiores e superiores para quebrar por completo o equilíbrio da figura relaxada. Reivindicando uma luta que havia escapado de suas mãos, o jovem abandonou os escombros da construção caída e chegou repentinamente à área da ação.
Apesar de sua movimentação invejável, o usuário dos portais não era capaz de adentrar nos olhos do sujeito agredido, que não conseguia desviar de seu verdadeiro objetivo. Feixes de luz encontraram o seu caminho pela imensidão do céu noturno, buscando alguém para receber uma descarga estonteante. O oponente que Sparklez almejava não era Roccan.
Uma queda. Um sobrevivente. A praça responsável por hospedar um espetáculo sangrento estava prestes a ter as suas cortinas fechadas. Um único homem carregava o que restou da honra de toda a sua equipe. A chacina resultou em um duelo um contra um, deixando a resistência em cheque. Em meio a tantos soldados, os quais nem precisavam de um nome para continuar cumprindo o seu papel, Jiro é como se chamava a figura ainda de pé.
— Antes de acabar com isso, farei uma última pergunta — afirmou Sparklez.
— Vá em frente.
Perplexo, Roccan apenas observava uma situação para a qual ele parecia ser irrelevante. O diálogo continuou sem a sua participação.
— Você não disparou nenhuma vez contra mim, mesmo considerando o confronto como um todo. Qual o motivo dessa atitude?
— Não encontrei nenhuma brecha para tal feito.
— Heh, excelente resposta. Meus poderes são capazes de alcançar a velocidade da luz. Isso torna balas ineficazes.
— Desde o começo dependíamos de um milagre. É uma pena que ele não tenha ocorrido.
— Caso garantissem a minha relíquia, todos vocês ganhariam uma melhor qualidade de vida? Não seria mais fácil morar nas ruas?
— Nem mesmo as ruas são um local livre. Você deveria saber disso mais do que qualquer um. Afinal, elas pertencem à STONES.
— Deveria ter escolhido melhor as suas últimas palavras.
A eletricidade trazia o ato final da tempestade luminosa. Originando-se das trovoadas que ecoavam por todo o distrito, o som que acompanhava o brilho entre as nuvens era como um aviso mortal, alertando o último membro da equipe derrotada: a sua hora também havia chegado.
Partículas rosa cobriram a cabeça do soldado em perigo. O raio, que caía sobre o membro do grupo, atravessou um dos portais de Roccan, sendo reposicionado para um novo alvo. Outro portal levou o ataque eletrizante diretamente para a cabeça de Sparklez. O inimigo despencou em uma derrota inesperada. Diante da morte de um poderoso adversário, o jovem não conseguia comemorar a vitória. Os corpos ao seu redor reforçavam uma falha absoluta.
— Me desculpem… — Após sua fala, Roccan mordeu os próprios lábios, frustrado.
Jiro olhava atentamente para o cadáver de Sparklez. Não conseguindo acreditar no que viu, ele permaneceu perplexo.
— O-o que você fez?
— Hã? Eu matei ele, mas demorei demais — respondeu o rapaz.
— Você enlouqueceu!?!? Achei que soubesse o que estava fazendo!!
— Tem algo de errado?
— Isso é impensável! O maior dos erros!!
O homem se agachou para medir os batimentos do inimigo caído. O resultado fez todos os seus pelos se arrepiarem em um pesadelo profundo.
— Você matou um comandante da STONES!!!
— Não é isso que vocês estavam tentando fazer?
— Você não faz ideia do que está acontecendo!? Nós íamos deixá-lo inconsciente! Por isso todos morreram sem sequer atirar na cabeça dele! Achou que éramos apenas ruins de mira?
— M-mas por que tudo isso?
— Quando o coração de um comandante para, um alerta é emitido para as bases da STONES mais próximas. É como um código de punição contra qualquer um que possa ter causado tal perda, isso inclui inocentes.
— Então…
— Você ativou o que eles chamam de Pedido de Punição.
O distrito inferior foi bombardeado por dez naves enormes. Edifícios de todos os tipos desmoronavam a partir de uma destruição sem qualquer motivo plausível. Veículos explodiam após serem atingidos por mísseis devastadores. Moradias e estabelecimentos ardiam através de chamas intensas, queimando qualquer vestígio de sua existência.
A mente de Roccan compreendeu um erro imensurável, “eu não…. Eu não sabia de nada disso.”
Ouvindo os berros de dezenas de pessoas na região, o garoto ergueu os seus braços mais uma vez. Enfurecido com sua própria incompetência, ele se preparava para enfrentar algo muito além de seu alcance. A nave, na qual já havia voado uma vez, era cerca de cinco vezes menor do que aquelas que passaram a sobrevoar a sua cabeça. Suas turbinas elevavam a altitude de cada maquinário para um nível completamente diferente de qualquer outra tecnologia.
Diante de um cenário semi-apocalíptico, originado pela sua própria ignorância, uma figura continuou de postura ereta, para que todos os atacantes pudessem enxergá-lo com facilidade. A responsabilidade pela derrota do esquadrão havia sido passada para mãos determinadas.
— Apesar de ainda não ter ideia de como farei algo assim… eu preciso consertar toda essa bagunça! — declarou o jovem.