Rei dos Melhores Brasileira

Autor(a): Eme


Volume 1

Capítulo 49: YGGDRASIL

As enormes montanhas cobertas de neve eram o típico lugar procurado por aqueles viciados em adrenalina, ao norte da Mongólia, entre a gigantesca Rússia e a majestosa China, um país que já pertenceu ao império que, por vários anos, dominou grande parte do mundo, aqueles que provaram que estratégia, força e um toque de brutalidade podiam caminhar lado a lado.

Havia muita história naquelas terras, contudo, Gabrio caminhava sem ter o tempo para apreciar o ambiente. Na sua frente, os dois jogadores permaneciam calados, subindo cada vez mais alto a montanha fria.

— Pra onde estamos indo?! — perguntou ele, finalmente tomando coragem.

Solaris flutuava na bola de luz, virou-se para encará-lo.

— Hum... ainda tá aqui?! — disse o albino.

Gabrio abriu a boca para protestar, mas fechou. Afinal, nem mesmo sabia o porquê de estar seguindo aqueles dois.

— Ele veio comigo — interviu Zero.

— E por que trouxe esse novato?! — reclamou ele.

A garota não respondeu, apenas fitou os olhos do irmão.

Ah! Por isso... — relatou Solaris.

O albino entendeu o motivo sem precisar de palavras, mas não era surpresa.

“Se ler a mente dele de novo torço seu pescoço...” Gabrio ainda recordava da ameaça de Bel ao fim da sua primeira partida, ou seja, aquilo era uma das habilidades do Senhor das Estrelas.

— Ah! Qual é?! A culpa é sua! — disparou Solaris, após outra de suas leituras. — Falei para chamar atenção, não para invadir o QG deles.

— Tinham Correntes de Blair — protestou ela. — Pensei que só os Vikings possuíam isso.

 — Bem... sobre essa... — Solaris coçou a cabeça antes de continuar —, tem mesmo um deles que já fez parte do timinho da Halley!

 Zero parou de caminhar e cruzou os braços.

— Calma, aí! Espera! — gritou Solaris, erguendo as mãos em autodefesa. Um rápido surto de desespero.

O gelo ao redor do irmão começou a se movimentar, em instantes, prendeu-o em uma bola maciça de neve, deixando só sua cabeça de fora.

— A desgraçada era forte demais! — relatou ela, apertando-o ainda mais no gelo. — Depois que me acorrentou, a miserável fez questão de me bater, cortar e torturar.

Aquilo era a explicação do estado que estava, quando encontrada.

— Caramba! Esqueci completamente de avisar! — alegou ele.

— Esqueceu?! Ou não quis falar?! Até onde minha captura era parte dos seus planos? — interpelou ela, cheia de suspeitas.

— Ei! Ei! Não precisa ficar irritada! — implorou Solaris

Gabrio não via diferença na expressão de Zero, apesar do tom, seu rosto continuava sereno, a pele alva brilhando na luz do sol, se observasse bem, o rosto belo dela parecia ter sido esculpido em mármore.

— Qual é? Acha que eu usaria minha irmãzinha como isca? — falou o albino, em sua defesa, exibindo um sorriso nervoso.

— Vou te matar — afirmou Zero, tendo certeza que “sim”.

Esticando as mãos, começou a comprimi-lo no gelo.

Solaris encarou a direção do novato, na esperança de achar uma salvação. Por sorte, encontrou algo bom.

— Ele te acha bonita! — gritou o albino, antes de ser completamente esmagado.

A garota virou lentamente na direção do novato, que desviou o olhar envergonhado, prova que seu irmão não mentiu. Com um gesto das mãos, o gelo dissolveu. Por consequência, Solaris caiu no chão, puxando o ar.

— Se me usar desse jeito de novo... — ameaçou ela — Te faço em pedaços!

 Zero o largou para trás, continuando o caminho.

“Então, tudo fazia parte de um plano...”, conclui Gabrio, enxergando o sentido de alguém tão poderosa ter sido capturada.

Uh! Essa foi quase! — alegou o albino, no seu sorriso não havia remorsos.

Solaris deitou na neve, aliviado.

— Obrigado... você aqui... salvou minha vida... — falou ele, entre pausas, ainda com dificuldade para respirar.

“Por que achá-la bonita ajudou?!”, pensou ele, sem entender o sentido.

— Ah! Sobre isso... pode não parecer — explicava, após ler seus pensamentos —, mas minha irmã é vaidosa! Agora ela vai precisar de mim pra saber o que mais você pensa.

— Ou seja... — Gabrio sorriu, diante da oportunidade —, me deve um favor.

O novato esticou as mãos para ajudá-lo a levantar.

— Ousado... gostei disso! — retribuiu Solaris, aceitando seu apoio.

Em silêncio, ambos chegaram ao topo do monte.

— O que viemos fazer aqui?! — perguntou Gabrio. Qualquer um que chegasse naquela altitude já teria tido uma crise respiratória, pelo visto, a resistência que o jogo lhe dava era responsável por isso.

— Observe — respondeu Solaris.

Zero esticou as mãos e a neve moveu-se em espirais, aos poucos, a porta metálica foi revelada, no centro havia uma gravura de duas asas douradas que se uniam em formato de “V”. Com um toque na porta, as asas brilharam, logo após, abriu-se dando entrada ao corredor metálico.

— Bem-vinda, Urso Polar! — saudou a voz mecânica, assim que ela passou.

— Olá, Ygg! — respondeu Zero.

Solaris passou pela porta, flutuando em sua bola de luz.

— Bem-vindo, Leão! — saudou outra vez.

— E aí, Ygg! — retribuiu o albino.

Gabrio respirou fundo e entrou no lugar, seus passos ressoavam no metal.

— Invasor detectado! Iniciar medidas de segurança! — Alertou a voz.

O corredor ficou vermelho.

— Cancele, é um convidado! — interviu Zero. — Registre ele como...

A garota parou para pensar, encarando o novato.

— Cachorrinho — completou ela.

Automaticamente, a luz vermelha se foi.

— Bem-vindo, Cachorrinho! — saudou, atribuindo seu registro.

— Que absurdo! Eu... eu... — protestou Gabrio.

O queixo do novato caiu, o local era imenso. Uma estrutura tecnológica complexa, cheia de portas e corredores. Gabrio vislumbrava algo difícil de descrever, ciente de que a própria NASA teria inveja daquele local.

— Que lugar é esse?! — perguntou, impressionado.

Yggdrasil — respondeu Solaris. — Nossa base de comando.

Yggdrasil... a árvore mítica nórdica?!”, pensou Gabrio, no sentido daquele nome.

— Ah! Isso! É uma referência a Árvore do Mundo! — aplaudiu o albino, lendo seus pensamentos. — Também é o nome da Inteligência Artificial que cuida daqui.

Gabrio suspirou, era difícil pensar perto daquele sujeito.

Entre portas metálicas que abriam sozinhas, chegaram a um salão largo. No centro, havia um mesa oval e cadeiras estofadas. Zero se jogou em uma delas, deixando seu corpo afundar no móvel, seguida por seu irmão.

— Me diz que tudo isso não foi em vão? — perguntou ela, na direção do albino.

— Jamais! Eu encontrei a receita! — informou ele, animado. — Sabia que estava com eles! Deu tudo certo!

Os olhos azuis da garota fitaram os de Gabrio, que se mantinha em pé, indeciso em qual cadeira sentar.

— Novato, qual seu nome?! — perguntou Zero.

— Dark Onyx — respondeu ele, forçando as palavras, ainda era difícil se identificar com nome do jogo.

Solaris segurou o riso.

— Caramba! Que original — zombou ele. — Parece um nome que uma criança de cinco anos escolheria.

— É... eu também não sou muito fã desse nome — admitiu Gabrio, desanimado.

— Então, por que diabos escolheu ele?! — interpelou Solaris.

Gabrio permaneceu em silêncio, não sabia se era uma boa ideia falar sobre aquilo.

— Meu Deus! Que bizarro! — explanou, com os enormes olhos esbugalhados. — Não foi ele que escolheu... foi Scarlet!

— Dá pra parar de ler minha mente! — protestou Gabrio.

A expressão do albino era de uma coruja de olhos arregalados, isso que era bizarro. 

— Como ela poderia?! Não tem como mexer na chave de outro jogador — advertiu Zero.

— Não sei como, mas ela que fez o registro dele — informou Solaris. — Só que tem algo errado...

Solaris levantou da cadeira em um pulo, encarou o novato de perto, quase tocou seu nariz no dele.

— Não consigo ver nada além do pensamento instantâneo desse cara! — admitiu o albino. — Tem algo me bloqueando de invadir sua mente inteira!

O jogador tocou na cabeça do novato, como resposta, o estalo de energia fez sua mão recuar.

— Minha nossa! Esse cara tem uma Restrição! — exaltou o albino.

De alguma forma, conseguiu arregalar ainda mais os olhos.

— Scarlet colocou uma Restrição em um novato?! — contestou ela. — Impossível!

— Me diz o que é “impossível” pra ela?! — rebateu Solaris.

Zero suspirou, encarando o teto, era irritante a forma que Scarlet Moon sempre a surpreendia.

— Alguém poderia me explicar?! — pediu Gabrio, confuso.

— A taxa de sucesso do que ela fez com você é de um por cento! — revelou Solaris. — Isso em jogadores experientes, em novatos... é a primeira vez que vejo.

“Há... então, eu fui um experimento!”, pensou Gabrio, na ironia de fazer isso com um cientista.

— Esse idiota vai morrer se continuar usando uma Restrição e uma Relíquia da Calamidade juntas — alertou Zero.

Solaris alisava o queixo, sua irmã trouxe algo interessante para casa.

— O que vai fazer com ele?! — perguntou o albino. — Sei que disse que precisava de um namorado, mas... tem certeza que é sua melhor opção?!

O olhar dela foi uma advertência, Solaris sentou-se rapidamente, se encolhendo na cadeira.

— Caramba! Não precisa ameaçar fazer isso! Era só uma brincadeira! — protestou ele, o pensamento que leu não lhe agradou nada.

— Detesto dever favores... vou treiná-lo. — revelou ela. — Além disso, esse novato consegue usar uma Ligação Astral, é um Expert que já é capaz de acionar sua Combustão, Elemental que vi manipular mais de um elemento com as mãos, que modifica o tamanho de objetos com os olhos e, agora, descobri que faz isso tudo com uma Restrição.

“Como ela sabe que uso os olhos e as mãos?!” Gabrio estava impressionado com aquela análise.

— Isso não te lembra alguém?! Será que ele poderia... — sugeriu Solaris.

— Não viaja! Não sei se ele vai sobreviver ao treinamento! — repreendeu ela.

— Dá pra pararem de falar como se eu não tivesse aqui — interviu Gabrio.

— Ah! Nos desculpe, é que você ainda é tão insignificante — justificou Zero. — Sem ofensas!

Gabrio estreitou os olhos.

“Como isso poderia não ofender?!”, pensou.

— Vamos... — chamou ela.

Os dois guiaram ele até uma sala larga e alta. O chão, paredes e teto eram divididos em centenas de quadrados menores.

— Essa é a sala de treinamento — revelou ela. — Aqui que vou te ensinar a usar seus poderes.

Solaris fez uma expressão de pena na sua direção.

— Você não me deve nem um favor... — interviu Gabrio, ainda lembrava as dores do treinamento da ruiva, sentia que aquilo ia ser pior. — Salvou minha vida também me tirando de lá.

— O favor que vou pagar não é pra você — retrucou ela. — Tem duas opções... aceita treinar comigo ou... te mato! O que vai querer?!

Gabrio segurou o riso.

 “Aquilo poderia ser chamado de opção?!”, pensou.

— Eu escolheria a morte — sugeriu Solaris.

Gabrio suspirou, seria interessante chegar até Bel com uns truques novos.

Se tem medo, não faça, se está fazendo, não tenha medo! — decretou Gabrio. — Aceito seu treinamento!

— Oh! Citando Genghis Khan em plena Mongólia! — exaltou Solaris. — É mesmo ousado!

Zero esticou as mãos convocando seu florete.

— Usa aquele ataque de raios em mim! — pediu ela. — Que fez no seu oponente com o punhal.

Gabrio convocou sua espada negra, assim como a primeira vez, usou combustão vermelha através da sua arma. Rapidamente, as centelhas elétricas avermelharam.

— Aí vou eu! — avisou, partindo para o ataque.

Zero esperou até que chegasse próximo, desviou do golpe sem esforço algum. Com um chute, quebrou o braço dele o fazendo soltar a arma, em um giro, acertou a ponta do pé no seu peito. A intensidade do golpe o lançou para trás, o corpo do novato quicou no chão fazendo crateras e bateu na parede com força.

Clin!

De imediato, o aplicativo bipou.

Dano Crítico!

O jogador perdeu 78% da Vitalidade!

Haverá perda de 3% por minuto!

Gabrio não podia contar quantos ossos quebrou em dois golpes.

— Qualquer dano que leve diretamente no seu corpo afeta a Vitalidade! — informou Zero, caminhando na sua direção. — Nesse jogo, impedir de perder o VT deve ser sua prioridade.

— Regenerando! — avisou Yggdrasil, a inteligência artificial.

Todos os blocos quadrados que foram quebrados saíram do chão, sendo substituídos por outros.

Clin!

Os atributos do jogador foram regenerados!

O jogador recuperou 100% da Vitalidade!

— Espera! Desse jeito vai me matar! — reclamou Gabrio.

— Não se preocupe, enquanto estiver dentro dessa sala, Ygg pode restaurar seus status continuamente — revelou ela.

Gabrio não sabia se aquilo era uma boa ou má notícia.

— Naquela luta, seus primeiros golpes fizeram você parecer um novato frágil, seu adversário percebeu isso e ficou imprudente — analisou Zero, bem ao seu lado. — Com sua esperteza, usou uma Combustão Vermelha surpreendendo o inimigo que, se fosse menos idiota, teria tido mais cuidado e evitado seu golpe facilmente. Ou seja, aproveitou-se da soberba do oponente... meus parabéns! Por apostar sua vida em algo... tão... ridículo!

Gabrio estreitou os olhos, sem saber se foi elogiado ou ofendido. Realmente, entender aquela garota era difícil.

— Me diga... o que me viu fazendo naquela batalha?! — interrogou Zero.

— Seu primeiro golpe não foi só para afastar os inimigos, também era um preparativo — falava com ar esnobe, também sabia jogar aquele jogo de adivinhação — Você é uma Elemental do Gelo, criou um ambiente favorável, consegue congelar jogadores fracos que entrem na sua área de controle, usou isso para intimidar os inimigos, para que soubessem que não teriam chance.

Gabrio fez uma pausa, percebeu algo que parecia óbvio. No entanto, sempre fez errado.

— Usou seu controle do gelo o tempo inteiro — continuou ele. — Até mesmo quando lutou com as mãos, nunca parou de usar seu elemento.

Zero deu alguns passos na direção do novato, era tão alta quanto Gabrio, seus olhos fixaram nos dele.

— Isso! Cachorrinho inteligente! — disse ela, sem desviar. — Usar o ambiente é o mínimo, sempre usar seu elemento é obrigatório, somos da classe Elemental.  Se entendeu isso, pare de lutar como a P*#$% de alguém que pertence à classe Lutador!

Ele não soube opinar, sequer sabia a diferença.

— Nunca vai ser tão forte, rápido ou habilidoso em combate como um Lutador — explicava, mantendo o tom severo —, mas sempre terá a vantagem se estiver na sua zona de controle.

O novato concordou, meneando a cabeça.

— Falando nisso, qual é seu elemento? — indagou ela.

Gabrio deu um meio sorriso, estava na hora de se gabar.

— Ele não tem um! Pode controlar qualquer coisa que segure nas mãos — revelou Solaris, antecipando o que ele falaria.

Pela primeira vez, o queixo de Zero caiu.

— Onde Scarlet achou esse cara?! — bramiu, impressionada.

De qualquer forma, conseguiu arrancar dela a expressão que queria.

— Ah! Já que falou de Scarlet — Gabrio aproveitou a deixa. — Como faço para encontrar ela? Sabe onde pode estar? Aquela ilha desapareceu do mapa.

Zero olhou na direção de Solaris. O seu irmão suspirou, fez o sinal de “sim” com a cabeça.

— Dark Onyx...

A expressão de Zero era extremamente séria.

— Scarlet Moon... morreu.



Comentários