Rei dos Melhores Brasileira

Autor(a): Eme


Volume 1

Capítulo 48: Zero

Existem lugares que era esperado, em outros, temido. Os poetas dizem ter toque clássico de romantismo, entretanto, também o acusam de trazer um clima de inóspita solidão. Além disso, muitos viajantes pereceram por subestimarem e guerras perdidas por não compreenderem, pode ser sublime se for ameno, mas em exagero é capaz de ser fatal.

Sem dúvidas, o inverno era imponente.

***

Os mascarados vinham em quantidade impressionante, centenas deles armados com espadas, lanças, machados, entre outros. Ambos pareciam um torrão-de-açúcar no meio do formigueiro.

— Não se mexe — mandou ela, erguendo a espada para cima.

— Como assim?! — protestou Gabrio, era uma ordem sem sentido.

Em um instante, os jogadores da linha de frente travaram, cientes do que estava por vir.

— Escudos! — gritou um dos encapuzados. Subitamente, os psíquicos com habilidade de defesa ergueram barreiras.

— Detesto dever favores! — informou Zero. — Fica parado, daqui pra frente é comigo.

Gabrio olhou ao redor novamente, eram muitos.

— Vai enfrentar todos, sozinha?!

— Não estou sozinha — revelou ela.

O florete prateado emitiu o pulso de energia azulada. Os mais próximos correram, todos para trás dos escudos.

Arctos... pronto?! — perguntou Zero.

Sim... esperando o comando... — A voz masculina veio do florete, também em um rosnado animalesco.

Zero encarou o novato que estava a anos-luz de entender aquilo.

Amplificação... — pronunciou ela. — Ursa Menor!

Clin!

O jogador acionou Skill de Arctos!

Amplificação!

O efeito multiplicar a energia, alcance e dano do golpe em 50 vezes.

Repetição máxima 12 vezes.

Intervalo de uso 3 min.

A explosão circular fluiu do florete, uma onda que congelava tudo pelo caminho.

Os escudos tentaram reter o golpe, mas foram em vão, tornaram-se pedras de gelo, o frio intenso congelava até energia pura.

Diante da tormenta gélida, alguns já aceitavam a morte. No entanto, antes de chegar até eles, a onda de gelo parou.

— É o suficiente — disse Zero, abaixando a arma, interrompendo o ataque.

O golpe não foi muito longe, cerca de duzentos metros, afastando apenas os jogadores próximos. Entre seu acervo, o movimento Ursa Menor era usado com aquela finalidade, quando queria uma taxa alta de gelo com um curto alcance.

Uma pequena área congelada, para a Elemental do Gelo, o palco estava montado.

A batalha em campo aberto era um risco muito alto, fora das partidas existia um perigo de usar seus poderes sem consciência, qualquer vacilo e poderia cometer o pecado da ira.

*REGRAS DO JOGO*

Sexto pecado!

Ira!

O jogador está proibido de danificar em escalas irreparáveis locais fora da zona da partida, mantenha a Resiliência!

Atenção! A cada infração você será alertado com um Strike!

Três!!! Você está fora, jogador!

Por sorte, aquilo valia para seus inimigos também, nenhum deles era louco o suficiente para levar um Strike, o objetivo era apenas impedi-la de fugir até um dos seus generais chegar.

— Escuta, novato! — chamou ela. — Fique parado aqui, vou marcar esse local.

— É... tá bem — concordou, apesar de não entender.

Zero colocou uma das mãos na cintura e com outra posicionou o florete à frente.

— Então... até quando vão me deixar esperando? — provocou ela, na direção dos inimigos.

Os jogadores partiram em conjunto.

— Avancem! — mandou o encapuzado.

O primeiro chegou atacando com a lança, em um giro para lateral, Zero desviou. Em seguida, cravou o florete no peito do lanceiro, logo após, com um salto, esquivou do machado, que passou por baixo, mais uma vez, movimentou a arma cortando a garganta do inimigo.

Não houve sangue, após receber o corte da arma, os jogadores caíram, começando a congelar. Aquele era o efeito de ser ferido por ela, sem a resistência necessária, receberiam uma morte gélida.

Com socos poderosos, um dos encapuzados tentou acertá-la, porém, evitou cada golpe com esquivas perfeitas, não demorou muito, outros com habilidade de combate chegaram.

— Já que querem assim... — disse ela, largando o florete, preparando-se para usar os punhos. Ao redor, o gelo circulou seu corpo, em espirais.

Na tentativa de um chute, o mascarado tentou derrubá-la. Zero saltou por cima, girou no ar, acertando a ponta do pé no queixo do oponente, após o golpe a espiral de gelo envolveu a cabeça dele, congelando seu cérebro.

Três deles vieram juntos, cercando-a. De súbito, se jogou para trás, girou no chão apoiando-se nas mãos e, com as pernas abertas, acertou os todos ao mesmo tempo.

A espiral de gelo acompanhou o golpe, cada um deles tornou-se uma estátua fria.

Outros chegaram, dezenas deles.

Arctos! — Zero convocou a espada.

Seus oponentes eram uma mistura de psíquicos que também pertenciam a classe de Lutador e Elemental.

— Venham! Seus vermes! — disse ela, assim que a arma chegou.

As chamas fluíram das rachaduras no chão, uma tentativa do Elemental do Fogo de neutralizar seu gelo. Contudo, Zero bateu as mãos no chão, por mais incrível, as chamas congelaram.

Vários disparos de energia vieram na sua direção. Em resposta, envolveu seu corpo em uma fina camada de gelo, apenas seus olhos ficaram de fora.

Os impactos colidiam, porém não afetavam, congelavam ao tocar na sua proteção. Com muito esforço, um da classe Lutador acertou um chute no seu ombro, a intensidade do golpe lançou-a com força para dentro das construções ao redor.

O jogador sorriu contente, mas arrependeu-se, as pequenas lascas de gelo que arrancou dela grudaram na sua pele, em seguida, expandiu-se em um piscar de olhos, virou outra estátua.

— Hum... é só isso?! — disse ela, ao sair lentamente da construção destruída, a fumaça gelada fluía por sua pele.

Seus oponentes preparam-se para mais um ataque.

Zero movimentou as mãos, ao redor, as espirais surgiram por toda a extensão gelada, quem estava dentro da área do seu poder petrificou em gelo.

Gabrio observava boquiaberto.

“Como diabos capturaram essa mulher?!”, pensou ele, diante de uma pequena demonstração.

Aqueles que tocavam nela compreendiam rapidamente seu título, Inverno Eterno.

— O que foi?! Já acabou?! — bramiu ela, apesar de tantos em volta, ninguém mais atacou.

Houve um momento de silêncio, o vento agitou o ar gelado.

Ao redor, alguns jogadores tremiam, mas não era do frio, simplesmente medo. Para cada local que olhava, passos recuavam, os melhores ali já haviam tentado e falharam miseravelmente.

Sem dúvidas, o inverno era imponente.

Em um estalo, Zero virou na direção do novato, deu um passo à frente, mas cessou.

— Vamos ver o que pode fazer — disse ela, cruzando os braços.

Gabrio não entendeu a princípio, por sorte, houve um aviso.

Atrás... idiota... — vociferou a sua espada negra.

O jogador mascarado tentou perfurá-lo com um punhal, por centímetros, Gabrio desviou. No contragolpe, movimentou sua espada, mirando a cabeça do inimigo. Contudo, o oponente amparou sua lâmina e, com uma rasteira, derrubou o novato.

Gabrio girou no solo, escapando da ponta afiada que iria cravar no seu estômago, tentou outro ataque, porém o mascarado defendeu facilmente.

“Ele é experiente em combate, tem mais força e velocidade...  só me resta isso”, concluiu ele, avaliando a situação. “Uma vantagem surpresa!”

As chamas vermelhas fluíram do seu corpo, circulando a espada negra. Em movimento rápido, tentou outro corte, seu oponente defendeu, porém, já esperava.

Gabrio utilizou a técnica que Scarlet o ensinou, usar combustão junto com sua relíquia da calamidade.

Os raios fluíram da espada misturando-se com a chamas, as fagulhas elétricas tomaram a cor avermelhada. Por consequência, o mascarado caiu se contorcendo com a eletricidade que percorria seu corpo freneticamente.

Ah... insignificante... fraco... — bramiu sua arma, ao fim daquele combate.

 Bom saber que fala, mas pensando bem... melhor ficar calada! — repreendeu ele, encarando a espada negra.

— Hum... nada mau — disse Zero, chegando ao seu lado.

Gabrio suspirou, a garota deixou que lutasse com inimigo superior de propósito, por algum motivo queria testá-lo.

— E agora?! Saímos daqui?! — perguntou ele, os inimigos ao redor não se mexiam do lugar.

— Ainda não — ponderou por um momento. — Prepare-se um deles chegou.

O cerco com centenas de jogadores era a menor das preocupações, afinal, a maioria tratavam-se de novatos querendo mostrar serviço dentro do clã de extermínio da Valhalla. No entanto, o lugar era o quartel de comando inimigo, estavam no olho do furacão.

Os mascarados se dividiram formando um corredor no meio da multidão, conforme a pessoa caminhava, todos iam se ajoelhando.

A túnica dourada cobria o corpo inteiro do recém-chegado, grande o suficiente para sua borda arrastar pelo chão e, diferente dos outros, mantinha o capuz abaixado.

Um homem de cabelos escuros, com as duas orelhas repletas de brincos coloridos, todos feitos de pedras preciosas, o nariz fino sustentava uma argola na ponta com pedrinhas reluzentes de diamante, a pele branca brilhava tanto quanto as joias.

— Olha, tem ratos no meu porão! — proclamou ele, sua voz era forte, melodiosa como de um cantor de ópera.

— Merda! Tinha que ser esse maluco o primeiro... — resmungou Zero.

Aquilo era óbvio, a qualquer momento, os maiorais daquele clã de psíquicos chegariam, os Bispos da Illuminati. Por sorte, apareceu apenas um deles, como azar, se tratava do mais complicado de todos, Gen Seraphim, o Celestial Caído.

O jogador puxou as mangas da túnica dourada, mostrando os braços magros. De imediato, Zero juntou as palmas das mãos.

— Não ouse! — gritou ela, em aviso. — Eu tenho três Strikes pra gastar!

No braço esquerdo dela surgiu a tatuagem de um urso dourado, seus cabelos brancos também levitaram, algo semelhante ao que Gabrio sofria na Ligação Astral, aquilo deveria ser um aviso de que não iria se conter.

— Ah... é mesmo?! — retrucou ele, ainda calmo. — Então, vamos ver quanto está disposta a gastar.

Com passo à frente, colocou seu pé na área congelada, em um segundo, todo gelo sumiu.

— Ele parece forte, não é melhor fugir?! — relatou Gabrio, a expressão preocupada dela deixava fluir sua insegurança.

— Não temos como fugir... — resmungou ela, entredentes. — E lutar é suicídio.

— E o que vamos fazer? — perguntou, confuso.

— Começa a rezar — falou Zero, sua feição não era de brincadeira.

A situação era desfavorável, mas havia um motivo para estar ali.

O início dos planos foi uma catástrofe, contudo, conseguiu o que queria, chamar atenção.

— Novato, eu vou segurar ele — alertou Zero. — Corra o mais rápido que puder.

Gabrio encarou o rosto tenso da garota.

— Não... dessa vez não vou fugir! — bramiu ele.

Zero suspirou, o novato morreria se ficasse  no fogo cruzado.

— Vamos! Sua herege! — avisou o Bispo.

Gen Seraphim esticou os braços, as chamas vermelhas vieram circulando seu corpo, posteriormente se expandiram em proporções avassaladoras.

— Vou queimar vocês! Pecadores! — proclamou ele.

Zero abaixou os braços, de imediato, a tatuagem do urso sumiu, seus cabelos deixaram de levitar.

— Ah! Inverno, vai apenas aceitar a morte?! — questionou Gen, decepcionado.

Não respondeu, apenas cruzou os braços e deu um largo sorriso.

A pequena esfera de luz surgiu no centro da confusão, chamando atenção.

— O que é isso? — indagou Gabrio.

— Nosso milagre... — relatou ela.

Aos poucos, o globo se dividiu em vários e se espalhou por todo local, o céu estava preenchido de pontos luminosos intensos, a noite ficou tão clara quanto o dia.

— Não queria interromper a brincadeira — a voz masculina se projetou por toda área —, mas já passou da hora da minha irmãzinha dormir!

Gen Seraphim abaixou suas mãos e as chamas se foram.

— Devia estar morto... Solaris! — bramiu ele.

Uma das esferas desceu, tomando o formato humanoide. Em seguida, surgiu o garoto magro e baixinho, sua pele e cabelos eram brancos como os de Zero e apesar dos olhos azuis terem a mesma cor, os dele eram bem maiores, uma coruja albina.

— E aí, Gen? — saudou ele, com um aceno de mão. — Foi mal te decepcionar, mas vivinho!

— Maldito! Como sobreviveu ao Julgamento Divino?! — vociferou Gen Seraphim, indignado.

Solaris cobriu a boca, escondendo o riso.

— Há! Sério?! Essa não é a terceira... Há! Há! Não! A quarta vez que acham isso? — falava entre as gargalhadas —  Caramba... são tão fáceis de enganar!

— Vou te transformar em pó dessa vez — ameaçou ele, as veias na testa pulsavam de raiva.

O sorriso do albino se desfez, com seriedade apontou para o alto.

— Tem certeza que quer lutar?!

Gen Seraphim avaliou o local, não era somente aquela área coberta pelos globos de luz, estavam espalhados por toda cidade, Paris inteira era refém.

— Não teria coragem... — advertiu ele.

— Hum... Será que não?! — rebateu Solaris. — O que eu perderia? Já vocês... Oráculo ficaria furiosa e a Valhalla... vishi! O cara lá não ia gostar também.

Os dois se encaram em silêncio.

— Ah! Droga! He! He! Me pegou dessa vez, Solaris! He! He! — alegou Gen, aos risos, retomando sua postura calma.

O jogador albino curvou-se, fazendo uma saudação com as mãos, como se encerrasse o show.

— Lutar contra a Inverno Eterno é uma coisa — falava em um tom de lamento —, mas bater de frente com o Senhor da Estrelas... nem eu sou tão louco assim!

Zero se mantinha serena, apesar da provocação.

Aaah... por favor.... — resmungou Zero, na direção do irmão. — Me deixa matar esse cara!

— Não... calma. Estamos quase saindo dessa... — cochichou ele, para acalmá-la.

Gabrio avaliava a tensão entre os jogadores, era sufocante.

— Sumam da minha cidade! — mandou Gen, estalando os dedos. — Barreira desativada.

Houve um brilho no céu, Paris inteira estava sob uma barreira de proteção, não só isso, dentro dela era impossível usar qualquer magia dimensional, além disso, pedras de transporte também não funcionavam. Ou seja, entra no território da Illuminati era fácil, sair era outra história, somente loucos desafisados entravam naquele lugar.

— Até mais! — Despediu-se Solaris.

Os globos brilhantes envolveram o corpo dos jogadores, em instantes, os três foram absorvidos e sumiram. Uma fuga rápida, próxima a velocidade da luz.



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