Volume 1
Capítulo 47: Show de Mágica
Clin!
ATENÇÃO!
Dano Crítico!
Haverá perda de 1,8% da Vitalidade por minuto!
O jogador perdeu 67% da Vitalidade!
Se sua Vitalidade acabar... fim de jogo!
O aplicativo bipava a cada golpe recebido.
— Bate que nem mocinha! — desdenhou Gabrio.
Se mantinha de pé com um dos olhos cobertos pelo inchaço, os braços, costelas e ombros quebrados.
A brincadeira continuava, o mascarado socava ou chutava o novato, evitando quebrar suas pernas, lhe dando a opção de levantar ou permanecer caído e implorar por misericórdia.
Gabrio levantou pela décima vez, ficando entre seu agressor e a garota desmaiada.
— Já chega! — mandou o encapuzado, observando aquela luta lastimável. — Acabe com isso e pegue a garota!
— De jeito nenhum! Esse verme vai aprender quem é a Illuminati! — proclamou o musculoso, abrindo os braços na direção dos companheiros.
— É! Isso mesmo! Mostra pra esse idiota! — Os gritos de aprovação vieram.
Mais um soco, outra queda.
— Permaneça no chão e peça perdão! — reforçou ele. Contudo, Gabrio levantou novamente, mas dessa vez, uma notícia boa o fez caminhar alegre.
“Caramba... essa foi por pouco!”, pensou ele, o plano final dependia daquele momento.
A garota acorrentada finalmente acordou. Com a respiração ofegante, Zero ergueu a cabeça, piscava tentando entender onde estava.
O simples despertar da garota colocou todos em alerta, os mais próximos prepararam suas magias, espadas, arcos e pistolas coloridas. Sem dúvidas, todos temiam aquela jogadora.
— Se acalmem! — interviu o encapuzado, evitando ataques desnecessários. — Ela não pode fazer nada enquanto estiver com as correntes de Blair!
Zero lançou um olhar furiosa na direção deles, em seguida, fitou as algemas nos pulsos, realmente, aquilo a deixava impotente.
— Eu juro! Vou matar todos vocês! — vociferou ela.
Em um segundo, o musculoso surgiu diante dela, mirando acertá-la. Contudo, Gabrio ficou entre eles e recebeu o golpe. Com isso, o impacto no peito jogou-o para trás, caindo por cima de Zero, fazendo os dois rolarem no chão.
— O que tá fazendo?! Sai de cima de mim! — reclamou ela, ao empurrá-lo.
— Tenho um plano! — revelou ele. — Não posso deixar que desmaie de novo.
— O quê?! Não preciso da sua ajuda! — bramiu, indignada.
— Ei! Sei que tá me ouvindo! — exclamou Gabrio. — Se eu morrer... você morre! Não acha que devia me ajudar!
— Seu Inútil! Que merda acha pode fazer pra...
Zero interrompeu sua fúria, aquelas palavras não eram para ela.
— Mentira... como conseguiu isso? — relatou, abismada, de olhos arregalados.
Tum! Tum!
O coração dele bateu tão forte que sentiu no peito.
— Fica no chão! — implorou, a voz feminina, aos berros.
Gabrio levantou e abriu os braços, atrás dele, a garota acorrentada permanecia perplexa, não admitia ser protegida por um novato.
— Não vão passar daqui! — bramiu ele.
— O próximo golpe... será o último! — alertou seu oponente, com a voz abafada pela máscara dourada. — Saia!
— Eu cansei de vocês... — murmurou Gabrio. — Meu último aviso... deixa ela em paz!
As gargalhadas dos que observavam preencheu o local.
***
Tum! Tum!
Gabrio obteve sua resposta, o tempo ao redor congelou. Posteriormente, tudo começou a escurecer.
— Admito... não tem força alguma, moleque! — reverberou a voz na escuridão — Mas tem coragem!
— E aí, Relíquia da Calamidade?! — saudou Gabrio. — O que acha de me ajudar?!
— Me dê motivos?! — A voz se manifestava em ecos, como grunhidos de um animal selvagem.
— Bem... pelo que entendi das regras... você morre junto comigo? Certo? — informou ele. — Esse é um dos mais óbvios.
Huaha! Huaha! Huaha!
A princípio, Gabrio não entendeu, mas aquilo foi uma risada.
— Me parece pouco! — retrucou a voz. — Porém... é justo! Mas temos um impasse! Você é muito insignificante!
— Como assim?! O que isso...
— Você é fraco! — gritou a voz, furiosa. — Não suporta meu poder!
— E aquilo que fez contra Bel quando assumiu meu corpo — interviu Gabrio. — Deu um trabalhinho para Scarlet Moon... deve dar conta desses caras.
— Aquilo nem foi uma luta! Por culpa da sua irrelevância, a Deusa da Lua me ignorou!
— Deusa da Lua?! Tá falando da Scarlet Moon?
— Não... das lâminas! A garota é só a portadora... admirável... diferente de você... inútil!
— Ah! Sim, as adagas! Como sempre, cheia de surpresas! — admitiu Gabrio, descobrindo mais um fato da ruiva. — Tá, mas e aí?! Vai ficar só me insultando, ou vai me ajudar?!
— Insolente! — rebateu a voz.
Gabrio ficou calado, dependia daquilo.
— Nossa primeira ligação foi incompleta... — relatou a voz. — Dessa vez... faremos corretamente!
— Beleza! Você que manda! — falou ele, saltitando alegre.
— Graças a Restrição da sua amiguinha... Trinta segundos! É o que temos! — dizia enquanto a escuridão ia se esvaindo. — Logo... aquilo vai me bloquear.
— É o suficiente! — relatou Gabrio.
O tempo voltou ao normal.
***
— Há! Há! Seu merdinha! — Aos risos, o musculoso preparou seu soco.
O ar destorceu ao redor, porém, não houve tempo para finalizar o golpe. Cortando o céu, o raio negro desceu sobre a cabeça de Gabrio.
Clin!
O jogador acionou Ligação Astral
Recuperação de 100% da Vitalidade
A explosão afastou seu oponente.
Os cabelos arrepiados, a pele com pequenas centelhas elétricas, além disso, os olhos completamente pretos da íris até a retina.
— O que é isso?! — esbravejou, um dos mascarados.
— Bem... como posso dizer... — disse Gabrio, sua voz saia grave, quase um grunhido feroz.
Ele ergueu a espada negra para o alto.
— Shazam! — proferiu ele.
Em um golpe rápido, passou pelo musculoso, movimentando sua lâmina.
A cabeça do seu oponente descolou, na mesma medida que as bocas dos que estavam ao redor se abriam, era difícil acreditar.
O medo surgia, após um largo sorriso.
“Então é isso... uma ligação completa. ” Notava as diferenças, a primeira delas era a total consciência dos atos, Gabrio possuía o controle dos movimentos.
Em uma avalanche, os jogadores vieram na sua direção. No entanto, desviou rapidamente dos golpes. Além disso, bastou um corte no primeiro e a corrente elétrica se espalhou afetando os demais.
Clin!
O jogador acionou a Skill da 8ª Relíquia da Calamidade!
Entrelace!
O efeito se distribui pelos oponentes no alcance de 20 metros, causando o mesmo dano a todos.
A cada golpe acertado multiplica-se o dano por 2, acúmulo máximo de 5 vezes.
Gabrio se movimentava reixando rastro elétrico, em um piscar de olhos, chegou até o encapuzado tentando cortá-lo ao meio. Contudo, seu alvo desviou, girou no ar e chutou suas mãos, a espada negra saiu e caiu distante.
— Achou mesmo que seria assim tão fácil?! — bramiu o encapuzado.
Gabrio se jogou contra ele, abraçando-o.
Seu oponente se contorceu, uma força surpreendente, soltou-se em segundos. Em seguida, juntou as palmas das mãos conjurando um globo de energia dourada que o envolveu.
— Afaste-se de mim! Herege! — gritou ele, logo depois, a esfera de poder explodiu.
Com sua velocidade amplificada, Gabrio conseguiu desviar da onda destrutiva. Além disso, chegou até Zero, coloco-a nos braços e correu, tirando-a da zona de impacto.
A explosão destruiu parte do quarteirão.
— Onde pensam que vão?! — gritou o encapuzado, movimentando as mãos, criou centenas de globos de energia, lançando todos contra ele.
Apesar da velocidade, as bolas de energia dourada seguiam-no de perto, pareciam mísseis teleguiados. Sem pensar duas vezes, largou a garota e continuou em frente, foi como esperado, os globos a ignoraram, somente ele era o alvo.
Gabrio parou colocando uma das mãos no chão e esticando a outra, convocando a espada.
Os globos chegaram o atingindo. A série de explosões foi concentrada em um único local, a poeira subiu como fumaça.
— Odeio matar sem motivos... — disse o encapuzado, caminhando na sua direção. — Mas você... sim! Eu vou te matar com prazer!
Gabrio estava apoiado em um dos joelhos, segurando a espada negra. De súbito, criou uma barreira de pedra, antes do impacto, foi o que lhe salvou.
— Nosso tempo... acabou... — relatou a voz, saindo da espada. Logo depois, seus olhos e cabelos voltaram ao normal.
Clin!
RESTRIÇÃO!
Ligação Astral Bloqueada!
O efeito da restrição chegou, como Bel lhe falou, sem aquilo a Relíquia da Calamidade sugaria até a última gota de energia, algo que a arma parecia não se importar.
— O que foi? Já cansou?! — disse o encapuzado, convocando mais globos.
— Hehe! Cara… já foi em um show de mágica?! Hehe! — perguntou Gabrio, suprimindo o riso.
— O quê?! — Ele não entendeu a pergunta, tão de repente.
Gabrio levantou, segurando a espada com as duas mãos.
— No show, o ilusionista depende de distrair o público — explicou ele. — Que todos foquem na coisa errada enquanto ele prepara o truque… aí! Boom! A mágica acontece!
— Hum… e de que mágica tá falando?! — retrucou o encapuzado, preparando-se para outro ataque.
Gabrio apontou para uma direção. Rapidamente, seu oponente seguiu com os olhos.
No meio da rua as correntes caiam pelo chão, a garota acorrentada se livrava das algemas, a liberdade chegava a Elemental do Gelo mais formidável do Rei dos Melhores, aquela que possuía um título que fazia jus ao seu grau, Inverno Eterno.
Para azar de todos, estava furiosa e cheia de rancor.
O clima mudou, o frio fazia as pessoas tremer por toda Paris.
— Não! Impossível! — gritou o encapuzado. No automático, levou as mãos ao bolso da roupa. — Quando?!
Gabrio sorriu, iria deixá-lo tirar as próprias conclusões, era mais divertido.
— Aquele abraço... não foi um ataque! Queria achar as chaves das algemas! — concluiu o encapuzado. — Como sabia que tava comigo?! Como?!
— Ah! Qual é? Você o único diferentão entre os mascarados — desdenhou Gabrio. — Lógico que era o líder! Com quem mais estaria a chave da prisioneira!
Seu oponente levou as mãos ao rosto, torcido de frustração.
— Sabe o que é mais engraçado... vocês tinham tudo pra me matar de imediato — relatou Gabrio. — Mas o senso de orgulho do seu subordinado falou mais alto, só precisei de leves provações.
O encapuzado arregalou os olhos, dançaram na palma da mão dele.
— Outra coisa... o grandão podia ter acabado comigo em um soco — completou ele. — Só que tava mais preocupado em humilhar aquele que ousou ferir a moral do grupo, tive apenas que alimentar sua fome de grandiosidade até que ela acordasse. Afinal, libertar alguém desmaiado não me serviria de nada.
— Pensou nisso tudo?! — rebateu, indignado. — Quem é você?!
— Ah! Só um novato burro! — alfinetou Gabrio.
— Desgraçado! — gritou ele, lançando os globos de energia. Porém, não se moveram do lugar, o gelo cobriu todas em um instante.
O encapuzado tentou reagir, mas era tarde, as mãos de Zero alcançaram seu pescoço.
— Maldito! — disse ela. Imediatamente, o gelo se espalhou do pescoço aos pés, transformando o encapuzado em uma estátua congelada.
Zero o soltou e o corpo frio se despedaçou no chão.
— Caramba... Ufa! Essa foi por um triz! — comemorou Gabrio.
Aquele foi o plano que Gabrio traçou, um jogador que se indignasse com suas ofensas, alguém sádico o suficiente para não o matar de primeira, o despertar de Zero antes que tivesse de usar a relíquia para restaurar sua vitalidade, o uso da Ligação Astral e a chave em posse do encapuzado, uma estratégia que era a verdadeira tradução de “Tudo ou nada”.
A garota albina o encarou.
— Não espere um obrigado! — disse, ríspida.
— Ah! Não! Longe mim! Querer algo tão sem graça! Mas podia pelo menos responder uma pergunta. Sabe onde...
— Depois! — interrompeu Zero. — Ainda não acabou.
— Tá de sacanagem! — reclamou ele.
Ao redor, centenas de mascarados e encapuzados surgiam.
— Estamos no meio do território da Illuminati — informou ela. — O cara que matamos era só um mero líder de esquadrão, um padre.
Gabrio posicionou sua espada diante do corpo.
— Ou seja, tem coisa muito pior por aqui! — concluiu Gabrio.
— Temos que sair antes da chegada dos Bispos — alertou Zero. — Caso contrário, estamos mortos.
A jogadora albina esticou as mãos. Em seguida, a espada se materializou. De imediato, a lâmina de Gabrio vibrou, reagindo à arma convocada por ela, outra Relíquia da Calamidade.
— O que é? Não achou que só você tivesse uma? — disse ela, diante do olhar surpreso. Seus ferimentos sumiram assim que a arma tomou sua forma completa.
Diferente da espada negra e medieval, a lâmina de Zero era um Florete prateado, uma clássica arma usada na esgrima, de lâmina comprida, fina e flexível.
— Qual o plano?! — perguntou Gabrio, a quantidade deles só aumentava.
— Não morrer e esperar um milagre — relatou ela.
— Que maravilha de plano, me lembrou alguém... Ah! Onde fui me meter — lamentou.
Os dois ficaram de costas um para outro e levantaram suas espadas.
Depois de uma brisa suave, seus oponentes vieram, em um enxame.