Rei dos Melhores Brasileira

Autor(a): Eme


Volume 1

Capítulo 46: Cidade Luz

O pôr do sol regia o surgimento de um clima eufórico, bastava poucos segundos para compreender o apelido de Cidade Luz.

“O berço da moda, apogeu da culinária, palco de ideias revolucionárias...”, pensou Gabrio, sua mãe falava tanto daquele lugar. “Como é lindo!”

Na glamorosa Paris, o adjetivo “Luz” possuía significados que iam além de uma boa iluminação, a cidade podia ser referência em todos os campos da arte, além disso, era surreal como as mentes brilhantes dali mudaram a política, ciência e gastronomia no mundo inteiro.

No alto da Torre Eiffel, Gabrio apreciava o lugar, não de uma das plataformas, mas literalmente na ponta do monumento histórico.

Reborn é mesmo constante... anotado! — disse ele, confirmando sua hipótese.

Gabrio estava em cima de um dos marcos mais fotografados no planeta, porém ninguém sequer o notou ali. Contudo, sabia que o culpado por isso era o Reborn, entre os efeitos do jogo, era o único que atuava fora das partidas. Simplesmente, se entrasse em contato com alguém, a pessoa mantinha-o na memória por alguns minutos. Caso contrário, nem o notavam, era praticamente invisível, um fantasma.

No meio da multidão, não era difícil reconhecer outros competidores, muitos carregavam espadas, pistolas na cintura, rifles longos nas costas, lanças e facas, além disso, vestiam armaduras, máscaras, túnicas, capas coloridas, roupas que nenhuma pessoa usaria normalmente.

— Há! Seria a explicação dos gaspazinhos?! — indagou Gabrio.

Entre os vários confrontos da ciência contra o sobrenatural, havia questões inexplicáveis tratadas como comédia entre os intelectuais, coisas como pessoas que apareciam borradas em fotos, até os extraterrestres que todos dizem que viram, tudo aquilo podia ser a ação de jogadores e criaturas do jogo.

— Eureca! — proferiu ele.

Gabrio estava diante de uma descoberta. Na sua concepção, o Rei dos Melhores era o responsável pelos milagres e desgraças que o mundo já viu.

— Ela foi pra lá! — gritou o encapuzado, no meio da multidão.

Um grupo chamativo, trajados de túnicas brancas e máscaras douradas, corriam abrindo caminho entre os turistas, caçavam por algo. Com movimentos rápidos, geravam explosões de luzes, tremores no chão e alguns flutuavam no ar.

O pânico se instaurou, a correria durou alguns minutos até o Reborn atuar apagando a cena da mente dos cidadãos.  Pelo visto, também podiam usar seus poderes que logo seriam esquecidos.

“Do quem será que estão atrás?!” Gabrio acompanhava o movimento dos jogadores. “Talvez possa ser...”

Um fio de esperança surgiu, só conhecia uma pessoa que, provavelmente, era caçada por todo lugar. De olho no celular, visualizou o círculo azul, estava longe demais. Por escolha, decidiu passear antes de entrar em uma partida. Além disso, no mapa do jogo havia percebido o sumiço da ilha que usavam, ou seja, Bel poderia estar por aí, procurando um novo abrigo.

— Lá vai você... — reclamou, para si.

A curiosidade o guiava, ou melhor, ansiedade de reencontrar a ruiva. Por sorte, foi fácil seguir os jogadores, não eram nada discretos, invadiam restaurantes, bares e casas, causavam o maior alvoroço, uma prova da extrema importância de achar sua presa.

Observava de longe, esgueirando-se entre os becos.

Na sua tentativa de atravessar a rua, pular de um esconderijo para outro, não percebeu a garota vindo na direção contrária, também procurando pelas sombras que vielas forneciam.

O encontro foi inevitável. Com força, os dois bateram de frente e ambos caíram de costas.

— Me desculpa! Eu... eu...

Gabrio travou com a visão que teve.

As roupas dela encontravam-se em trapos, a calça azul estava rasgada até os joelhos, a blusa mal cobria os seios.

Uma garota albina de todas as formas, esbanjava do branco na sua pele, sobrancelhas, tudo era alvo como puro gesso, contudo, haviam feridas severas, cheia de cortes e hematomas por todo corpo exposto.

— Scar... let... Scar... let... — balbuciou ela, forçando seus passos na direção dele.

Nos braços possuía algemas largas emitindo o brilho amarelado, além disso, correntes finas conectavam os grilhões no pescoço e nas pernas, um pouco acima do calcanhar.

— Scarlet... Moon... preciso... achar... Scarlet... — disse, em seguida, desmaiou.

Gabrio a segurou pela cintura, impedindo que chegasse ao chão.

— Ei! Conheço você — revelou ele, afinal, os traços dela eram marcantes. — Como era o nome... Zero... eu acho.

Por coincidência, era a mesma garota que encontrou ao fim da sua primeira partida.

Ali! Achei! alertou um dos caçadores, aos berros.  

Gabrio a jogou por cima dos ombros e correu.

— Tinha que falar o nome dela, né?! — reclamou ele, na direção da garota.

Por algum motivo, ajudá-la parecia uma obrigação agora, havia a possibilidade que soubesse o paradeiro de Scarlet Moon.

As bolas de fogo passaram a centímetros, foi por pouco, mas conseguiu desviar.

— Cuidado, idiotas! Vão acertá-la! — advertiu um dos mascarados.

A tentativa de fuga não durou muito, parou no meio da rua completamente cercados, havia cerca de vinte deles.

Com delicadeza, colocou-a no chão. Em seguida, levou as mãos ao bolso, automaticamente, as esferas coloridas começaram a circulá-lo.

Os encapuzados reagiram, alguns ergueram os braços, preparando a defesa.

— Esperem! Não ataquem! — mandou o encapuzado. Entre todos, era o único que não usava máscara, porém o capuz branco encobria seu rosto, via apenas o queixo levemente pontudo.

“São muitos... não parecem fracos... se fizeram isso com ela... não tenho chance.” Avaliava sua situação, alguém que derrotou a pessoa que Bel disse ser uma das melhores do jogo, com certeza, um oponente acima das suas possibilidades.

— Olá! Por favor! Nos entregue a garota — pediu ele, de modo cordial. — Estamos em maior número.

“Sim, isso! Exatamente! Tudo ou nada!” Uma ideia maluca surgiu.

— Você deve ser um novato, não sabe quem nós somos, não é? Pertencemos a...

— Não tô nem aí! — interrompeu Gabrio. — Vocês que não tem ideia de quem eu sou!

Por um momento, todos se entreolharam, poucos segundos depois, os risos tomaram conta do ambiente.

— Claro que sabemos quem é! — bramiu o encapuzado. — Um novato burro! Que vai morrer sem entender o motivo!

— Isso vindo de um bando de covardes que ataca em grupo — retrucou Gabrio. — Incapazes de vencer uma lutar de um pra um! Jamais ganhariam uma briga de um mero novato, se não fosse juntinhos!

Os risos cessaram.

— Odeio matar sem motivo — falava o encapuzado —, mas...

Gabrio engoliu em seco, tudo dependia de morderem a isca.

— Deixe isso comigo, meu senhor! — pediu o mascarado, destacando-se do meio dos outros. — Esse herege teve a ousadia de nos insultar! 

O encapuzado avaliou por um momento, porém, com gesto simples das mãos, deu a permissão.

“Sério?! Deu certo?!” Gabrio segurou o sorriso, nem ele botava fé naquele plano.

Um ataque em conjunto e seria completamente dizimado, contudo, é típico em equipes famosas existir alguém que não aceita ser subestimado, ainda mais por um ser dito tão inferior. 

Apelar para a intervenção de um desmiolado com forte senso de orgulho, era a única carta de Gabrio e, por mais incrível, deu certo. A luta agora seria de um contra um, o que fornecia um tempo primordial para agir na verdadeira saída. No entanto, a segunda parte do plano era mais complicada.

 — Uau! Temos um capacho corajoso! — provocou Gabrio, aos berros. — Me matar não muda o fato de serem... patéticos! Co-vaaaaar-deees!

A túnica do mascarado exalou fumaça enegrecida, em seguida, seu corpo dobrou de tamanho, não só isso, suas pernas e braços pulsaram em músculos exagerados.

 — Te matar?! Não... vou te fazer implorar pela morte! — bramiu, em cólera.

O jogador veio na sua direção, em passos pesados, suas pegadas quebravam o chão.

Gabrio movimentou suas esferas, transformando-as em estacas pontudas, lançou na direção dele, mas foi inútil, quebravam ao atingir seu oponente, o corpo dele era impenetrável.

— É só isso que tem! Inseto! — rugiu o musculoso. Com o soco, acertou-o a barriga. Aproveitando-se, deu outro na região dos ombros e finalizou com um chute na costela.

Com o impacto, Gabrio rolou no chão, em seguida, cuspiu sangue ao levantar, cada acerto foi um osso quebrado. Rapidamente, ampliou uma das esferas e refez o ataque.

O mascarado socou a enorme bola de aço, seu golpe triturou o objeto, uma amostra que estava aliviando a força quando o acertou.

— Isso vai ser divertido! — bramiu o mascarado, percebendo a diferença de nível estratosférica entre eles.

Gabrio suspirou, olhando na direção da garota, para seu desânimo, teria que aguentar por mais tempo.

— Qual é? Isso é tudo que tem?! Não é toa que só atacam em bando! — gritou Gabrio, em mais uma provocação.

— Vai se arrepender de não saber com quem está lidando! — gritou, após investir mais um soco poderoso.

Gabrio caiu segurando o outro ombro quebrado, tentou se erguer, mas não conseguiu. Aproveitando-se do momento, o oponente pisou sobre sua cabeça.

— Se ficar no chão, implorar pelo nosso perdão — falava pressionado o pé gigante na bochecha dele —, te deixo viver!

Ao terminar de falar, o musculoso se afastou, dando a opção para ele.

— Acha que preciso de perdão de idiotas como vocês?! — retrucou Gabrio, se erguendo com dificuldade. — Manda brasa! Ainda nem suei!

O musculoso juntou as palmas e estralou os dedos, seguindo na sua direção.

Gabrio olhou outra vez para a garota caída, não havia outra escolha além de esperar.

Em plena Cidade Luz, o novato teria que enfrentar a mais tensa escuridão.



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