Rei dos Melhores Brasileira

Autor(a): Eme


Volume 1

Capítulo 41: Combate Mortal

As doze crianças desciam as escadas bocejando e esfregando os olhos. Com todo o cuidado, Anna agasalhou cada uma delas, não esperavam sair naquele clima, porém, mesmo sem compreender a situação, todos obedeciam de prontidão.

— Vovó, pra onde vamos? — perguntou Liu, sempre o mais curioso.

Boom! Craaashiiiu!

A explosão estilhaçou o vidro das janelas na sala.

Aaah! — Os gritos saíram como reação. Em seguida, todos os pequenos correram para abraçar a idosa.

Gabrio chegou até eles, apreensivo.

— Estão todos bem?! — perguntou, avaliando se havia alguém ferido.

— O que foi isso?! — retrucou Anna, repleta de preocupação.

— É meio difícil explicar... — respondeu, coçando a cabeça.

— Vó! Um ursinho?! — apontou a menina, na direção de uma das janelas quebradas.

A criatura aproveitou a abertura para passar livremente, sua missão era única e clara, terminar tudo com um aperto forte.

— Se afastem! — gritou Gabrio.

O monstro saltou assim que viu seus alvos, seus braços longos eram gananciosos, mirou no aglomerado, com intenção de envolver a idosa e as crianças.

Clin!

O jogador acionou o Efeito Inato de Domínio da Mutação (nv. 15):

POSSESSÃO!

Transforma seus braços nos elementos que esteja segurando nas mãos. Permitindo manipulá-lo a uma distância de 16 metros.

Gabrio levou a mão ao chão, pegando um dos cacos de vidro. Com isso, seus braços reluziram com as propriedades do elemento, não tinha muito tempo.

O tornado de vidro atingiu o urso, os estilhaços penetraram sua carne facilmente, no entanto, assim como um deles fez com o lanceiro, mesmo após o golpe jogou os braços longos para contornar sua vítima.

Sem perder de vista, Gabrio ampliou o vidro.

Clin!

O jogador acionou o Efeito Inato de Recriar (nv. 15):

REDIMENSIONAR!

Possibilita modificar o tamanho dos elementos que estejam no alcance de sua visão em uma escala de até 9 vezes ao seu original.

Os cacos de vidro amplificados retalharam a criatura em diversos pedaços, porém, as partes decepadas do monstro continuaram a sua trajetória.

Gabrio engoliu em seco, cometeu um descuido.

Aaah! Vovó! — bramiram as crianças, após o banho repentino de uma mistura gosmenta.

Por dentro, o pequeno urso tinha cor amarelada, a carne de textura gelatinosa, aos poucos, começou a derreter.

“Ainda bem... não é auto explosivo, precisa de um gatilho”, concluiu Gabrio, seu temor era que a criatura explodisse após ser desmembrada, se fosse caso, ocorreria uma tragédia ali.

Anna estava pasma, completamente estática.

— Ei! Vamos, mais deles vão chegar! — advertiu Gabrio, sacudindo a idosa pelos ombros.

— O-o q-que f-faremos?! — gaguejou ela, tentando engolir o início do choro.

Ele encarou as crianças assustadas.

— Temos que sair do círculo...

A tarefa de tirar aquelas crianças era mais fácil na teoria, o orfanato estava no centro do círculo amarelo.

“Espera... tem algo... talvez”, recordou de uma informação importante.

— Anna, onde fica a praça que as crianças foram encontradas?! — falou ele, mostrando o mapa do celular.

— Aqui... — indicou.

“Interessante... fica no limite do círculo.” Gabrio analisou a distância.

— Essa pista... vai em linha reta até lá! — constatou ele, avaliando o mapa. — Só precisamos de um veículo. — Chegaremos em dez minutos!

— Tem a van do orfanato — relatou Anna.

— Ok! Perfeito! — comemorou, estava com sorte.

As crianças confusas não reclamavam ou choravam, todas olhavam para a velhinha, aguardando por instruções.

— Vamos, meus amores, para a van! — mandou a idosa.

Na garagem, o veículo cinza possuía uma faixa amarela ao redor, claramente usado para o transporte escolar das crianças. Uma van de porte médio, de quinze lugares.

Anna acomodou os pequeninos, apertando forte o cinto em cada um deles, suas mãos trêmulas, se esforçava para manter-se calma. No banco ao lado do motorista, Gabrio também colocou o cinto, segurança em primeiro lugar.

— Vó... — chamou a garota, assim que a idosa ligou o motor. — Mirian não vai no passeio dessa vez?!

A pergunta foi um choque, um tapa que fez a idosa recobrar o juízo.

— Meu Deus! — expressou Anna, na direção de Gabrio. — Mirian levou a gatinha ao veterinário!

— Tá de sacanagem! Quem vai no veterinário num dia de neve?! — questionou Gabrio, enfiando as mãos no cabelo.

— A médica é amiga dela... foi... foi...

Anna tentava justificar, mas as lágrimas venceram.

Gabrio respirou fundo.

“Quem iria prever um jogo bizarro daqueles?!”, pensou ele.

— Tudo bem... vamos encontrar ela. — Tentou acalmar a idosa. — Mas primeiro vamos tirar as crianças daqui.

Anna concordou, balançando a cabeça. Com um clique, abriu o portão automático.

Parecia como de costume, apenas sair da garagem, entrar na pista e seguir em linha reta. Contudo, não seria nada fácil, para todo o lugar que olhavam, explosões desmoronavam casas, reviravam carros e, o pior, dilaceravam pessoas.

***

A espécie de Urso Kamikaze tinha apenas uma razão para sua existência, terminar seus dias de forma gentil e gloriosa. No entanto, não compreendiam aqueles seres que corriam deles.

“Será que existe uma forma melhor de morrer, do que com um abraço apertado e uma explosão magnífica?!”, pensavam eles, observando os maldosos que fugiam de seus carinhos.

Hunf! Hunf!

A regra era simples, se não iam retribuir a gentileza por bem... seria na força. No final, sairiam todos felizes.

Hunf! Hunf!

***

A tentativa de escape durou dois minutos. Logo, um dos ursos se jogou violentamente contra a van, o veículo quase tombou, mas continuou em frente.

— Não para! — gritou Gabrio.

As crianças observavam da janela, curiosas.

— Na idade deles estaria me borrando de medo — relatou ele, observando a tranquilidade dos pequenos.

— Eles estão — falava tentando manter o controle, desviando de carros revirados e buracos na pista —, mas essas crianças passaram por coisas horríveis antes de chegar até mim... o medo virou algo comum para elas.

Gabrio olhou mais uma vez, não via sinais disso.

— Mas parecem tão bem — constatou.

— Ah! É por causa do amor que dei pra eles! — disse Anna, sorrindo por um breve momento. — Só o amor cura uma alma ferida.

“O amor é?! Então... seria ela a minha cura?!”, pensou ele, buscando entender aquelas palavras.

— Menino! Ali! — gritou a idosa, freando de repente.

À frente cerca de cinco ursinhos estavam parados na pista, de braços abertos, seguindo em direção a van.

— Não saiam da van de jeito nenhum — informou Gabrio, ao abrir a porta. — Aguardem meu sinal.

Ele não esperava uma viagem tranquila, em algum momento teria que colocar as mãos na massa.

“Se Bel estivesse aqui...” Imaginava os caminhos mais tranquilos. “Não! Isso depende de mim agora.”

Gabrio abaixou, juntando o gelo do chão até formar uma bolinha. Seus braços tomaram o tom do elemento, soltando o vapor frio.

— Vamos travar uma batalha em graus negativos... em subzero! — proferiu, indo ao encontro dos ursos.

 Os monstros avançaram, saltando na direção dele.

Rapidamente, Gabrio manipulou o gelo, criando estacas para interceptá-los no ar, seu golpe funcionou por um momento, cravando na carne dos que estavam linha de frente, derrubando esses.

Um urso chegou próximo o suficiente para tentar o aperto, porém, conseguiu esquivar, abaixando-se. Os monstrinhos eram rápidos, contudo, já teve que desviar de uma ruiva irritada, que no final ainda debochava dele.

Outra das criaturas saltou, mas já esperava, seus movimentos eram repetitivos. Gabrio criou uma parede de gelo, por conveniência, repleta de pontas afiadas, esperando o choque. Não deu outra, o monstro terminou completamente espetado ao colidir, seu corpo gelatinoso derreteu em seguida.

Hunf! Hunf!

A criatura emitiu seu som caraterístico, mas esse com sinais de fúria. Com intenção de afastar os ursos da van, Gabrio caminhava na direção contrária. Por sorte, a estratégia funcionou, mais um deles investiu na sua direção, ignorando o que estava nas suas costas.

A parede de gelo foi erguida novamente, entretanto, dessa vez o urso rodopiou no ar, seus braços longos quebraram o muro, aproveitando a abertura, um deles usou o que estava na frente de trampolim, se impulsionou mais rápido, os ursinhos também tinham seus truques.

Gabrio manipulou o gelo, criando vários dardos pontiagudos para interceptá-lo novamente. Mas dessa vez, aquele urso se recusou a morrer de forma simplória, antes de ser atingido, se explodiu.

O ar foi impulsionado com o estouro, lançando-o para trás violentamente, rolou no chão duas vezes e se levantou, tentando se orientar.

Uma ação rápida, dada pela oportunidade da queda, o urso abraçador surgiu rapidamente, com os braços a meio caminho de contorná-lo.

Com segundos para pensar, Gabrio criou adiante um molde de si mesmo com gelo.

Sem nem pensar, o monstro desistiu de envolvê-lo e se abraçou a estátua fria, acreditando ser alguém, não tinham malícia ou questões pessoais, quem estivesse mais próximo receberia seu amor.

Em seguida, veio outra explosão.

A parede de gelo que criou segurou parte do golpe, mas se quebrou rapidamente, o que restou do impacto lhe jogou com força contra a lateral do prédio.

Como de costume, ao se erguer do chão, sentiu o gosto de sangue na boca.

Ignorando a dor, Gabrio retornou para frente da van.

— Tá de sacanagem! — reclamou ele, olhando ao redor.

As explosões da batalha chamaram a atenção de outras criaturas. Um número incontável surgia, caminhando de braços abertos.

Gabrio deu um passo, mas sentiu o puxão na manga da camisa.

— Menino... — disse Anna, ao seu lado, segurando uma barra de ferro. — Vamos ajudá-lo!

Seus pequenos estavam logo atrás, se armando com bolinhas de neve.

A situação era bem clara, seus oponentes eram centenas de ursos explosivos, com o propósito de abraços fatais. Do seu lado, havia uma idosa determinada e um exército de crianças.

Aquele combate mortal... não tinha ideia para onde estava se desenhando.



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