Rei dos Melhores Brasileira

Autor(a): Eme


Volume 1

Capítulo 38: NERF

Clin!

ATENÇÃO!

O jogador utilizou 92% da Energia Mágica!

...

O jogador utilizou 88% da Energia Física!

...

O jogador perdeu 79% da Vitalidade!

Atenção! Se a Vitalidade Chegar a Zero... Fim de jogo!

As chamas azuis ao redor de Scarlet Moon sumiram como um sopro. Do mesmo modo, as vermelhas também cessaram.

— Maldita! — xingou ela, encarando o céu, sentindo as gotas da chuva no rosto.

Por experiência não precisava olhar o aplicativo para saber que chegou ao limite de seus recursos. As pontas dos dedos dormentes indicavam que sua combustão vermelha deveria ser interrompida, se não desmaiaria. Assim como, sua visão embaçada, ausência dos arrepios e baixa audição revelava que sustentar as chamas azuis lhe faria ficar sem magia por completo.

— Só me resta mais uma opção — disse Scarlet, após um largo suspiro.

Em questões práticas, o uso de qualquer uma das três Ascensões — Mística, Física ou Mental — necessitava que o jogador seguisse alguns passos para ativação da habilidade, eram conhecidos como: Gatilho, Prenúncio e Sentença.

Com isso, o Gatilho consistia simplesmente em uma postura corporal.

Scarlet Moom abriu os braços, imitando uma cruz com o corpo.

O uso do Prenúncio se tratava de uma frase que deveria ser dita, praticamente a ameaça do que estava por vir, porém, ainda podia ser anulada, caso o jogador desistisse do ato.

— Na escuridão quem domina é a lua! — murmurou ela, seguindo com sua técnica.

Por fim, a Sentença era a escolha de qual tipo Ascensão iria ser acionada, neste caso, o golpe passava a ser ininterrupto.

Ascensão Mística... Poltergeist! — decretou Scarlet Moon.

O aplicativo notificou.

O jogador acionou Ascensão Mística!

Poltergeist!

A habilidade permite ao jogador criar Fios Fantasma na proporção dos seus fios de cabelo!

Condição!

O corpo do jogador deve estar livre de qualquer amarra.

Limite!

Três quilômetros de extensão!

Proibição!

O jogador deve se manter dentro do seu Limite!

Efeito colateral!

Dormência por 30 min.

Os seus cabelos e olhos embranqueceram, a explosão de luz saiu e retornou para seu corpo. Naquele momento, Scarlet possuía três quilômetros sobre o seu domínio, milhares das suas linhas invisíveis surgiram.

— Sad Man! — gritou Halley. — Agora!

 Antes que Scarlet pudesse exercer seu poder, as sombras sobre os seus pés a envolveram.

O mascarado ativou sua armadilha.

“Então é isso?!”, pensou Scarlet, vendo apenas a escuridão, quando a luz retornou, já estava fora da área que sua Ascensão atuaria.

— Acho que você não ouviu a parte do “cada um de nós foi selecionado para te neutralizar”— falou Halley, chegava saltitante na sua frente.

“Parece que perdi”, concluiu ela, caindo de joelhos.  

O efeito colateral começava pelas suas pernas.

— Caramba! Por um momento achei que ia mesmo tankar nós três na força bruta — relatou a Marionetista. Com uma das mãos, empurrou-a pela cabeça, para que caísse de costas.

A chuva parou, não havia mais necessidade. Em segundos, a menina dos cabelos loiros desceu das nuvens, aquilo era a prova que os jogadores esperavam pelo seu Poltergeist.

Nordlys, a responsável por manipular o clima, encarava a ruiva no chão, era a primeira vez que via a famosa Rainha Demônio.

Scarlet Moon já imaginava que eles teriam uma contramedida para desfazer sua habilidade mais conhecida, porém, não havia muito que podia ser feito.

Em geral, todas as Ascensões possuem uma Proibição que deve ser cumprida, a sua era que não poderia deixar a área de atuação após ativá-la, caso contrário, a habilidade deixa de agir e o efeito colateral vem em seguida.

Quebrar essa regra foi exatamente o que Sad Man lhe forçou fazer quando a transportou pelas sombras.

 — Não se sinta o responsável pelo que vai acontecer — olhava na direção dele. — Proteja Mille.

A ruiva podia ouvir o coração de Sad Man colapsando ao encará-la.

O mascarado evitou olhá-la e começou a caminhar para longe.

— Ei! O que acha que está fazendo? — advertiu Rayo.

Não obteve reposta, o silêncio do mascarado era sua comunicação natural.

— Falei com você, idiota!

Rayo fez a menção que iria impedi-lo, mas sua líder o deteve sinalizando com a mão.

— Deixe que vá, já fez a parte dele — informou ela, preparando-se para finalizar sua missão.

Scarlet não sentia mais suas pernas e braços, faltando pouco para a paralisia total.

— Sabe... tem uma coisa que me incomodou muito durante nossa luta — continuou Halley, aproveitando o momento.

— Por que não acaba com isso?! — bramiu Scarlet. — O pior castigo vai ser sua voz como última coisa que vou ouvir.

 A face alegre da líder dos Vikings se desmanchou.

— Entendo que a chuva te bloqueou em usar algumas das suas habilidades, mas... — disse ela, após desfazer seu sorriso. — Por que não usou Lucy? Cadê seus PET’s? Sua forma Ancestral ou Divina? E a Integração Bélica? Onde está tudo aquilo que te colocou no topo?

Scarlet a encarou, com um sorriso torto, a resposta era bem óbvia.

— Ha! Ela foi Nerfada! Ha! Que idiota! — desdenhou Rayo, entre risos. — Então eu sozinho era mesmo o suficiente!

Para os competidores do Rei dos Melhores, um Nerf tratava-se da redução do poder de um jogador, algo causado pelo próprio sistema da competição, aquilo era o pesadelo entre os mais poderosos, as causas eram desconhecidas aos demais, apenas os jogadores Nerfados sabiam.

A líder dos Vikings apertou os punhos com força, em pleno estresse.

— Ah! Então... foi pra isso que nos abandonou?! — perguntou Halley, para o espanto dos outros, sem o timbre infantil.

Rayo De La Muerte deu um passo atrás, nunca tinha ouvido a voz natural da sua líder, mas sabia dos rumores. Do seu lado, Nordlys tremia.

— Abandonou todos nós por aquele círculo maldito! E recebeu como recompensa um Nerf? Sabe o que tivemos que passar sem você?! — desabafou Halley, seu tom de mulher adulta não era compatível com seu corpo pequeno, que se assemelhava a de uma criança.

— Larga de ser mimada, Halley! — rebateu a ruiva. — Isso aqui é um jogo, vocês que esqueram disso!

— É... Seu egoísmo sempre viu só isso — devolveu Halley, trepidante de raiva.

As duas se encararam, em silêncio.

— Minha senhora, Scarlet está tentando ganhar tempo... — alertou Nordlys, receosa por interferir. — Melhor...

O olhar da líder na sua direção a fez engolir as palavras, além disso, as lágrimas começaram a descer.

— Ok... está certa — concordou Halley.

Em silêncio, Rayo meneou a cabeça, vibrando de ansiedade.

— Nordlys, já pode ir... o resto dependo só de mim e Rayo — ordenou Halley.

A garota que chorava sem motivo não pensou duas vezes, clicou desesperada na tela do celular, sumindo após o flash.

— Vamos... acabar...

Halley parou, ofegante. Seu corpo tremia tentando se controlar, mordeu com força o lábio inferior, sentiu o gosto de sangue na boca.

— Vencer ou morrer, lembra?! — murmurou a Marionetista, na direção de Scarlet.

A ruiva deu um sorriso largo.

— Sua pirralha! Você que sempre foi assim! Péssima em cumprir ordens! — esbravejou Scarlet, seu riso foi desmanchando lentamente, continuou. — Pelo menos uma vez na sua vida... cumpra sua missão!

Aos poucos, Halley foi relaxando os músculos, alguns dedos das mãos estavam roxos, sem perceber, quebrou alguns deles com excesso de força no aperto.

— Eu admirava você... — declarou a Marionetista, reavendo seu timbre infantil. — Agora não sabe o prazer que vou ter em te matar!

Halley se envolveu com as correntes. Do outro lado, Rayo levantou as palmas das mãos.

— Scarlet, últimas palavras? — perguntou ela. — Quer que dê um beijo no seu namoradinho por você?!

— Sim, tenho um recado pro seu dono... — exagerava do seu sorriso debochado —, diga ao Hacker... vai se ferrar!  

O casulo de correntes puxou Halley para dentro do solo.

— Nunca ter sofrido é nunca ter sido abençoado! — proferiu a Marionetista.

 “Gabrio... acho que não vou vê-lo de novo”, pensou a ruiva, aquele momento confirmava seu maior temor, sentimento que estava reprimindo.

— Ascensão Mística... Tormento Nuclear! — disse Halley.

O jogador acionou Ascensão Mística!

Tormento Nuclear!

A habilidade permite ao jogador invocar uma quantidade ilimitada de correntes das profundezas do centro da terra.

Condição!

O corpo do jogador deve estar submerso na terra.

Limite!

Indefinido.

Proibição!

O jogador não pode emergir

Efeito colateral!

Febre extrema por 12 horas.

O Tormento Nuclear gerava correntes de puro magma, retiradas das profundezas do centro da terra, assim, a fluidez do líquido magmático formava elos com temperaturas superiores a dois mil graus Celsius.

Em simultâneo, Rayo começou seus preparativos, as mãos para alto eram o seu Gatilho.

— Aprecie o relâmpago, não tema o trovão, são os raios que carregam a morte! — pronunciou ele, seu Prenúncio.

 “Vocês estavam certos... o amor é a coisa mais perigosa do universo”, lembrou a ruiva, de seus antigos companheiros de equipe no círculo roxo.

Ascensão Mística... Ruína dos Céus! — emitiu a Sentença.

O jogador acionou Ascensão Mística!

Ruína dos Céus!

A habilidade permite ao jogador o controle das descargas elétricas nas nuvens.

Condição!

O jogador deve enxergar o céu.

Limite!

Dez quilômetros

Proibição!

O corpo do jogador deve permanecer em local aberto.

Efeito colateral!

Cegueira temporária por 9 horas.

No caso de Rayo De La Muerte, sua ascensão fazia com que as nuvens passassem a obedecer seus comandos. Em posse delas, as poderosas descargas elétricas surgiam destruindo tudo e todos, indiscriminadamente.

Halley conjurou o número exagerado, formando um mar de correntes. Do outro lado, Rayo fez uma espiral no céu, repletas dos raios mortais.

— Adeus, Scarlet — falou ela.

Os Vikings lançaram o ataque final.

A torrente de larva chegou como uma onda de fogo, com a pressão e temperatura do núcleo terrestre, capaz de compactar e derreter uma pessoa em questão de milésimos de segundos. Em conjunto, a torre surreal de descargas elétricas desceu conseguido pulverizar até o mínimo átomo.

Scarlet encarou seu destino, mantendo seu sorriso até o fim.

— Por favor... Gabrio... se cuida... — disse ela, fechando os olhos.

Aquela ilha, que só existia para os jogadores, foi completamente obliterada do mapa.



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