Rei dos Melhores Brasileira

Autor(a): Eme


Volume 1

Capítulo 37: Missão Suicida

As paredes do lugar tremiam a cada passo pesado, a fúria que estampava nos olhos afastava qualquer um, não era algo que surpreendia em Phil Hunter, afinal o vice-líder dos Vikings era famoso por ser antipático e tempestuoso, porém, o incomum tratava-se da pessoa no qual direcionava sua raiva. Na sua frente, Halley, a líder do clã caminhava sorridente, com o andar leve e humor oposto ao dele.

O salão estava cheio dos vários ansiosos que observavam sua chegada, uma convocação geral era algo raro, parando no centro do local, com um gesto simples com as mãos, a pequena garota de cabelos cacheados atraiu a atenção de todos.

Vikings! — bradou Phil Hunter, na sua voz trovejante.

Em busca da glória! — Todos responderam em coro, aquele era o lema estabelecido no clã, uma espécie de grito de guerra.

— Hoje vamos colocar nosso nome no topo! — continuou Phil, logo após a saudação. — Estamos a um passo de encarar a missão dada pelo clã supremo... eliminar Scarlet Moon!

Uooooaa!

Os integrantes vibraram, eufóricos com aquela declaração.

— Seremos lembrados e temidos como aqueles que mataram a Rainha Demônio! — disse ele, em seguida, apontou a direção de Halley. — Nossa líder vai pessoalmente para garantir nossa vitória!

Aí, meu Deus...! ...não pode ser...!  ...vai ser loucura...! ...isso é exagero...!

O salão se tornou uma feira de cochichos, o entusiasmo do grupo se transformou em nervosismo, uma missão em que a própria Marionetista estivesse envolvida não aceitava erros. Com certeza, morrer nas mãos de Scarlet Moon era algo mais suave do que a punição por falhar diante da soberana do clã.

— Silêncio! — exigiu o vice-líder.

Seu olhar ainda mantinha a ferocidade ao encarar Halley.

— Nos diga os nomes — requereu Phil, observando a garotinha pensativa pressionar as bochechas com a ponta dos dedos.

— Sad Man! — começou ela.

O mascarado de capuz deu um passo à frente, ninguém se opôs, era uma escolha óbvia, se tratando de um Lutador Espadachim e Elemental das Sombras.

—  Nordlys! — chamou.

A garota engoliu em seco, também caminhou na direção da líder, seus cabelos loiros e curtos passavam por pouco das orelhas, sua pele branca avermelhou no instante que ouviu seu nome, era uma das que não queria ir. Alguns não entenderam a escolha, mas as habilidades de uma Elemental do Clima podiam ser úteis em diversas situações.

— Rayo De La Muerte! — finalizou ela. — Serão só esses três!

O garoto de cabelos negros se juntou aos outros, com uma expressão radiante, um Atirador de Elite e Elemental de Eletricidade.

— Minha senhora... por favor... reconsidere me levar! — interviu Phil Hunter, controlando o tom, seu estresse estava no limite.

— Eu já disse que não! — rebateu ela. — Você é surdo?! 

Phil Hunter respirou fundo, não ia desistir tão fácil, aquilo era importante.

— Sabe há quanto tempo espero por esse momento?! — bramiu ele. — Tenho contas pra acertar com Scarlet Moon!

— Ah... poxa... sério?! — ponderou ela, exagerando do seu timbre infantil.

Halley levou os dedos ao queixo, fingindo estar pensativa. Em seguida, exibiu um largo sorriso.

— Não! Não! E... Não! — reafirmou ríspida. — Seus problemas não são da minha conta!

Grrrrr...

O rosnado de Phil Hunter saiu como protesto, mas foi ignorado, Halley virou de costas na direção da saída.

— Não pode tirar isso de mim! — vociferou ele, em cólera.

O grito do vice-líder silenciou todos no local, mas não só isso, também esvaziou o salão, ninguém queria ficar para saber o que ia acontecer ali, sumiram como fumaça.

— Eu estou caçando todo esse tempo! — continuou Phil Hunter, com os olhos inflamados de ódio. — São meus esforços! A cabeça dela tem que ser meu prêmio! Eu tenho que ir! Não pode me deixar aqui!

A líder virou para lhe dar atenção, o sorriso meigo dela foi se desmontando aos poucos.

As pernas de Phil Hunter tremeram por um momento, aquilo era um aviso.

— Disse que... não posso?! — perguntou ela.

Sem pensar duas vezes, ele se ajoelhou antes de dar a resposta. Por sorte, ainda mantinha o tom infantil, um sinal de que nem tudo estava perdido.

— Perdão, minha Senhora! Perdoe minha ousadia! Mas... sonho com esse momento!

Halley caminhou na sua direção, com uma das mãos levantou seu queixo, obrigando-o a encará-la nos olhos. 

 — Scarlet Moon é especialista em usar as fraquezas psicológicas dos oponentes — informou ela. — Alguém com tanto rancor como você... essa sua sede patética de vingança... é uma presa fácil pra ela!

— Fala de mim, mas convocou Rayo! Um completo destemperado! — argumentou ele.

— Rayo é o único eletrocinético que temos — rebateu ao largá-lo, retomando seu sorriso. — Além disso, ele é descartável. Se me der problemas posso simplesmente me livrar dele, algo que não posso fazer com você.

Phil Hunter travou o maxilar, ainda contrariado. Porém, estava aliviado, aquela frase era seu perdão momentâneo.

 — Sua missão é encontrar Rhino! Trazê-lo até mim — decretou Halley. — Não quero ver sua cara até que resolva isso! Entendido?!

— Sim, senhora — respondeu, rangendo os dentes.

Halley deu alguns passos e parou com um pé na saída.

Vikings! — bramiu ela, por cima dos ombros.

Em busca da glória! — gritou Phil Hunter, em resposta.

Em seguida, a líder do clã partiu, no que muitos diziam ser, para uma missão suicida.

***

Os olhos castanhos abriam-se lentamente.

— Senhora?! Senhora?! — chamou a voz aflita.

O céu repleto de nuvens escuras era a visão que se desenhava diante do olhar confuso. Aos poucos, Halley recuperava a consciência.

— Graças a Deus! — exclamou a menina ao seu lado.

A líder piscou várias vezes antes de entender a situação, ficou de pé com um pulo. Logo atrás, via a fenda profunda que se formou com o golpe que recebeu e, diante dela, estava a provável pessoa que lhe retirou de lá.

A garota de cabelos loiros, curtos ao pé da orelha, estava com suas roupas brancas sujas de lama, seus olhos azuis tendiam para o turquesa, a calça e blusa molhada colavam no seu corpo magro.

Nordlys... o que tá fazendo aqui?! — reclamou ela, assim que a viu. — Ordenei que não entrasse no campo de batalha.

— Eu... eu... fiquei preocupada... a senhora desmaiou... — relatou ela, com sua voz aguda e baixa, a pele estava vermelha como um tomate. Para seu azar, era fácil saber quando ficava nervosa.

— Seu poder é o que nos garante a chance de vitória! Se ela matar você primeiro... já era! — ralhou Halley, severamente.

— Perdão! É que a fenda começou a inundar... e... achei que... perdão! Eu sou uma burra! — disse Nordlys, com olhos cheios de lágrimas.

Halley respirou fundo, havia esquecido da fragilidade emocional da garota. Afinal, não podia culpá-la por seu desleixo.

“Trocar socos com Scarlet?! Que ideia foi essa?!” Repreendeu-se, mentalmente. Aquilo fugia de qualquer plano viável, diante deles estava a oponente que nunca perdeu uma luta corpo-a-corpo na competição.

Clin!

Atenção!!!

O item Armadura Oculta Mística (nv. 98) foi destruído!

Perda de BUFF de 10% na...

... Resistência! ... Força! ... Sorte!

Halley observou a tela do celular, o aplicativo informava o porquê de não estar com todos os ossos quebrados, sua armadura oculta absorveu grande parte do dano.

“Se Phil descobre isso, vai me encher a paciência”, pensou a líder, a contragosto, foi obrigada a usar aquilo por ele.

— Quanto tempo fiquei desacordada? — perguntou ela, batendo na borda rendada da saia, na tentativa inútil de se livrar da lama.

— Acho que... uns três minutos — respondeu Nordlys, com a voz baixa, ainda acuada.

Halley fechou os olhos, concentrou-se. Seu poder lhe permitia ver com clareza através dos que estivessem sob seu controle psíquico ativo.

Rayo permanecia estático, não atacaria até receber ordens. Porém, a Marionetista tinha por mania sempre deixar o instinto de autodefesa ligado. Com isso, seu fantoche conseguia desviar dos ataques fatais de Scarlet Moon, além disso, podia ver Sad Man usando sua foice para enfrentar as lâminas da ruiva. Contudo, sem ela o equilíbrio estava rompido.

A estratégia para lutar contra a Rainha Demônio se baseava no trabalho em equipe dos quatro jogadores.

— Volte ao seu posto! E não saia de forma alguma! — ordenou Halley.

— Sim, senhora!

Nordlys desapareceu, para um local acima das nuvens. Segundo sua fonte, a chuva era uma fraqueza que impossibilitava muitas técnicas da ruiva, mais que isso, sua única chance de ter uma possibilidade de ganhar.

Com suas correntes, Halley neutralizava a mobilidade dela e ainda impedia suas adagas de serem lançadas com liberdade, criando barreiras para bloqueá-las.

Sebastian... — sua voz ecoou no ar — Ataque!

Seu comando foi como um interruptor que o fez entrar na luta. Rayo De La Muerte, com uso da eletricidade tinha a missão de prejudicar a sensibilidade, reduzindo seu tempo de resposta.  Por outro lado, o trabalho pesado ficava por conta de Sad Man, sua habilidade de manipular sombras deixava seu corpo flexível, capaz de absorver impactos e cortes leves, o único que poderia suportar ataques poderosos da Lutadora Marcial mais forte do RDM.

Víbora Malevolente! — pronunciou Halley, juntando as palmas das mãos.

As chamas azuis circularam seu corpo e se expandiram em um globo de energia, em seguida, centenas de correntes brotaram em espirais que a levantaram do chão, rapidamente, formou uma gigantesca estrutura metálica que mergulhou no solo, se movimentando como uma serpente.

Halley foi em busca de sua presa.

***

Scarlet defendia-se dos ataques frenéticos de Sad Man, cada um deles preenchido com a vontade de arrancar sua cabeça.

“Isso não faz sentido...”, pensou ela. “Por que está com os Vikings?!”

No passado não interagiu muito com Sad Man, o jeito calado e sombrio a deixava desconfortável, talvez por ser semelhante ao seu na época. No entanto, lembrava de algumas coisas, uma delas é que ser cortada por aquela foice seria o fim, sua habilidade de manipulação da escuridão permitia que criasse uma cópia temporária de alguém, para isso, bastava ter uma gota de sangue manchando aquela arma.

“Que espécie de jogo matriz te deu esse poder sinistro?” Sempre teve curiosidade em saber, mas nunca surgiu a oportunidade de perguntar.

Apesar disso, Sad Man apresentava uma gentileza que poucos sabiam, o homem esquisito odiava as pessoas cruéis com todas as suas forças, mas se derretia com flores e animais.

“Lógico! Scarlet Moon, você já foi mais inteligente.” Chegou a uma conclusão óbvia.

— Cadê a Mille? — perguntou ela, bloqueando a foice com as adagas.

Sad Man hesitou pela primeira vez, apertou o cabo da arma tensionando seus músculos, seus batimentos dispararam.

Aquele coração estava mergulhado em aflição.

— Sad Man, eu...

A conversa acabou quando o chão abaixo deles rachou. Logo após, a serpente de correntes emergiu obrigando-a dar saltos para trás.

Uma estrutura de correntes negras que se movimentavam em elos azuis flamejantes, com quilômetros de extensão e toneladas imensuráveis. Em escala, Scarlet Moon parecia o pequeno animal prestes a ser refeição de uma maldosa anaconda.  

A ruiva puxou o celular e deu cliques apressados, conhecia aquela técnica e a única forma de evitar essa coisa.

O jogador acionou um item especial!

Máscara do Gato Magistral

Em questão de segundos, colocou a máscara branca no formato de gato.

O jogador recebeu um BUFF!

Multiplicação x10 de todos os Atributos!

Scarlet levantou a adaga concentrando as chamas vermelhas ao redor da lâmina. Sem espera, a serpente de correntes mergulhou na sua direção.

Corte Carmesin! — proferiu ela. Normalmente um golpe como aquele sequer arranharia aquilo, porém a máscara amplificava dez vezes a sua força.

A energia vermelha saiu em uma onda de poder, tão imponente quanto a criatura de elos.

Halley ejetou-se da sua Víbora Malevolente antes da colisão. Posteriormente, o golpe da ruiva desintegrou sua técnica e, ao contrário da última vez,  não gerou uma fenda larga, pois não sobrou nada na sua frente, apenas oceano.

Scarlet Moon reduziu a ilha pela metade.

Encarando a destruição, os três jogadores se reagruparam, a Marionetista estalou os dedos e o brilho nos olhos de Rayo retornou.

— Perdão! — Ajoelhou-se ao notar seu erro.

A líder o segurou pelo queixo e aproximou lentamente seus lábios.

— Conversamos quando voltarmos — disse e o beijou na testa. — Levante, vamos acabar com isso.

Rayo não respondeu, apenas se posicionou ao seu lado.

Scarlet retirou a máscara de gato, sua sensibilidade, visão e audição também eram amplificados, usar aquilo diante de um eletrocinético era um tiro no pé.  

Os jogadores avançaram para o combate.

A ruiva jogou as adagas para afastá-los, as correntes repeliram suas armas.

Liberar! — gritou ela, deixando sair toda a energia que absorveu da fúria de Rayo.

A explosão elétrica foi o suficiente para dispersá-los, além disso, a poeira se espalhou como névoa pelo que restou da ilha.

Na disputa de esgrima, Rayo atacava com golpes velozes e intensos, estremecendo seu corpo a cada choque elétrico da sua adaga com a espada. Pelo chão, Sad Man surgia e desaparecia pelas poças de sombras, na tentativa constante de cortá-la com a foice. Ao redor, em movimentos coordenados, Halley mexia suas correntes impedido-a de ir na direção que queria.

A estratégia perfeita finalmente estava em prática. Contudo, a teoria não levou em conta a experiência da Rainha Demônio.

Scarlet desviou do corte de Rayo, com o movimento do corpo, causou um leve desequilíbrio no jogador, aproveitando para cortar o ombro dele, por pouco não amputou seu braço. Seguidamente, previu o local que Sad Man apareceria e acertou um chute nas costelas do mascarado assim que emergiu das sombras. Em conjunto, com o uso dos fios fantasma, repelia as correntes de Halley.

Os três recuaram, ofegantes e frustrados.

— Já estão cansados?! — perguntou a ruiva, com um sorriso esnobe estampado.

Os jogadores se reposicionaram, invertendo suas posições, viriam para mais um contra-ataque.

Clin!

O aplicativo de Scarlet bipou.

Halley abriu os braços interrompendo o movimento do grupo, as chamas ao redor da sua oponente se apagaram.

A ruiva encarou o céu, dando um largo suspiro.

— Maldita! — xingou ela, aquela chuva era sua pedra no sapato.

Scarlet Moon abriu os braços, seu cabelo molhado estava espalhado pelo rosto.

— Só tenho mais uma opção — relatou a ruiva, imitando uma cruz com seu corpo.

Os três jogadores travaram, aquela pose da Rainha Demônio era famosa por toda competição.

Ascensão Mística... — invocou Scarlet. — Poltergeist!



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