Rei dos Melhores Brasileira

Autor(a): Eme


Volume 1

Capítulo 36: Marionetista

As correntes saiam espalhando-se pelo chão como serpentes metálicas, preparadas para apertos mortais. Em seguida, os raios despencavam do céu, em plena fúria, atingindo violentamente o que estivesse abaixo. Além disso, as manchas negras percorriam os espaços no solo, formavam armadilhas bem montadas por um grande especialista em manipulação de sombras e, como se não fosse o suficiente, a chuva intensa assolava o restante do cenário caótico.

A ilha escolhida por ser um local que transmitia tranquilidade e paz, transformou-se em um campo de batalha infernal.

Em meio a tempestade, uma silhueta se movia tão rápido quanto um piscar de olhos, a ruiva desviava, mas antes que pudesse pensar em contra-atacar, o próximo golpe chegava.

Scarlet cortou o ar, impedindo a flecha de raios acertar na sua cabeça. Contudo, as correntes finalmente passaram por sua defesa de fios fantasma. Sem tempo de reação, a corrente segurou sua perna esquerda girando-a no ar em movimentos velozes, posteriormente, chocou seu corpo contra o solo de um lado para outro.

— Quê?! Fácil assim?! Desse jeito não vai ter graça te matar! — debochou Halley, se divertindo, e retomando os giros.

 As correntes lançaram a ruiva para frente, fazendo seu corpo quicar várias vezes pelo caminho, percorreu uma distância longa em segundos. Por fim, colidindo em um impacto violento na montanha ao sul da ilha.  

Scarlet afundou dentro da montanha chapada, produzindo fissuras largas que se espalharam pela estrutura de pedra.

Clin!

O aplicativo bipou.

Dano Crítico!

O jogador perdeu 35% da Vitalidade!

Haverá perda de 0,3% da Vitalidade por Segundo!

Uma perna quebrada, duas costelas fraturadas e queimaduras por várias partes do corpo, não precisou olhar a notificação, sabia das suas condições.

Scarlet Moon saiu cambaleante do molde que seu corpo deixou na lateral da montanha.

Os três jogadores lhe aguardavam, Halley estava parada pressionando as bochechas rosadas com a ponta dos dedos, logo atrás, os outros se posicionavam.

— Olha... se quiser usar umas pedras de recuperação... a gente espera! — sugeriu Halley, em seu timbre infantil.

A líder dos Vikings saboreava a luta, não queria finalizar rapidamente.

— Nunca leva nada a sério, né?! — advertiu Scarlet. — Onde aprendeu a ser tão arrogante?!

A ruiva passou a mão nos cabelos molhados, removendo as mechas da frente dos olhos.

— Hum... Com quem será?! — rebateu ela, estava diante da sua antiga mestra.

“Não tenho como vencer só desviando”, Scarlet pensava em uma estratégia. “Mas como contra-atacar? A não ser que eu...”

— Considerando a sua mente brilhante... — ponderou Halley, mantendo os dedos pressionando a bochecha. — Deve estar pensando em causar uma distração e fugir, acertei?!

“Verdade, ela é uma cadelinha esperta.” Scarlet não deu pistas de seus futuros objetivos, a sua consciência ferveu de frustração.

— Não é uma boa ideia. — Halley começava a se aproximar em passos lentos. — Do que adianta esconder seu namoradinho? — falava tocando seus lábios — Estou ligada a ele agora e aquela estúpida da Oráculo pode encontrá-lo em qualquer lugar, espero que não tenha esquecido da sua amiguinha.

— Há! Há! Aquele cara não é nada! — disse ela, entre risos, cruzando as adagas na defensiva. — Não ligo para o que acontecer com ele.

— Sempre foi uma péssima mentirosa. — Halley deu o sinal para que seus companheiros estreitassem a distância. — Se não se importasse já teria ido embora.

— Na verdade... cansei de vocês! — bramiu ela, com o tom preenchido de escárnio. — E ainda... por que fugiria de fracos?

Scarlet lançou seu sorriso debochado.

— São três jogadores que não chegam à metade do que eu sou — proclamou a ruiva.

— Deixa acabar com ela sozinho?! — vociferou Rayo. — Sou mais que o suficiente!

Scarlet precisava quebrar o sincronismo deles, utilizar provocações era uma alternativa. Entretanto, essa tática era praticamente inútil em jogadores de alto nível, eles mantinham a concentração em qualquer situação adversa, mas conhecia um deles que fugia dessa regra, aquele que herdou o título de Ira Celeste

— Pobre Rayo... depois de tanto tempo... ainda um mero capacho! — alfinetou ela, se aproveitando do momento.

 O arrepio no seu pescoço confirmava que seu truque funcionou, o garoto dos cabelos negros transformou seu arco de raios em uma espada novamente e partiu para a luta, expressando a raiva em cada movimento.

Scarlet defendia sem problemas todas suas investidas, no entanto, as coisas complicaram quando a foice de Sad Man se juntou a sua lâmina, ambos atacavam juntos, só que em completa desarmonia.

— Rayo! Acompanhe a formação! — gritou Halley, mas ele não deu ouvidos. — Seu idiota, isso é uma or...

Rayo De La Muerte?! Sempre achei seu nome muito ridículo para um  eletrocinético! — gritou a ruiva, interrompendo o comando da sua líder.

 — Sua desgraçada! — berrou ele, tomado pela fúria.

Rayo ergueu os braços, sua espada virou um globo de raios que emitia disparos de energia em todas as direções.

— Não me desapontem, meninas — sussurrou Scarlet, encarando suas adagas. — Minguante... absorver!

Com as lâminas cruzadas, utilizou habilidade de absorção para reter cada golpe que recebia. 

— Esse é o seu melhor?! — fingiu estar desapontada.

Aaaaah! — rugiu Rayo, as ondas de eletricidade começaram a sair da sua pele acertando o que estava próximo.

A ruiva pôde ouvir o gemido alto do mascarado ao ser atingido, estremecia com os milhões de volts que o transpassava. Na outra ponta, Halley utilizou suas correntes para criar uma barreira protetora.

— Ah! Desculpa... — Scarlet pareceu lembrar de algo importante, sorriu maliciosa antes de continuar. — Isso era pra me arranhar?!

“Você não mudou nada”, pensou contente pelo descontrole dele, suas adagas chegaram no limite, por sorte, seu corpo ainda suportava o sobressalente de poder que não recolhiam.

Scarlet Moon conhecia a personalidade forte de Rayo De La Muerte, um jogador famoso por não deixar vivo os inimigos que o subestimaram, aquela poderosa habilidade de controlar eletricidade caminhava ao lado de um ego gigante, sabia que a potência de seus ataques era preocupante, mas todo esse poder sem nenhuma estratégia era um verdadeiro desastre, o deixava facilmente manipulável.

— Vou te pulverizar! — ameaçou ele, as fagulhas por sua pele pareciam espinhos elétricos. — Provar que seu poder não passa de um exagero daqueles medrosos!

O sorriso de deboche preencheu o rosto da ruiva, se preparou para colocar a cereja no bolo.

— Você disse o mesmo na última vez! Ah! Qual mesmo o seu resultado?! Isso mesmo! Foi uma derrota humilhante.

Com o instinto guiado pelo ódio, Rayo ergueu as duas mãos acima da cabeça. 

— Ascensão...

Do chão ao seu lado, Halley saiu em um casulo feito de correntes.

Sebastian... — murmurou em seu ouvido. — Eu ordeno que pare!

As palavras pronunciadas o neutralizaram no mesmo instante, seus braços caíram sem ânimo e seu olhar parecia distante, como se ela tivesse desligado sua mente.

Scarlet sabia exatamente que efeito era aquele, era o resultado da habilidade que controlava a mente apenas pronunciando seu nome verdadeiro.

 Aquela garota, líder dos Vikings, o esquadrão de extermínio da Valhalla, amedrontava até os jogadores mais experientes no RDM, porém não era sua patente o que lhe tornava uma das mais perigosas da competição. Na verdade, aquilo responsável pelos pesadelos de muitos consistia em seu título, a Marionetista.

— Se parar a chuva com sua Ascenção... — falava o chutando no estômago — Vamos perder! Imbecil!

Halley continuou chutando várias vezes, parou quando Rayo começou a tossir desesperadamente no chão.

“Faltava tão pouco.” Scarlet revirou os olhos inconformada por ela o ter impedido. “Mas foi o suficiente.”

A ruiva investiu na direção dela. Com Rayo caído e Sad Man ainda se contorcendo de dor pelo solo, sua luta seria contra uma única oponente.

— Ei! Espera! — reclamou Halley, erguendo sua barreira de correntes.

Scarlet desviou com um salto rápido por cima, antes de alcançar o chão, lançou as adagas e, com uso dos fios fantasma, cortava as correntes na mesma proporção que surgiam. Fechando os punhos, a ruiva se preparou para lutar com as próprias mãos.

Halley fez o óbvio diante da possibilidade de trocar socos com a Lutadora mais temida do Rei dos Melhores, simplesmente, correu.

— Ei! Vamos conversar um pouco?! — falou ela, esquivando do golpe.

A ruiva acertou o chão, criando uma cratera.

— Quer dizer que essa chuva é obra de vocês? — perguntou Scarlet, após errar mais um soco, havia esquecido o quanto Halley era escorregadia, peçonhenta como uma cobra.

— Scarlet... não seja sonsa! Isso não combina com você! — alfinetou Halley, abaixando do chute que partiu centenas de árvores ao redor, apenas com a pressão do ar.

Se aquela chuva foi algo planejado, o fato de os Vikings estarem em seu encalço era o menor dos problemas, uma preocupação a mais surgia.

— Vai me dizer que não percebeu? — Colocou a mão na boca atuando surpresa. — Cada um que está aqui foi selecionado pra te neutralizar, tivemos dicas de uma pessoa, a chuva foi uma delas.

— Sua pirralha! O que fez com Gunner?! — bramiu a ruiva, em cólera.

— O atirador?! O que acha que fiz? — retrucou ela, com malícia.

Scarlet baixou a guarda, assombrada pela pior possibilidade. Naquele instante, Halley se aproveitou, juntou toda a força em um soco certeiro no rosto dela.

O golpe fez a cabeça de Scarlet virar levemente. Em seguida, a ruiva lhe encarou séria, movimentou a língua na boca e cuspiu um dente.

Ops! É... Não! Espera! Eu... eu... juro que... — delongou Halley, com os olhos arregalados, sabia o que estava por vim.

— Minha vez! — informou Scarlet, as chamas vermelhas fluíram em espirais pelo seu punho.

A ruiva movimentou o braço para trás e flexionou levemente os joelhos e, do mesmo modo que Halley, juntou toda a sua força para aplicar seu soco, porém mirando a barriga da garota.

No contato do golpe, o corpo de Halley arqueou no ar, um segundo depois, saiu em alta velocidade, sua figura se tornou um borrão desforme na trajetória. Por coincidência, a líder dos Vikings acertou a mesma montanha que havia jogado Scarlet. Diferentemente, não parou nela, atravessou o enorme bloco de pedra, que se despedaçou por inteiro após a colisão.

Scarlet Moon remodelou a geografia do lugar, a ilha perdeu sua montanha, mas em compensação recebeu um vale novinho, do ponto que acertou Halley até o outro lado do local gerou-se uma fenda larga e profunda com quilômetros de extensão.

— Então?! Vão ficar aí no chão?! — perguntou ela, olhando por cima dos ombros.

Os dois jogadores se levantavam, Rayo ainda estava atordoado, com a expressão vazia. Do outro lado, Sad Man tentava se recompor do “fogo amigo” que recebeu.

 — Desse jeito não vai ter graça matar vocês! — falou ela, esticando os braços para convocar suas adagas.

As chamas vermelhas e azuis fluíram ao redor da ruiva, ao mesmo tempo, seus oponentes também acionaram suas técnicas de combustão.

Scarlet avançou mais uma vez.

A verdadeira batalha entre Expert’s estava por vir.

 



Comentários