Rei dos Melhores Brasileira

Autor(a): Eme


Volume 1

Capítulo 35: OS VIKINGS

O frio era um efeito comum que a chuva causava por todo o corpo de Bel, porém a dor que sentia no peito era algo novo, observava de longe o garoto que um dia lhe serviu de travesseiro ir embora.

“Se cuide, Gabrio”, pensou ela, dando meia volta e seguindo na direção do inevitável. “Por favor, não morra.”

Aquilo foi mais doloroso do que imaginava, mas não teve escolha, no instante que Halley o beijou tornou-se brinquedo dela. Além disso, ficar perto era arriscado demais naquela situação, aproveitou-se que a atitude dele abriu uma brecha para que pudesse afastá-lo.

“Eu o conheci recentemente...”, relembrou da sensação de angústia a cada palavra que saia da sua boca. “Por que foi tão difícil?”

Naquele momento fingir estar com raiva era fácil, pois toda a interferência e falta de sorte dos últimos dias realmente a tinha enfurecido, mas teve que virar de costas no momento que disse para ele ir embora, não conseguiria fazer isso olhando nos seus olhos.

“Aqueles olhos negros como uma noite sem lua...” Sua mente trazia lembranças desnecessárias.   

Desde que o salvou a satisfação dela aumentava com o tempo que passavam juntos. Mesmo assim, era confuso sentir toda essa comoção na partida dele, não ficou dessa forma nem por aqueles que se sacrificaram para que estivesse ali.

“Então... por quê?! Será que eu...” imaginou uma possibilidade.

 — Não, de jeito nenhum! — respondeu, ao próprio pensamento.

Os cabelos do seu pescoço arrepiaram, um sinal do perigo de se aproximar daqueles jogadores, os três permaneciam no mesmo local.

Halley se mantinha serena e risonha. Em contrapartida, Rayo apertava os punhos e tensionava os músculos, cada vez mais ansioso para recomeçar a luta.

— Viu?! Eu disse que ela ia voltar! — apontou Halley, na direção que ruiva surgia.

“Agora que ele está seguro posso me concentrar”, admitiu Bel, fechando os olhos e respirando fundo.

A ruiva parou, a alguns metros de distância, os destroços da sua pequena morada os separavam.

Bel esticou as mãos convocando suas adagas, ao abrir olhos, liberou a energia que se obrigou a ocultar por muito tempo, para não atrair a atenção das pessoas que lhe procuravam.

A mistura de chamas vermelhas e azuis fluíam se agitando ao redor do seu corpo, diante deles estava Scarlet Moon. Uma enorme explosão de energia reconhecida por qualquer jogador de alto nível que já presenciou.

Por toda a competição, muitos sabiam que aquele grau de poder era uma marca registrada, somente uma jogadora podia fazer algo tão intenso, a Rainha Demônio.

— Olha ela! — disse Halley, batendo palmas. — Isso foi para nos intimidar?

A garota passou a mão nos cabelos, a chuva desfazia seus cachos.

— Sinto muito, mas não vai dar certo. Se qualquer um deles desistir... — apontou para os dois ao seu lado. — Eu faço com que quebrem seus próprios ossos.

— Você sempre se esconde atrás dos seus soldados — Bel esticou a mão direcionando sua arma para ela. — Halley, Líder dos Vikings.

A garota alargou o sorriso inocente, fez uma saudação segurando a barra do vestido, mostrando-se lisonjeada por ter sua patente pronunciada. 

— Cadê o garoto dos lábios macios? — perguntou ela, procurando ao redor.

Em silêncio, Scarlet abriu os braços segurando as adagas pela ponta da lâmina, uma em cada mão. Seu movimento foi correspondido, os três recuaram e se dividiram cercando-a, mantendo distância de alguns metros, formaram um triângulo em volta dela.

“Três Expert... É... Isso vai ser difícil.” Scarlet avaliava seus oponentes caminharem no cerco mantendo sua formação.

Entre eles, Rayo De La Muerte era um Expert das classes Elemental de Eletricidade e Atirador de Elite, suas habilidades o deixavam capaz de criar armas de curto e longo alcance de pura eletricidade. Com isso, o garoto dos cabelos negros transformou sua espada em um arco com flechas elétricas.

Bel abaixou-se para desviar do primeiro ataque, a seta passou acertando o vazio do local.

“Se Rayo foi o primeiro, significa que...” pensou ela, girando seu corpo e jogando as adagas para cima.

Com as palmas das mãos segurou a lâmina da foice que se encaminhava para suas costas, vinha do mascarado que conhecia bem, um Expert das classes Elemental das Sombras e Lutador Espadachim.

— Que previsível, Sad! — disse a ruiva, encarando seu oponente nostálgico.

O nome daquele jogador era um mistério da competição, até mesmo sua voz nunca foi escutada, por isso, era conhecido como Sad Man, uma referência a sua máscara com lágrimas e de expressão triste.

Aproveitando-se da sua altura, Sad Man inclinou-se para frente, tentando forçá-la a soltar a foice longa e pontuda, a lâmina da arma estava a centímetros do ombro dela.

— Vai ter que fazer melhor que isso! — provocou Scarlet.

O mascarado quem acabou largando sua foice, teve que recuar para desviar das adagas que o atacavam como se tivessem vida própria, movimentadas pelos fios fantasmas de Scarlet.

A ruiva girou a foice em círculos ao seu redor cortando as correntes que emergiam do solo e a lançou na direção daquela que as invocava. Porém, antes que a foice pudesse causar qualquer risco, desapareceu no ar. Como esperado, o mascarado esticou as mãos convocando sua arma novamente.

Scarlet também retornou suas adagas e inclinou-se para trás, caindo no chão, desviou de mais uma flecha de raios e, rapidamente, utilizando o impulso das mãos, já estava de pé.

Seus oponentes recuaram para reaver sua formação.

— Tá meio lerdinha, ou é impressão minha?! — relatou Halley, colocando um dos dedos no queixo, se mostrando pensativa.

— Hum... E vocês?! Estão com medo ou... é impressão? — rebateu Scarlet, no mesmo tom sarcástico.

 — Me deixa acabar com ela?! — pediu Rayo. — Posso fazer isso sozinho!

Scarlet encarou o jogador, deu um meio sorriso, preenchido de escárnio.

— Ah é?! Vem, então! — chamou ela, maliciosa.

Rayo transformou seu arco em uma espada novamente, indicando que aceitou o duelo.

— Idiota! Mantenha a formação! — ordenou sua líder.

A contragosto, ele manteve-se parado.

— Nunca ataque sem conhecer o alcance do inimigo — exagerou do seu tom infantil, quase carinhosa. — Teste o adversário, cheque o tempo de reação, força, velocidade e monte sua estratégia para vencê-lo com base nas suas análises.

Halley pressionou as duas bochechas com os dedos, enquanto encarava a ruiva.

— Sabe que fui eu quem te ensinou tudo isso, né?! Pirralha! — bramiu Scarlet, cruzando suas adagas.

— Sim... — respondeu, calmamente. — Por isso... tô decepcionada! Esperava mais da minha antiga capitã!

Entre os seus oponentes, Halley era a que mais preocupava, além de ter a frieza de ser a líder dos Vikings, um dos mais temidos esquadrões de extermínio da Valhalla, consistia em uma Expert de alto nível, das Classes de Elemental da Terra e Psíquica da Ordem, no qual a combinação dos seus poderes geravam um resultado assombroso e, como se não fosse suficiente, ainda era uma antiga discípula de Scarlet Moon.

— Pelo visto, não aprendeu nada! Cadelinha! — vociferou Scarlet, entre risos.

Como resposta, Halley ergueu as duas mãos e abaixou apontando em direções opostas, de imediato, os três vieram para o ataque, ao mesmo tempo.

A ruiva lançou as duas adagas na direção da garota, na tentativa de ocupá-la. Deu certo, as correntes emergiram do chão em sua defesa, porém, as lâminas continuavam cortando conforme as correntes surgiam, parando sua adversária.

— Ah! Sua Chata! — reclamou a líder do clã, enquanto se defendia.

A classe de Elemental da Terra de Halley lhe permitia criar inúmeras correntes do solo, mas dependendo da velocidade e quantidade que precisasse, menos conseguia se movimentar, controlá-las exigiam bastante concentração. Nesse combate, não podia deixar as adagas passarem por sua defesa, receber o Debuff daquelas lâminas seria fatal para ela, era obrigada a recuar.

Sad Man chegou tentando lhe partir ao meio com sua foice e a espada de Rayo tomou o formato do martelo vindo na sua trajetória. Scarlet saltou por cima da foice e pisou nos ombros do mascarado se impulsionando lateralmente, na tentativa de evitar o martelo de raios, porém a arma acertou superficialmente sua perna esquerda, gerando uma queimadura.

Ainda no ar, a ruiva girou dando um chute no peitoral do mascarado. Com a força, o corpo dele saiu em alta velocidade se chocando no chão, gerando crateras a cada impacto.

O combate de um contra um se iniciou entre ela e Rayo. Sem espera, o garoto movia o martelo tentando esmagá-la, mas ela desviava perfeitamente. Cada golpe era preenchido de fúria, soltando círculos de corretes elétricas, causando tremores no corpo de Scarlet.

“Malditos Eletrocinéticos! Odeio vocês! Do fundo do meu coração!”, remoeu ela, em mais uma revolta com oponentes que usavam aquele tipo de poder.

O grande problema estava relacionado a sensibilidade da sua pele, detectava qualquer movimento a sua volta, mas a estática atrapalhava, devido as descargas sentia vários arrepios involuntários, com isso, sua antecipação do perigo estava comprometida.

Em uma luta direta, Rayo possuía uma esgrima apurada, mas estava longe de ser eficiente. No entanto, a especialidade de Scarlet Moon, de Lutadora Marcial, exigia um combate corpo-a-corpo, contudo, para alguém com a pele tão sensível, tocar em um usuário de eletricidade era suicídio.  

— Covarde! Onde tá sua marra?! — esbravejava Rayo.

Scarlet recuava, tentando manter distância.

As correntes surgiram, impedindo de ir na direção que queria, seus arrepios estavam cada vez mais intensos.

Em um segundo, lançou-se para frente girando seu corpo e a foice de Sad Man veio por baixo e o martelo de Rider por cima. Ainda no ar, Scarlet desviou fincando entre as armas no momento do corte, as suas adagas retornaram para suas mãos antes de cair.

— Liberar! — gritou Bel, quando tocou o chão.

A explosão foi colossal abrindo uma cratera enorme. Scarlet liberou toda a energia que acumulou na arma, durante semanas. Pela proximidade, a ruiva também foi atingida pelo próprio golpe.

O corpo de Scarlet Moon foi lançado, como disparo de uma bala de canhão, quebrando as árvores da mata fechada, deixando um rastro no ambiente, uma vala funda de fogo e destruição.  

As correntes de Halley protegeram os jogadores de grandes danos, gerando um casulo em volta de cada um.

Scarlet levantava ofegante, chamando as adagas. Seus cabelos estavam espalhados pelo rosto, o lenço que o prendia se desfez.

Os três jogadores saiam do casulo de proteção e, até agora, praticamente intactos.

— Ei! Vão me dizer que só tem isso?! — provocou Scarlet.

Halley ergueu as mãos, esbanjando um sorriso esnobe.

— Acho que já matamos a saudade! — proclamou a líder, abaixando os braços.

A batalha reiniciou.



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