Rei dos Melhores Brasileira

Autor(a): Eme


Volume 1

Capítulo 22: Química de Garagem

No interior do supermercado, as prateleiras caídas e a correria formada pelo pânico geravam um clima tenebroso, algo perfeito para ser representado nos filmes com cenários apocalípticos. Uma ideia que não podia ser desprezada, afinal, de um lado haviam raios paralisantes que desciam cruéis, do outro a marcha das criaturas mais famosas nesses tipos de filmes.

Gabrio avaliava sua situação, ainda estava perdido no meio do conflito, em contrapartida, os zumbis sabiam exatamente o que fazer, devorar tudo.

O cachorro com partes apodrecidas avançou sobre o distraído no campo de batalha.

— O que fiz de mal pra essa espécie?! — reclamou Gabrio, ao correr da fera putrefata. Afinal, lobos também tentaram devorá-lo.

Gabrio segurou na primeira coisa que viu, para sua sorte, uma barra metálica. Seus braços assumiram a propriedade do elemento, instintivamente, ergueu o braço direito para se defender.

A criatura pulou sobre ele na primeira oportunidade.

O cachorro zumbi cravou os dentes, mas não ultrapassaram o metal.

Com a mão esquerda, Gabrio acertou um soco no focinho da fera, esmigalhando-a completamente.

— Qual é?! Minha carne não pode ser tão gostosa assim — lamuriou novamente, outros zumbis o cercavam.

Gabrio cerrou os punhos, porém sabia que enfrentar zumbis no soco era uma ideia exótica demais, até para ele.

Cerca de alguns passos à frente, um raio caiu imponente.

A explosão do impacto acertou as criaturas, os pedaços chamuscados foram lançados no ar, não só isso, Gabrio também foi jogado para trás, caindo sobre uma das poucas prateleiras que se mantinham de pé.

O aplicativo bipou, encerrando a segunda onda.

Parabéns!

Você matou 01 monstros nessa onda!

Tempo de início para 3ª onda: 30 segs.

“Um mísero zumbi em duas ondas...”, remoeu Gabrio, sentado no chão frio.

— Parece que sou inútil sozinho — constatou.

“As regras do jogo são bem claras, quem eliminar mais criaturas vence.”

— Muito semelhante ao jogo dos touros — comparou.

 “A eliminação leva a uma disputa direta entre os jogadores.”

— Isso é igual ao jogo na vila — concluiu.

“O tempo para cumprir essa condição é dado em etapas.”

— Parecido com a partida na Time Square! — bramiu.

“A conclusão é óbvia.”

— Bel escolheu a partida tendo como base minhas experiências anteriores, por isso, me deixou sozinho — definiu.

Gabrio respondia os próprios pensamentos.

— Mas será que tô pronto pra isso? — duvidou.

Não houve tempo para sua autorresposta, o aplicativo notificou.

 Ei! Terceira Onda!

Tempo de Duração: 8 min

Tempo de início da 4ª onda: 10 min

Boa Sorte!

Gabrio suspirou.

— Ai!

A pequena garrafa verde caiu da prateleira em cima da sua cabeça, em seguida, nas suas mãos.

— Água Sanitária... — leu a informação do rótulo.

Um sorriso largo foi dominando o rosto dele, erguendo a cabeça percebeu a seção do supermercado que estava, caiu no setor de higiene e limpeza.

— Eureca! — disparou animado.

Colocou-se de pé rapidamente, seus olhos vasculhavam os produtos que precisava, apesar de estarem espalhados não foram difíceis de encontrar.

A terceira onda chegou, centenas de zumbis vieram, mas dessa vez, os cachorros foram neutralizados por jogadores que já esperavam.

Gabrio arregalou os olhos, no meio da multidão de mortos-vivos uma nova espécie se destacava, o monstro possuía quase três metros de altura, braços longos que arrastavam no chão e uma boca sem lábios que exibia dentes grandes.

O jogador com um machado partiu para atacar, em um golpe arrancou o braço do enorme zumbi, mas não desviou do outro, a criatura o pegou pela cabeça com a mão restante e a espremeu estourando seu crânio, como efeito, uma chuva de miolos e sangue foi gerada.

Os competidores travavam uma batalha intensa, do outro lado, enquanto seguravam a horda, Gabrio fazia compras, preenchendo um carrinho de supermercado com sua lista imaginária.

— Acho que é suficiente... — disse ele, pegando a última garrafa.

Os zumbis quebraram o cerco, eliminando os jogadores da linha frente, invadiram como um enxame mortal.

— Não... cedo demais.

Gabrio precisava de tempo, contudo, essa onda veio mais forte.

— Morram! Seus filhos da...

Os disparos saiam entre os xingamentos do atirador conhecido. Para se proteger dos raios, o encapuzado se escondia embaixo da bancada dos caixas de pagamentos.

Gabrio respirou fundo e correu até ele, sua ideia ia precisar de colaboração de um estranho e muita sorte.

Se jogou ao lado do atirador, que se assustou com sua chegada, por reflexo apontou a arma na sua direção.

O estampido seco do cano da pistola mostrou que ele apertou o gatilho, mas havia acabado sua munição.

Gabrio ergueu as mãos imitando uma rendição.

— Tá louco, cara?! — O atirador levou a mão ao coração, quase enfartou — Vai morrer se chegar assim em alguém armado no meio de um apocalipse zumbi!

— Me empresta dez segundos do seu tempo?! — pediu Gabrio, juntando as palmas das mãos em súplica.

O atirador levantou o capuz lentamente, a sua pele negra, o cabelo raspado, lábios cheios e a barbicha rala eram suas características marcantes, a boca estava semiaberta e os olhos castanhos o encaravam incrédulos por seu pedido.

— Quer o quê?! — rebateu confuso, o tom uma oitava acima.

— Dez segundos, só preciso disso — repetiu Gabrio.

O jogador bufou irritado, encarando o carrinho dele abarrotado de produtos.

— Desculpe, senhor. Estamos fechados no momento! — zombou o atirador, aproveitando da ironia de estar no caixa. — Depois do apocalipse funcionaremos normalmente.

— Preciso que segure os zumbis, não deixe eles se aproximarem de mim — falou Gabrio.

— Só isso?! Quer um cupom de desconto também?!

 Gabrio não respondeu, o seu olhar de súplica praticamente repetia o pedido.

— Que Merda! — resmungou o atirador. — Dez segundos, Noob!

Os zumbis estavam a alguns passos deles.

Gabrio começou suas misturas.

No carrinho continha detergentes, água sanitária, desinfetante, álcool, soda cáustica, entre outros, famosos produtos de uso comum. Entretanto, um cientista conhecia com perícia aqueles materiais, todos repletos de hipoclorito de sódio, amoníaco, bórax, ácido muriático, diversos elementos químicos perigosos, inflamáveis e tóxicos.

“Pensar que uma dona de casa tem um poder destrutivo nas mãos!”

Aqueles materiais isolados não ofereciam riscos, mas misturá-los mudava a situação, uma reação química se manifestava de maneira bruta, liberando gases com propriedades extremamente nocivas.

O atirador pulou a bancada, sacou sua pistola, começando os disparos.

Os monstros investiam sem piedade, mas com tiros nos joelhos conseguia neutralizar os mais próximos, mesmo assim, se arrastavam na tentativa de alcançá-lo.

O atirador descarregava uma pistola, o brilho laranja surgia trocando a arma.

O zumbi de braços largos abriu caminho na direção deles, com golpes poderosos esmagava os que estavam na frente.

— Quanto maior o alvo... — falava o atirador —, maior a arma.

Um brilho laranja cobriu sua pistola, em segundos, transformou-a em uma metralhadora pesada, atirando sem hesitação.

Uuuuuhaaaa!

A criatura mugiu ao ser alvejada de balas, o custo da sua morte foi toda a sua munição.  

— Seu tempo acabou! — informou o atirador, aos berros.

Com eficiência, conseguiu eliminar a maioria, porém outros chegavam, entre eles, mais dos zumbis enormes.

— Terminei! — comemorou Gabrio. Em seguida, lançou as garrafas na direção das criaturas.

Os objetos se chocavam com os zumbis e caíam no chão, além disso, estouravam soltando espumas e gases coloridos.

— O que fez? — perguntou o atirador.

As garrafas não tiveram efeito nenhum, os monstros continuavam vagantes e sedentos.

— O hipoclorito de sódio, a famosa água sanitária, se comporta de maneira diferente com vários elementos — explicava Gabrio, com semblante tranquilo —, alguns liberam energia com reações exotérmicas poderosas.

— Ah... claro... — disse o atirador, sem entender muito.  

— Os gases dessas soluções se recombinam no ar e com a aplicação de um gatilho energético, muito deles se tornam... — Gabrio parou de falar para encarar o céu, o atirador acompanhou seu olhar, completou. — Gases explosivos.

De maneira conveniente, havia por ali uma manifestação natural de pura energia.

O raio riscou o céu caindo sem distinção, mas dessa vez, completava aquela estratégia maluca.

— Vamos fazer um experimento — proferiu Gabrio.

A explosão surgiu com o contato elétrico no solo, o efeito dominó surgiu entre as garrafas jogadas, funcionaram como granadas coloridas, os estouros violentos despedaçavam os zumbis, espalhando seus restos pelo chão. Além disso, líquidos viscosos, subproduto das reações, eram altamente corrosivos, derretiam os corpos que entravam em contato.

“Isso mesmo, limpar a casa pode ser catastrófico.”

Os berros, desespero e o pânico não vinham mais dos jogadores, era a vez das criaturas sofrerem.

— Mano... que viajem é essa?! — disse o atirador, boquiaberto.

Gabrio sustentava um largo sorriso diante do resultado.

“Como te amo, química de garagem.”, pensou ele, no termo usado comumente para definir experimentos caseiros.

O aplicativo bipou encerrando terceira onda.

Parabéns!

Você matou 143 monstros nessa onda!

Tempo de início para 4ª onda: 12 segs.

Gabrio lia a mensagem orgulhoso, mas não sabia se era o suficiente para lhe garantir uma vaga de campeão.

  Não houve tempo para respirar, a quarta onda iniciou.

Vem Que Vem! Quarta Onda!

Tempo de Duração: 10 min

Tempo de início da 5ª onda: 12 min

Boa Sorte!

Os jogadores que sobraram prepararam-se com lanças, espadas, armaduras medievais, arco e flecha, pistolas e fuzis de vários tipos.

Gabrio se armou com produtos de limpeza.



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