Rei dos Melhores Brasileira

Autor(a): Eme


Volume 1

Capítulo 20: No Pain, No Gain

No restaurante simplório havia um pequeno bar servindo bebidas coloridas, alguns homens e mulheres se divertiam a cada copo virado, as poucas mesas redondas espalhadas pelo salão estavam cobertas pelo típico pano xadrez de quadrados vermelhos.

As pessoas que conversavam descontraídas silenciaram-se quando eles passaram pela porta, os seguiram com os olhos e reiniciaram a conversa quando escolheram uma das mesas.

 Bel sentiu a tensão no local, mas ignorou, foi atraída por um cheiro bom vindo da cozinha do lugar.

— O que vão querer? — perguntou a garota, os cabelos amarrados e uniforme sujo de marcas de comida.

— Quero o que seu cozinheiro tá preparando nesse exato momento! — disparou Bel, tão rápido que assustou a garçonete.

— Está… bem… acho que é a sopa da casa. — Não entendeu a extrema animação dela. — E você, rapaz?

Gabrio olhou o cardápio várias vezes, por fim, pediu café e biscoitos.

— Então, esse negócio de Restrição vai facilitar minha vida nesse jogo? — disse ele, retomando a conversa.

Bel fez questão de ignorar todas suas perguntas até o momento.

— Não… eu nunca disse isso, pelo contrário — respondeu em tom sarcástico.

A ruiva tentou abafar o riso com a expressão incrédula de Gabrio.

— Um Expert com uma Restrição tem o dobro, ou até o triplo de dificuldade que um jogador comum teria, mas no final… — deu uma pausa para o encarar, exibindo seu costumeiro sorriso cínico, finalizou. — Os fins justificam os meios.

No pain, No gain — interpretou Gabrio. — Tipo isso?!

— Perfeito, isso mesmo!

Bel bateu palmas, mas ao contrário do que pensou, não eram para ele, direcionavam-se ao seu pedido.

A tigela de sopa quente soltava largos riscos de vapor, a ruiva inclinou o nariz na direção da fumaça, suspirando de alegria cada vez que fungava o ar.

“Isso… é só uma sopa. O que tem de tão especial?” A mente de Gabrio não compreendia como alguém ficava tão feliz com uma refeição aleatória.

— A partida demora tanto assim para começar? — perguntou ele, impaciente. 

— Pode iniciar se quiser — sugeriu de olhos fechados, com nariz praticamente colado no prato —, basta usar a opção de Iniciar Jogo no aplicativo, mas eu não faria isso se fosse você.

— Por quê? Iniciar o jogo não é comum? — rebateu confuso.

— Nos círculos você pode começar o jogo de duas formas — Bel ainda apreciava o aroma da refeição. — A primeira é com o Iniciar Jogo e a segunda é esperar que alguém faça isso e entrar no tempo de espera, essa segunda é a mais segura, pois se você der início não pode abandonar a partida.

— No primeiro caso, a sua opção vai ser vencer ou morrer?

Gabrio fez uma careta quando bebeu o café, conseguiu ser pior que o de Bel.

— Sim, sendo fundamental encontrar um lugar bom para começar e não ter pressa. — Ela ria da feição dele. — Alguém sempre começa.

— Então ter a opção de fugir também é importante?

“Fugir, não combina muito com ela.” Refletia jogando o que sobrou da sua comida no cesto de lixo ao lado da mesa. 

— Dark Onyx — murmurou seu nome, o tirando do transe pessoal. — Saber a hora de recuar é primordial para sobreviver.

Bel o fitou séria nos olhos.

— Só um idiota entra em uma luta que não pode vencer — disse ela.

A maneira a ruiva mesclava sua personalidade de uma menina empolgada com uma simples sopa e a de jogadora profissional arrancou um sorriso involuntário de Gabrio.

Bel levantou as sobrancelhas confusa com a atitude dele.

“Será que ele…”, pensou em uma possibilidade.

— Não vou dividir, peça a sua! — Bel fez uma barreira com os braços em volta do prato.

— Come logo isso, podem começar o jogo antes que consiga — Ele disfarçou olhando para o lado. — Além disso, vai esfriar.

Bel saboreava a sua sopa rapidamente como se fosse sumir do prato a qualquer momento, os olhares se intensificaram na direção deles.

— Uma delícia! — disse ela, raspando o fundo do prato.

Gabrio apenas observava a menina com a lateral do rosto sujo, pegou um guardanapo e com a ponta limpou a sua bochecha.

Bel corou no momento que tocou seu rosto, com um gesto rápido, bateu na mão dele.

— Você come igual uma criança de cinco anos — protestou ele, após o golpe.

— Ei! Ruivinha! — chamou o loiro de cabelo comprido bebendo no bar.

O homem cabeludo possuía um porte atlético, com braços fortes e músculos definidos que pulsavam na camisa apertada.

— Vem aqui com a gente. — Começou a caminhar na direção de Bel. — Esse cara aí não merece uma mulher tão bonita do lado.

O cheiro de álcool e seu hálito com odor pungente, possivelmente, o resultado de uma péssima higiene bocal, atingiu o nariz de Bel como um soco, causando ânsia de vômito. De modo automático, ela fechou o nariz e a boca com a mão para não devolver ao mundo sua maravilhosa sopa.

— Isso foi pra mim?! Hein?! Vagabunda! —  bramiu ofendido, percebendo a repulsa da ruiva.

— Meu amigo… — Gabrio levantou e o encarou. — Ela gostou muito da sopa e detestou o seu cheiro… pro seu bem é melhor deixar ela em paz.

O loiro aproximou-se com um sorriso debochado, assobiando na direção do bar, seus amigos entenderam o sinal, em poucos segundos, estava cercado.

Gabrio soltou um suspiro desanimado.

— Vocês estão muito ferrados — informou ele, observando a ruiva enfiar a cara na lata de lixo, vomitando repetidas vezes.

***

Bel estava tão focada no odor dos temperos da sua refeição que não percebeu nada tão fétido por perto, além disso, a quantidade de energia que gastou no ritual de Restrição bagunçou o controle dos seus poderes, um efeito colateral que duraria por mais algumas horas.

Maldição! Poderes de merda!”, xingava ela, em pensamento. No entanto, era o preço a se pagar.

Em condições normais esperaria o controle de suas habilidades estabilizarem para entrar na partida, mas Gabrio estava no limite de cometer o pecado da Preguiça, ou seja, tomar um Strike por exceder o tempo.

O aplicativo era claro.

*REGRAS DO JOGO*

7 - Preguiça: O jogador está proibido de exceder o tempo permitido que pode ficar fora de uma partida, mantenha a Plenitude!

“Como ele disse mesmo… No Pain, No Gain!” Recordou das palavras do seu pupilo.

Uma frase que possuía certo sentido interpretativo para determinar que só se ganhava algo através do esforço necessário, com trabalho duro repleto de marcas dolorosas. No caso dela, aquilo iria além de palavras curtas de incentivo, seu descontrole começou pelo olfato e outros viriam.

Bel sentiria na pele o sentido mais cruel daquilo. Entretanto, Dark Onyx venceu o inferno dele, agora era a vez de superar o seu.

***

Os embriagados fedorentos do bar empurravam pelo ombro de Gabrio, o jogando de um lado para o outro. Com um chute, o loiro acertou suas pernas o desequilibrando, em seguida, com um empurrão nas costas o fez cair no chão.

Uma série de chutes de todos os lados o acertavam.

Gabrio não tentava se defender, apenas esperou que acabassem.

— Seu frangote! Assim que protege sua mulher?!

A cada chute eles riam e cuspiam nele.

— Parem com isso! — Os funcionários do bar separaram a briga. — Já chega! Vocês vão matar ele! 

Gabrio levantou completamente ileso, batia a poeira de suas roupas, arrancando o chiclete preso no seu casaco.

— Sério?! Só isso?! — debochou ele, mesmo com tantos golpes seu corpo não sentia dor.

“Estou começando a entender o menosprezo dessa ruiva comigo.” Gabrio relembrou das centenas de vezes que Bel o chamou de fraco, aquilo devia ser sua mesma sensação, estar diante de alguém que sequer conseguiria lhe arranhar.

— Desgraçado!

O loiro correu e tentou outro soco, mas dessa vez mirando seu rosto. Sem esforço, Gabrio segurou seu punho com a mão direita enquanto usava a esquerda para continuar se limpando.

— Me entenderam errado, senhores. — Gabrio apertou o punho do loiro.

Um estalo saiu com o grito que fez seus amigos recuarem.

 — Quando falei para deixá-la em paz, não era pra proteger ela… — informou ele, observando Bel encarar o cesto de lixo, como se não acreditasse no que estava lá dentro. — Era pra proteger vocês dela.

Gabrio soltou o loiro, que aos berros caiu segurando o punho quebrado. Com um largo suspiro, deu as costas aos bêbados e caminhou na direção da saída.

— Ei! Ei! — A garçonete surgiu na porta o impedindo. — Não está esquecendo algo?!

Apontou para Bel, que jogava cesto no chão furiosa.

— Um tempo atrás eu acharia absurdo isso.

Gabrio retirou a mulher da frente delicadamente com as mãos.

— Mas esses caras vão merecer e afinal… todos vocês vão morrer de qualquer jeito.

Ele tirou o celular, observando a tela.

— Quando eu estava no chão, o aplicativo bipou — informou ele.

AVISO!

Uma partida será iniciada neste local!

Tempo de espera: 3 min

Deseja participar?!

Sim ou Não

A garçonete ficou parada sem entender nada.

Gabrio passou pela porta e esperou do lado de fora.

O barulho de coisas quebrando, gritos e sangue arremessado nos vidros tornou-se o desenho interno do restaurante. Bel saiu trazendo consigo o silêncio absoluto.

A ruiva encarava o celular exibindo uma expressão tranquila, aliviou sua frustração na briga.

— Poxa! — reclamou ela, ao cruzar seus olhares. — Gostei tanto daquela sopa.

Gabrio balançou a cabeça descrente no que ouviu e bagunçou o cabelo dela como forma de repreensão.

Ambos rindo clicaram na tela, para finalmente entrar na disputa.

Bem-Vindo a Partida!

Elimine os monstros e sobreviva as 7 ondas!

Os 15 jogadores que mais eliminarem vencem!

Atenção! Não seja acertado pelos raios!

Tempo de início para 1ª onda: 40 segs.

Boa Sorte!



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