Rei dos Melhores Brasileira

Autor(a): Eme


Volume 1

Capítulo 14: Super-Homem

Gabrio forçava o corpo para permanecer de pé, seus pulmões ardiam, os ossos quebrados faziam seu corpo tremer a cada passo, mas era impossível negar um pedido de uma mãe desesperada, havia motivos pessoais para isso.

— Por favor! No trigésimo andar, apartamento 333. — A mulher apontou o prédio retangular, sua estrutura externa esbanjava de vidraças largas, cercar de quarenta andares, a base estalava em rachaduras.

— Prometo, vou fazer de tudo pra salvar seu filho. — Tentou passar segurança na voz.

A mulher esfregou os olhos tentando limpar as lágrimas, a mistura do líquido com a fuligem se espalhou em largos borrões de sujeira no rosto.

—  Ele não pode nem correr pra se salvar — informava a mulher começando a engolir o choro —, perdeu o movimento das pernas recentemente.

Gabrio fazia de tudo para manter a pose de durão, mas isso o preocupou.

— Bel, eu...

Ele virou-se para informa decisão final.

— Ei! — Gabrio estremeceu com o susto, o punho fechado de Bel parou a centímetros de atingir seu nariz, sentiu o vento do golpe passar.

Os olhos dele fecharam espontaneamente e aos abrir, Bel estava estática, como se algo houvesse a congelado na cena.

A ruiva abaixou o braço piscando repetidamente, parecia espantar algum pensamento, talvez uma lembrança. Aos poucos, retomou sua postura séria cruzando os braços.

— Seu filho não pode andar? — perguntou ela, na direção da senhora.

A mulher sacudiu a cabeça em afirmação.

— Quantos anos ele tem? — O tom de voz dela voltou ao aveludado.

— Sete... — A mulher parecia confusa com as perguntas.

— Dark, vai salvar a criança — ordenou a ruiva.

— Eu já ia...

— Deixa que eu cuido do resto — informou ela, puxando o celular.

— É... tá... mas...

— Vai! Você só tem dez minutos! — bramiu ela, com o retorno da impaciência.

O grito pareceu um disparo que dava início a maratona, Gabrio correu de imediato, estava com os pensamentos em pane com a súbita mudança dela.

***

Bel acariciava o pingente negro do colar, observando o novato se distanciar.

— Vamos — disse ela, na direção da mulher.

Os olhos da senhora trocaram a tristeza profunda por um brilho esperançoso.

— Ah... ele vai me pagar por isso. — Bel encarou o careca largado no chão.

A ruiva segurou em uma das suas pernas finas e o arrastou pelo caminho criado por Gabrio, a mulher ia no seu encalço.

O círculo brilhante da zona segura estava no lugar que havia previsto, alguns metros distantes da rota improvisada. Havia centenas de pessoas dentro da área, as vozes que sua audição captou.

Bel encarou o celular novamente.

Atenção!

O 3° Campeão surgiu!

Restam 07 vagas.

Tempo restante: 11 min

“Então apenas três já chegaram... ótimo”, pensou ela, passando o dedo na tela.

O resultado para quem entrasse no círculo era a vitória do jogo, por consequência, um jogador não poderia interferir na partida quando assume a posição de campeão, o que restava era apenas esperar todos vencedores surgirem.

Bel não podia entrar, também não poderia permitir que o jogo encerrasse, o que precisava fazer era impedir os jogadores de cumprir a meta do jogo até o momento que Dark Onyx retornasse, por sorte, a dinâmica da partida permitia que lutasse com esse objetivo.

A ruiva levantou o careca pela camisa e começou a esbofeteá-lo.

— Já pode parar de fingir que tá desmaiado — disse ela, continuando a sessão de tapas.

— Ai! Ai! Já chega... — choramingou o careca, abrindo os olhos e erguendo as mãos em rendição.

Bel o soltou o fazendo cair de joelhos.

— Vem cá — chamou ela, na direção da senhora que observava aflita.

Bel esperou que se aproximasse.

— Se correr por aí assustada vai ser um problema — disse a ruiva. Em seguida, acertou uma joelhada no estomago da mulher, que desmaiou instantaneamente.

Bel amparou o corpo dela e a colocou sobre os braços do careca.

— Escuta, proteja essa mulher! — mandou ríspida, apontando. — E não entre no círculo.

— Sim, senhora! Só não me machuque — implorou Leônidas, segurando firme a mulher nos seus braços.

Bel abaixou e o encarou.

— Se tentar qualquer gracinha ou se essa mulher morrer...

A ruiva não precisou terminar a ameaça, por um momento, Leônidas teve a sensação de ver refletir nos olhos dela algo tão intimidador que silenciaria o inferno, a reação dele foi de se esforçar ao máximo para manter as calças limpas.

O careca assentiu, engolindo a própria saliva.

“Droga... são muitos...” Bel escutava passos de todas as direções, uma marcha de pessoas vindo para o círculo, parece que a notícia de um lugar seguro no meio do caos se espalhou.

A ruiva clicou na tela.

O jogador acionou um item especial.

Máscara do Gato Magistral

Nas suas mãos surgiu a máscara branca com formato de gato, os riscos do bigode, nariz e a região da orelha eram destacadas em preto, o restante era liso possuindo dois furos na região dos olhos.

“Olá... há quanto tempo?!”, pensou ao encarar o objeto.

Bel prendeu firme os cabelos vermelhos com o lenço e segurou a máscara diante do rosto, assim que a colocasse não teria mais volta, era um risco alto usar aquilo, ou pior, um erro. No entanto, não poderia fazer o que almejava sem isso.

A ruiva levou uma das mãos ao chão, do local que estava, uma linha de fogo se manifestou circulando os arredores da zona segura, deixou um espaço de vinte metros de um círculo para o outro.

As pessoas que buscavam o lugar travaram a centímetros de se chocar com as chamas, o fogo na marcação  do círculo era alto o suficiente para ser comparado a uma parede.

— Escutem! — proferiu ela. — Não tenho como saber quem de vocês é um jogador.

Muitos se entreolharam, sem entender.

— Quem passar dessa linha... morre. — Ela esticou as adagas fazendo alguns recuarem.

— Não deem ouvidos! — gritou alguém, no meio da multidão.

— Verdade! Ela é só uma! — disparou outra pessoa.

Um murmúrio de incentivo teve início.

 “Que patético... então esse era o plano.” Bel já havia suspeitado da quantidade surreal de pessoas dentro das áreas.

Alguém estava guiando-as, aquilo não era uma ajuda ou piedade, simplesmente os jogadores estavam utilizando os desesperados como escudo e uma tática interessante de camuflagem, afinal ela mesma não conseguia distingui-los no meio da massa.

O círculo de fogo sumiu, neutralizado por algum dos culpados de reunir aquela multidão, a consequência foi a investida de milhares de pessoas correndo na direção da zona segura, um verdadeiro mar de seres humanos.

— Vencer ou morrer... — sussurrou ela.

Scarlet respirou fundo e colocou a máscara.

***

Leônidas encarava a ruiva abismado, seus poderes de Detecção de Nível funcionavam de uma forma bem intuitiva, conseguia visualizar uma áurea colorida ao redor do jogador, onde o verde indicava um nível abaixo do seu, amarelo significava igualdade e o vermelho um oponente muito superior, praticamente um semáforo de nível, seus poderes nunca falharam, pelos menos, até agora.

“Mas... o que é aquilo? Isso nem é uma cor!” Leônidas não enxergava suas indicações comuns, ao redor da ruiva fluía uma fumaça negra ininterrupta, como se algo a queimasse por dentro deixando apenas as cinzas negras no ar.  

O careca não podia afirmar se aquilo era uma indicação nova, ou se a diferença entre eles era tão avassaladora que seus poderes se tornaram incapazes de mensurar.

A ruiva colocou a máscara e a fumaça sumiu, deu um passo à frente e o seu corpo emitiu uma onda cinzas negras.

— Q-q-q-q.... — Leônidas mordeu a língua.

 A pulsação de energia escura acompanhava o ritmo que ela caminhava, somente Leônidas enxergava isso.

A ruiva ergueu adaga e olhou sobre os ombros na direção do careca, apenas para confirma que ainda estava ali, quando abaixou a arma... tudo escureceu.

Leônidas não conseguiu suportar, molhou as calças.

***

Gabrio corria a plenos pulmões e chegou ao prédio indicado sem nenhum problema pelo caminho, o difícil agora seria subir todos aqueles andares rapidamente.

“Pelas escadas?! Não, tempo demais...”, pensou ele, avaliando suas alternativas.

O saguão do prédio estava revirado, pelo chão as cadeiras, mesas e até mesmo o balcão de atendimento estava destruído e espalhado.

Gabrio conseguia ouvir o estalar da estrutura, rangia cada vez mais e a vidraçaria das paredes estourava como balão de festa de aniversário.

Seus olhos avistaram a porta do elevador, havia uma possibilidade, colocou a mão sobre a porta metálica e conseguiu manipulá-la para abrir, como esperado, a cabine do elevador estava lá, algo lógico, ninguém subiria em um prédio prestes a desmoronar.

Gabrio entrou no elevador e avistou o alçapão que dava acesso a parte de cima, passou por ele. Em cima da cabine, colocou as duas mãos sobre o metal que formava a estrutura, como seus poderes permitiam movimentar objetos, se tornaria o motor que ergueria aquilo.

— Subindo... — disse ele, ao ver que sua ideia deu certo, o elevador começou a movimentar-se.

Na parte cima, poderia contar os andares até chegar no trigésimo, foi o que fez.

Assim que alcançou, usou seus poderes para abrir a porta novamente e pular para o corredor do andar. O elevador despencou quando o largou, contudo, parou alguns metros abaixo, elevadores modernos possuíam essa tecnologia, travas de segurança impecáveis, mesmo em um apocalipse.   

  — Não é o transporte mais seguro do mundo à toa — brincou ele, rindo de nervoso.

Seguiu na direção do apartamento 333, dito por ela. Invadiu quebrando a porta no meio, não podia ser delicado agora, passou pela sala enfeitada como raio. No quarto, deitado sobre uma das camas havia um garoto magricela.

— Oi! Meu nome é Gabrio — disse ele, ficando ao seu lado. — Vim buscar você, sua mãe me mandou.

— Oi... — O garoto sorriu. — Eu sou Caio.

O menino de cabelos loiros era branco como neve, sua camisa azul possuía a gravura de um “S” gravado no meio, simbolizava a típica marca do Super-Homem, o herói dos quadrinhos.

Ao contrário do que Gabrio esperava, ele não estava assustado, pelo contrário, sua calma era sublime.

— Senhor Gabrio, vai ter que me carregar — informou na sua voz doce. — Não posso mexer mais minhas pernas.

— Tudo bem.

Gabrio o segurou no colo, bastava descer os andares.

O prédio sacudiu, o fazendo levar a mão na parede para se equilibrar, uma leve inclinação na estrutura indicava o que estava por vir, uma queda brutal.

“Pensa Gabrio... Pensa!” Forçava sua mente, descer do mesmo jeito que subiu era inviável, precisava de uma nova alternativa.

O vento na janela da varanda sacudiu as cortinas, para qualquer um, seria uma brisa suave que passaria despercebida, na mente de um cientista, aquilo foi sua resposta.

— Eureca... — proferiu Gabrio, sorridente.

Devolveu o menino para a cama.

— Espera só um instantinho... — disse compassivo.

O menino sacudiu a cabeça, ainda inerte de qualquer emoção.

Gabrio arrancou as cortinas da varanda, eram grossas e feitas de Nylon, um material comumente utilizado nesses tipos de adornos. Com o Redimensionar, ampliou o tamanho delas até o limite permitido, como imaginava, cinco vezes as deixou com cerca de treze metros. Para complementar o seu plano, precisa de cordas, mas não qualquer uma, precisariam ser resistentes. Sendo assim, retornou ao corredor e no final dele havia uma caixa de vidro vermelha, dentro dela estava a mangueira de incêndio.

O material daquela mangueira era reforçado, toda sua composição era projetada para aguentar alta pressão, perfeito para seu objetivo.

Retornou ao quarto colocando sua habilidade a prova, aplicou os poderes na mangueira, rapidamente, ela reduziu na espessura e aumentou em largura, produziu uma corda longa e fina.

“Quer dizer que posso escolher qualquer uma das três dimensões para modificar”, pensou ele, aprendendo um pouco mais sobre seus poderes.

Dessa vez usou a Possessão, era a cereja do bolo, rasgou uma pequena parte da cortina e amarrou nas mãos, tentou controlar o material e, de imediato, moldaram-se no ar conforme seus comandos. Isso mesmo, além de manipula-las conseguiria modificar o formato do elemento sobe seu controle, com isso, deixou as cortinas redondas.

Gabrio prendeu as cordas nos lugares corretos, tudo devidamente calculado na sua mente. Em dois minutos, com uma cortina e a mangueira de incêndio, criou um paraquedas.

— Vamos — disse ele, retornando ao garoto.

— Sim, podemos levar o Roger? — perguntou Caio, indicando o urso de pelúcia marrom jogado na cama.

— Claro. — Gabrio pegou o urso e o menino.

Com suas habilidades fez a ponta da corda dar vários giros ao redor deles, amarrando o corpo do menino ao seu, da região das costelas até próximo a virilha, na outra ponta da corda estava a cortina, que mantinha pressionada embaixo das axilas.

— Hoje você vai voar igual a Super-Homem — declarou Gabrio, seguindo para a varanda.

— Sério?! — Caio deu um sorriso largo, tão grande que diria ser o maior da sua vida.

Gabrio colocou um pé por cima proteção da varanda e depois o outro, segurando com as mãos nas barras metálicas, se apoiava na beirada a um passo da queda.

O vento forte soprava agitando seus cabelos.

Fechando os olhos, Caio o abraçou.

— Vamos fazer um experimento — disse Gabrio e saltou.



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