Rei das Sombras Brasileira

Autor(a): Genji


Volume 1

Capítulo 8: Atalanta

 

Chegamos com sucesso ao nosso destino e, para evitar perguntas, lançamos os cadáveres restantes ao mar enquanto nos aproximávamos do porto.

 À medida que nos aproximávamos, vislumbrei docas extensas, com navios de diversos tamanhos e designs ancorados.

 Havia vários armazéns para as entregas dos navios, tavernas onde capitães e tripulações se reuniam, e lojas onde poderíamos comprar itens de viagem como bússolas e mapas.

Isael ancorou o barco próximo a uma das docas, e desembarcamos. Muitas pessoas se movimentavam pela área, estávamos aliviados por não termos nos tornado presas das sereias.

— Certo, precisamos encontrar a localização do lago — comentei — que tal começarmos pela taverna?

— Boa ideia, se você tiver dinheiro para pagar — disse Isael.

— Pensei que conhecessem Atalanta — Johanna encarou.

— Conhecemos, mas não um lago com uma ninfa — Jules olhou em direção ao centro da cidade — por que não pedimos informações à rainha?

— Acha mesmo que teremos uma audiência com ela? — disse Arya.

— Bem... podemos dizer que o Rei das Sombras está aqui — Jules fixou os olhos em mim.

— E revelar para todos os reinos que o Rei das Sombras retornou? Boa ideia, Ycelion — encarei-a.

Suspirei e refleti um pouco. No final, decidi seguir o plano dela, começando a nos movimentar em direção ao castelo.

 Diferentemente do clima, que era um pouco mais frio, Atalanta não diferia muito de Luminara. 

Havia lojas de armas, magia e roupas por toda parte. Comerciantes com barracas repletas de frutas, joias e objetos mágicos decoravam as ruas.

— Parece que todos os reinos têm algo em comum — comentou Isael.

— Isso é o que movimenta a economia — disse Jules — os reinos precisam disso para se manterem.

Olhei para o lado e parei abruptamente, surpreendido ao ver uma jaula de ferros que continha vários demi-humanos presos, homens, mulheres e até crianças.

 Os outros perceberam e se aproximaram de mim.

 Aquela visão era imperdoável para nós, já que eu e Isael, junto do comandante Kay, conseguimos convencer o rei a dar liberdade aos demi-humanos há algum tempo.

— Então, Atalanta ainda usa demi-humanos como escravos? — disse Isael, surpreso.

Acenei com a cabeça e me aproximei enquanto um chicote de sombras aparecia em minhas mãos. Johanna deu um passo à frente, mas foi impedida por Isael.

Havia vários vendedores de escravos ao redor, e eles fixaram seus olhares em mim.

— Vai começar — disse Isael.

Estiquei o chicote, meus olhos se posicionaram em direção aos comerciantes. 

Bati o chicote de sombras no chão; uma onda de sombras se formou e começou a destruir as jaulas com o impacto.

 Os demi-humanos começaram a fugir, e vários dos comerciantes tentaram segurá-los, mas aqueles que se aproximavam ou tentavam impedir a fuga eram acertados pelos golpes do chicote. 

Um de cartola e barba branca se aproximou de mim enquanto preparava um soco.

 O meu chicote agarrou o braço dele, e o arremessei; ele deu de cara com os outros e caiu no chão.

— Isso foi... — falou Arya.

— Incrível — disse Johanna.

Soldados com armaduras vermelhas logo apareceram e nos cercaram. Olhei para os lados e fiz o chicote de sombras sumir. Ergui meus braços e dei um sorriso. 

O plano não era só libertar os escravos, mas também fazer com que os soldados nos levassem até a rainha. Os soldados nos prenderam com correntes.

— Bom... também somos cúmplices — disse Isael, erguendo seus braços junto com as meninas.

Os soldados nos levaram para o castelo, onde a rainha de Atalanta julgaria nossos atos. 

Enquanto éramos levados, uma garotinha demi-humana observava de um local onde não podia ser vista, junto de sua irmã.

Ao chegarmos no castelo, caminhávamos pelos corredores iluminados com velas, ao contrário de Luminara, que tinha lâmpadas à base de mana. Basicamente, a mana passava pelo vidro da lâmpada e reagia do mesmo jeito que a magia de luz.

 Acho que Atalanta realmente havia parado no tempo.

A enorme porta se abriu, e avistei uma linda mulher na casa dos seus 25 anos, sentada sobre o trono. 

Seus cabelos eram brancos, e seus olhos roxos; sua pele era pálida. De fato, ela era muito linda, apesar de ser 5 anos mais velha que eu e Isael.

Os soldados nos empurraram para que continuássemos a caminhar. Arya, Johanna, Jules e Isael se ajoelharam, enquanto eu permaneci de pé. 

Afinal, a regra era simples: se você fosse um rei, não precisaria se ajoelhar diante de uma rainha.

— Quem são eles? — disse a rainha.

— Majestade, o de capuz preto... ele fez uma enorme comoção no mercado de escravos — falou o soldado que segurava a corrente em que estava preso.

— O que? — a rainha fixou o olhar em mim — Esse jovem foi capaz de fazer isso?

— Olhe como você fala comigo, majestade — retirei o capuz da minha cabeça e revelei meu rosto.

A rainha se espantou ao ver minhas pupilas negras. Ela se levantou do trono.

— E-ele... ele estava com alguma arma?

— Sim... com um chicote, mas ele de repente sumiu.

— Idiotas! Ele é o...

Quebrei a corrente, e o impacto fez a rainha se interromper; os soldados arregalaram os olhos ao verem que eu havia destruído as correntes que nos prendiam.

— O Rei das Sombras... — ela ficou surpresa.

— Certo, estava preocupado que eles nos espancassem e não nos levassem para a rainha — falei, olhando para ela.

— Havia essa probabilidade? — disse Johanna, assustada.

— Vindo de um país que permite a escravidão de demi-humanos, essa probabilidade era mais alta — explicou Arya.

— Majestade — a rainha se curvou perante mim — sou Annaelia Lionforge, perdoe-me pelo que meus soldados...

— Majestade, você está...

— Idiotas!!! — a rainha se exaltou — se ajoelhem! Ele é o Rei das Sombras! O sucessor do Ryen!

— O que?! — os soldados reagiram e se curvaram também.

— Espere... — falei, surpreso — você conheceu o Ryen?

— Sou muito jovem, sou uma ancestral da irmã da rainha da luz, Freya — a rainha ergueu sua cabeça para olhar para mim.

Ora, ela é da linhagem da rainha da luz; vai ser mais fácil de achar o lago. Parece que as ideias de Jules e Johanna deram certo.

— Antes do assunto principal, quero perguntar, por que diabos Atalanta ainda permite demi-humanos como escravos?

— Majestade — ela se levantou — vários reinos desse lado permitem esse tipo de venda; eles são baratos.

Baratos, mas ainda são seres vivos e racionais. Eles se apaixonam e têm suas próprias culturas.

— Galrian, esse assunto não cabe a você; não pode interferir nas leis dos reinos — disse Isael.

Infelizmente, realmente eu não podia me meter nisso.

— Estou aqui porque Ryen me orientou a achar um lago; nele, há uma ninfa que é a guardiã da espada do Rei das Sombras.

— Assim, o lago fica na gruta do castelo.

Isso me deixou surpreso. Afinal, é claro que o Ryen iria guardar isso justamente no local onde uma de suas esposas era a princesa no passado.

— Será que você permite que eu pegue a espada de volta? Junto dos meus companheiros.

— É claro que permito, mas por que não passam um tempo para conhecer Atalanta melhor? Ou quem sabe nos conhecer melhor, majestade.

— Ela deu em cima do Galrian na cara dura — falou Isael, surpreso.

Quem ficou surpreso fui eu.

— Talvez na próxima. Iria adorar conhecê-la melhor, mas o rei de Luminara foi assassinado, e preciso da espada para encontrar o culpado o mais rápido possível.

— Entendo sua situação.

— Galrian — Isael interveio — fizemos uma viagem cansativa, fomos atacados por sereias que devoraram toda a tripulação, e você impediu o barco de ser derrubado no mar. Acho que precisamos de um descanso. Entendo que queira achar o culpado rápido, mas se a rainha está convidando, recusar seria falta de educação.

Ao ouvir isso, eu fixei meus olhos nele; ele piscou o olho esquerdo, e logo percebi que ele, na verdade, queria me empurrar para a rainha. Obrigado, Isael, por ser meu amigo.

— Meu amigo tem razão — olhei para a rainha Annaelia — vou aceitar o convite, Majestade.

Johanna e Arya encararam Isael, Jules fez um sinal de joinha com sua mão direita para ele.

 Esses dois armaram isso agora ou já haviam planejado isso antes?

— Certo — a rainha bateu palmas — levem os companheiros do Rei das Sombras para fora da sala do trono. Preciso falar com ele a sós.

Da última vez que um monarca me chamou para conversar a sós, fui acusado de assassinato, mas dessa vez, espero que seja diferente. Os soldados levaram os quatro para fora da sala do trono.

— Desculpe novamente pelo que meus soldados fizeram — ela se sentou no trono.

— Tudo bem, apenas não queria revelar minha identidade.

— Entendo. Minha avó disse que quando Ryen se revelou para o mundo pela primeira vez, surgiram vários reis oferecendo a mão de suas filhas e rainhas como eu, querendo se casar com ele.

— Então está com sorte, não tenho nenhuma pretendente, ao menos não mais.

— Está viajando com três garotas e não está interessado em nenhuma delas? — ela deu uma risada.

— Uma delas é a esposa do meu amigo; as outras duas, a de cabelos castanhos e a de cabelos vermelhos, são só amigas.

— Entendi — suas palavras foram de alívio.

Se eu parasse pra pensar, acho que não me interessaria de novo pela Johanna. A Hestia está noiva do Adrian, e a Arya acho que não seria legal me casar com uma Hornsiana, apesar de ela nunca ter mostrado sua forma verdadeira.

— Voltando ao assunto da espada, a gruta, pode me mostrar onde fica?

— Claro — ela se levantou do trono — me siga.

Ela passou por mim, e eu a segui. Deixamos a sala do trono, e enquanto caminhávamos em direção ao lugar onde era a tal gruta, passamos por algumas empregadas que se curvavam. vê-las fazerem isso, trouxe-me uma lembrança de quando eu e o Comandante Kay acompanhávamos o rei pelo castelo.

Fui conduzido até um jardim com lindas flores de diversas cores e tipos, onde várias espécies de pássaros, insetos e animais como esquilos compartilhavam o espaço. 

Era uma parte do castelo onde a natureza podia exibir sua beleza sem preocupações com ataques constantes.

 Havia também uma entrada que parecia ser uma caverna, de onde fluía água formando um lago.

— É muito lindo — comentei admirado.

— Cuido muito bem daqui, é o meu lugar favorito — disse a Rainha Annaelia.

— Entendo o motivo.

— Aquela é a gruta — ela apontou na direção da caverna —, você pode falar com a ninfa lá.

Dirigi-me até o lago que saía da caverna e percebi a figura de uma linda mulher de cabelos loiros submersa na água.

 Agachei-me, e ela saltou da água, fazendo-me cair para trás ao exibir um sorriso misterioso.

— Vivienne, este é o sucessor do Ryen. Ele veio até aqui em busca da espada — apresentou a Rainha Annaelia.

— O Ryen me chamava de Dama do Lago. Que tal me chamar assim também? — sugeriu Vivienne, enquanto ela fixava seu olhar em mim.

— Está bem, Dama do Lago.

— Isso, isso — ela sorriu e deu um mergulho.

Levantei-me e fiquei ao lado de Annaelia, esperávamos juntos o retorno de Vivienne.

 Alguns minutos depois, diante dos nossos olhos, uma espada negra com runas roxas gravadas em sua lâmina emergiu da água. 

Vivienne saiu da água como um espírito, caminhando em nossa direção. Seu corpo agora podia ser visto por completo, vestida com um vestido branco, emanando uma aura mística.

— Aqui está sua espada, Rei das Sombras — ela se ajoelhou e estendeu a lâmina para mim.

No pomo da espada, havia a cabeça de um lobo esculpida da mesma cor da lâmina. Isso chamou minha atenção.

 Peguei a Umbra da Noite e percebi que era um pouco mais pesada do que a espada que Hestia havia me dado de presente antes. 

Além disso, era uma espada de duas mãos. Agora, eu tinha a espada que precisava.

Agora, poderia retornar, mas gosto de cumprir minhas promessas, e prometi à Rainha Annaelia que ficaríamos alguns dias em Atalanta. 

A investigação do reino pode esperar, pois aqui os soldados não estão loucos  por nossas cabeças. 

Eles não estão como marionetes controladas por Adrian; eles me veem como o Rei das Sombras.

Acho que foi por isso também que Isael se intrometeu na nossa conversa; ele sabia que eu precisava de um descanso.



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