Volume 1
Capítulo 18: A Princesa dos Hornsianos
Já se passaram duas semanas desde que acreditei ter conseguido matar Adrian e pedi a Annaelia e Elowen que notificassem os reinos sobre a busca por Adrian.
Hoje, recebi uma ligação de Elowen sobre uma raça que havia me esquecido até o momento: os Hornsianos, a raça de Arya.
— Parece que o rei dos Hornsianos quer que você visite o reino deles — disse Elowen.
— Tem algo a ver com Adrian?
— Não, mas parece que nessa época o rei realiza um torneio, e ele quer que você e seus amigos compareçam.
— Hmm, talvez seja uma boa mudança de ares...
— Você sabe como chegar lá? Já esteve lá?
— Não, mas conheço alguém que sabe. Até depois. — Toquei no cristal e me levantei.
Dirigi-me apressadamente ao local onde Arya e Jules treinavam. Ao chegar, Arya soltava um ataque de fogo pela a sua boca e Jules comentou sobre o “sopro draconiano”.
— Agora sei por que esse ataque se chama sopro draconiano — disse Jules.
— Dessa vez foi maior que antes — afirmou Arya.
Bati palmas para chamar a atenção delas.
— O que faz aqui, Galrian? — disse Jules.
— Quero falar com Arya a sós.
— Comigo? — Arya moveu os olhos em minha direção. — Fiz algo errado?
— Não, é mesmo que fizesse, não estaria bravo.
— Certo — disse Jules, enquanto o livro e se afastava. — Continuamos nosso treinamento depois, Arya.
— Tudo bem — respondeu Arya, ela direcionou seu olhar a Jules e depois a mim. — Sobre o que se trata?
— Seu pai. Ele quer que a gente vá para um torneio.
— A gente? Papai descobriu que estou com você?
— Aparentemente não. — Meus olhos encontraram os dela. — Mas ele quer que eu e meus amigos compareçam no torneio.
— É o torneio anual — comentou Arya, enquanto cruzava os braços e olhava para o lado. — Ele espera que eu apareça.
— Você disse que fugiu por não querer assumir o trono, mas isso não é motivo para fugir é?
— O papai quer que eu me case. — Seus olhos foram em minha direção. — Casamento arranjado.
— Bom... acho que posso fingir ser seu noivo. A posição de Rei das Sombras é maior do que a de outros reis e príncipes, então acho que posso fazer isso.
Os olhos de Arya brilharam ao ouvir isso, e ela me abraçou com um grande sorriso.
— Obrigada, Galrian!
— Partiremos amanhã, então nos guie até seu antigo reino, por favor.
[...]
Para chegarmos mais rápido, invoquei um dragão feito de sombras que pudesse carregar todos nós.
Como não sabia onde era o reino, Arya me guiou em segredo de Jules, Isael, Johanna e Hestia.
Após algumas horas de viagem, avistamos uma cidade em meio ao deserto, cercada por muralhas enormes.
— Li um pouco sobre os Hornsianos — disse Jules. — Parece que se orgulham muito de sua cultura. A família real tem domínio sobre a magia de fogo e são muito habilidosos nesse tipo de elemento.
— Nunca vi um Hornsiano — observou Isael.
A princesa Hornsiana mora conosco, Isael. Queria dizer isso a ele, mas acho que é melhor Arya contar.
Enquanto o dragão sobrevoava a cidade, avistei um homem de cabelos vermelhos, como os de Arya, e chifres.
Ele vestia uma pele de ovelha como capa. O dragão pousou em frente ao palácio, onde o homem estava e ele caminhou em nossa direção enquanto eu saltava de cima do dragão.
— Saudações, Rei das Sombras — curvou-se perante mim. — Sou Thorian Voidborn, rei dos Hornsianos.
— Voidborn?! — Todos reagiram, olhando para Arya.
— Sou Galrian Wolfhart — curvei-me. — O Rei das Sombras, e creio que já ouvi esse sobrenome antes.
Vamos brincar um pouco de teatro e fingir que não sabia que Arya era a princesa.
— Oh? Sobrenome Voidborn sendo lembrado pelo Rei das Sombras? — disse Thorian.
— Aryanna Voidborn — falei, enquanto olhava na direção do dragão.
Arya desceu do dragão e se aproximou de nós dois, ela baixou a cabeça e fechou os olhos.
— A quanto tempo? — Chifres apareceram em sua cabeça, e todos ficaram impressionados.
— Minha filha... com o Rei das Sombras...
— Não sabia que minha noiva era a princesa dos Hornsianos.
— Noiva?! — Hestia reagiu.
— Eu... — Thorian baixou a cabeça, depois a ergueu com brilhos nos olhos e abraçou Arya. — Minha filha, como a noiva do Rei das Sombras, isso me deixa tão feliz! Sua mãe, se estivesse viva, estaria orgulhosa de você.
— Hã? — Arya e eu reagimos confusos.
— Se você fosse ao menos só amiga dele, eu já estaria mais que orgulhoso de você — ela sorriu. — Olhe para você, minha princesinha querida, noiva do rei mais poderoso que existe.
— Ei — Isael sussurrou para mim. — Não sabia que estava noivo da Arya.
— Não é um noivado de verdade — sussurrei de volta para ele.
— Entendi — Isael olhou para Thorian.
— Agora entendi por que Arya consegue ter domínio sobre a magia de fogo melhor do que muitos magos — falou Jules.
— Vamos, entrem! O torneio começará hoje à tarde — disse Arya.
— Claro — falei.
Entramos no palácio, que não era muito diferente dos nossos castelos, exceto pelo calor intenso.
Eu e Isael retiramos nossos casacos, mas para Arya, estava como se estivesse em qualquer outro reino.
— Aqui faz muito calor — disse Hestia, enquanto retirava o casaco.
— Estamos no deserto — Arya retirou a capa de maga. — É claro que estaria quente.
— Não tem magia para nos refrescar, Jules? — disse Johanna, enquanto abanava o rosto com as mãos.
— Não se preocupem — Arya sorriu. — A noite ficará mais fresca.
Não sabia se aquilo era uma boa notícia ou não, já que até o torneio acabar, estaríamos queimados só de andar pela manhã.
Fomos levados até uma sala com um trono feito de almofadas e Thorian se sentou sobre elas ainda com um sorriso enorme.
— Estou feliz em recebê-lo, Rei das Sombras, e meu genro — disse ele.
— Fico feliz em conhecê-lo, sogro — dei um sorriso forçado.
— Vão se inscrever no torneio? — disse Arya.
— Hmm — Isael colocou a mão sobre o queixo. — Eu vou.
As meninas negaram; acho que não queriam ficar suadas devido a esse calor.
— Eu também vou... — levantei o braço direito.
— Ah, Galrian só poderá participar se não usar as sombras — disse Arya.
Não usar as sombras para lutar? Bem, faz sentido, visto que eu sou poderoso demais em comparação a outros participantes.
— Nesse caso, usarei apenas espada.
— Isso também vale para as armas de sombras. Como pretende participar sem uma espada? — Arya fixou os olhos em mim.
Em relação à Umbra da Noite Falsa, a ninfa do lago respondeu que não sabia que era a falsa.
Tentei perguntar a Ryen pela Nix, mas ela disse que era impossível. Então, a verdadeira Umbra da Noite ainda deveria estar por aí.
— Você pode pegar sua espada de volta se quiser — disse Hestia.
— Não, preciso dela — olhei para cima enquanto pensava.
— Vossa alteza não pode conseguir uma espada para o seu noivo? — Isael moveu os olhos em direção a Arya.
— Papai — Arya olhou em direção ao seu pai. — O que acha de emprestar uma espada do arsenal para o Galrian participar do torneio?
— Não vou emprestar... — ele fechou os olhos.
Tristeza ficou estampada no rosto de Arya.
— Eu vou presentear a ele — Thorian abriu os olhos. — Pode escolher até 10 espadas, Rei das Sombras!
— O-obrigado... Majestade — dei um sorriso sem graça.
— Venha comigo — disse Arya enquanto se afastava.
Segui Arya até uma sala, onde havia vários tipos de armas, lanças, machados, escudos, espadas.
Olhei em volta enquanto analisava as espadas nos suportes.
No entanto, uma delas chamou minha atenção: uma espada com runas na lâmina, como a Umbra da Noite. Ao pegar a espada, as runas emitiram um sinal vermelho.
— Arya, essa espada...
— Ah, com ela você consegue usar a magia de fogo, mesmo que não consiga ser do seu elemento — disse Arya, se aproximando. — Mas tem uma espada que vai servir para você.
Arya retirou uma espada de prata de uma bainha e me entregou.
Peguei a espada e deslizei o dedo pela lâmina. Era uma espada um pouco mais leve do que eu estava acostumado, aparentemente simples à primeira vista.
— Prata? — meus olhos foram em sua direção.
— Acho que ela não vai se quebrar durante a luta — afirmou Arya.
Para provar que Arya estava errada, bati a espada contra um dos suportes que estava ao meu lado.
Como eu havia previsto, a lâmina se quebrou em duas e Arya abriu a boca surpresa.
— Uma espada de prata só serve para monstros, sabia? — joguei a espada quebrada no chão. — Além do mais, essa nem mesmo serve para monstros.
— Desculpe, eu não sabia — disse Arya constrangida.
— Tudo bem — olhei ao redor enquanto procurava uma espada melhor. As várias opções me deixavam confuso, pois algumas poderiam não aguentar a pressão da luta contra oponentes
com espadas grandes. Arya chegou por trás de mim e senti seus seios encostarem nas minhas costas.
— Lembre-se de que é um presente do meu pai — ela sussurrou.
— O-ok — me afastei dela e peguei uma espada simples, mas resistente. — Esta deve servir, é só para usar durante o torneio.
— Certo.
[...]
O torneio estava prestes a começar, com homens, mulheres, crianças e até idosos nas arquibancadas.
A arena tinha cerca de 50 metros de comprimento. Arya e seu pai estavam sentados em um local designado, e Jules, Johanna e Hestia também estavam lá.
Do lugar, podia ver toda a arena, Peguei emprestado o casaco que havia dado a Hestia e o vesti, uma evidência de que eu não lutaria como Rei das Sombras.
— A última luta é em duplas, então coloquei seu nome como minha dupla — disse Isael ao se aproximar.
— Bom trabalho — dei um sorriso. — Assim, não preciso lutar ao lado de alguém que eu não conheça.
— Tem certeza de que essa espada vai suportar a pressão? — Isael olhou para a espada em minha cintura.
— Não sei, provavelmente não.
— Parece que, depois que sairmos daqui, vamos ter que fazer uma visitinha àquele elfo maldito que faz espadas.
— Dessa vez vou pedir que ele forje duas.
— Vai parecer um caçador de monstros que anda com duas espadas nas costas.
— Não me importo. É melhor ter uma de reserva — cruzei os braços.
As trombetas soaram enquanto anunciava que o torneio estava prestes a começar.
Eu e Isael entramos na arena, onde Hornsianos, humanos e alguém com o rosto coberto aguardavam. Senti uma aura diferente e olhei na direção da pessoa.
— Parece que temos alguém de uma raça não conhecida entre nós — sussurrei para Isael.
— Sério?
— O cara de capuz.
Isael olhou na direção, e a pessoa cobriu o rosto ao perceber que ele estava de olho nela.
Pela reação da pessoa, não parecia alguém que queria se revelar, então dei uma cotovelada nas costelas de Isael.
— Ai! — ele me encarou.
As batalhas logo foram anunciadas, e fui selecionado primeiro para lutar. Todos saíram da arena, exceto eu e um Hornsiano.
Ficamos frente a frente e demos alguns passos para nos afastarmos o suficiente.
— A primeira luta é entre Galrian e um Hornsiano. Estou empolgada — disse Hestia.
— Lembre-se de que ele não pode usar as sombras ou será desclassificado — alertou Arya.
— Galrian é forte sem as sombras — disse Jules.
Eu e o Hornsiano de cabelos verdes nos encaramos. Dei um sorriso e desembainhei a espada. O juiz arremessou uma moeda para cima, e, ao colidir com o chão, eu e o Hornsiano investimos na direção um do outro.
[...]
Enquanto Galrian lutava, Isael se aproximou da pessoa com o capuz e pôs a mão sobre o seu ombro esquerdo.
— Acho melhor se revelar logo — disse Isael.
— O-ok... — A pessoa retirou o capuz de sua cabeça, e Isael arregalou os olhos ao ver uma garota de cabelos azuis escuros e orelhas pontudas, não tão grandes quanto as dos elfos.
— V-você não parece ser um demônio — disse Isael surpreso.
— S-sou metade Litharis ... S-sei que você é amigo do rei das sombras, então não me mate — ela fechou os olhos.
[...]
Ao vencer a luta, eu me aproximei de Isael, que estava com a garota.
— Essa garota, ela é metade Litharis — disse Isael.
Ao olhar para mim, ela começou a tremer. Pela aparência dela, eu poderia dizer que ela tinha a nossa idade, mas por ser uma criatura que eu não conheça , ela deveria ter mais de mil anos.
Isael foi chamado para a próxima luta, enquanto eu me preparava para começar a falar com ela.